16 de fevereiro de 2008

XI - Os caramujos africanos e o parasitismo humano

As chuvas começaram, e com elas, surgem, mais numerosos e persistentes do que nunca, os tais caramujos gigantes, ou africanos, que nos últimos anos vêm invadindo o Brasil afora. Nos centros urbanos eles passam meio despercebidos, mas em regiões como a nossa, ainda com vocação rural, eles encontram ambiente perfeito pra se multiplicar. E fazer o seu estrago. Que não é pouco...e em grande parte é invisível.

Tenho vocação pra budista, filosofia em que maltratar ou matar animais é covardia, mas no caso desses aí temos que deixar nossos bons propósitos de lado. O caramujo africano é uma espécie “invasora exótica”, algo assim como uma “barbeiragem” ambiental de gente incompetente, do tipo que hoje, segundo o site do IBAMA na internet, “é a segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta”.

Além de devorar plantas com apetite voraz, o antipático ainda compete com outros moluscos do ambiente que invade, podendo leva-los à extinção, transmite várias doenças, inclusive duas de difícil diagnóstico, que são a angiostrongilíase meningoencefálica e a angiostrongilíase abdominal, que sem tratamento, podem ser fatais.

A praga, como o nome diz, veio da África. Algum engraçadinho achou que podia ganhar dinheiro com ela, como substituto do “escargot”. Isso aconteceu no Paraná, e na década de 80. O projeto (será que não pesquisaram antes? E quem deu licença pra isso?) não deu certo...Os bichos, abandonados, saíram pelo mundo. Mas não seria o caso de se perguntar por quê é que, nesse tempo todo, não se fez nada para controla-los?

Bem, com certeza fizeram vários congressos, encontros, reuniões...esse é o problema do nosso Meio Ambiente: muito projeto, muita burocracia, muitos recursos pra viagens, carros de luxo, escritórios confortáveis. E não sobra nada pra se plantar uma única árvore. Alguém me responda, por favor, quando é que se ouviu falar, pela última vez, em projeto de reflorestamento? Em recuperação de matas (não no papel, mas objetivamente)? O clima está mudando, os rios estão secando. Mas qual foi o órgão, federal, estadual ou municipal, que terá trabalhado na recuperação de nascentes e leitos este ano? Eu não conheço, e leio jornal todo dia.

Enquanto tento controlar os caramujos do meu quintal, fazendo as contas de quanto vou ter que gastar de sal pra impedir que eles destruam meu canteiro de ervas medicinais e invadam novamente a minha cisterna, fico pensando em quanta gente tem aí, ocupando cargos onde teriam, por obrigação, ter evitado que isso chegasse a esse ponto. Há algumas semanas um grande jornal publicou matéria sob o título: “Elite de 74 mil servidores tem diversas mordomias e ganha cinco vezes mais que a dos EUA”.

Deve ter gente desse time na área de Saúde – pois o problema do caramujo é uma questão de Saúde Pública – e na do Meio Ambiente. Se eles ganham bem, tudo bem!!! Mas estão fazendo o quê? Esse é o problema do empreguismo no Brasil: colocar nos lugares mais cruciais, gente que não entende nada do assunto. Já que não dá pra escapar da politicagem, do nepotismo, pelo menos podiam fazer isso melhor, colocar gente apadrinhada, mas que gostasse do que teria que fazer. Mas o loteamento político é feito no atacado, não há tempo para esses sutilezas.

O problema é que esse parasitismo humano, produto da politicagem, está nos levando sempre, e cada vez mais, a andar pra trás. Não sou de julgar ninguém, e falar mal de quem ganha mais do que eu pode parecer inveja, o que não é o caso. Mas digamos que, em algum lugar desse cipoal burocrático, tenha alguém que, se tivesse sido colocado no lugar certo, poderia até, e há muito tempo, ter acabado com os benditos caramujos.

Tenho pena dos talentos desperdiçados em cargos errados. Tenho pena de gente tão inteligente e pungente, que definha seus conhecimentos e entusiasmo, não fazendo nada, não tendo competência, pesando no bolso de contribuinte, em troca de um salário seguro, mas eventualmente até menor do que o que poderia ganhar, se estivesse lutando e trabalhando no que gosta. E tenho pena de cada um de nós, que tem, com o suor da cada dia, pagar essa conta.

A falta de compromisso com a competência, a falta de responsabilidade para com o Meio Ambiente, as ambições políticas desenfreadas, tudo isso desfila pelos meus olhos, na forma de caramujos gigantes africanos. São pobres animais, afinal...parasitas que não tem culpa de estarem onde estão. E que, por mais nocivos que sejam, não chegam nem aos pés de muitos parasitas que se deslocam, rápidamente, em duas pernas, andam de carro importado, viajam de avião...

Célia Borges

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