4 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL - A responsabilidade do cidadão na proteção da Natureza

Enquanto vemos as intempéries tomarem aspectos cada vez mais catastróficos, afetando as populações dos mais diversos países, e os governos e instituições de proteção ambiental gastando bilhões de dólares, euros e reais, em busca de soluções para o aquecimento global – e com remotas perspectivas de resultados – a maioria das autoridades ainda permanece insensível e desinteressada numa medida crucial, que é o envolvimento do cidadão como participante da preservação ambiental. O mesmo cidadão que contribui para a degradação com o lixo que produz, pode ser vítima de enchentes e outros desastres, resultantes dessa degradação. E é cada vez mais premente, para frear esse processo, que cada um assuma sua parcela de responsabilidade.

“A participação da população na preservação ambiental é a solução mais simples, mais barata e mais eficiente para se obter resultados”, afirma um técnico no assunto, o Presidente da Agencia do Meio Ambiente de Resende - AMAR, biólogo José Paulo Fontanezzi, e completa: “Essa medida pode até ter custos à curto prazo, mas a economia à médio e longo prazos, principalmente considerando-se o ganho ambiental, e tão grande que é até difícil de avaliar”. Em sua opinião, o primeiro passo para essa conscientização do cidadão é o incentivo à Coleta Seletiva do lixo, que pode ajudar a promover uma mudança de hábitos dentro da casa de cada um, envolvendo toda a família, e funcionando como uma aula prática de educação ambiental para as crianças. Mudando a mentalidade e criando o que ele gosta de chamar de “o novo cidadão”.

Segundo Fontanezzi, a Coleta Seletiva em Resende é uma prioridade. O aterro sanitário do município, que encontra-se em avançado estado de exaustão, é o único da região, e recebe também o lixo dos vizinhos Itatiaia, Quatis e Porto Real. São 130 toneladas por dia, suficiente para cobrir um hectare de solo com uma camada de dois metros de altura, todos os meses. O município já implantou a Coleta Seletiva em 16 bairros, e o projeto é ir ampliando esse atendimento gradualmente. Ele lembra que, além de minimizar o impacto ambiental, a Coleta Seletiva também pode dar uma contribuição social: “através de associações regularizadas pelo atual governo, os galpões de reciclagem são fonte de renda de quase cem famílias, beneficiando mais de 400 pessoas”. Há também no município entidades assistenciais que recebem lixo reciclável para venda, aumentando seus recursos, e até as próprias famílias podem melhorar suas rendas, vendendo seu lixo, como latinhas, garrafas e papelão.

As finalidades do lixo reciclável podem ser as mais variadas, e hoje podemos encontrar, através da internet, inúmeros “sites” voltados para o assunto, ensinando técnicas para o reaproveitamento dos mais diversos materiais. Nas últimas semanas um e.mail divulgava o invento de um cientista japonês que consegue transformar plástico em combustível. Não precisamos chegar à tanto, mas podemos reaproveitar muito do que atualmente jogamos fora. O que não podemos reaproveitar, serve para ser separado e encaminhado a alguma finalidade útil. É simples, é fácil, e nem custa muito esforço.

Uma das maiores defensoras da Reciclagem é a artista plástica Fátima Porto, também de Resende, que vem há cerca de quatro anos transformando, e promovendo a transformação do lixo em arte. Curadora da exposição itinerante Lixo Zero, ela conseguiu reunir um grupo de artistas da região, que já produziam, como ela mesma e seu filho Flávio Alex Porto, ou foram incentivados a produzir, obras de arte com materiais recicláveis, constituindo acervos renovados todos os anos, e que são exibidos em locais como Câmaras Municipais e escolas, inclusive divulgando técnicas através de oficinas para estudantes.

Fátima Porto é também uma incansável divulgadora do trabalho do biólogo Luis Toledo de Sá, que construiu, na localidade de Santa Rita de Cássia, que fica entre Volta Redonda e Barra Mansa, uma casa totalmente construída com materiais recicláveis, e com funcionamento baseado na proposta de reciclagem. Dos tijolos de embalagem TetraPak, paredes de garrafas, ao reaproveitamento de toda a água utilizada, a casa é um museu vivo de reciclagem, que vale à pena visitar.

A consciência ambiental, que produziu os exemplos acima, não deve ser um privilégio de poucos. Como diz o biólogo Fontanezzi, “é preciso fazer com que as populações questionem o seu modo de vida, e fazê-las entender que, se os recursos do planeta não tiverem oportunidade de se renovar, e sob a pressão de uma demanda constante de consumo exacerbado, a vida no planeta, como a conhecemos, acabará de forma dramática”. Segundo ele, por menor que possa parecer, a atitude na casa de cada um já vai fazer grande diferença. E pode contagiar a rua ou o condomínio. O bairro... e a cidade.

Para você ter idéia de quanto a menor das atitudes pode fazer diferença, seguem os quadros de custo ambiental, divulgados pela AMAR:

PAPEL – A cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 1 hectare de floresta (1 tonelada evita o corte de 30 ou mais árvores; 1 tonelada de papel novo precisa de 50 a 60 eucaliptos, 100 mil litros de água e 5 mil KW/h de energia; 1 tonelada de papel reciclado precisa de 1.200 kg de papel velho, 2 mil litros de água e 1.000 a 2.500 KV/h de energia; com a produção de papel reciclado evita-se a utilização de processos químicos, reduzindo em 74% a poluição do ar e em 35% os despejados n´água; a reciclagem de uma tonelada de jornais evita a emissão de 2,5 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera; o papel jornal produzido a partir de aparas requer de 25% a 60% menos energia elétrica que a necessária para obter papel da polpa da madeira.

VIDRO – É 100% reciclável, portanto não é lixo: 1 kg de vidro reciclado produz 1kg de vidro novo; as propriedades do vidro se mantêm mesmo após sucessivos processos de reciclagem, ao contrário do papel, que vai perdendo qualidade; o vidro não se degrada facilmente, então não deve ser despejado no solo; para a produção de um material feito de vidro novo são necessários recursos naturais como areia, barrilha, calcário, carbonato de sódio, cal, dolomita e feldspato, sendo esse último um fundente muito raro; a temperatura para fundição é em média 1.500°C, necessitando de muita energia e equipamentos especializados; a reciclagem do vidro requer menos temperatura, economizando 70% de energia e permitindo maior durabilidade dos fornos; 1 tonelada de vidro reciclado evita a extração de 1,3 toneladas de areia, economiza 22% de barrilha (material importado) e 50% do consumo de água.

METAL – Matéria prima que requer exploração, processos tecnológicos sofisticados e altos custos energéticos, econômicos e ambientais; a reciclagem de uma tonelada de aço economiza 1.140 kg de minério de ferro, 155 kg de carvão e 18 kg de cal; na reciclagem de uma tonelada de alumínio economizam-se 95% de energia, 5 toneladas de bauxita e evita-se a poluição causada pelo processo, com redução de 85% de poluição do ar e 76% do consumo de água; uma tonelada de alumínio reciclada economiza 200 m3 de aterro sanitário; no Brasil, 64% (1,7 bilhões de unidades) são recicladas, superando países como Japão, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Ponto pra nós!!!

PLÁSTICO – Derivado do petróleo, recurso natural não renovável, a sua reciclagem economiza até 90% de energia e gera mão de obra pela implantação de pequenas e médias indústrias; 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 1 tonelada de petróleo.

Pense nisso. Um mundo melhor também depende de você. Mãos à obra!!!

Célia Borges