17 de dezembro de 2009
ALDEIA GLOBAL – Copenhage e a natureza do nosso próprio quintal
Enquanto as autoridades dessa nossa aldeia global se degladiam em Copenhage, para estabelecer normais internacionais visando controlar a degradação do meio ambiente, e preservar o planeta diante das cada vez maiores ameaças de desastres naturais, a maioria de nós segue alheia, na inocente irresponsabilidade de achar que não tem nada com isso, ou, no caso dos nossos governantes, usando as questões ambientais como mero “marketing” eleitoral, e exercendo sua culpada irresponsabilidade.
Falando sério, é claro que pouco podemos fazer sobre o que se discute em Copenhage. Mas se olharmos à nossa volta, começando pela nossa casa, pela nossa rua, pelo nosso bairro, pela nossa cidade, talvez encontremos alguma, ou até muita coisa a fazer em defesa do meio ambiente. Temos arbítrio, e podemos tomar atitudes, começando pela destinação do nosso próprio lixo. Existem mecanismos de reciclagem, que só não são mais eficientes porque falta consciência, participação e condicionamento, via educação ambiental, da comunidade.
Eu cito o lixo, para começar, porque é uma questão que pode ser trabalhada de forma individual e comunitária. A coleta seletiva pode ser feita em casa, no prédio, no quarteirão, ou através de uma associação de bairro. Quanto mais pessoas e unidades habitacionais envolvidas, maior a chance de sucesso da iniciativa. Já existe uma coleta organizada para restos de óleo de cozinha, por exemplo, e diversas instituições como a APAE, que recolhem e usam o lixo reciclável como fonte de renda. São pequenas providencias que dependem do cidadão, e que podem fazer grande diferença no volume e qualidade do lixo de um município.
Cuidar do próprio lixo corresponde à um tipo de consciência ambiental, que pode ter desdobramentos, como a de promovermos a reciclagem dentro da própria casa, aprendendo a reaproveitar e assim, a economizar. Atentos, podemos aprender novas e melhores formas de fazermos isso. Vivendo e agindo dentro desse conceito, podemos dar exemplos, e influenciar o comportamento dos nossos familiares, parentes e vizinhos. Observando soluções, e divulgando-as, podemos estar fazendo parte de uma “corrente do bem”, da qual, no futuro, pode depender a nossa própria sobrevivência. Ou a dos que seguirão depois de nós.
A consciência ambiental será tão mais sólida quanto começar em nossa própria casa. Mas ela também precisa se expandir para além dos nossos muros e paredes, e alcançar as nossas ruas e nossos bairros. Nossos municípios e estado. Porque a cada dia somos cúmplices, embora geralmente inconscientes, dos mais diversos crimes e irresponsabilidades contra a natureza. Vemos pessoas caçando e mantendo pássaros em cativeiro, e há gente que acha isso muito natural. Jogamos lixo na rua ou varremos das calçadas para os bueiros, sem pensar no que isso pode resultar. As árvores das nossas ruas estão infestadas de erva-de-passarinho, definhando e provocando riscos, mas passamos por elas sem nem ao menos um segundo olhar.
Olhando um pouco além dos nossos bairros, numa visão geral dos nossos municípios – Resende, Itatiaia, Quatis e Porto Real – podemos ver uma sequência de morros e montanhas nuas de vegetação, herança do “ciclo do café”, que se extinguiu há mais de cem anos. Há 25 moro por aqui, e pouco mudou nessa paisagem. Especialistas em meio ambiente, por aqui existem muitos. Eles se revezam em cargos no poder público – municipal e até estadual – e no comando de organizações e desorganizações não governamentais. Participam de congressos, dão entrevistas nos jornais. Podem ser grandes mestres na teoria de salvar o meio ambiente, mas eu ainda estou à espera de um, apenas um, que me mostre uma iniciativa de resultados, um projeto de reflorestamento que tenha sido relevante, a história de uma única árvore plantada. Temos mestres em teoria, mas nada vai resultar em prática, enquanto o cidadão, através da comunidade, não souber manifestar o que quer, e exigir o que é preciso.
Pode ser que em Copenhage as autoridades do planeta tomem alguma decisão importante. Mas nada do que eles decidirem lá vai ser tão relevante para o meio ambiente, quanto a atitude de cada um de nós, cuidando do nosso lixo, da nossa rua, do nosso bairro, do nosso município...
Célia Borges (em homenagem à Fátima Porto)
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