22 de março de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM III – Orquídeas e bromélias dentro de casa: um desafio



Eu considero que não há gesto mais gentil e sensual do que oferecer orquídeas de presente. Ganhar uma orquídea é coisa que dificilmente vai deixar de sensibilizar o coração de uma mulher. Mas às vezes são as próprias que nos seduzem, e nos deixamos levar pelo entusiasmo de nos dar, nós mesmos, um belo presente, levando para casa uma tentação em forma de flor.

Ganhar ou comprar uma orquídea pode ser uma experiência maravilhosa...o difícil é mante-la viva, saudável e florindo tanto quanto suas características botânicas permitem. A maioria das espécies disponíveis nas floriculturas são epífitas, ou seja, plantas que vivem sobre outras, sem entretanto retirar nutrientes, apenas apoiando-se nelas. Por isso o seu “habitat” natural e mais adequado é sobre os troncos de árvores. Elas também podem ser colocadas em arbustos ou placas de xaxim, além de troncos mortos. Mas todas essas soluções são externas.

A dificuldade do cultivo em ambiente interior vem do fato de que a maioria delas prefere sol. Mesmo as famílias que se adaptam bem à meia sombra, como as Cattleyas, não reagem bem à um sombreamento predominante, e no caso, a meia sombra significa também algum sol, ou pelo menos bastante luz. Por isso, é muito comum que a sua bela planta, quando deixada em ambiente fechado, em poucas semanas vá perdendo as flores, amarelando as folhas, e, se não houver um pronto socorro, virando um lixo ressecado.

Difícil, entretanto, não quer dizer impossível. Se forem observadas certas condições, como a colocação do vaso num local adequado, oferecendo tanto sol e luz quanto necessário, regas na medida certa – nunca demais nem de menos – e proteção contra pragas e insetos, você pode ter sim, e por muito tempo, uma bela orquídea florida dentro da sua casa. Mesmo assim orquídeas são caprichosas, e você vai precisar amar a sua, dando a ela toda a atenção que puder, mudando-a de lugar e adaptando os cuidados, até sentir que ela está plenamente satisfeita.

Outra questão delicada é que as orquídeas estão entre as mais ricas famílias botânicas da natureza, possuindo uma infinidade de espécies, que variam muito do ponto de vista de suas exigências. Por isso, identificar e conhecer um pouco das “manhas” da sua planta pode ajudar muito no cultivo. Para o colecionador existe uma grande quantidade de livros e revistas, mas quem tem poucos exemplares, pode pesquisar na internet, pois existem muitos “sites” especializados sobre o assunto.

Iguais atenção e delicadeza são exigidas de quem quer cultivar bromélias em interiores. Mesmo aquelas espécies identificadas como “de sombra”, tem dificuldades em ambientes fechados e escuros demais. Até mesmo uma boa claridade indireta pode ser insuficiente para manter sua planta saudável. Por isso é preciso sensibilidade para ir trocando a planta de lugar, até sentir que ela encontrou boas condições para sobreviver. No caso das bromélias, é importante também observar os riscos de proliferação de insetos, como inclusive o mosquito causador da dengue. Usar borra de café ou uma solução de cloro bem diluído, na rega de pelo menos uma vez por semana, é indicado para evitar esse tipo de problema.

Célia Borges

ITATIAIA HISTÓRICA - Oitenta anos da chegada dos finlandeses à Itatiaia


Em abril de 1928 o finlandes Toivo Uuskallio, em companhia de Toivo Suni chegou à Itatiaia em busca de local para se estabelecerem, e à um grupo de compatriotas, que esperavam trazer para o Brasil. Era o primeiro passo para a realização de um sonho. O sonho de um idealista, de estabelecer uma comunidade com os mais altos padrões de saúde física e mental, vivendo em perfeita harmonia com a natureza, e que deu origem a um dos mais encantadores recantos turísticos do estado do Rio de Janeiro, que é Penedo, uma das quatro regiões turísticas do município.

