29 de maio de 2008

ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE - Desperdício Não! Campanha começa dia 6 com exposição na Câmara Municipal


Artistas e artesãos de Resende que trabalham com materiais reciclados estarão expondo seus trabalhos nas mostras paralelas que abrem a campanha Desperdício Não! à partir do próximo dia 6 de junho, no anexo da Câmara Municipal, em Campos Elíseos.

Os trabalhos de artesanato expostos serão aqueles produzidos pelos núcleos e cursos de reciclagem das entidades Pestalozzi, VAP e Faetec. Os artistas são Fátima Porto e Wendell Amorim (curadores da mostra), Marcius Lima (in memorian), Tatiana Ratinetz, Paulo Cavalcanti e Tiago Gomes.

A exposição ao público estará aberta entre os dias 9 e 27 de junho, e nesse período estão previstas várias atividades, voltadas para o intercâmbio com escolas e associações de moradores, entre outras entidades, sobre os mais variados aspectos da reciclagem.

O encerramento está previsto para o dia 27 de junho, com a palestra do biólogo Luiz Toledo de Sá, autor de diversos trabalhos e experiências com reciclagem, e que terá oportunidade de mostrar os detalhes da casa que construiu, nas proximidades de Volta Redonda, com paredes, telhados, cortinas, canalizações e outros componentes que reaproveitou do lixo.

Segundo Fátima Porto, idealizadora do evento, esse conjunto de atividades tem o objetivo de propagar ao máximo possível a “cultura da reciclagem”, atingindo todas as faixas etárias e camadas sócio-econômicas, despertando a população para as vantagens do reaproveitamento do lixo tanto do ponto de vista ambiental quando para o da economia doméstica e comunitária.

“As possibilidades da reciclagem são muito amplas, e no momento não temos recursos para divulgar todas”, comenta ela. “Mas estamos tentando mostrar o máximo possível dentro das nossas possibilidades, tanto ponto de vista da arte, quanto do artesanato. Queremos despertar vocações entre pessoas que possam trabalhar esses materiais, assim como a consciência da comunidade, para dar melhor destinação ao lixo que produz todos os dias”, conclui ela.

Nas fotos, telhado, parede e painel de parede com materiais reciclados, da residência do professor Luiz Toledo de Sá.

Célia Borges

27 de maio de 2008

ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE – Proteja a natureza das pilhas velhas e do óleo de cozinha usado

Alguns resíduos que produzimos como lixo são altamente prejudiciais ao meio-ambiente. Entre os mais nocivos estão as pilhas, que podem espalhar metais pesados e elementos tóxicos durante muitos anos na natureza. E aconselhável que, na medida do possível, adotemos o hábito de usar pilhas recarregáveis. Quanto às comuns, já há uma maneira segura de desembaraçar-se delas quando estiverem gastas: o Banco Real mantém serviço de coleta em todas as suas agências, de onde são encaminhadas aos órgãos públicos responsáveis por sua destinação.

Outro lixo que compromete o meio-ambiente é o óleo de cozinha usado, resíduo comum na maioria das residências, e também produzido em grande quantidade em restaurantes e até em indústrias. Mas, cada litro dele que se recolhe é um ganho na luta pelo equilíbrio ecológico, e a natureza agradece. A região dispõe hoje de um grande número de locais, os chamados Ecopontos, que atendem a essa finalidade.

O óleo deve ir sendo armazenado em garrafa PET, e entregue em algum dos pontos abaixo. Não havendo um Ecoponto próximo à sua casa ou empresa, junte no mínimo 5 litros de óleo usado e ligue para “Disque Viva Óleo” que o carro de coleta irá até o local. O atendimento é feito pelos telefones (24) 3355-0478 e 3355-3937, de segunda à sexta, das 8 às 18 horas.

Ecopontos em Resende: Sede da Agencia do Meio Ambiente (Parque das Águas), Escola Parque Ipiranga, E.M. Sagrado Coração de Jesus, Colégio Salesiano, C.E. Dr. João Maia, E.E. Gov. Roberto Silveira, CIEP 489 Augusto de Carvalho, C.E. Aníbal Benévolo, C.E. Marechal Souza Dantas, C.E. João Medeiros de Camargo, C.
E. Engenheiro Passos, E.M. Augusto de Carvalho, C.M. Getúlio Vargas, E.M. Jardim das Acácias, E.M. José Roberto Sampaio, E.M. Algodão Doce, E.M. Clotilde de Souza Ferreira, E.M. de Educação Especial Rompendo o Silêncio, E.M. Moacir Coelho da Silveira, E.M. Adelaide Lopes Salgado, E.E. Antonio Quirino, Comunidade Céu da Montanha (Mauá), E.M. Professor Carlinhos e E.M. Área de Lazer Julieta Botelho.

Em Itatiaia: C.E. Ezequiel Freire. Em Penedo: Casa do Papai Noel, Sede da CERES, E.M. Sebastião Bernardo da Silva, E.M. Francisco Otávio Xavier. Em Quatis: C.E. Américo Pimenta.

Além desses, outros tipos de lixo trazem danos ao meio ambiente, de forma que é sempre aconselhável estar atento e aproveitar todas as formas possíveis de reciclagem, especialmente em se tratando de resíduos de difícil degradação como garrafas PET, sacos plásticos e embalagens industriais de um modo geral. Cada pequeno esforço, mesmo que seja de uma única pessoa, já estará valendo à pena.

Célia Borges

25 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XVI – Bonsais: cultivando obras de arte (segunda parte)


Bonsais não são plantas como todas as demais. Não basta comprar um espécime, colocar o vaso num canto (ainda que extremamente adequado) e regar de vez em quanto. Bonsais exigem do jardineiro um relacionamento constante, toda a atenção que for possível, e até mesmo uma espécie de ligação afetiva...como uma paixão, ou pelo menos um namoro. Aliás, um longo nomoro.

Em princípio, um bonsai autêntico deve ter mais de 20 anos (a média é entre 30 e 45 anos), podendo, portanto, ser até seu contemporâneo. E se for bem tratado, pode sobreviver à você e chegar aos seus netos. Essa perspectiva de longevidade, e ainda mais de uma miniatura, mostra traços de requinte da cultura oriental onde se originou, há seguramente mais de dois mil anos, assim como traduz o empenho do ser humano em tentar domar a natureza.

Mas, domar a natureza, também significa conhece-la e respeita-la, de forma que, ao comprar um bonsai, é bom estar preparado para ser conquistado por ele, admira-lo e corteja-lo, no sentido de adivinhar suas necessidades, e atende-las. Quanto mais jovem, maiores serão suas exigências até chegar à plenitude. A cada aniversário da sua plantinha, viçosa e saudável, comemore. É sinal de que você fez por merecer. E de que está valendo à pena o investimento.

O custo é proporcional ao tipo de planta e à idade, sendo que uma espécie importada com 15 anos chega à mil reais, e uma adaptada, entre R$ 500 e R$ 700. Para a faixa de 30 anos os valores dobram, sendo que, à partir daí, cada caso é um caso, e não há limites de preço, considerado-se principalmente o resultado estético obtido pelo mestre. Há excelentes bonsais entre R$ 2 mil e R$ 6 mil. Entre R$ 10 mil e R$ 30 mil é possível comprar uma verdadeira jóia. Quanto mais belo, mais harmônico, mais perfeito, mais caro. Por um lado, é como comprar uma obra de arte. Por outro, é como comprar uma obra de arte que nunca vai ficar pronta, se você não cuidar dela.

Estudar a localização adequada e providenciar as podas necessárias são os primeiros pontos para quem quer cultivar bonsais, como já tratamos na primeira parte dessa série. O bom gosto artístico de cada um é opcional, mas pode fazer grande diferença no resultado, assim como a disposição para observar a natureza, ao ar livre, em sua plenitude, pode ser inspiradora na hora de dar personalidade ao seu bonsai.

