O despertar dos eleitores - e a virada na escolha dos novos prefeitos de Resende e Itatiaia - é um fato político digno de análises mais especializadas. Não é o meu caso, já que escrevo como jornalista, mas também, e principalmente, como cidadã. Torci intimamente, e fiquei satisfeita com os resultados. Mas também acho que ainda é cedo para comemorações exageradas, já que não é justo nem razoável esperar que os novos prefeitos sejam, sozinhos, os salvadores dos nossos municípios. Nem os únicos responsáveis pelas melhorias nas nossas condições de vida.
A administração pública municipal, para ser competente e eficiente, depende muito do desempenho do Poder Legislativo, ou seja, das Câmaras e dos vereadores. Os dois governos municipais atuais se caracterizam por uma estreita – e por isso mesmo, para o cidadão, possivelmente incômoda e inconveniente – aliança entre Executivo e Legislativo. Juntos, eles fazem o que querem, mesmo que à revelia dos interesses da população. E gastam o nosso suado dinheirinho, naquilo que lhes interessa.
Não vou entrar nos méritos dos absurdos que nos assolam, como os de desperdícios de recursos públicos, porque isso é assunto para uma grande reportagem, que eu mesma gostaria de fazer. Nem vou entrar nos méritos dos nomes escolhidos para a próxima vereança, porque isso também merece uma análise à parte. O fato é que elegemos um grupo de cidadãos como nossos representantes, e a obrigação principal deles é exatamente essa: a de nos representar.
Isso deveria significar também que a nossa opinião – e a nossa responsabilidade como cidadãos – não acaba no momento em que depositamos nossos votos na urna, ou quando conferimos a relação daqueles que foram efetivamente eleitos. Tendo ou não votado nos que se elegeram, é preciso, é necessário, é indispensável, que continuemos a exercer nossos direitos, cobrando deles uma representação à altura da nossa confiança.
O produto do trabalho dos nossos vereadores, nos últimos anos, avaliado em conjunto, fica abaixo de medíocre. As poucas iniciativas relevantes, do ponto de vista do interesse da comunidade a que deveriam servir, geralmente são pobres, mal feitas, e sem continuidade. Ao invés de exercerem suas verdadeiras responsabilidades, acham que dando uma esmolinha ou outra do seu farto orçamento para a cultura, para o atendimento social ou para o esporte, é suficiente para “lavar” as suas consciências.
Essa política “da idade da pedra”, essa ótica clientelista, precisa ser modificada, ao custo de ficarmos marcando passo indefinidamente. Não elegemos vereadores para ficarem discutindo nomes de ruas. Não elegemos vereadores para ficarem apenas negociando seus interesses pessoais a troco de voto para os projetos do Executivo. Não elegemos vereadores para encerrar as sessões legislativas com 15 ou 20 minutos, por falta de presença ou por falta de assunto.
Enquanto as prefeituras estão prestes a passar por uma renovação, nas Câmaras Municipais a continuidade está mais ou menos garantida, com a reeleição de uma boa parte dos vereadores (menos em Resende, mais em Itatiaia). O que significa que, para mudar alguma coisa, o cidadão vai ter que continuar na sua luta. Freqüentar as sessões, por exemplo, é uma boa sugestão para nos mantermos informados sobre o que eles fazem, e principalmente, sobre o que eles não fazem e deveriam estar fazendo.
A pressão pode funcionar muito bem quando está em votação alguma proposta de interesse coletivo. A presença de público, geralmente tão rara, pode influir em decisões cruciais sobre a nossa vida. E dificulta a cumplicidade entre os poderes. Estamos acostumados a deixar tudo passar ao largo, como se não nos dissesse respeito. Mas é assim que os políticos que tanto detestamos, encontram espaço para fazer suas tramóias. E a única forma de atuarmos efetivamente é participando de todas as etapas daquilo que diz respeito à nossa cidadania.
Se não lutarmos pelos nossos interesses à nível municipal, quem vai nos representar à nível estadual e federal? Por isso é que eu acho que, mesmo a contragosto, deveríamos nos revezar em plantões nos plenários das Câmaras, em dias de sessão. Deveríamos criticar o que consideramos errado, cobrar resultados em todos os níveis da administração, fazer valer nossos direitos constitucionais...
Se nós continuarmos sendo cidadãos acomodados, desinteressados do que fazem aqueles que nos representam, vamos acabar não tendo nem mesmo de quem, nem a quem reclamar...
Célia Borges
10 de outubro de 2008
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