Sua história começa nos anos 20, na Finlândia: o agricultor Toivo Uuskallio, cuja família havia transformado a fazenda Toimela de uma pedaço de terra abandonado numa das mais prósperas fazendas-modelo do país, costumava reunir os amigos em sua casa para debater sobre assuntos de interêsse comum. Eram os anos seguintes à primeira guerra mundial, e além das difuculdades de um clima onde o verão é muito curto, e o inverno longo, cobrindo tudo de gelo e de neve, havia a preocupação com os conflitos latentes que ainda existiam nos países da Europa, e que poderiam resultar em novos confrontos.

Uuskallio, competente profissional, profundamente religioso, e uma especie de líder naturalde sua comunidade, meditava sobre um modo de viver melhor, numa sociedade nova e ideal. Defendia uma dieta vegetariana, e uma maneira de vida simples, saudável e natural, onde se plantasse e colhesse o necessário, sem a submissão a um trabalho escravizante. Embora amasse seu país, concluiu que esse lugar teria que ser fora da Finlândia, de preferência num país tropical. Depois de alguma pesquisa, decidiu-se a procurar este lugar no Brasil.

No dia 6 de agosto de 1927 foi dado o primeiro passo para a concretização do projeto que resultaria na criação da colônia finlandesa no Penedo: Uuskallio e sua esposa Liisa, acompanhados de outros três jovens finlandeses, embarcavam para o Brasil, rumo ao Rio de Janeiro. Duas semanas depois da chegada do grupo, Toivo conseguiu emprego como administrador de horticultura da Fazenda Três Poços, propriedade do Mosteiro de São Bento no município de Barra Mansa, tendo lhes proporcionado o primeiro contato com a região. O trabalho foi bem sucedido, surgindo novas propostas de emprego, mas em abril de 1928, após a chegada de mais um finlandês, Toivo Suni, Uuskallio decidiu que já era hora de procurar o lugar para a futura colônia, e o grupo dirigiu-se para Itatiaia, hospedando-se na pensão alemã Walter.

Antes da escolha, Uuskallio e Suni visitaram fazendas em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, mas decidiram-se pela Fazenda Penedo, junto à Itatiaia, de cujo clima tanto gostaram: eram 3.500 hectares, sendo 2.000 de florestas, altitude variando entre 450 e 1.500 metros, distante 10 km da cidade de Resende e seis da estação ferroviária de Marechal Jardim. Havia água em abundância, o solo parecia bom, o lugar era sossegado e tranquilo, sem ser muito isolado, e o preço de 350 contos de réis foi considerado razoável.

Após uma intensa negociação com amigos na Finlândia, Uuskalio levantou a primeiraparte do dinheiro necessário à compra, tendo pago 1.000 libras esterlinas no dia 5 de dezembro de 1928, e outras 6.000 em janeiro de 1929, quando foi feita a escritura de promessa de compra e venda com os proprietários, a Abadia de Nullius de Nossa Senhora de Monte Serrat. Outras 3.000 libras deveriam ser pagas no prazo de seis meses, recursos estes que deveriam também vir da Finlândia, levantados entre amigos e admiradores do projeto. Ao mesmo tempo era feita uma rigorosa seleção dos candidatos, dos quais era exigida boa saúde, disposição para o trabalho e para enfrentar as dificuldades iniciais, assim como estivessem dispostos a uma dieta vegetariano e à total abstinência a bebidas alcoólicas e ao fumo.

Um grupo de 28 candidatos a colonos foram inicialmente selecionados, e orientados na organização de uma bagagem que deveria incluir ferramentas e apetrechos agrícolas, assim como os utensílios de cozinha. Este primeiro grupo embarcou no porto de Helsinki, em 15 de maio de 1929, no navio alemão Nordland, que chegou ao Rio em 16 de junho. Um segundo grupo viria quase em seguida, trazendo familiares de alguns finlandeses que já estavam no Brasil, inclusive várias crianças, à bordo de outro navio alemão, o Sierra Córdoba.