Outras providências são (1) ter ferramentas nos tamanhos adequados, quanto menores melhor, ainda que tenha que improvisar, entre elas garfo, gancho, tesouras e vários tipos de alicates; (2) procurar no mercado os produtos adequados para adubação, nutrição e controle de pragas, considerando que as pequenas dimensões do bonsai exigem dosagens específicas desses recursos (inseticida natural, cicatrizante, NPK 10-10-10 e vitaminas para as raízes); (3) observar o comportamento de sua planta para determinar a quantidade de regas, mudança de localização, e exposição às condições naturais mais adequadas para que permaneça sempre saudável.

Os bonsais mais jovens, provavelmente, vão exigir replantio, para transferi-lo do vaso de treinamento para o vaso definitivo ou quando se observar crescimento excessivo das raízes. É importante ter-se em mente o formato que se quer dar: existem vários estilos herdados da tradição oriental, de acordo com o formato do tronco, dos galhos e das folhagens. No bonsai maduro, é importante respeitar esse formato, mas no mais jovem, você pode interferir, e modifica-lo ao seu gosto. Para conhecer todos esses estilos, existem alguns pequenos manuais nas lojas, e você poderá pesquisar através da internet. Na próxima postagem estarei escrevendo sobre os mais populares.

O replantio começa com a escolha do vaso e a preparação do substrato cuja composição mais indicada é 50% de terra granulada de cupinzeiro (ou equivalente adquirido em lojas), 50% de pedriscos de rio (3mm) e brita bem fina (2mm). O fundo do vaso sobre o furo de drenagem deve receber uma camada de tela, fixado de preferência por arame de cobre e coberta por uma parte do pedrisco; coloca-se um pouco do substrato novo até a metade do vaso, acomodando a planta em seguida, depois de ter desbastado as raízes; completa-se com o restante do substrato, dando acabamento com uma fina camada de pedriscos ou de musgo.

Essa manutenção é indicada principalmente na primavera (mas apenas nos bonsais mais jovens e quando houver necessidade). O trabalho de dar formato ao tronco e aos galhos pode contar com a ajuda de arames flexíveis, enrolados com firmeza mas não muito apertados para não estrangular a planta no processo de crescimento. Para alguns formatos mais simples, pequenas ripas de bambu e barbante grosso podem ser suficientes, desde que consigam manter a planta na posição desejada.

O cultivo de bonsais encerra também alguns mistérios e segredinhos, sobre os quais escreverei no próximo e último texto sobre o assunto. Como os estilos e as espécies para eles indicadas, os macetes para se identificar a idade dos bonsais e algumas fórmulas para adubação.

Célia Borges

24 de maio de 2008

JORNALISTAS DA REGIÃO REUNEM-SE SÁBADO NA UBM

Jornalistas da região sul-fluminense estão confirmando REUNIÃO COM DIA DE SINDICALIZAÇÕES para o próximo dia 31/05, sábado, às 16 horas, no 4º andar (no local haverá indicação da sala) do Prédio V do UBM.

Na pauta:

1. Informes dos municípios e lutas regionais

2. Informe dos Congressos Estadual e Nacional dos Jornalistas

3. Eleição do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do RJ

- participação, propostas e indicação de nomes para compor a chapa

4. Sindicalizações

Líder do movimento, Álvaro Brito informa que estará no local a partir de 14 horas para conversar e receber as sindicalizações dos colegas que não puderem esperar a reunião. Pela manhã, de 10 às 12h30 horas, estará na sala 401-A do prédio V, onde poderá também receber sindicalizações, para quem só tiver disponibilidade pela manhã.

A mobilização da classe é importante, entre outros fatores, pela necessidade de conquista de maiores respeito e valorização profissionais, para que se possa exigir o cumprimento da legislação vigente pelas empresas de comunicação e outros aspectos formais. Mas não menos oportuna para que se reflita sobre a nossa influência e responsabilidade como cidadãos.

Célia Borges

23 de maio de 2008

SESSÃO SOLENE DA ACADEMIA ITATIAIENSE DE HISTÓRIA, SÁBADO, DIA 31, NA CÂMARA MUNICIPAL

Os cem anos do Núcleo Colonial de Itatiaia serão tema da próxima Sessão Solene da Academia Itatiaiense de História, que será realizada no dia 31 de maio, às 15 horas, na Câmara Municipal. Na oportunidade serão comemorados também o 190 aniversário de emancipação do município e o 160 da criação da própria Academia.

Segundo a professora Alda Bernardes, presidente da entidade, a programação inclui uma exibição de fotos e palestra sobre o tema. A criação dos Núcleos Coloniais de Itatiaia e de Visconde de Mauá promoveu a vinda de alguns dos maiores grupos de imigrantes europeus para a região.

O primeiro passo foi dado em 30 de abril de 1908, quando o governo do Estado do Rio de Janeiro, representando a União, propôs ao Comendador Henrique Irineu de Souza – filho e herdeiro do Visconde de Mauá – a compra do conjunto de fazendas de sua propriedade no maciço de Itatiaia.

O objetivo dos Núcleos Coloniais era a produção de frutas européias, de cereais, tubérculos e a criação de gado de clima temperado, além de pequenos animais. Outros grupos de imigrantes europeus foram chegando nos anos seguintes, formados principalmente por alemães, franceses, belgas e italianos, ocupando os lotes ainda disponíveis.

Essa época marcou também o despertar da vocação turística da região, quando as famílias de origem européia passaram a receber turistas em suas próprias casas. Nos anos seguintes surgiram as primeiras pousadas. A criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 14 de junho de 1937, não causou maiores problemas aos colonos, já que o decreto n0 1.713 dessa data não incorporava os lotes do Núcleo Colonial pertencentes a particulares.

A convivência pacífica entre o núcleo colonial e o Parque, entretanto, começou a ser ameaçada 45 anos mais tarde, em 1982, quando o decreto n0 87.586, de 20 de setembro, sancionado pelo então presidente Gal. João Batista Figueiredo, ampliou os limites da reserva para cerca de 30.000 hectares, incluindo lotes do antigo núcleo pertencentes a particulares, sem definir entretanto que seriam desapropriados, e sem justificativa técnica para incluí-los.

Os descendentes dos colonos do núcleo de Itatiaia, e demais residentes que adquiriram os lotes deles, vêm empreendendo desde então uma incansável batalha judicial em busca de uma solução negociada para o problema. Eles argumentam que, ao contrário de ameaçar a natureza, contribuíram muito para a preservação dessas áreas, que haviam sido anteriormente destinadas à campos e pastagens, e que com a mudança das atividades planejadas, acabaram se transformando em florestas secundárias.

Célia Borges

POETAS DE RESENDE – José Alberto Somavilla

Pelo aniversário da Ponte Velha

Esta ponte, que o povo, com carinho,

Chama de velha, sim, já fez cem anos.

No passado era o mágico caminho

Para as tropas, os carros, os humanos.

Em face do festivo burburinho,

A ponte revelava seus arcanos

Para todos, até para os insanos

Que a buscavam, em pleno torvelinho.

É certo que atraia suicidas,

Aquelas criaturas tão sofridas

Mirando o Paraíba revoltoso...

Mas unindo, inspirando alegorias,

Hoje suscita bênçãos, alegrias,

E pereniza um tempo mais airoso.

Praça da Matriz

A praça...Quantos sonhos, quanta espera,

Quanta alegria de colegiais.

De repente era sempre primavera

No canto irreverente dos pardais.

Neste momento, em transes terminais

A praça da matriz se desespera.

Ninguém escuta seus sentidos ais:

Infame, triste indiferença impera...

Sempre foi o centro, a alma desta terra:

Era aqui o lugar dos carnavais,

Das retretas, encontros, uma era

Desfigurada em pó e nada mais.

Regressar a outro tempo...Ah quem me dera...

A época dos pais dos nossos pais,

“Flertes” na quermesse, a gentil quimera:

O bar do ponto, encontro de casais.

Relembro “A Lira”, doce, mas severa,

Na defesa de puros idéias

De uma democracia mais sincera

Que parece exaurir-se em carrascais.

