Muita gente se surpreende até hoje, ao ver tão grande área da Mata Atlântica preservada, no meio de tanta terra devastada pela monocultura cafeeira. Afinal, como é que a mata de Itatiaia sobreviveu? Pois foi graças ao Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, que hoje existe o Parque Nacional do Itatiaia. Proprietário desde meados do século XIX de um conjunto de fazendas naquela serra – Central, Queijaria, Taquaral, Invernada, Mont-Serrat e Benfica – abrangendo terras do Rio de Janeiro e de Minas Gerais – ele não foi afetado pela “febre do café”, preferindo trazer os primeiros colonos europeus para a região. As terras de Mauá passaram em 1908 para o governo federal, com a finalidade de ampliação da colonização, projeto que se estendeu até por volta de 1918.
Os colonos, predominantemente alemães, mas também franceses, suíços e holandeses, foram divididos em dois núcleos coloniais, um em Itatiaia e outro em Visconde de Mauá, com o objetivo de se dedicarem à fruticultura e à criação de pequenos animais. A experiência, além de não ter dado certo, ainda foi responsável pela devastação de grandes áreas de floresta nativa, principalmente nas altitudes mais baixas.
As primeiras notícias documentadas da região do Itatiaia relatam a visita do botânico Glaziou, em companhia da princesa Isabel, em julho de 1872, e que ficou impressionado com a riqueza de sua flora e pelas formações geomorfológicas de excepcional imponência. Em 1014, o naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Campos Porto, procedendo a estudos na região, constatou a destruição progressiva das matas, o que o levou a escrever ao diretor da unidade, J.C.Willis, denunciado as condições do local e sugerindo a criação de um parque nacional.
Outros botânicos, como Alfred Ludgren, geólogos, geógrafos e biólogos, defendiam a criação do parque, mas Campos Porto foi o primeiro a apresentar uma proposta concreta, tendo sido ele, 23 anos mais tarde, o seu primeiro diretor. Algumas fontes indicam entretanto que o autor da idéia foi um engenheiro, André Rebouças, que já sonhava com o parque 60 anos antes que ele se tornasse realidade.
Depois do fracasso do projeto de colonização, providências governamentais incorporaram as terras remanescentes dos antigos núcleos coloniais ao patrimônio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sob a denominação de Reserva Florestal do Itatiaia, que passou em
A mais antiga reserva ecológica do país possui área de 12 mil hectares – que o Decreto 87.586, de 20/09/82 aumentou para 30 mil hectares, sem que isso na prática tenha se concretizado – em terras à noroeste do Rio de Janeiro e ao sul de Minas Gerais,
Mas são a fauna e a flora que conquistam para o parque a sua fama mundial, abrigo de inúmeras espécies endêmicas e de outras bastante raras, muitas ameaçadas de extinção. Na área mais acessível do platô, com altitudes entre 800 e
Essa área sofreu várias agressões, primeiro inadvertidamente, através da colonização, que incentivava a ocupação de várias áreas, e em seguida pela ação predatória de lenhadores e carvoeiros. Mais recentemente as causas têm sido os incêndios de origem criminosa. Mas ainda guarda uma razoável parcela de mata nativa, sendo boa parte dela recuperada. Existem aí inúmeras propriedades particulares, inclusive a maioria dos hotéis, que dão suporte ao turismo local.
A segunda área apresenta altitudes de
Acima dos
A fauna do parque, que por si só já seria riquíssima, foi aumentada e diversificada na medida em que, com a devastação das áreas vizinhas, os animais foram se refugiando na mata, enriquecendo-a com espécies de todas as ordens. A maior variedade encontrada são de insetos, tendo sido catalogadas mais de 4 mil espécies de borboletas, 2.500 de besouros, mais de mil abelhas e marimbondos, 500 tipos de moscas, inclusive a maior do mundo, mais de 300 cigarras e 26 abelhas melíferas.
Mas são as aves que compõem a maior população do parque, com mais de 300 espécies, como sabiás-laranjeira, beija-flores, tucanos e maritacas, siriemas e cariemas, codornas e perdizes, sabiás, tico-ticos, gaviões e tangarás, para citar apenas as mais conhecidas, já que existem também espécies bastante raras e pouco conhecidas, que encantam o visitante de sorte, ou o estudioso paciente, com suas plumagens e cores as mais variadas, dos tons mais brandos aos mais exuberantes.
Ele abriga também 67 espécies diferentes de mamíferos – caitutu, onça-parda, cachorros do mato, macacos, tamanduás, preguiças, pacas, sagüis, jaguar e lobo guará entre outras – diversas delas ameaçadas de extinção. Existem ainda 64 tipos de anfíbios – inclusive a tartaruga de água – e 25 espécies de répteis, como a jibóia e outros tipos não peçonhentos.
Célia Borges
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