Os primeiros colonos finlandeses ficaram alojados na Casa Grande da fazenda, sendo os quartos destinados aos casais e as dependências maiores, divididas em dormitórios masculino e feminino. O trabalho era comunitário, cada um dava sua contribuição, e algumas famílias iniciaram também, ao mesmo tempo, a construção de suas casas, nos lotes particulares em que a terra havia sido dividida. Mas as dificuldades iniciais eram grandes, especialmente a de ordem financeira, já que o prazo para a quitação da compra das terras vencera no dia 28 de julho de 1929, sem que eles dispusessem dos recursos suficientes. Parte da dívida foi paga, mas outra parte, quase metade, havia tido o prazo prorrogado até 28 de setembro. A quitação só aconteceria em 15 de outubro, trazendo muita alegria aos colonos, mas outras dívidas haviam sido assumidas, inclusive dando a propriedade como garantia, através de hipoteca.

Os finlandeses trabalharam com afinco, mas apesar de ajudas financeiras eventuais, levaram seus projetos agrícolas com bastante dificuldade, tanto trabalhando para si mesmos como para terceiros. Algumas culturas não deram certo, uma enchente do Rio das Pedras, logo nos primeiros anos, levou boa parte do que havia sido construído. Mas eles persistiram e se adaptaram às condições climaticas. Produzindo mudas, recebendo hóspedes em suas casas, disseminando o uso da sauna entre brasileiros, muitas foram as contribuições desses colonizadores. Muitos colonos voltaram para a Finlândia, e muitos outros finlandeses vieram para o Brasil, neste 80 anos.

Muitas famílias de origem finlandesa ainda vivem e trabalham em Penedo, dedicando-se a diversas atividades, mas especialmente aquelas voltadas para o turismo, inclusive os descendentes de Toivo Uuskallio, cuja filha Taime, já falecida, foi hoteleira. Outros se destacaram nas artes, como é o caso da tapeceira Eila, que tem trabalhos expostos no Brasil inteiro, e do escultor Ville Virkilla, autor da escultura que é o simbolo da presença dos finlandeses no Penedo, Aves de Arribação, que se encontra na Praça Finlandia.

Alguns dos traços mais marcantes da colonização finlandesa dizem respeito à recuperação da flora e da fauna na área por eles ocupada, e que na década de 30 encontrava-se parcialmente devastada pela monocultura cafeeira, e pelos pastos. O gosto pela jardinagem, aliado ao talento para a agricultura, contribuiu para transformar Penedo num recanto colorido pelas frutíferas e floríferas que eles plantaram, em torno de suas casas e em muitos outros pontos.

Outro aspecto marcante foi a manutenção de sua cultura, através da música, da dança, da culinária e de outros traços, que se perpeturam em torno no Clube Finlândia, agremiação que até hoje promove seus bailes, apresentando grupos em trajes típicos, e que atraem não apenas os moradores da localidade, independente da nacionalidade, como é também uma atração turística para os visitantes.

A sede antiga do clube, que funcionou por cerca de 50 anos numa construção de madeira típica dos finlandeses, hoje dá espaço a uma escola comunitária. A nova sede, construída no decorrer de quase dez anos, em blocos de pedra maciça, junto a Praça Finlândia, é uma espécie de homenagem aos pioneiros, e abriga, além do espaço para os bailes semanais e as festas de seu calendário, um museu, cujo acervo foi reunido entre as famílias dos primeiros colonizadores.

Este museu, criado inicialmente por Eva Hildén, filha de Toivo Suni, como Museu da Eva, teve seu acervo doado na época da inauguração da nova sede. Eva Hildén, já falecida,além de ter sido uma das mais ativas defensoras da cultura finlandesa, foi também a autora de uma obra básica sobre a colonização finlandesa no Brasil, “A Saga de Penedo”, livro indispensável para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história do lugar.

Célia Borges