14 de maio de 2008

LIVROS – As camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura


Nesse maio de 2008, em que se comemoram os 120 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, é momento bastante oportuno para se rever, e reavaliar, esse episódio histórico de tão grande impacto na vida social, política e econômica do país, que se por um lado pecou por tardio, por outro ainda reflete uma problemática racial que se prolonga até os nossos dias.

Alguns capítulos desse processo estão admiravelmente revelados no livro As Camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura, do professor Eduardo Silva, publicado em 2003, e que tem como subtítulo “uma investigação de história cultural”. Porque aliás, é disso mesmo que se trata: não um livro de história acadêmico, cheio de nomes e datas, mas o verdadeiro trabalho de um “detetive histórico”, percorrendo meandros, lendo nas entrelinhas, e desvendando uma história muito mais interessante do que a oficial.

Essa é uma espécie de “história secreta do movimento abolicionista”, como admite seu autor, que já foi chefe do setor de história da Fundação Casa de Rui Barbosa, e escreveu outras obras memoráveis, como Barões e Escravidão (1984), As queixas do povo (1888), Negociação e Conflito – a resistência negra no Brasil escravista ( em parceria com João José Reis, em 1989) e Dom Oba II D’África, o Príncipe do Povo – Vida, Tempo e Pensamento de um homem livre de cor (1997).

“As Camélias do Leblon” expõe e esclarece sobre situações e personagens que são ao mesmo tempo heróicos e românticos, e por outro, absolutamente reais, e a maioria deles exilada da literatura oficial. As camélias foram um símbolo aparentemente insuspeitado do movimento, caracterizaram um quilombo com relevante papel na luta abolicionista, e funcionaram até mesmo como uma espécie de código na comunicação dos demais abolicionistas com a Princesa Isabel.

Outro aspecto que merece consideração é sobre o esforço humano, através da quantidade e empenho de pessoas envolvidas no movimento, tanto brancos como o português José Magalhães Seixas (que se desdobrava como fabricante de malas na Rua Gonçalves Dias e a chefia do Quilombo do Leblon), quanto ás multidões de negros revoltados que se expuseram na luta, através das fugas em massa e da formação dos diversos quilombos. Direta ou indiretamente, homens influentes como Rui Barbosa, André Rebouças e Coelho Neto, assim como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, tiveram papéis relevantes nesse processo de abolição da escravatura.

Além da relevância do tema e da revelação de episódios valiosos e interessantes da nossa historia, o livro vale pela qualidade do texto do professor Eduardo Silva, que é objetivo, mas claro e agradável à leitura. E para quem ficar fã, sugiro em seguida a leitura do Dom Obá, que segue uma linha de texto histórico que além de informativa, é um verdadeiro prazer para o leitor. Ambos os livros merecem a atenção de brasileiros, brancos e negros. Prazer e oportunidade para focalizar melhor nossos papéis na história.

Célia Borges

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