Prezado Dr. Rechuan,
O senhor mal se refez das emoções da vitória, e eis que estamos nós aqui, querendo “meter o bedelho” no seu mandato, ainda nem iniciado. Não repare. E até desculpe a precipitação – eu prefiro considerar uma antecipação... O que me move são os rumos sempre incertos da frequentemente esquecida “política cultural” do nosso município. Porque Cultura nunca é prioridade. Nem municipal, nem estadual nem federal. E em Resende, pode-se dizer que ela está há anos luz abaixo das suas possibilidades.
Sei que muitos vão discordar do que lhe escrevo. Podem até nos passar uma longa lista dos eventos realizados nos últimos anos. O Museu (MAM), apesar de pessimamente instalado, continua cumprindo sua finalidade, e realizando suas exposições. A Casa da Cultura também promove seus eventos, e o Teatro de Bolso (teatro com muito boa vontade, diga-se lá!!!) monta de vez em quando alguma peça ou espetáculo. Não vou dizer que é cultura “pra inglês ver”, porque os ingleses valorizam demais a sua cultura, ao contrário de nós mesmos.
Temos um Festival de Teatro, que acontece de vez em quando, mas lava a alma. E só. Mesmo assim, com as maiores dificuldades. Não existe um engajamento real do poder público em torno das atividades culturais. Na “era do marqueting político”, essas iniciativas são ótimas para enfeitar imagens, mas quando o evento acaba, a situação da área cultural continua igual. Sem apoio e sem recursos.
O empobrecimento da cultura, em Resende, é lamentável sob todos os aspectos. Somos hoje o pálido fantasma de um passado glorioso. Até os anos 90 o município ainda teve uma vida cultural à altura da sua história. Havia teatros com atividade regular (como o da AMAN e o Senac), havia o Boca de Cena, havia a Companhia das Artes. Exposições e lançamentos de livros eram bem mais freqüentes que hoje. E havia uma muito maior e melhor divulgação de tudo isso.
Não acho que cultura seja só isso. Mas nós, que estávamos presentes naquela tão efervescente vida cultural, tínhamos olhos para o futuro, e acreditávamos que dali todas as formas de arte iriam conquistar o “grande público”, que iram se popularizar. Investimos muitos sonhos e energias (Menção especial para Celina, Vivi, Dudu e os demais animadores culturais da época). Havia muitas possibilidades. As comemorações dos 200 Anos, por exemplo, poderiam ter sido uma excelente oportunidade para resgatar a história e alimentar a auto-estima dos munícipes. Mas pra que gastar dinheiro com isso, não é mesmo? Como tudo o que diz respeito à cultura, essa oportunidade única passou ao largo do conhecimento da maioria da população.
Cultura é coisa que dá trabalho!!! Cultura é ação e ao mesmo tempo preservação da memória. Cultura é o resgate dos conhecimentos do passado, e a preparação da nossa identidade no futuro. Não é nem questão de muito dinheiro, é questão de muita vontade. É o caso por exemplo da recuperação dos arquivos históricos do município, que estão se deteriorando nas precárias instalações da Casa da Cultura. A microfilmagem e acondicionamento dos documentos custa, no total, tanto quanto um automóvel de preço médio, cerca de R$ 50 mil. É um valor irrisório, diante do seu significado. Mas nenhuma autoridade municipal dos últimos anos considerou que valesse à pena o investimento. É mais fácil gastar isso em medidas populistas, do interesse apenas de uma minoria.
Porque cultura, senhor futuro prefeito, é assunto do interesse de todos. Cultura é um ingrediente sutil, mas de um valor que faz grande diferença na vida do cidadão e da comunidade. Cultura é música, teatro, cinema, literatura. Cultura é museu e biblioteca. Cultura é conhecimento e acesso à Cidadania. E Resende tem um grande potencial cultural, de Claudionor Rosa à Marcos Esch, da Academia de História à ong Oito Deitado, de tantas mais pessoas e iniciativas que é impossível citar nessa carta.
A Saúde, a Educação, a Segurança, as Finanças, tudo isso é importante e de caráter prioritário para qualquer administração, e qualquer cidadão consciente tem que reconhecer isso. Mas o que eu quero lhe pedir, e tenho certeza de que não estou sozinha nessa solicitação, é de que não se esqueça da Cultura. Que não faça como outros prefeitos, deixando-a por conta de pessoas que não são do setor, não têm conhecimentos, nem estão interessadas em desenvolver trabalhos sérios nessa área.
O animador cultural, por definição, não estará lhe solicitando um emprego público. Ele terá um projeto, frequentemente interessante, eventualmente viável, e que trará dividendos sociais muito maiores do que o custo do investimento. Abrir espaço para o desenvolvimento de novas idéias, apoiar eventos populares, ampliar o acesso do público às atividades artisticas e esportivas, tudo isso é trabalhar pela cultura. E se eu conheço bem essa cidade, posso garantir que não vai faltar gente séria e dedicada, disposta a lhe ajudar!!!
Célia Borges
14 de outubro de 2008
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2 comentários:
Oi Célia, tudo bom? Andava um pouco sumida, mas passei para falar um oi e dizer que tenho um meme pra você lá no blog. Passa lá tá! Mil beijos!
Voltei hoje por aqui e reli esta carta, muito realista e esclarecedora. Vou enviar como idéia aos demais integrantes de um grupo de debates que participo em Jundiaí. Também dividimos o mesmo sonho: a valorização e incentivo à Cultura em nossa cidade. Mil beijos!
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