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21 de setembro de 2009

RESENDE HISTÓRICA: O Timburibá não é só uma lenda: eles existem, e nós os apresentamos aos leitores





Apesar do dia nublado, e da tarde chuvosa desse 21 de setembro, alguns de nós, “apaixonados pela Natureza”, não nos deixamos intimidar pelo mau tempo, e saímos em campo no primeiro dia da primavera de 2009, para identificar alguns dos Timburibás remanescentes em Resende. Meus companheiros nesse empreendimento foram a artista plástica e “multi-mídia” Fátima Porto, a bióloga Tânia Vieira e o Daniel, da Oka Timburibá. É a nossa forma de homenagear o município, que faz aniversário nessa estação, e dar um presentinho aos leitores interessados no assunto, que vêm nos prestigiando, cobrando e incentivando desde o início da nossa pesquisa, que já dura vários anos.
O Timburibá é considerado, do ponto de vista histórico, a árvore símbolo de Resende. E para muitos conhecedores da cidade, já vinha sendo, há tempos, dada como extinta. Aproveito para dedicar esse trabalho ao nosso “mestre em cultura”, Claudionor Rosa, cuja curiosidade e inquietação me desafiaram à pesquisa e ao empenho. E para agradecer à Kátia Quirino, pelas contribuições e incentivo. Tudo começou com uma simples pergunta: “Existem ainda Timburibás em Resende?” Como muitos mistérios da natureza, a resposta era simples, e que estava ao alcance dos nossos olhos... e só faltava, para desvendá-la, comunicação e conhecimento.
A Lenda do Timburibá, registro da presença dos índios puris na região, é também um dos mais conhecidos capítulos do folclore de Resende. E a existência de um frondoso Timburibá, nas imediações do cemitério, no Alto dos Passos, é um fato histórico que conta com os testemunhos de historiadores e cronistas da época, segundo os quais as famílias da cidade costumavam reunir-se sob sua copa monumental, para piqueniques aos domingos. Existem inclusive narrativas de um temporal, que no início do século XX teria sido responsável pela queda da tão marcante, hospitaleira e estimada árvore, tida por muitos como o último exemplar dos timburibás no município.
Aceitei o desafio do Claudionor Rosa, feito através Kátia Quirino, numa época em que fazia curso de Paisagismo no Senac/Resende. A primeira pista veio em cerca de dois meses, através de uma colega de curso, Patrícia Marques Paraguassu, que localizou uma nota através do Instituto Plantarum, onde encontrei referências botânicas e fotos: sob o nome científico de “Enterolobium contortisiliquum”, lá estava o nosso misterioso Timburibá. Logo em seguida adquiri uma coleção da Editora Europa, em cinco volumes, onde encontrei, no das árvores, a confirmação das referências botânicas anteriores. Procurávamos uma árvore frondosa, indicada para parques e locais espaçosos, capaz de atingir até 35 metros, e com uma copa proporcional à tal altura. Olhávamos para cima, procurando velhos e frondosos timburibás, esquecendo assim de procurar exemplares mais novos, e mais à altura do nosso olhar...
Uma das dificuldades para a identificação do Timburibá é justamente essa. Ao contrário dos velhos timburibás centenários, que predominam no imaginário popular, as árvores existentes e identificadas não são tão antigas e frondosas. Os exemplares que encontramos podem ter menos de 30, e até menos de 20 anos, e entre oito e dez metros de altura, por isso foi indispensável identificá-los por fatores como os frutos, que lhe emprestam nomes populares como “orelha de macaco”. Além disso, no local onde se estão as três primeiras, encontram-se disfarçadas entre mangueiras e angicos, sendo que essa última espécie apresenta diversas semelhanças, como o tipo de folhagem e de flor, que podem facilmente induzir o observador leigo à confusão.
Alguns leitores desse blog puderam acompanhar, e outros tantos até participaram ativamente, das pesquisas em torno do Timburibá. As postagens e correspondências estão devidamente registradas, para quem quiser conferir. Mas só há cerca de dois meses consegui informações objetivas. Diante da curiosidade dos leitores, estou empreendendo pesquisa sobre as espécies botânicas nativas da região, e onde encontrar exemplares e mudas. Fui dar no Horto de Furnas, onde entre muitos assuntos, a técnica responsável, bióloga Tânia Vieira, garantiu a existência de exemplares de Timburibá, tanto em Resende quanto em Itatiaia. Poucos dias depois, o biólogo Paulo José Fontanezzi, presidente da Agencia de Meio Ambiente de Resende, confirmou a informação, e inclusive a localização dada por Tânia Vieira, da existência de três exemplares do Timburibá, nos canteiros da pista secundária da Via Dutra, sentido SP-Rio, para quem entra em direção à Aman.
Nesse 21 de setembro, saímos em campo para conferir, e mostramos nas fotos anexas, os quatro Timburibás que identificamos, sendo três no local acima referido, e um quarto, no Parque Zumbi, nas margens do Rio Paraíba do Sul, próximo aos fundos do clube CCRR. Uma parte da missão foi cumprida. Mas como nossos leitores, queremos saber, e divulgar mais... por isso, aguardem uma próxima postagem com mais detalhes sobre essa árvore, que significa tanto para a nossa cultura, a nossa história e o nosso meio ambiente. Agora que sabemos quem ela é, e onde está, podemos lutar em melhores condições, para preservar sua espécie, e reproduzindo-a, impedir a sua extinção.
Célia Borges

14 de março de 2008

RESENDE HISTÓRICA II - Narcisa Amália, pioneira no jornalismo e na poesia



Narcisa Amália é uma poeta resendense por definição, até porque, infelizmente, sua produção literária ficou bastante restrita ao período em que viveu aqui. Sua importância para a literatura brasileira, entretanto, vai muito além dessa definição. Porque ela foi pioneira não apenas pelo fato de ter sido uma das primeiras jornalistas brasileiras, e a primeira a se profissionalizar como tal, mas também por ter sido uma das primeiras mulheres do Brasil a romper com o preconceito do que era considerado masculino e feminino, abordando temas e explorando assuntos que até então eram considerados exclusivamente de homens. Foi poeta brilhante, alvo dos comentários dos mais respeitados críticos da época, que entretanto, na maioria, estranhavam o fato dela não se limitar ao romantismo amoroso que se esperava de uma literatura feminina.

Narcisa Amália de Campos nasceu em 1852, em São João da Barra, norte do estado, mas veio para Resende ainda menina. Aos 14 anos casou-se com um palhaço de circo, mas o casamento fracassou, dando-lhe o espaço necessário para se entregar às suas verdadeiras vocações, o jornalismo e a literatura. Sua primeira atividade conhecida foi como redatora, revisora e tradutora de folhetins da época, para o jornal Astro Resendense.

Antes dos dezoito anos já editava o jornal A Gazetilha e colaborava no Garatuja, tendo à partir dessa época, passado a publicar suas poesias no Resendense, e divulgando suas idéias vanguardistas, contra a escravidão e a favor do regime republicano, enfatizando a condição submissa, imposta à mulher pela sociedade conservadora da época. Admiradora de Castro Alves e Victor Hugo, sua principal inspiração era a liberdade, e seu sonho era de que, num futuro não muito distante, pudesse ver os povos, homens e mulheres, livres da violência, da opressão e da injustiça.

Essa bela transgressora, admirada e invejada com igual fervor, não conhecia então, limites para perseguir seus sonhos. E assim, aos 21 anos, partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, com o objetivo de conseguir os recursos para publicar seu primeiro livro. Essa atitude foi um escândalo para a época, gerando comentários maldosos. Mas sua resposta ultrapassou a malícia dos censores, pois em 1873, a Garnier, uma das editoras mais respeitadas da época, lançou Nebulosas.

O livro, prefaciado pelo jornalista Peçanha Povoa, teve surpreendente acolhida, recebendo críticas elogiosas de escritores consagrados, como Machado de Assis e José do Patrocínio, e comentários da imprensa especializada no eixo Rio-São Paulo. Em Resende essa repercussão foi ainda maior, resultando em solenidades, banquetes e bailes, além de efusivas saudações de destacadas figuras da imprensa, como Joaquim Maia, Francisco Vilaça e Pereira Barreto.

Nos anos seguintes, e enquanto continuou a escrever, Narcisa Amália sempre manteve a marca da rebeldia, desafiando limites e chegando ao limiar dos extremos. Em 1874, publica seu segundo livro, dessa vez de contos, Nelúmbia. Suas atitudes corajosas e talento literário indiscutíveis, ganham cada vez mais a consideração e o respeito dos seus contemporâneos. Um exemplo disso é o convite do autor, para que prefacie o livro As flores do campo, de Ezequiel Freire, texto elogiado por Machado de Assis.

A força de seu valor como jornalista e escritora, tem um contraponto de fragilidade na sua vida pessoal. Após usufruir por alguns anos, do sucesso e da admiração tão duramente conquistados, ela casa-se, em 1880, com Francisco Cleto da Rocha, o Rocha Padeiro. Ajuda o marido nos primeiros anos, sem abrir mão de receber, nos saraus em sua casa, amigos literatos como Raimundo Correia, Luis Murat, Alfredo Sodré...e até o Imperador Pedro II, que em vinda a Resende, vai “visitar a sublime padeira, por estar ansioso por lhe provar... do pão espiritual”. E isso, embora ela tenha sido uma fervorosa republicana abolicionista.

Mas o casamento não deu certo, e seu fim coincide também com um momento difícil no jornalismo. Em l984, ela ainda tenta reagir, tendo criado o suplemento quinzenal, Gazetinha, de O Timburibá, que tem como subtítulo, “folha destinada ao belo sexo”. Mas em artigo de 1889, publicado em A Família, diz que a violenta oposição a um artigo seu fizera-a despertar para o estilete que a palavra representa, e que feriu “certo e fundo” provocando violenta reação. Afirma que gostaria de continua escrevendo, mas que “colheu-me de surpresa uma nevrose cardíaca, enfraquecendo-me a energia, inutilizando-me para as lutas da inteligência, para as pugnas incruentas mas extenuantes da imprensa.” Além disso, a campanha maledicente movida pelo marido enciumado, ajudam a minar sua resistência.

A luta pela auto-afirmação acabou custando-lhe o preço da saúde. Talvez porque sua atitude solitária não tenha despertado a solidariedade necessária da comunidade feminina. Narcisa Amália tentou viver como jornalista, tradutora, escritora, poeta. Aos trinta anos era famosa, apreciada, cultuada. Demonstrava erudição, e estava sintonizada com a literatura européia, com os acontecimentos políticos e com as reivindicações feministas. Era, enfim, uma personalidade à frente de sua época.

Mas a luta era difícil demais, até para uma pessoa corajosa como ela. Cansada de tantos obstáculos, desiludida e desanimada, ela retirou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se a ser professora, e depois, diretora de escola. Viveu ainda muitos anos, mas não se soube que tenha voltado a escrever. Morreu em 1924, aos 72 anos, cega e paralítica. Esquecida e desvalorizada, como parece ser a sina dos gênios.

Narcisa Amália foi uma grande poeta resendense, mas foi também muito mais do que isso. Quem se dispuser a pesquisar, vai descobrir, com surpresa, que ela está incluída nos mais importantes estudos da literatura brasileira, como uma das mais expressivas e notáveis poetas mulheres do século XIX. Poderia compara-la sem susto à Arthur Rimbaud, que escreveu sua obra na juventude e depois abandonou completamente à literatura. Ou à Fernando Pessoa, porque ela, como ele, “ardeu na lenha desse fogo” que é a abdicação do EU em favor de algum valor maior, como dar seu sangue pela humanidade.

Narcisa Amália inscreveu, por seu próprio valor, o nome na história da nossa literatura, na história da vida cultural do nosso município, na nossa própria história. Por tudo isso, merece ser sempre lembrada, de ter sua memória cultivada...e de valer mais do que esse modesto esforço para ser reconhecida. Gostaria de, nesse momento, estar plantando apenas uma sementinha, daquilo que precisaria ser o empenho das novas gerações de poetas, escritores e historiadores, para não deixar que essa chama se apague. De garantir que ela nunca será esquecida.

