Narcisa Amália é uma poeta resendense por definição, até porque sua produção literária ficou bastante restrita ao período em que viveu aqui. Sua importância para a literatura brasileira, entretanto, vai muito além dessa definição, porque ela foi pioneira não apenas pelo fato de ter sido uma das primeiras jornalistas brasileiras, e a primeira a se profissionalizar como tal, mas também por ter sido uma das primeiras mulheres do Brasil a romper com o preconceito do que era considerado masculino e feminino, abordando temas e explorando assuntos que até então eram considerados exclusivamente de homens. Poeta brilhante, alvo dos comentários dos mais respeitados críticos da época, que entretanto, na maioria, estranhavam o fato dela não se limitar ao romantismo amoroso que se esperava de uma literatura feminina.
Antes dos dezoito anos já editava o jornal A Gazetilha e colaborava no Garatuja, publicando suas poesias também no Resendense, e divulgando suas idéias vanguardistas, contra a escravidão e a favor do regime republicano, enfatizando a condição submissa, imposta à mulher pela sociedade conservadora da época. Admiradora de Castro Alves e Victor Hugo, sua principal inspiração era a liberdade, e seu sonho era de que, num futuro não muito distante, pudesse ver os povos, homens e mulheres, livres da violência, da opressão e da injustiça.
Essa bela transgressora, admirada e invejada com igual fervor, não conhecia então, limites para perseguir seus sonhos. E assim, aos 21 anos, partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, com o objetivo de conseguir os recursos para publicar seu primeiro livro. Essa atitude foi um escândalo para a época, gerando comentários maldosos. Mas sua resposta ultrapassou a malícia dos censores, pois em 1873, a Garnier, uma das editoras mais respeitadas da época, lançou Nebulosas. É desse livro o poema “À Resende”, que publicamos em seguida.
Antes dos dezoito anos já editava o jornal A Gazetilha e colaborava no Garatuja, publicando suas poesias também no Resendense, e divulgando suas idéias vanguardistas, contra a escravidão e a favor do regime republicano, enfatizando a condição submissa, imposta à mulher pela sociedade conservadora da época. Admiradora de Castro Alves e Victor Hugo, sua principal inspiração era a liberdade, e seu sonho era de que, num futuro não muito distante, pudesse ver os povos, homens e mulheres, livres da violência, da opressão e da injustiça.
Essa bela transgressora, admirada e invejada com igual fervor, não conhecia então, limites para perseguir seus sonhos. E assim, aos 21 anos, partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, com o objetivo de conseguir os recursos para publicar seu primeiro livro. Essa atitude foi um escândalo para a época, gerando comentários maldosos. Mas sua resposta ultrapassou a malícia dos censores, pois em 1873, a Garnier, uma das editoras mais respeitadas da época, lançou Nebulosas. É desse livro o poema “À Resende”, que publicamos em seguida.
Nos anos seguintes, e enquanto continuou a escrever, Narcisa Amália sempre manteve a marca da rebeldia, desafiando limites e chegando ao limiar dos extremos. Em 1874, publica seu segundo livro, dessa vez de contos, Nelúmbia. Suas atitudes corajosas e talento literário indiscutíveis mereceram a consideração e o respeito dos seus contemporâneos.
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À RESENDE
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(respeitada a forma de escrever da época)
Enfim te vejo, estrella da alvorada,
Perdida nas cellagens do horizonte!
Enfim te vejo, vapososa fada,
Dolente preza de um sonhar insonte!
Enfim, do meu peregrinar cansada,
Pouzo em teu collo a suarenta fronte,
E, contemplando as pétreas cordilheiras,
Ouço o rugir de tuas cachoeiras!
Mal sabes que profundos dissabores
Passei longe de ti, éden de encantos!
Quanto acerbo soffrer, quantos agrôres
Humedeci co’as bagas de meus prantos!
Sem um raio se quer de teus fulgores
Sem ter a quem votar meus pobres cantos...
Ai! O Simun cruel de atroz saudade
Matou-me a rubra flor da mocidade!...
Vivi bem triste! O coração enfermo
Buscava embriagar-se de harmonias,
Porem via do céo no azul sem termo
Um presságio de novas agonias!...
O bolício do mundo era-me ermo
Onde as lavas do amor chegavam frias...
Só uma melancholica miragem
Doirava-me a solidão – a tua imagem!
Caminhei, caminhei sem ter descanço
Ao som das epopéias das florestas;
Caminhei, caminhei e no remanso
Da tarde, ouvi do mar as vozes mestas;
Nas ribas descansei de um lago manso
P’ra gozar do talento as nobres festas,
E adormeci na esmeraldina alfombra
Da palmeira real a grata sombra!
Caminhei inda mais: com nobre empenho
Penetrei no sagrado sanctuario
Onde o gênio – em delírio – arrasta o lenho
Do trabalho, em demanda de um Calvário!
Vi surgir sobre a tella, à luz do engenho,
E povoar o templo solitário,
Da carioca a lânguida figura,
De Nhagassú o feito de bravura!...
Inclinada nas longas penedias
Acompanhei o vôo das gaivotas;
Meu nome arremessei às ventanias
Sem que sentisse sensações ignotas!
Da musa do piano as melodias
De uma flauta canóra as doces notas,
O gello que sorvi n’um mago enleio,
Tudo gellado achou meu débil seio!...
