Um dos resultados de ter participado do I Encontro de História do Vale do Paraíba, nos dias 17 e 18 de junho, em Vassouras, foi que através de saudável e produtiva convivência com pesquisadores de todos os tipos – acadêmicos, amadores e populares – tive a oportunidade de dar novas dimensão e expressão às minhas inquietações sobre a importância da cultura na vida das pessoas e comunidades, e de quanto é necessário para nós, que compreendemos isso, trabalhar e lutar para dar a ela o espaço que lhe cabe.
A História é uma ciência dinâmica. Esse é um ponto que tenho procurado destacar ultimamente, em vários textos que escrevo. Uma opinião que eu vinha desenvolvendo instintivamente, na busca de dar uma finalidade aos trabalhos e pesquisas que muitos de nós empreendemos, e que acabam restritos ao âmbito da vida acadêmica, ou quando muito além, a um pequeno grupo de interessados. Rodamos em círculos, apenas trocando idéias uns com os outros, e quando morrermos, o que produzimos e escrevemos irá parar, esquecido, em alguns volumes de anais.
O Encontro de História de Vassouras, que teve como objetivo de resgatar a memória popular dos tempos do Café nessa região, apresentou vários aspectos inovadores para esse tipo de evento, sendo que o principal deles foi a abertura para uma participação ampla da população, incentivada desde o fato de oferecer inscrições gratuitas, até o de incluir na programação horários para “As experiências dos escritores locais contadas por eles mesmos”.
Melhor ainda, e como aspecto consequentemente relevante, suas comunicações, livros e teses apresentadas, vão ter futuramente a oportunidade de chegar ao público, através de um portal educacional – Histórias do Médio Paraíba – que poderá ser utilizado por escolas públicas e privadas dos 19 municípios do Vale do Paraíba fluminense. E através do qual professores terão as ferramentas indispensáveis para trabalhar com estudantes sobre temas tais como a importância da preservação da cultura, do meio ambiente e dos cenários históricos que os cercam.
Além de ter conseguido, como um novo conceito de evento, fechar o círculo entre a produção e o consumo do “produto cultural” que é a pesquisa histórica, o Encontro ainda pode prover os participantes de informações sobre as atividades de diversas entidades publicas e privadas, estaduais e municipais, cujos interesses comuns desembocam no resgate da cultura como um bem coletivo, que alimenta a cidadania e incentiva o estudo, mas que pode ter decisivo interesse econômico, através do turismo e da proteção ao meio ambiente.
A cultura não é inútil, como parece pensar a maioria dos nossos governantes. A cultura não é apenas “pão e circo”, para ter suas verbas consumidas apenas em bailes de carnaval e “exposições municipais” com artistas da moda, como é uso corrente em muitos dos nossos municípios. A cultura, inclusive a cultura popular (porque afinal cultura é uma coisa só) passa necessariamente pelo conhecimento de suas raízes, pelo reconhecimento de seus traços regionais, da sua linguagem, da história do lugar onde nasceu e dos seus antepassados.
Cultura é identidade. E foi isso que tivemos a chance de aprender, e reaprender, naquele I Encontro de História do Vale do Paraíba. Foi em torno dessa idéia que tivemos chance de confraternizar naqueles dois dias, que serão para mim inesquecíveis. Cultura não é apenas indispensável para a consciência de cidadania, para as referências pessoais e coletivas de se pertencer àquele lugar, mas é também uma saudável opção para o desenvolvimento sustentável que tanto procuramos nos nossos dias.
Entre outros temas apresentados e discutidos naquela oportunidade estão o fato de que a cultura (e o conhecimento da História) não vai atingir seus verdadeiros propósitos enquanto ficar isolada na comunidade acadêmica. Que qualquer iniciativa cultural, para dar certo, tem que envolver a comunidade. Que a preservação de sítios e monumentos históricos tem afinidade intrínseca com a preservação do meio ambiente, e que a soma desses interesses pode resultar em recursos financeiros mais acessíveis. E que as atividades econômicas decorrentes da preservação cultural e ambiental podem ser muito mais produtivas do que aquelas de maior lucro aparente, mas que vão cobrar o preço de comprometer a cultura e o ambiente.
O produto das palestras, comunicações e trocas de idéia no Encontro são material suficiente para produzir um livro, o que não é minha proposta aqui. Portanto quero concluir com meus agradecimentos pessoais às entidades que o patrocinaram, promoveram, organizaram e apoiaram: Instituto Light, Instituto Cultural Cidade Viva, Inepac, Secretaria Estadual de Cultura, Fundação Severino Sombra, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Preservale e Conciclo.
Gostaria de enumerar também todas as pessoas admiráveis que conheci nessa feliz oportunidade, representantes de instituições culturais dos mais diversos municípios do Vale, estudantes, professores, pesquisadores, mas isso também seria assunto para um tratado. Por isso, prefiro me despedir por aqui, mandando um grande abraço para todos, e esperando que um próximo encontro possa nos reunir outra vez.
Célia Borges
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