A praça morre, já não reverbera,

Morrem também os sonhos, os jornais,

A fimbria do olhar azul da serra,

Fatos comuns nos dias atuais

Ponte Velha

Minha velha ponte, ponte primeira,

Mágico lugar, de onde se divisa

Algum passado que nos suaviza:

De um lado o centro, de outro a serra inteira

Ponte mulher, amiga, sobranceira

Ao descaso do tempo, hoje agoniza

E, como a Praça da Matriz, precisa

De alguém que lhe escute a mágoa derradeira.

As palavras são vãs, nem mesmo imagens

Exprime a dor que verte das ferragens

Da ponte que pôs fim à incerteza

Dos barcos, no ancestral envolvimento

Do ser, para vencer o isolamento,

Não pode soçobrar na correnteza...

Lavapés

Tal nome não procede da paixão

Do Cristo, pouco antes do desfecho.

Os que vinham da roça, em certo trecho,

Tinham de vadear um ribeirão.

Traziam um sapato em cada mão;

As mulas conduziam o apetrecho,

Jacás atulhados, onde remexo

Rapaduras, queijos, fubá, feijão...

As mulheres, deixados nos grotões,

Davam pitos nos machos maganões”:

Juízo! E no riacho lavem os pés;

Só entram na cidade bem calçados,

Do contrário, serão considerados

Cachaceiros...jecas...Zé-prequetés...

Comentário do autor: “Devia grafar “Lava-pés”, mas li nas placas “Lavapés”. Pobre lavapes, o mais triste e abandonado bairro de Resende. Era a entrada de Resende-RJ, pelo Leste, para os que vinham das roças, sítios e fazendas a pé ou a cavalo. Posteriormente tornou-se o portal para quem chegava do Rio, Barra do Piraí e Barra Mansa, até meados do século passado, vivendo de comedido brilho, uma vez que neste bairro da cidade desembocava a antiga Estrada Rio-São Paulo.

Só o velho Guna, o maior de todos os fazendeiros, jamais se calçou para entrar na cidade. Vinha sempre de terno, gravata e chapelão, mas descalço... (J.A. Somavilla)

Célia Borges

22 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XV – Bonsais: soluções requintadas para pequenos espaços (primeira parte)



O cultivo de bonsais é uma prática milenar chinesa, mais tarde difundida por todo o oriente, e que encontrou no Japão sua plena expressão como verdadeiras obras de arte botânica. Foram os japoneses também os responsáveis pela divulgação das técnicas de cultivo no mundo ocidental. Desde meados do século XVIII, viajantes ingleses já comentavam sobre as árvores em miniatura vistas no Japão, e em 1878 está registrada a realização de uma exposição de bonsais, em Paris.

Em 1892 o Japão promoveu seu primeiro concurso artístico da arte do bonsai, e em 1914 foi realizada a primeira exposição nacional. Em 1959 o mestre Yoshi Yoshimura imigrou para os Estados Unidos, iniciando ali o cultivo, com tanto sucesso, que clubes se multiplicaram pelo país inteiro, tornando-o atualmente o maior centro de produção depois do Japão. No Brasil surgem na década de 30, como resultado da onda migratória de japoneses, mas ficando restritos às famílias nipônicas até os anos 70, quando o mestre Jiro Mizuno estendeu seus ensinamentos também a brasileiros.

Criar bonsais desde a semente ou de uma pequena muda é, definitivamente, um trabalho para mestres. As árvores, ainda que em miniatura, continuam sendo árvores, com quase todas as suas características botânicas, mas exigindo certos cuidados muito especiais. O tempo é determinante na qualidade do bonsai, motivo pelo qual seu valor depende da idade. Por isso, a maioria dos que os cultivam preferem adquirir os seus já prontos ou em estágio de desenvolvimento.

Se uma árvore leva 60 anos na natureza para chegar à sua plenitude, um bonsai dela vai exigir o mesmo tempo, em dedicação e paciência. Os mais jovens, entre os bonsais autênticos, costumam ter pelo menos uns 20 anos, e o jardineiro que quiser cultivar um desses, deve ter em mente que está fazendo um investimento para o resto da vida. E quanto mais jovens, maiores as atenções exigidas.

Espero que o leitor não desanime!!! Porque se por um lado o bonsai exige um tanto de trabalho, por outro ele retribui com inimagináveis alegrias. Há poucas emoções comparáveis com a de ver uma arvorezinha de 20cm de altura sobre a sua mesa, ou recanto da casa, cheia de frutos ou de flores como seus equivalentes naturais, ou adotando formas absolutamente artísticas, de fazer inveja à própria natureza.

Se é verdade que a escolha do tipo de jardim reflete a personalidade do jardineiro, pode-se dizer que quem se dedica ao cultivo de bonsais são as pessoas que gostam de desafios. E estão preparados para exercitar a paciência.

Aceito o desafio, vamos lá!!! Mãos à obra!!! O primeiro cuidado é a escolha da espécie, de acordo com o ambiente que você tem para oferecer. Além dos dois tipos de árvores – aquelas tradicionais do oriente ou as espécies nativas adaptadas – existe a questão crucial do tempo de exposição ao sol.

Como já escrevi antes, árvores são sempre árvores, e mesmo em miniatura, precisam de respostas às suas exigências naturais para sobreviver. E se seu “habitat” é ao ar livre, a maioria delas exige bastante sol. Poucas espécies de bonsais se adaptam bem à meia sombra – Azevinho, Bambu, Berberis, Camélias e Fícus são os mais indicados nesse caso – e algumas podem se desenvolver bem com sol fraco – Acer Palmatum, Azaléias e o Buxus.

Para situações de sol médio, ou intenso apenas em uma parte do dia, existem ainda as indicações do Jasmim, da Macieira e do Salgueiro Chorão (que eu conheço) e também da Carmona, do Juniperus Shimpaku e do Acer Campestre (que sinceramente, nunca vi no Brasil). As demais, inclusive cedros, cerejeiras, carvalhos, castanheiras, primaveras e romãs, citando apenas as mais populares, todas exigem o máximo de sol possível para se manterem plenas e saudáveis.

A segunda característica mais importante dos bonsais é a quantidade das podas, de forma a manter sua arvorezinha dentro do padrão pré-concebido. A quantidade, a qualidade e a oportunidade, diga-se de passagem. Porque bonsais precisam de pelo menos três podas por ano (ou pelo menos na primavera e no verão), dependendo da espécie. Deixar crescer demais pode mudar as características de cada um, assim uma poda excessiva pode comprometer seus aspectos. E é nessa busca de equilíbrio que o bonsai ajuda a revelar o artista que existe em você.

Como todas as plantas, e até mais do que a maioria, bonsais exigem cuidados além desses, como a necessidade de adubação, a manutenção da umidade, a retirada de mudas e replantio. O significado dos formatos, os tipos de vasos. São tantos os aspectos envolvidos no cultivo de bonsais, que seria impossível esgotar o assunto num simples texto. Motivo pelo qual estou optando em dividi-lo em partes, inclusive para dar ao leitor oportunidade de expor, e a mim de esclarecer, eventuais dúvidas.

Os mestres do bonsai precisaram estudar e praticar por décadas, até chegar à essa posição. Os estudantes, mesmo os mais aplicados, têm consciência de que vão precisar estudar por muitos anos. Os curiosos, como eu, são apenas pesquisadores persistentes, que tentam estabelecer uma ponte entre os que sabem muito e os que querem aprender. Como eu mesma, aliás. Entretanto, o cultivo de um ou mais bonsais está além dessas questões.

No meu caso, por exemplo, foi uma espécie de “caso”. Amor à primeira vista. Trouxe a pequena romãzeira para casa sem saber nada à respeito dela, e até hoje não parei de estudar sobre o assunto. Tivemos bons e maus momentos, já me deixou muito preocupada, já me deu grandes alegrias, e atualmente...está sobrevivente. Já estou no segundo bonsai, e percebi que tenho muito o que aprender. Mas estou disposta a continuar partilhando com vocês as minhas dúvidas e as minhas pesquisas. Escrevam, se quiserem, ou aguardem próximas postagens sobre o assunto. Saudações botânicas.

Célia Borges

18 de maio de 2008

SAÚDE – Operação Sorriso: cirurgias gratuitas para crianças com lábio leporino ou goela-de-lobo

O Hospital Municipal Jesus, localizado no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro, está abrindo inscrições para a sua próxima Operação Sorriso, esforço para a realização de cirurgias de correção em crianças com lábio leporino ou goela-de-lobo, e que deverá ocorrer em agosto próximo.

O contato deve ser feito através do telefone (021) 2562-2822, Secretaria do Projeto Fendas, com a funcionária Shirley, que marcará o exame de seleção e as datas das cirurgias. O endereço do Hospital Municipal Jesus é Rua Oito de Dezembro, 177, Rio de Janeiro-RJ.

Essa divulgação está sendo feita através de mensagem de livre circulação na Internet, e publico apenas com o objetivo de contribuir o máximo possível para informar sobre a iniciativa. Nenhum esforço é suficiente grande, quando se trata de devolver o sorriso a uma criança.

Célia Borges

17 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XIV – Faça do seu jardim uma obra de arte


O trabalho do paisagista é, mais do que ciência e técnica, o trabalho de um artista, como um pintor principalmente. A natureza é uma paleta com quantidade de cores infinita, as cores são as plantas e demais elementos, o espaço em que se trabalha é uma tela em três dimensões, e as mãos que executam o projeto são, por assim dizer, verdadeiros pincéis.

A sensibilidade, e a capacidade de visualizar e projetar sua imaginação, são as mesmas exigidas ao pintor e ao paisagista. A diferença fundamental é que, enquanto o pintor pode planejar sua obra e executa-la até ser um produto acabado, o paisagista trabalha sob uma perspectiva dinâmica, tendo que projetar sua obra considerando os aspectos que irá tomar nos próximos 2, 3, 5, 10, 20 anos, ou mais.

Essa observação é tão mais significativa na medida em que são maiores os espaços em que se trabalha. O profissional que projeta um parque público, com árvores frondosas, precisará considerar o efeito do crescimento das plantas para 30 anos, mas quem tem um pequeno jardim interno, ou apenas alguns canteiros na frente da casa, com possibilidades de substituições e adaptações mais freqüentes, pode trabalhar com prazos menores, entre dois e cinco anos.

Nesses ou em quaisquer outros casos – como jardins externos residenciais das mais variadas dimensões, prédios públicos e particulares, condomínios e shoppings – é importante que o planejamento leve em consideração o periodo de tempo para o qual foi destinado. Não considerar a perspectiva de crescimento das plantas pode fazer com que um belo projeto se transforme, em pouco tempo, num verdadeiro desastre.

Esse pode ser o principal, mas não o único cuidado ao planejar um jardim capaz de sobreviver ao tempo e manter suas características. A escolha das espécies adequadas, levando-se em conta as necessidades do clima, a quantidade de sol, umidade, resistência ao vento e qualidade do solo, também é indispensável. Se alguém ousar plantar cactus num canteiro de shopping sombreado e abafado, está condenado ao fracasso. Algo assim como querer cultivar bromélias no Pólo Norte.

O toque pessoal, representado pelo bom gosto e bom senso de cada um na escolha das plantas, no colorido folhas e das flores, além de outros aspectos que só a prática ensina, é que faz a diferença, expressando características mais ou menos artísticas a cada espaço. A oportunidade de projetar sua personalidade num jardim é sempre um desafio agradável, e que costuma trazer ao jardineiro, mesmo amador, momentos de alegria e prazer. Alguns conhecimentos, entretanto, podem ser aliados da sua criatividade, como é o caso do domínio no uso e escolha das cores. Onde aliás, o paisagista precisa se revelar um pintor.

O conhecimento e uso do disco cromático é um importante aliado para qualquer artista, o que não significa que você precise respeitar regras para a sua aplicação, mesmo porque não existem regras pré-estabelecidas quando se trata de criatividade. O disco é apenas um guia para facilitar a sua compreensão de como funciona a combinação de cores, como se utilizar melhor das possibilidades de contrastes, e até de como neutralizar aspectos que se precise esconder.

O aprendizado sobre o uso das cores não é assunto que se esgote num pequeno texto como esse, e aliás é alvo de estudos que estão longe de terminar, cada artista desenvolvendo-o à seu modo. Básico é observar na ilustração anexa o desdobramento das cores primárias e secundárias. São as misturas das primárias que geram as secundárias. No último disco estão as tonalidades que oferecem mais contrastes entre si, podendo ser observado também como as cores próximas se neutralizam umas às outras.

A forma como usar esse conhecimento depende do objetivo de cada um, de obter ambientes mais frios ou mais quentes, maiores ou menores contrastes, ampliar ou reduzir perspectivas. Ele pode ser útil desde uma simples maquiagem, até na escolha de roupas ou objetos de decoração, nas artes plásticas e..no paisagismo, onde aliás é imprescindível. Existem obras inteiras discorrendo sobre o assunto, mas nada substitui o seu gosto pessoal...

Célia Borges

16 de maio de 2008

ALDEIA GLOBAL XXIX - O Hospital do Fundão ou “para onde foram as verbas da Saúde?”

Em janeiro passado, após perder o direito de cobrar CPMF (???) de quem movimenta contas bancárias, o governo federal baixou uma série de medidas compensatórias, oportunamente batizadas pelos comentaristas políticos e econômicos como um “baú de maldades” contra a classe média, visando garantir as verbas teoricamente ameaçadas da área da Saúde. De lá para cá a arrecadação de impostos bateu recordes consecutivos, superando até as previsões mais otimistas dos nossos magos das finanças encastelados em Brasília.

Nesses pouco mais de cinco meses já tivemos conquistas memoráveis na área econômica, como recursos suficientes para garantir o pagamento da dívida externa e uma cotação privilegiada quanto às oportunidades para investimentos estrangeiros, além da valorização dos nossos produtos no mercado externo. Mas, enquanto a nossa economia decolou e viaja em “céu de brigadeiro”, a saúde continua num plano inferior, sempre sujeita à chuvas e tempestades.

Entre tantas deficiências reveladas país afora, uma das mais chocantes é o estado de falência atravessado pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, popularmente conhecido como Hospital do Fundão, criado para ser um prolongamento da Faculdade de Medicina da UFRJ, mas que abandonado pelo Ministério da Educação nessa condição, acabou como refém do SUS – Sistema Único de Saúde.

O Hospital do Fundão é referência nacional em procedimentos de alta complexidade, como os transplantes de fígado e outras especialidades. É também recordista em atendimentos em procedimentos mais simples, como cirurgias de catarata para idosos. Atende a clientes do país inteiro, que ali encontravam, até há pouco tempo, a última esperança de tratamento para tipos raros de câncer, por exemplo.

Mas, segundo sua direção, transplantes e outros atendimentos estão temporariamente suspensos, porque o Hospital “passa por processo de endividamento e sucateamento”, devido à falta de repasse de verbas por parte do município do Rio de Janeiro, que é beneficiário do maior número de atendimentos, assim como pela defasagem da tabela de pagamentos por serviços, não reajustada desde 2004.

A dívida gira em torno de 10 milhões, o que se pensarmos bem, é uma migalha no conjunto das contas públicas do país. O prejuízo em termos dos tratamentos que deixarão de ser feitos, a expectativa de vida de tantas pessoas que deixarão de ser atendidas, e a própria sobrevivência de quem não vai mais poder contar com cirurgias tão necessárias, esses são valores não tem preço.

Acredito que mesmo que a CPMF tivesse sido prorrogada, como queria o governo federal – que na pessoa do presidente Lula defendeu essa medida tão ardorosamente – a situação seria igual. Nosso problema, como tudo indica tão claramente, não é a falta de dinheiro. Não é a falta de recursos para a Saúde. O que falta é tratar das questões da Saúde Pública como prioridade, em detrimento da corrupção desenfreada e dos cartões corporativos. O que falta é compromisso em investir prioritariamente naquilo que é realmente importante, como a Saúde e a Educação.

A falência do Hospital do Fundão seria motivo suficiente para envergonhar nossas autoridades, teoricamente responsáveis pelo assunto. Mas nossas autoridades parecem não estar dispostas a ter vergonha de nada. Envergonhemo-nos pois, nós cidadãos e eleitores, que fomos responsáveis por delegar poder a pessoas tão irresponsáveis.

Já tive a chance de levar pessoas para tratamento no Hospital do Fundão. Conheço bem a diferença que isso fez nas suas vidas. Felizmente, e por enquanto, não precisei dos tratamentos que eles ofereciam, nem eu, nem ninguém da minha família. Mas não estamos livres dessa necessidade, e é uma responsabilidade que precisamos assumir. Garantir o funcionamento do Hospital do Fundão pode ser resultado da nossa opinião, do nosso posicionamento, da nossa mobilização. Assim, aliás, como de todas as demais unidades de saúde do país. Pagamos impostos demais – e se não para nós, que ainda pagamos por planos de saúde particulares, mas para a maioria da população – temos direito à uma competente e suficiente gestão dos recursos destinados à Saúde.

Célia Borges

ELEIÇÕES – Vale à pena dar seu voto a candidatos condenados ou processados?

Os Tribunais Regionais Eleitorais vêm se manifestando recentemente, através de seus juizes titulares, contra a candidatura de pessoas condenadas ou que estejam respondendo a processo judicial. Dos 27 TREs do país, 17 já se pronunciaram favoráveis à medida. Mas a questão ainda está longe de uma solução definitiva, já que esse posicionamento contraria a legislação, segundo à qual só podem ser barrados aqueles que foram condenados, além de qualquer possibilidade de apelação.

Para respaldar aquela posição, será necessário apresentar emenda à Constituição. E a grande dificuldade em aprovar essa emenda é o fato, tão óbvio e desanimador, de que existem centenas de parlamentares envolvidos nos mais variados tipos de processo.

A delinqüência no poder chegou a tal nível de sofisticação, que não existem só um ou outro parlamentar envolvido em algum tipo de problemas, mas bancadas inteiras, como as “bancadas do tráfico”, oportunamente denunciadas pela também parlamentar e ex-juiza Denise Frossard.

Além das bancadas criminosas, já temos de conviver com outras bancadas inteiras eleitas, inclusive fora das questões judiciais, voltadas à defesa de interesse de grupos, especialmente daqueles de grande poder econômico como banqueiros, planos de saúde, agronegociantes de vários setores...

O que se pode ver, na atual conjuntura, é um parlamento loteado por interesses alheios aos interesses da nação, e carreiras parlamentares muito mais voltadas para objetivos pessoais do que para a solução de questões públicas. O exercício de mandatos por criminosos, inclusive reincidentes com longas fichas criminais, é apenas a pontinha do “iceberg” da permissividade que se instalou no legislativo. É o “corporativismo da culpa”, onde a questão crucial é “como condenar alguém, correndo o risco posterior de ser condenado também?”

O poder econômico e os interesses escusos regem de tal forma o nosso processo eleitoral, que não é raro que se tenha a impressão de que os candidatos sérios, honestos e responsáveis, são minoria. Até porque, possivelmente, não dispõem dos mesmos recursos para suas campanhas quanto os que já entram na eleição vendendo seus mandatos.

O eleitor com senso crítico mais apurado, aliás, poderia observar os inúmeros casos de enriquecimento inexplicável entre a classe política, especialmente daqueles que se reelegem interminavelmente, e acabam criando verdadeiras dinastias familiares se perpetuando no poder. Oh! Céus!!! Será que é tão difícil assim de perceber. Tanta gente que no início da carreira não tinha nada, e conseguiu acumular tanta riqueza!!!

Mas esses detalhes não estão marcados na testa, nem escritos nas fichas dos candidatos, de forma que o auxílio de justiça eleitoral torna-se indispensável para o esclarecimento da população. Se não puder impedir as candidaturas – não é difícil imaginar que muitos vão tentar reverter essa tendência, apelando judicialmente – pelo menos o direito de relacionar e divulgar os nomes de candidatos nessa situação já ajudaria o eleitor na hora da sua escolha.

É claro que, partindo do ponto de vista que um ou outro pode ser inocentado das acusações, como diria um advogado com que me correspondi recentemente, “pagaria o justo pelo pecador”. É um risco, com certeza. Mas um cidadão em busca de emprego pode ser recusado por ter ficha criminal, e ninguém o protege dessa circunstância. Por que deveríamos ser complacentes com os políticos, cuja atuação implica em tão grandes responsabilidades? Se algum “justo” for sacrificado, não valeria à pena, diante de tantos “pecadores” que podemos evitar de se elegerem?

Além da criminalidade, existe outra questão igualmente importante, e que não vem sendo encarada com a seriedade que merece: é o problema do despreparo dos nossos legisladores para as funções inerentes aos cargos. O analfabetismo impera, principalmente nas eleições municipais, e piora ainda entre os candidatos à vereadores. E como é que se pode esperar capacidade legislativa de cidadãos que mal sabem escrever os próprios nomes? Se por um lado não se pode condenar ou discriminar ninguém por ser analfabeto, por outro é preciso discernimento para perceber que alguém nessa situação não está à altura de exercer mandato. Se esse cidadão é um líder inato, então que seja um excelente líder comunitário, que combata, que cobre do legislativo e do executivo. Mas para fazer leis, para traduzir os anseios da comunidade, obviamente é preciso saber mais do que simplesmente assinar o próprio nome.

Enfim, eleições à vista, é normal que seja um momento de dúvidas e de avaliações por parte do eleitor. Se os TREs não conseguirem barrar os candidatos sujeitos à processo criminal, caberá ao próprio eleitor exercer a função de expurgar do poder a delinqüência que tanto nos compromete, tanto dos pontos de vista econômico e moral, quanto do social, já que nada pode se esperar de tais pessoas do que fraudes e corrupção. Como aliás, nos mostra fartamente o noticiário.

Célia Borges

14 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XIII – De maio a agosto, a melhor época para cuidar das plantas


O jardineiro, seja profissional ou amador, precisa estar atento à certas condições naturais, que podem ser influenciar no sucesso do seu trabalho. Os ciclos da natureza estão entre esses fatores, e entre a prática e a ciência, alguns deles vêm sendo plenamente confirmados, como o que define os meses sem erre – maio, junho, julho e agosto – como os mais indicados para várias atividades, como as podas, adubações e plantio de sementeiras para as hortas.

A escolha se explica tanto do ponto de vista prático quanto do científico: entre o outono e o inverno, a maioria das plantas entra em estado, por assim dizer, de hibernação. Literalmente, elas descansam da intensa atividade vegetativa do restante do ano. Esse é, portanto, o momento oportuno para prepara-las para a fase de renovação produtiva, que se apresenta à partir de agosto, e mais intensamente em setembro, com a chegada da primavera.

É a época mais indicada tanto para as podas e reformas dos jardins, quanto para a limpeza dos vasos. Em cada caso, é importante observar tanto a saúde da planta quanto o interesse decorativo, fazendo a poda na medida da expectativa de crescimento da espécie, assim como respeitando outros aspectos, como a quantidade de sol, umidade e exposição ao vento.

Deixar crescer demais plantas com perfil de pequenas, por exemplo, pode comprometer a produção de folhas e flores. Na dúvida entre o demais e o de menos, é melhor ficar no meio termo. Apesar de essa época ser recomendável para as podas de formação e as podas radicais, nada impede que a planta seja submetida às podas de limpeza e às esculturais, durante o processo de crescimento.

As podas de formação, adequadas à essa época do ano, são importantes no sentido de se dar às plantas orientação sobre os aspectos que se espera que elas tenham. Um projeto pré-estabelecido é relevante auxiliar nessa hora, quando se pode adaptar cada planta ao projeto do jardim. A poda radical também é oportuna nessa época, nos casos em que é preciso tentar renovar plantas que reagiram de forma negativa às condições oferecidas, e se encontram em mau estado. Nesses casos é indicada também uma adubação, e observação da luz e umidade exigidas.

A questão da adubação já é um pouco mais complexa, diante da variedade de produtos e possibilidades de aplicação. A tendência para o uso de produtos naturais, sem aditivos químicos, vem sendo cada vez mais considerada. A produção de adubos à partir da reciclagem de resíduos domésticos é possível para quem dispõe de espaço suficiente para a produção de compostos, solução barata mas que exige alguma dedicação. Nos demais casos, expor suas necessidades no comércio especializado pode ajudar na escolha dos produtos indicados, de acordo com o tipo de planta, o estágio de crescimento e o tamanho do local a ser adubado.

Prometo mais esclarecimentos em próximas postagens. Mas também estou à disposição para o esclarecimento de dúvidas, através de comentários ao texto, incluído o endereço de e.mail para resposta.

Célia Borges

LIVROS – As camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura


Nesse maio de 2008, em que se comemoram os 120 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, é momento bastante oportuno para se rever, e reavaliar, esse episódio histórico de tão grande impacto na vida social, política e econômica do país, que se por um lado pecou por tardio, por outro ainda reflete uma problemática racial que se prolonga até os nossos dias.

Alguns capítulos desse processo estão admiravelmente revelados no livro As Camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura, do professor Eduardo Silva, publicado em 2003, e que tem como subtítulo “uma investigação de história cultural”. Porque aliás, é disso mesmo que se trata: não um livro de história acadêmico, cheio de nomes e datas, mas o verdadeiro trabalho de um “detetive histórico”, percorrendo meandros, lendo nas entrelinhas, e desvendando uma história muito mais interessante do que a oficial.

Essa é uma espécie de “história secreta do movimento abolicionista”, como admite seu autor, que já foi chefe do setor de história da Fundação Casa de Rui Barbosa, e escreveu outras obras memoráveis, como Barões e Escravidão (1984), As queixas do povo (1888), Negociação e Conflito – a resistência negra no Brasil escravista ( em parceria com João José Reis, em 1989) e Dom Oba II D’África, o Príncipe do Povo – Vida, Tempo e Pensamento de um homem livre de cor (1997).

“As Camélias do Leblon” expõe e esclarece sobre situações e personagens que são ao mesmo tempo heróicos e românticos, e por outro, absolutamente reais, e a maioria deles exilada da literatura oficial. As camélias foram um símbolo aparentemente insuspeitado do movimento, caracterizaram um quilombo com relevante papel na luta abolicionista, e funcionaram até mesmo como uma espécie de código na comunicação dos demais abolicionistas com a Princesa Isabel.

Outro aspecto que merece consideração é sobre o esforço humano, através da quantidade e empenho de pessoas envolvidas no movimento, tanto brancos como o português José Magalhães Seixas (que se desdobrava como fabricante de malas na Rua Gonçalves Dias e a chefia do Quilombo do Leblon), quanto ás multidões de negros revoltados que se expuseram na luta, através das fugas em massa e da formação dos diversos quilombos. Direta ou indiretamente, homens influentes como Rui Barbosa, André Rebouças e Coelho Neto, assim como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, tiveram papéis relevantes nesse processo de abolição da escravatura.

Além da relevância do tema e da revelação de episódios valiosos e interessantes da nossa historia, o livro vale pela qualidade do texto do professor Eduardo Silva, que é objetivo, mas claro e agradável à leitura. E para quem ficar fã, sugiro em seguida a leitura do Dom Obá, que segue uma linha de texto histórico que além de informativa, é um verdadeiro prazer para o leitor. Ambos os livros merecem a atenção de brasileiros, brancos e negros. Prazer e oportunidade para focalizar melhor nossos papéis na história.

Célia Borges

MULHER NA HISTÓRIA – Brasileiras e pioneiras (terceira parte)


A História das mulheres no Brasil é pontilhada de heroísmos, mas a maioria desses casos acabou se perdendo no anonimato. Mesmo com o despontar, no ínicio do Século XX, das vocações femininas em grande número de atividades que até então lhes eram literalmente proibidas, poucas são as histórias de mulheres brasileiras pioneiras que costumam, ou ainda continuam, a ser lembradas.

Elas surgiram nos mais variados pontos do país, mas existem alguns exemplos de efervescência feminista que merecem atenção, como é o caso da seqüência de mulheres baianas que se destacaram, mostrando coragem e empreendedorismo ainda mais surpreendentes, se considerarmos o reduto tipicamente masculino no qual viviam.

Desde Ana Néri, citada no texto anterior dessa série, e até antes dela, é grande o número de exemplos, como o de Inês Sabino (1853/1911) escritora nascida em Salvador, abolicionista, que viveu no Rio, São Paulo, e publicou vários livros, com destaque para “Mulheres Ilustres do Brasil” (1899); Leolinda de Figueiredo Daltro (1860/1935), feminista e indianista, defendeu a alfabetização das nações indígenas e fundou o Partido Republicano Feminino, em 1910; Violante Ximenes Bivar e Velasco (1816/1874) nascida em Salvador e pioneira no jornalismo, tendo escrito e dirigido o Jornal das Senhoras; Maria Luisa Bittencourt, advogada e primeira deputada estadual da Bahia, eleita em 1934, usou seus conhecimentos de direito para defender a emancipação das mulheres no Código Civil brasileiro; e Maria José de Castro Rebelo Mendes, natural de Salvador, que foi a primeira mulher a ingressar no serviço diplomático brasileiro, sendo aprovada no Itamarati em 1918.

Em outros pontos do país, e paralelamente, outros exemplos mereceriam nota, como o caso de Mirtes Campos, no Rio de Janeiro, que foi a primeira advogada a conseguir registro na Ordem dos Advogados do Brasil. Embora muito pouco sobre essa pioneira conste das fontes de pesquisa tradicionais, sabe-se que, ainda estreante, em 1906, derrotou em julgamento um célebre promotor de justiça. Ainda no Rio de Janeiro, é relevante o caso da professora Celina Guimarães Viana, dona do primeiro título eleitoral feminino, obtido em 1927, embora seu direito a voto só viesse a ser assegurado em 1932.

Nas artes e na literatura, são indiscutíveis os talentos que se revelaram, começando por Anita Malfatti, nascida em São Paulo em 1896, que foi uma desbravadora tanto como mulher como quanto artista, antecipando com seu trabalho, desde 1914, o que seria a revolução da linguagem artística verificada na Semana de Arte Moderna de 1922. Idolatrada por uns, mas crucificada pela maioria, é reconhecida, sem favor, como um dos maiores nomes das nossas artes plásticas.

A literatura foi área pródiga na revelação de talentos femininos, e a relação seria interminável. Sintetizo citando Cecília Meirelles, por ter sido talvez a maior poeta brasileira, apesar de outros nomes tão valiosos, que recomendo ao leitor pesquisar. Nascida no Rio de Janeiro em 1901, conviveu com a perda dos pais na primeira infancia, sendo criada por uma avó açoriana. Precoce, recebeu seu primeiro prêmio literário em 1910, das mãos de Olavo Bilac. E em 1919 publicou seu primeiro livro de versos, Espectros. Enfim, e como outras brilhantes escritoras da nossa história, é um grande personagem, que merece maiores pesquisas por parte dos interessados.

Outra área que reúne exemplos brilhantes é a medicina, onde o pioneirismo destaca Rita Lobato, nascida em São Pedro do Rio Grande-RS, em 7 de junho de 1866, e que foi a primeira brasileira a cursar uma faculdade de medicina e a obter o título de doutora. Graduada em 10 de dezembro de 1887, na Faculdade de Medicina da Bahia (depois de ter estudado no Rio de Janeiro), defendeu tese sobre “métodos preconizados na cesariana”, tema na época considerado ofensivo, por ter abordado assunto tão pudico e reservado. Para obter seu diploma, teve que lutar contra inúmeras restrições, mas impôs-se como uma vencedora, concluindo em quatro anos um curso que levava seis. Ela foi a segunda médica da América Latina e a primeira vereadora do Rio Grande do Sul.

Em termos da relevância do talento e do trabalho, apesar de tantas figuras admiráveis da nossa história feminina, poucas se equiparam a Nise da Silveira, que enfrentou não apenas os obstáculos ao trabalho feminino, a perseguição política, e um desafio ainda mais difícil, que foi a compreensão da loucura. Seu trabalho no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro foi revolucionou a psiquiatria praticada no país, o que lhe valeu respeito e reconhecimento internacionais.

Nascida em Alagoas, filha de um jornalista, estudou na Faculdade de Medicina da Bahia de 1921 a 1926, numa turma de 157 alunos em que era a única mulher – e uma das primeiras do Brasil. Casou-se com o sanitarista Mário Magalhães Silveira, com quem viveu até o falecimento dele, em 1986. Em 1927, com o falecimento do pai, muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1933 faz estágio na clinica neurológica de Antônio Austregésilo. Aprovada aos 27 anos num concurso para psiquiatra, em 1933, começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental, no Hospital da Praia Vermelha.

Nise foi militante da ANL – Aliança Nacional Libertadora – e durante a Intentona Comunista, denunciada por uma enfermeira por ter livros marxistas, foi presa e mantida no Presídio Frei Caneca por 15 meses. Ali conheceu Graciliano Ramos, preso nas mesmas circunstâncias, tendo se tornado personagem da admirável obra desse escritor, Memórias do Cárcere. De 1936 a 1944 permaneceu na semi-clandestinidade com o marido, afastada do serviço público por razões políticas. Durante seu afastamento fez leitura reflexiva sobre a obra de Spinoza, escrevendo o livro Cartas a Spinoza, publicado afinal, apenas, em 1995.

Em 1944, reintegrada ao serviço público, inicia seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, onde retoma sua luta contra técnicas psiquiátricas que considera agressiva aos pacientes. Por se recusar a aplicar eletrochoques, é transferida para o trabalho de terapia ocupacional, atividade então desprezada pelos médicos. Em 46 criou uma seção de terapia ocupacional, onde os doentes, no lugar de tarefas como limpeza e manutenção, passaram a a utilizar os “ateliês”de pintura e modelagem.

Pioneira na difusão da psicologia junguiana no Brasil, começou a se corresponder com Carl Gustav Jung em 1954, e estimulada por ele apresentou uma mostra dos trabalhos de seus pacientes com o nome de Arte e Esquizofrenia, no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em 1957, em Zurich. Estudou no Institute Carl Gustav Jung em dois períodos, 1957/58 e 1961/62, tendo recebido a supervisão da assistente de Jung, Marie Louise von Franz. Na volta ao Brasil formou em sua residência o Grupo de Estudos Carl Jung, que presidiu até 68, quando lançou o livro “Jung: vida e obra”.

Em 52 já fundara o Museu de Imagens do Inconsciente, preservando o trabalho dos internos e criando uma importante referência para estudos. Em 56 criou a Casa das Palmeiras, clinica voltada para a reabilitação de pacientes de instituições psiquiátricas. É longa e rica a história dessa brasileira pioneira, condecorada e tida como exemplo em diversos países. Além dos sete livros que escreveu e publicou, é personagem de estudos de Fernando Portela Câmara e Ferreira Gullar.

Célia Borges

12 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XII – Penduradas nas janelas, as melhores para jardineiras


A maioria das espécies floridas de pequeno porte pode ser usadas em jardineiras, arranjos decorativos ou vasos presos a paredes externas, desde que se respeite as exigências de cada uma delas com relação à quantidade de sol, umidade e ventos, por exemplo. Nessa escolha reside a principal dificuldade, já que encontrar espécies capazes de resistir ao excesso de todos esses itens, é um problema bem mais complicado.

A escolha de espécies que têm essas características é uma boa providência quando se pensa em plantar jardineiras, ou até mesmo colocar vasos em parapeitos (de preferência protegidos por grades, é claro!!!). O sol intenso associado a vento constante compromete a umidade, criando um ciclo do que poderiam chamar “condições adversas” para a maioria das plantas. Por isso, quando mais resistente a planta, maiores as possibilidades de sucesso.

Há algumas espécies, especialmente entre as nativas do país, de grande beleza mas também de fácil cultivo, inclusive algumas daquelas que se reproduzem “feito mato”, respondendo de forma exuberante diante de um mínimo de cuidados. Apesar disso, podem oferecer excelentes efeitos decorativos, nas mais variadas cores de flores.

Entre essas plantas extremamente resistentes, destaca-se a Azulzinha (Evolvulus glomeratus), que se adapta aos mais variados tipos de usos, desde bordaduras a maciços, de vasos de todos os tamanhos a jardineiras. As flores azuis e muito miudinhas podem variar de tom dependendo do local, mas nascem invariavelmente em grande quantidade, em contraste com a densa folhagem verde escura.

Da mesma família, a Gota de Orvalho (Evolvulus pusillus), se destaca da anterior por apresentar pequenas flores brancas, que se abrem na parte da manhã. Ambas respondem bem ao sol pleno e resistem aos ventos, sendo que a primeira prefere solo rico em matéria orgânica e segundo, solo arenoso. Ambas preferem boa umidade, por isso, evite deixar a terra completamente seca.Típicas de clima tropical, se adaptam bem o subtropical, só não suportando geadas.

Outra campeã de sobrevivência é a família das ruélias, principalmente a Pingo de Sangue (Ruellia brevifolia), não raramente encontrada em estado selvagem. As flores de vermelho intenso, em formato tubular, dão toque alegre ao locais onde são plantadas. Usada frequentemente em maciços, nas jardineiras e vasos exige podas freqüentes, pois deixada por conta própria, pode chegar à mais de um metro da altura. Fora isso, é de fácil reprodução e exige muito poucos cuidados.

Existem ainda a Ruélia Vermelha (Ruellia elegans), com flores vermelhas um pouco mais elaboradas, e as pétalas tubulares separadas, sendo muito atraente para os beija-flores; e a Planta Veludo (Ruellia makoyana), que tem flores de verde intenso alongadas e com um fio branco no centro, e flores tendendo para o rosa arroxeado. Como a primeira, são prioritariamente usadas em maciços, oferecendo boas soluções também em jardineiras e vasos.

Mas as rainhas das flores selvagens adaptadas para a jardineira são as da família da Maria Sem Vergonha, gênero Impatiens. Originárias de outros de outros países tropicais, mas perfeitamente adaptadas ao nosso clima, e proporcionam efeitos visuais, tanto em estado primitivo quanto cultivadas, os mais deslumbrantes. As flores variam desde o branco até os vermelhos mais intensos, passando por variadas nuances de cor de rosa, incluindo as raiadas. De flores simples ou dobradas, folhagens mais ou menos densas, elas são sempre uma verdadeira festa para os olhos, e um desafio à criatividade do jardineiro ou jardineira.

A Maria Sem Vergonha (Impatiens walleriana) é a mais popular e conhecida, e a mais fácil de ser encontrada no meio das matas e na beira das estradas. Considerada uma planta invasora, ela pode crescer e se multiplicar indefinidamente, se encontrar um local apropriado, geralmente úmido e em meia sombra. Mas sua extraordinária capacidade de adaptação faz com que possa ser cultivada em lugares os mais variados. Mesmo preferindo meia sombra e o máximo de umidade, ela é capaz de resistir, por exemplo, ao sol intenso do fim da tarde, desde que uma parte do tempo receba os benefícios de um clima mais ameno e sombreado.

Apropriada a maciços e bordaduras, mas perfeitamente cultivável em jardineiras e vasos, as Impatiens têm também as variedades Impatiens balsamina ou Beijo de frade, planta anual e de flores arroxeadas; a Impatiens hawkeri hubrid ou Beijo de frade; a Impatiens walleriana Rosette, igual à primeira, apenas com folhas dobradas; e a Impatiens walleriana var. nana, que é uma espécie de miniatura, também do primeiro tipo. Existe também uma grande variedade de hibridas nas lojas especializadas, porque essa planta é facilmente sujeita a cruzamentos de espécies.

