A realização das convenções dos partidos políticos, nos últimos e próximos dias (hoje é 23/06/2008) dá início à melancólica maratona eleitoral (melancólica para nós, eleitores comuns, que não somos candidatos, cabos eleitorais e demais...), onde devemos estar preparados para todo o tipo de assédio, atualmente tão sofisticados que já superaram (eu até diria felizmente) a fase do lixo urbano (“santinhos”, faixas, cartazes e “bandeirolas” nos postes), e adentraram na do lixo eletrônico, via “telemarketing” e internet. Sem falar, é claro, nos horários gratuitos na TV, que ainda por cima tem o mau gosto de atropelas as novelas...
Além da dificuldade eleitoral em si, pela complicação que é se decidir quais candidatos merecem nosso voto, ainda temos que ser submetidos à tortura daquele desfile de pessoas em quem, definitivamente, não votaríamos. A campanha eleitoral é o pior capítulo das eleições, do ponto de vista do eleitor comum. Ela só é boa para os próprios candidatos (principalmente para os que conseguem ser eleitos) e para aquela multidão de pessoas e negócios que ganham dinheiro com isso. Nem vou me atrever a enumerar, porque rigorosamente, eu poderia acabar presa por desacato.
O caso é que já tem muita gente cansada dessa história. Esse tipo de campanha eleitoral que nós temos só reflete o poder da “politicagem”, e não da política. Um sistema que privilegia os “feudos eleitorais”, o abuso dos cargos, as dinastias e o oportunismo, e valoriza os interesses corporativos e pessoais, em detrimento dos interesses coletivos, não pode ser levado à sério. Não sou de ver novelas, mas acredito na força do (e no respeito multidisciplinar pelo...) inconsciente coletivo. Por isso, até reconheço, que a inspiração para o movimento sobre o qual escrevo abaixo, tenha vindo de alguma cena de “horário nobre”: a Campanha do Não!
Um grupo de leitores do mesmo jornal encontrou-se, há algumas semanas, na página da Sessão de Cartas, apresentando o mesmo ponto de vista: chegou a hora de Dizer Não! Dizer Não à corrupção, ao cinismo, à desonestidade e à criminalidade das nossas autoridades, entre outros muitos problemas que temos encarado com passividade e omissão. Nos dias seguintes, multiplicaram-se as cartas apoiando aqueles primeiros missivistas, e surpreendentemente, superando inúmeras dificuldades, algumas pessoas desse grupo puderam se identificar e se reunir. Por enquanto não passamos de umas dez pessoas (e digo nós porque, como sou reclamadora e chata de carterinha, também fui convocada), mas espero que o movimento cresça nas próximas semanas.
Com a “temporada de caça ao eleitor” iniciada, e as eleições se aproximando, é claro que o processo eleitoral tem tudo para ser alvo dessa, e até de outras campanhas. É o caso, por exemplo, de apoiar a posição da maioria dos desembargadores dos TREs, impedindo a candidatura de pessoas condenadas. Eu pessoalmente, acho que os processados também deveriam ser cortados, mas enfim, reconheço que já seria esperar demais. Pelo menos, na relação de candidatos, deveria constar a referencia tipo “nada consta”, que são exigidas ao cidadão comum em situação de responsabilidade.
Mas, mesmo as informações sobre a “folha corrida” do candidato, não podem evitar que, eventualmente, venhamos a incorrer em novos erros. Há situações em que é difícil escolher um bom candidato, pelo simples fato de que não há bons candidatos. Como é o que parece que vai acontecer agora em Resende, na escolha do prefeito. Como escreveu nos últimos dias um blogueiro da área, em seu espaço: “Se você não sabe em quem votar para prefeito de Resende, acho que deveria se orgulhar disso, é sintoma de que tem cérebro”. (Confira o texto inteiro em www.wml.blog-se.com.br)
Os critérios eleitorais da maioria da população ainda dizem respeito aos seus interesses pessoais – votar no vizinho, no amigo, em quem vai arranjar emprego para si ou para sua família, naquele político que aparece na hora da eleição para tomar um cafezinho, no que dá material para a obra, arranja uma bolsa de estudos para o filho, ou até em quem substitui os serviços públicos em situações em que esse não funciona. Como parece impossível reverter essa situação, na era do bolsa-família, bolsa-estudo, bolsa-gás, bolsa-vagabundagem, resta àqueles eleitores que ainda tem cérebro, consciência, espírito público ou sei lá mais quantas boas motivações, lutar contra isso da sua trincheira, que é o voto.
Mas se não temos a opção de em quem votar? O jeito é protestar, votando em branco ou anulando o voto. Essa opção seria a melhor, para você não acabar dando seu voto em branco para quem não quer. A urna eletrônica, apesar das aparentes vantagens, veio inibir os votos de protesto como existiam antigamente, quando se podia votar em personagens populares (não candidatos), no seu bichino de estimação, e até pasmem, em si mesmos. Ela acabou com o “humor eleitoral” que nos rendia boas gargalhadas nos dias seguintes à eleição. Mas se não posso dar meu voto a mim mesma, pelo menos aproveito a carona da campanha eleitoral para investir no meu protesto. Não sou candidata à nada, mas gostaria de declarar que:
“RUIM POR RUIM, VOTE EM MIM!!!!”
Célia Borges
2 comentários:
Célia, como sempre completa e genial!!! Voltei no tempo e recordei a campanha que meu avô fazia em favor do voto no Dino da Silva Sauro, e as brigas com os amigos q defendiam as propostas de campanha do Pato Donald... rssss
Grd abrç... c/ carinho e saudade!!!
Jenny
Célia
Impressionam-me sobremaneira seu ecletismo e seu espírito de luta, em qualquer caso atuando sempre com inteligência e lucidez.Sua vibrante palavra se faz ouvida em diferentes assuntos, todos de alto interesse para o sociedade.O tema político tem sido abordado pela amiga com dignas posturas que faltavam aqui, dentre os quais sobreleva a indignação, fermento do humano comportamento que também em Resende poderá vir a ser a chave, um tanto tardia,para as mudanças de rumos que muitos já almejam.Estamos ainda a aguardar aqui a Queda de renitente Bastilha...
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