Os discursos do presidente Lula estão ficando cada dia mais inflamados. Falar bobagem é coisa que ele sempre fez, mas pelo menos no início, costumava usar um tom mais ameno, mais comedido. Ultimamente, entretanto, os destemperos da nossa autoridade maior estão ficando freqüentes, numa gritaria dirigida não apenas contra supostos adversários internos, mas até contra autoridades internacionais que se atrevam a opinar contrariamente aos seus interesses.
A votação sobre a prorrogação da CPMF, no final do ano passado, foi um bom exemplo disso, ocasião em que todos os setores do governo foram mobilizados em defesa da manutenção do imposto – e quando na ânsia de mostrar serviço, muita gente aproveitou para “deitar e rolar” nas facilidades do famigerados “cartões corporativos”. O presidente liderou pessoalmente a “tropa de choque”, e esbravejou incansavelmente contra a oposição e a classe média, tendo inclusive classificado todos os que queriam o fim do imposto como “sonegadores”.
Esbravejou, esbravejou, e perdeu!!! Mas a equipe econômica desse governo é campeã mundial em cobrança de impostos, e não ia deixar barato essa perda de recursos. Então, desmentindo o próprio presidente, iniciou o ano sufocando um pouco mais os trabalhadores, a classe média e empresariado. Logo nos primeiros meses a arrecadação atingiu recordes, mostrando que nem a CPMF nem as maldosas medidas de janeiro eram assim tão necessárias.
Desde aí, entretanto, a gritaria não parou mais. As tais das pesquisas de opinião dando tão grande aprovação ao presidente em particular e ao governo em geral, parecem estar funcionando como combustível, que alimenta um autoritarismo e uma arrogância que parecem estar chegando às raias do incontrolável. A intensa agenda externa dos primeiros anos foi substituída por uma extensa agenda interna, com direito à inauguração de obras e palanque eleitoral, inclusive com o lançamento da candidatura extemporânea da ministra Dilma Rousseff.
“Eu vou fazer meu sucessor”, esbravejou o presidente, durante várias semanas, vermelho e lançando chuvas de perdigotos. E eis que a candidatura da Mãe do PAC já dá sinais de estar “dando com os burros n’água”. Donde se vê que a gritaria nem sempre dá os resultados esperados. A ilustre chefe da Casa Civil, aliás, mais parece uma “aprendiz de feiticeiro”, copiando o mestre em autoritarismo e arrogâncias do tipo “tenho mais o que fazer” do que prestar contas ao Legislativo. Mas lhe falta muita coisa para chegar perto do carisma do chefe. Ainda bem...
Lula já esbravejou, gritou e até xingou representantes de organismos internacionais que se atreveram a dar pareceres, em trabalhos técnicos, que põem em dúvida a relevância dos biocombustíveis, frente à difícil questão de uma possível falta de alimentos num futuro próximo. É claro que o presidente não ia perder seu precioso tempo ouvindo gente competente sobre o assunto, avaliando e se posicionando com o equilíbrio que se espera de um chefe de estado. Não!!! Ele saiu logo soltando o grito, afirmando o que lhe vinha à cabeça, numa transgressão verbal típica de pessoas que, por não saberem quase nada sobre um assunto, acham que o pouco que sabem é tudo.
Enfim, de uma autoridade que teve o descaramento de ridicularizar o presidente dos Estados Unidos, pode-se esperar qualquer coisa. Inclusive que fique indignado se fizerem o mesmo com ele. Porque com Sua Excelência, o Presidente dos Estados Unidos do Brasil, não se brinca. Porque se brincar, ele grita. E se ele gritar, não só vai incomodar aquela parcela da população ainda capaz de analisar com algum discernimento a verdadeira situação política do país, como também é possível que ele consiga convencer de seus pontos de vista, total e cabalmente, seu grande eleitorado.
A última jogada do presidente é justamente tumultuar o processo eleitoral. De novo vermelho, e lançando perdigotos sobre os pobres microfones, Sua Excelência vem dizer agora que a Lei Eleitoral é “falso moralismo”. Ele quer privilegiar os aliados na distribuição de verbas em ano eleitoral, quer inaugurar obras nos redutos do PT, quer usar o tal do PAC como moeda política, mas, que droga!!! A Lei Eleitoral não deixa. Ela não apenas é “falso moralismo” como é o “lado podre da hipocrisia brasileira”. Vocês acreditam nisso!!! Quer dizer, se não pode usar a lei em seu favor, ela não presta.
Então vamos continuar usando a fórmula que vem dando certo! Se a Lei Eleitoral não nos beneficia, vamos fingir que ela não existe. Em nome de uma proposta ridícula e pífia de acelerar o desenvolvimento, vamos distribuir verbas a quem nos interessa, vamos prejudicar nossos adversários, vamos continuar fazendo de conta que não sabemos da nada. “Lei Eleitoral? Mas eu sou um semi analfabeto, nunca tive tempo de ler isso!!!” O Legislativo e o Judiciário até podem estar vendo tudo, mas a maioria dos seus integrantes anda preocupada, prioritariamente, com seus próprios umbigos.
E afinal, na falta de argumentos lógicos e conhecimentos adequados, quando alguma coisa parece que vai dar errada, o presidente grita. Esbraveja. Vale qualquer coisa quando se trata de atingir certos fins estabelecidos, como aumentar ainda mais a arrecadação, garantir a continuidade do poder nas mãos de algum aliado, mascarar as gritantes deficiências do país em saúde, educação e segurança, alardeando um sucesso econômico que vem nos custando tão caro.
Democracia? Ética? Moralidade? O que é que essas palavras significam mesmo? Acho que a autoridade perdeu a noção desses conceitos, e vem contaminando com essa ignorância, uma grande parte da população. Vale tudo para satisfazer ao chefe. Vale tudo para conservar privilégios. Em último caso, o presidente grita. E nós, que tínhamos o hábito de questionar, cada vez mais vamos preferindo fazer de conta que nem é conosco...
Célia Borges
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