Mas apoz negridão de noite lenta,
Na curva do horizonte o sol resplande:
Apoz o horror da tétrica tormenta,
Gazil santelmo ló no céo se acende:
Apoz o latejar da dor cruenta
Vejo-te enfim, ó plácida Resende,
Debruçada no cimo da colinna,
Sorrindo meiga à exhausta peregrina!
Abre-me os braços, filha do occidente,
Quero beber teus máditos luares!
Quero escutar o solluçar plangente
Do vento pelas franças dos palmares!
Não vês no no meu lábio há sede ardente?
Que calcinou-me a tez o sol dos mares!...
Ah! Mostra-me ao passo meu tardio, incerto,
A sombra d’arequeira do deserto!
Que saudades que eu tinha das campinas,
D’estes prados e veigas odorantes!
De teu tyrso de cândidas neblinas
Recamado de auroras cambiantes!
D’estas brandas aragens matutinas
Que doudejam com as ondas murmurantes,
De tudo, tudo quanto em ti resumes,
Formosa noiva dos estivos lumes!...
Na corolla da flor da minha vida
Se aninha agora inspiração mais pura;
Do meu rio natal a voz sentida
Desperta em mim um mundo de ternura!
Em minha triste fronte empallidecida
Mais uma estrophe límpida fulgura,
E no berço de tuas matas densas
Libo sedenta o orvalho de mil crenças!...
Ó filha de Tupan, que um véo de brumas
Estendes sobre o mísero precito;
Ó ave linda, as mimosas plumas
Aqueces nos ardores do infinito;
Garça gentil, que surges das espumas
Como da mente do poeta o mytho,
Enquanto a lua ondula pelo espaço
Enfim te vejo, estrella da alvorada,
Perdida nas cellagens do horizonte!
Enfim te vejo, vapososa fada,
Dolente preza de um sonhar insonte!
Enfim, do meu peregrinar cansada,
Pouzo em teu collo a suarenta fronte,
E, contemplando as pétreas cordilheiras,
Ouço o rugir de tuas cachoeiras!
Mal sabes que profundos dissabores
Passei longe de ti, éden de encantos!
Quanto acerbo soffrer, quantos agrôres
Humedeci co’as bagas de meus prantos!
Sem um raio se quer de teus fulgores
Sem ter a quem votar meus pobres cantos...
Ai! O Simun cruel de atroz saudade
Matou-me a rubra flor da mocidade!...
Vivi bem triste! O coração enfermo
Buscava embriagar-se de harmonias,
Porem via do céo no azul sem termo
Um presságio de novas agonias!...
O bolício do mundo era-me ermo
Onde as lavas do amor chegavam frias...
Só uma melancholica miragem
Doirava-me a solidão – a tua imagem!
Caminhei, caminhei sem ter descanço
Ao som das epopéias das florestas;
Caminhei, caminhei e no remanso
Da tarde, ouvi do mar as vozes mestas;
Nas ribas descansei de um lago manso
P’ra gozar do talento as nobres festas,
E adormeci na esmeraldina alfombra
Da palmeira real a grata sombra!
Caminhei inda mais: com nobre empenho
Penetrei no sagrado sanctuario
Onde o gênio – em delírio – arrasta o lenho
Do trabalho, em demanda de um Calvário!
Vi surgir sobre a tella, à luz do engenho,
E povoar o templo solitário,
Da carioca a lânguida figura,
De Nhagassú o feito de bravura!...
Inclinada nas longas penedias
Acompanhei o vôo das gaivotas;
Meu nome arremessei às ventanias
Sem que sentisse sensações ignotas!
Da musa do piano as melodias
De uma flauta canóra as doces notas,
O gello que sorvi n’um mago enleio,
Tudo gellado achou meu débil seio!...
Mas apoz negridão de noite lenta,
Na curva do horizonte o sol resplande:
Apoz o horror da tétrica tormenta,
Gazil santelmo ló no céo se acende:
Apoz o latejar da dor cruenta
Vejo-te enfim, ó plácida Resende,
Debruçada no cimo da colinna,
Sorrindo meiga à exhausta peregrina!
Abre-me os braços, filha do occidente,
Quero beber teus máditos luares!
Quero escutar o solluçar plangente
Do vento pelas franças dos palmares!
Não vês no no meu lábio há sede ardente?
Que calcinou-me a tez o sol dos mares!...
Ah! Mostra-me ao passo meu tardio, incerto,
A sombra d’arequeira do deserto!
Que saudades que eu tinha das campinas,
D’estes prados e veigas odorantes!
De teu tyrso de cândidas neblinas
Recamado de auroras cambiantes!
D’estas brandas aragens matutinas
Que doudejam com as ondas murmurantes,
De tudo, tudo quanto em ti resumes,
Formosa noiva dos estivos lumes!...
Na corolla da flor da minha vida
Se aninha agora inspiração mais pura;
Do meu rio natal a voz sentida
Desperta em mim um mundo de ternura!
Em minha triste fronte empallidecida
Mais uma estrophe límpida fulgura,
E no berço de tuas matas densas
Libo sedenta o orvalho de mil crenças!...
Ó filha de Tupan, que um véo de brumas
Estendes sobre o mísero precito;
Ó ave linda, as mimosas plumas
Aqueces nos ardores do infinito;
Garça gentil, que surges das espumas
Como da mente do poeta o mytho,
Enquanto a lua ondula pelo espaço
Abre a meu somno eterno o teu regaço!
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