18 de abril de 2008

ITATIAIA HISTÓRICA – Parque Nacional, a mais antiga unidade de conservação do país


Muita gente se surpreende até hoje, ao ver tão grande área da Mata Atlântica preservada, no meio de tanta terra devastada pela monocultura cafeeira. Afinal, como é que a mata de Itatiaia sobreviveu? Pois foi graças ao Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, que hoje existe o Parque Nacional do Itatiaia. Proprietário desde meados do século XIX de um conjunto de fazendas naquela serra – Central, Queijaria, Taquaral, Invernada, Mont-Serrat e Benfica – abrangendo terras do Rio de Janeiro e de Minas Gerais – ele não foi afetado pela “febre do café”, preferindo trazer os primeiros colonos europeus para a região. As terras de Mauá passaram em 1908 para o governo federal, com a finalidade de ampliação da colonização, projeto que se estendeu até por volta de 1918.

Os colonos, predominantemente alemães, mas também franceses, suíços e holandeses, foram divididos em dois núcleos coloniais, um em Itatiaia e outro em Visconde de Mauá, com o objetivo de se dedicarem à fruticultura e à criação de pequenos animais. A experiência, além de não ter dado certo, ainda foi responsável pela devastação de grandes áreas de floresta nativa, principalmente nas altitudes mais baixas.

As primeiras notícias documentadas da região do Itatiaia relatam a visita do botânico Glaziou, em companhia da princesa Isabel, em julho de 1872, e que ficou impressionado com a riqueza de sua flora e pelas formações geomorfológicas de excepcional imponência. Em 1014, o naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Campos Porto, procedendo a estudos na região, constatou a destruição progressiva das matas, o que o levou a escrever ao diretor da unidade, J.C.Willis, denunciado as condições do local e sugerindo a criação de um parque nacional.

Outros botânicos, como Alfred Ludgren, geólogos, geógrafos e biólogos, defendiam a criação do parque, mas Campos Porto foi o primeiro a apresentar uma proposta concreta, tendo sido ele, 23 anos mais tarde, o seu primeiro diretor. Algumas fontes indicam entretanto que o autor da idéia foi um engenheiro, André Rebouças, que já sonhava com o parque 60 anos antes que ele se tornasse realidade.

Depois do fracasso do projeto de colonização, providências governamentais incorporaram as terras remanescentes dos antigos núcleos coloniais ao patrimônio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sob a denominação de Reserva Florestal do Itatiaia, que passou em 1927 a Estação Biológica do Itatiaia. E assim permaneceu até 14 de julho de 1937, quando através do Decreto n0 1.713, o presidente Getúlio Vargas criou o Parque Nacional do Itatiaia.

A mais antiga reserva ecológica do país possui área de 12 mil hectares – que o Decreto 87.586, de 20/09/82 aumentou para 30 mil hectares, sem que isso na prática tenha se concretizado – em terras à noroeste do Rio de Janeiro e ao sul de Minas Gerais, em plena Serra da Mantiqueira, com altitudes que variam de 800 a mais de 2.700 metros. O parque, que abriga flora e fauna magníficas, destaca-se também pelo interesse geológico devido às rochas ali encontradas, que são pouco comuns no país. Rochas intrusivas cristalinas formam um vasto maciço foiático, que é o maior do mundo, superado apenas pelo de Kola, na Escandinávia. A área também é rica em bauxita quase pura.

Mas são a fauna e a flora que conquistam para o parque a sua fama mundial, abrigo de inúmeras espécies endêmicas e de outras bastante raras, muitas ameaçadas de extinção. Na área mais acessível do platô, com altitudes entre 800 e 1.100 metros, predomina a floresta úmida e densa, com arvores que atingem até 30 metros, e uma vegetação de grande beleza nas camadas inferiores, e até mesmo sobre as rochas, como liquens, musgos e cactos; begônias, bromélias, orquídeas, samambaias, lírios, brincos de princesa e gravatás. Entre as árvores, abundam várias espécies de cedros, quaresmeiras, paineiras, ipês, canelas, jacarandás e caviúnas.

Essa área sofreu várias agressões, primeiro inadvertidamente, através da colonização, que incentivava a ocupação de várias áreas, e em seguida pela ação predatória de lenhadores e carvoeiros. Mais recentemente as causas têm sido os incêndios de origem criminosa. Mas ainda guarda uma razoável parcela de mata nativa, sendo boa parte dela recuperada. Existem aí inúmeras propriedades particulares, inclusive a maioria dos hotéis, que dão suporte ao turismo local.

A segunda área apresenta altitudes de 1.100 a 1.900 metros, formada pelas escarpas do Maciço do Itatiaia, com vegetação que se caracteriza pelos bosques de pinheiros e araucárias nativas, árvores de porte mais baixo, entremeadas com vegetação arbustiva e densa, sendo o solo coberto de musgos e gramíneas. Nesse trechos encontravam-se, até recentemente, e agora mais raramente, animais de maior porte, como onças, macacos e cachorros do mato, a maioria sobrevivendo à ameaça de extinção.

Acima dos 1.900 metros encontra-se o platô superior, que tem como ponto culminante o Pico das Agulhas Negras, a 2.787 metros. A vegetação desses campos de altitude é bastante heterogênea, com ervas e arbustos de até 2 metros, ocorrendo a presença de árvores isoladas. A flora aqui apresenta mais de cem espécies endêmicas, além de 30 espécies exóticas procedentes dos Andes, do Antártico e do Astral-Andino. Os rochedos são cobertos de liquens de cores variadas, como castanho, vermelho, amarelo, cinza e até preto. Nessa área encontram-se formações rochosas de características bastante curiosas, como as Prateleiras, que produzem um efeito original, amarelo dourado. Existem também grandes formações rochosas de um cinza chumbo, como o Pico das Agulhas Negras.

A fauna do parque, que por si só já seria riquíssima, foi aumentada e diversificada na medida em que, com a devastação das áreas vizinhas, os animais foram se refugiando na mata, enriquecendo-a com espécies de todas as ordens. A maior variedade encontrada são de insetos, tendo sido catalogadas mais de 4 mil espécies de borboletas, 2.500 de besouros, mais de mil abelhas e marimbondos, 500 tipos de moscas, inclusive a maior do mundo, mais de 300 cigarras e 26 abelhas melíferas.

Mas são as aves que compõem a maior população do parque, com mais de 300 espécies, como sabiás-laranjeira, beija-flores, tucanos e maritacas, siriemas e cariemas, codornas e perdizes, sabiás, tico-ticos, gaviões e tangarás, para citar apenas as mais conhecidas, já que existem também espécies bastante raras e pouco conhecidas, que encantam o visitante de sorte, ou o estudioso paciente, com suas plumagens e cores as mais variadas, dos tons mais brandos aos mais exuberantes.

Ele abriga também 67 espécies diferentes de mamíferos – caitutu, onça-parda, cachorros do mato, macacos, tamanduás, preguiças, pacas, sagüis, jaguar e lobo guará entre outras – diversas delas ameaçadas de extinção. Existem ainda 64 tipos de anfíbios – inclusive a tartaruga de água – e 25 espécies de répteis, como a jibóia e outros tipos não peçonhentos.

Célia Borges

Nenhum comentário: