Nunca me considerei uma feminista. Ao contrário, sempre fui mais uma mulher extremamente feminina, embora ardorosamente interessada na compreensão do papel da mulher na sociedade, especialmente do ponto de vista histórico. Na experiência dos meus 56 anos de vida, aprendi, e não vou negar que com alguma dificuldade, que não há conflito entre o feminismo e a feminilidade. Um papel não anula o outro, como fomos condicionadas a considerar, durante muito tempo, por influência de um universo predominantemente masculino.
É justamente com essa visão, despida de preconceitos, que se deve encarar a leitura desse livro básico para a compreensão do papel da mulher na sociedade brasileira, a História das Mulheres no Brasil. Não é uma publicação recente, nem volume muito fácil de ser encontrado, mas qualquer esforço nesse sentido, para quem se interessa pelo assunto, valerá à pena.
Emprestando uma visão ampla e abrangente, do universo feminino na história do Brasil, esse livro, publicado em 1997, através de parceria entre as editoras Unesp (da Universidade de São Paulo) e Contexto, reúne trabalhos de importantes estudiosos do tema, que nos levam desde o cotidiano das indígenas ao movimento operário feminino, das mulheres do sertão nordestino às mulheres do sul, da pobreza à psiquiatria, da religião à sexualidade, os mais variados aspectos da condição feminina estão ali pesquisados e analisados.
Organizado pela professora Mary de Priore, também autora do trabalho “Magia e medicina na Colônia: o corpo feminino”, o livro recebeu os maiores elogios da crítica especializada. Segundo Norma Couri, n’O Estado de São Paulo, “é o trabalho mais completo que já se fez sobre o tema, no Brasil”. Para Luiza Nagibeluf, da Folha de São Paulo, foi “um trabalho sem precedentes no país”.
Segundo a organizadora, na contra-capa do livro “a história das mulheres não é só delas, é também aquela da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura e das suas imagens frente à sociedade. É a história do seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e que praticaram, da sua loucura, dos seus amores e dos seus sentimentos”.
Talvez não pareça muito, mas considero, pessoalmente, que esse é um livro básico para o resgate da auto-estima de cada mulher brasileira, provavelmente muito mais útil que uma coleção de livros de auto-ajuda. Mais importante ainda para aquelas que são formadoras de opinião, como as professoras. Importante para homens e mulheres.
Célia Borges
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