25 de fevereiro de 2008

O MISTÉRIO E A LENDA DO TIMBURIBÁ

O Timburibá é uma importante referência para quem lê e estuda a história de Resende, porque essa árvore é considerada o símbolo da cidade. Entretanto, dela só temos notícia através da Lenda do Timburibá, página marcante do folclore regional. Do ponto de vista botânico e paisagístico, o Timburibá converteu-se num grande mistério. Depois de quase dois anos de persistente pesquisa, tudo o que me resta é uma pergunta: será que alguém, além da lenda, pode me dar notícias de onde encontro um Timburibá?

O Timburibá ou Timburi: Enterolobium Contortisiliquum

A lenda é de amplo conhecimento. A minha curiosidade sobre o assunto foi despertada por Kátia Quirino, que numa conversa sobre botânica e paisagismo, pediu minha ajuda a respeito. Saí em campo, porque gosto desse tipo de desafio... mas estaria perdida até hoje se não fosse uma dica de outra amiga, e colega do curso de paisagismo, Patrícia Paraguassu, que localizou uma pista através da Fundação Plantarum, que reúne interessantes estudos e publicações sobre o assunto.
Seguindo essa pista, o Timburibá é a mesma árvore classificada sob o ponto de vista botânico como Tiburi. A descrição da planta, que acabei encontrando num volume da enciclopédia 2200 Plantas e Flores (volume 1, pág. 34) sob o nome científico de Enterolobium contortisiliquum, corresponde às características folclóricas, como uma árvore de copa ampla e frondosa, que proporciona ótima sombra e, segundo eles, costuma ser cultivada em parques, atingindo até 35 metros de altura.
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Será que alguém, além da lenda, pode me dar
notícia de onde encontro um Timburibá?
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Do ponto de vista histórico, fui consultar primeiro a professora Alda Bernardes de Faria e Silva, presidente da Academia Itatiaiense de História, e que é a minha fonte prioritária quando se trata de história da região. Segundo ela, haveria ainda um exemplar no Alto dos Passos, nas proximidades do cemitério. Mas meus conhecimentos de botânica são insuficientes para reconhecer à olho nu, uma espécie aparentemente tão rara. Bem que eu pedi ajuda aos meus guias históricos da cidade, como o mestre Claudionor Rosa, para empreender uma espécie de caça ao Timburibá tido como remanescente, mas sem sucesso...
Em seqüência dessa pesquisa, acabei localizando um texto do Cel. Cláudio Moreira Bento, outro incansável pesquisador da nossa história, segundo quem Timburibá era o nome que os índios Puris davam à região onde se encontra Resende, por avistarem à longa distância a árvore desse nome, situada (novamente) no Alto dos Passos. Mas segundo ele, “a árvore serviu por longos anos como atração turística local, e reuniu em torno dela resendenses em festas familiares domingueiras, até tombar com o peso dos anos, para grande tristeza das primeiras gerações de resendenses”.
Lido assim, parece que o Timburibá se extinguiu? E é mesmo uma figura rara nos estudos botânicos, o que parece confirmar essa tese. Mas é difícil crer que não existissem outros timburibás na região... ou que a árvore não tenha existido em outros lugares. Em São Paulo, capital, existe uma rua Timburibá. No Paraná existe um município chamado Timburi. Encontrei referências botânicas contraditórias, pois parecem se referir à outra planta.
O caso é que eu não sou de desistir fácil, e esse trabalho de detetive botânica é, sem dúvida, desafiante. Será que não existe mais nem um Timburibá que se possa localizar? Vou continuar procurando. Conto com a ajuda dos amigos, leitores e demais apaixonados pela natureza como eu... porque não acho justo se perder um símbolo histórico como esse, apenas por falta de interesse.
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Quem tiver notícias de um Timburibá, mande pra mim, por favor (clique em "comentários" aí em baixo)... Quem não conhece a lenda e ficar curioso, é fácil encontrá-la pela internet, assim como em diversos livros históricos da região. Em último caso, mande recado com endereço, que terei o maior prazer em enviar.
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Saudações histórico-botânicas

Célia Borges