Quem entra à direita, vindo pela Via Dutra, no acesso ao município de Itatiaia, e na direção do Parque Nacional, vai percorrer uma longa avenida, até chegar aos portões daquela unidade de conservação: é a Avenida Wanderbilt Duarte de Barros. O nome não foi dado gratuitamente, como acontece com tantos logradouros públicos, Brasil afora. Na verdade ele é uma justa homenagem a um homem que soube, merecidamente, inscrever seu nome na história.
O currículo desse engenheiro agrônomo, e ambientalista pioneiro, é bastante longo e rico, não cabendo nesse espaço. Daí o resumo que se segue: nascido no seio de uma família de castanheiros da Amazônia, desenvolveu desde cedo intimidade com a natureza, em sua forma mais exuberante e primitiva, despertando nele um fascínio que o seguiria pela vida inteira.
Fez seus estudos primários em Óbidos, e em Belém, transferidos depois para Passa Quatro-MG, onde cursaria o secundário. Nessa cidade, em 1934, ingressou no curso de Engenharia Agronômica, formando-se três anos depois. Formado, buscou pela primeira vez trabalho no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, não tendo sido aceito. Outra oportunidade profissional levou-o à São Paulo, onde trabalhou no Departamento de Estradas de Rodagem.
Mas ele tinha uma meta, e não desistiu de persegui-la: em 1940, por concurso público, ingressa finalmente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde teria oportunidade de aliar seus conhecimentos técnicos ao espírito conservacionista e ao fascínio pela natureza.
Em 1941 foi transferido pela primeira vez para o Parque Nacional do Itatiaia, onde iniciaria estudos botânicos na área de dendrologia, indo em seguida dirigir o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, entre setembro de 1942 e maio de 1943. O sucesso e o reconhecimento pelos resultados de sua administração o trariam de volta ao Parque Nacional em setembro daquele mesmo ano, agora como diretor, função que exerceria até 1957, tendo tido a chance de por em prática inúmeros dos seus projetos.
Sua ampla visão das necessidades de conservação dos recursos naturais o fazem trabalhar não apenas nos esforços para dotar o parque das condições físicas e materiais necessárias – como a construção de prédios e estradas – mas principalmente promovendo a região como núcleo de atividades científicas. Nesse aspecto, promove a criação do Boletim Técnico, convidando cientistas brasileiros e estrangeiros, das mais variadas instituições, para ali desenvolverem estudos e pesquisas, destinados inclusive a orientar a administração do parque nas práticas de manejo do ambiente natural, delimitar as áreas de turismo e desenvolver programas de cultivo de espécies nativas para reflorestamento de áreas degradadas.
A gestão de Wanderbilt Duarte de Barros à frente do Parque Nacional foi marcada por pesquisas nas áreas de entomologia, ornitologia, ecologia geral, botânica sistemática, anatomia da madeira, dendrologia, biologia dos vertebrados, climatologia e recursos hídricos. As coleções resultantes dessas pesquisas constituíram o precioso acervo do Museu da Fauna e da Flora (incluindo as de plantas secas de Curt Brade, Campos Porto, Graziela Barroso e Kuhlman, a coleção Zikan de entomologia e os exemplares taxidermizados por Élio Gouvêa e sua equipe), desativado pelo IBAMA no ano passado, sob protestos de cientistas e pesquisadores locais e da comunidade.
Quando se aposentou, em 1975, após trinta e cinco anos de trabalho, nunca havia tirado férias. Depois disso atuou como professor de cursos de aperfeiçoamento da OEA, foi professor da UFRJ e também Superintendente de Recursos Naturais e Meio Ambiente do IBGE. Em 1990, aos 74 anos, voltou ao Jardim Botânico como Superintendente, e cheio de energia como sempre, promoveu uma grande campanha de revitalização daquela instituição, mobilizando a iniciativa privada e ampliando o intercâmbio com instituições internacionais, ao organizar no Rio de Janeiro um Congresso Internacional de Jardins Botânicos, com o apoio do Comitê Internacional dos Jardins Botânicos, sediado na Inglaterra.
Um dos primeiros brasileiros a levantar a bandeira da proteção ambiental, foi autor de diversos livros sobre o tema. Falecido em maio de 1997, além do nome na avenida que dá acesso ao parque, tem seu nome inscrito também no Centro de Visitantes daquela unidade de conservação. A ele é dedicada também a cadeira 17 da Academia Itatiaiense de História.
(Pesquisa baseada no discurso de posse de Luiz Sérgio Pereira Sarahyba, na Acidhis, no Obituário de O Globo de 2/5/97 e no meu texto publicado no livro Duzentos Anos, da Ardhis/Resende)
Célia Borges
Um comentário:
Não se formam mais naturalistas como antigamente!
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