O cultivo em jardineiras é relativamente fácil, mas é preciso tomar alguns cuidados: nos casos de jardineiras embutidas, de cimento, ou de madeira, é indicado forrar o fundo com “manta bidim”, produto fácil de ser encontrado, e que vai impedir que a infiltração das regas danifique o material do fundo. Devido à quantidade pequena do espaço para armazenar nutrientes, por mais resistentes, as plantas devem ser regadas com adubos apropriados, pelo menos a cada três meses. E pelo menos uma vez por ano, é adequado refazer o local, retirando o excesso de raízes, multiplicando as mudas por touceiras e assim permitindo mais espaço para que possam respirar e florir.

Célia Borges

SAÚDE – A jabuticaba é um achado para a saúde


Até bem pouco tempo, ninguém nem desconfiava. Parodiando o ditado, fruta de casa não faz milagre. Ou não fazia... até que a química Daniela Brotto Terci, da Universidade Estadual de Campinas, pesquisando em seu laboratório sobre novas fontes naturais de pigmentos capazes de substituir os corantes artificiais usados na indústria de alimentos, decidiu fazer experiências com a jabuticaba, devido a cor intensa de sua casca. Os resultados foram surpreendentes, revelando essa frutinha 100% brasileira como importante e inesperada aliada na saúde.

A pesquisadora reconhece que os estudos sobre a jabuticaba são escassos. Daí sua surpresa com a revelação de que a cor arroxeada da fruta é devida a uma grande concentração de antocianinas, a mesma substância presente nas uvas escuras, e consequentemente, no vinho tinto, e apontada como benfeitora das artérias. Num conjunto de frutas analisadas, ela concluiu que a quantidade de antocianinas por miligrama é de 314 para a jabuticaba, contra 290 da amora e 227 da uva.

Além da utilidade na fabricação de corantes, a análise da jabuticaba resultou em relevantes descobertas do ponto de vista da medicina: ela atua como antioxidante, ajudando a varrer as moléculas de radicais livres, efeito que é considerado eficiente na prevenção de tumores e problemas cardíacos. Estudos recentes apontam também os antioxidantes como auxiliares para estabilizar o açúcar no sangue dos diabéticos.

Além das antocianinas, foram detectados na composição de cada 100 gramas, ou um copo de jabuticaba os seguintes elementos: calorias = 51; vitamina C = 12 mg; niacina = 2.50 mg; ferro = 1,90 mg; fósforo = 14 g. A maior quantidade de antocianina está na casca, mas os demais nutrientes encontram-se na polpa. E tanto na casca quanto na polpa foi identificada também a presença de altos teores de pectina, fibra muito indicada para combater níveis altos de colesterol.

Como muitas outras frutas, a maior riqueza do ponto de vista da nutrição encontra-se na casca, à qual pode-se dar inúmeros aproveitamentos. A geléia, por exemplo, que é um dos mais famosos subprodutos da jabuticaba, com a vantagem de que as altas temperaturas não degradam as substancias benéficas para a saúde. O licor de jabuticaba também é muito apreciado, preservando valor e sabor. Muito interessante é também o “vinho” de jabuticaba, um fermentado que passa um ano em barris de carvalho, e que, de tão apreciado, já está inclusive sendo exportado.

Já os sucos, embora bastante saudáveis e indicados, são um pouco mais complicados: “Misturar jabuticaba com abacaxi dá uma bebida azulada”, comenta a nutricionista Solange Brazaca, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba-SP. Segundo ela, gotas de limão tornam o suco avermelhado. E recomenda que deve ser ingerido imediatamente após batido, pois sofre alterações de cor e sabor.

Outro cuidado que os cientistas indicam é que a fruta é muito delicada, e se modifica assim que arrancada da árvore, o que recomenda muito o seu consumo “no pé”. Como tem muito açúcar, a fermentação começa no mesmo dia da colheita. Por isso, a recomendação para maior conservação é embalada em saco plástico e mantida dentro da geladeira.

Muito popular, nativa e encontrada no Brasil inteiro, do Pará ao Rio Grande do Sul, a jabuticabeira é extremamente fácil de se cultivar. É também uma árvore bonita e atrai muitos passarinhos. Seu porte pode chegar até 9 metros de altura. A palavra jabuticaba vem do tupi, e quer dizer “fruto em botão”.

Célia Borges

10 de maio de 2008

ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE – Energia solar fácil e gratuita


A engenhosidade de pessoas simples pode levar a soluções que superam e desafiam a formação técnica dos cientistas. É o caso da lâmpada de energia solar, criada por um mecânico de Uberaba, de nome Alfredo (sobrenome não informado), e que se encontra amplamente difundida naquela cidade mineira, já conquistando outros locais.

O engenho, além de sair praticamente de graça – todos os materiais são reciclados, menos duas medidas de água sanitária – consegue proporcionar iluminação sem qualquer custo, aproveitando apenas a luz solar. Para cada lâmpada, basta uma garrafa PET de dois litros, transparente, duas tampinhas da garrafa de água sanitária, e uma embalam (o potinho descartável) de filme fotográfico.

A garrafa e a água devem estar bem limpas. Depois de misturar a água sanitária, basta tampar (com a própria tampa da PET) e cobrir a tampa com a embalagem de filme. A garrafa deve ser fixada numa abertura do teto, deixando-se cerca de dez centímetros para fora, garantindo a captação da luz do sol. O efeito interno, já medido por um engenheiro especializado, é o de uma lâmpada entre 40 e 60 wats para cada garrafa.

Além do custo quase nenhum na confecção da lâmpada, o custo do consumo também é zero. Segundo usuários, ela tem outras vantagens, como por exemplo a de não ser preciso o trabalho de apagar e acender, pois seu funcionamento vai depender da intensidade do sol. Mesmo não dispensando inteiramente a energia elétrica, ela pode proporcionar uma grande economia. Há quem garanta que uma lâmpada já funciona há dois anos, sem necessidade de manutenção.

Segundo o criador, “seu” Alfredo, a idéia surgiu como solução na época do Apagão, em 2002. Hoje o sucesso já é tanto que está sendo usado no Parque Ecológico Chico Mendes, na grande São Paulo.

O leitor curioso, que quiser conhecer o vídeo demonstrando a confecção, instalação e utilização da lâmpada solar gratuita, pode escrever como comentário para essa matéria, informando o endereço de e.mail para onde a resposta possa ser encaminhada.

Célia Borges

9 de maio de 2008

LIVROS – A História das Mulheres no Brasil


Nunca me considerei uma feminista. Ao contrário, sempre fui mais uma mulher extremamente feminina, embora ardorosamente interessada na compreensão do papel da mulher na sociedade, especialmente do ponto de vista histórico. Na experiência dos meus 56 anos de vida, aprendi, e não vou negar que com alguma dificuldade, que não há conflito entre o feminismo e a feminilidade. Um papel não anula o outro, como fomos condicionadas a considerar, durante muito tempo, por influência de um universo predominantemente masculino.

É justamente com essa visão, despida de preconceitos, que se deve encarar a leitura desse livro básico para a compreensão do papel da mulher na sociedade brasileira, a História das Mulheres no Brasil. Não é uma publicação recente, nem volume muito fácil de ser encontrado, mas qualquer esforço nesse sentido, para quem se interessa pelo assunto, valerá à pena.

Emprestando uma visão ampla e abrangente, do universo feminino na história do Brasil, esse livro, publicado em 1997, através de parceria entre as editoras Unesp (da Universidade de São Paulo) e Contexto, reúne trabalhos de importantes estudiosos do tema, que nos levam desde o cotidiano das indígenas ao movimento operário feminino, das mulheres do sertão nordestino às mulheres do sul, da pobreza à psiquiatria, da religião à sexualidade, os mais variados aspectos da condição feminina estão ali pesquisados e analisados.

Organizado pela professora Mary de Priore, também autora do trabalho “Magia e medicina na Colônia: o corpo feminino”, o livro recebeu os maiores elogios da crítica especializada. Segundo Norma Couri, n’O Estado de São Paulo, “é o trabalho mais completo que já se fez sobre o tema, no Brasil”. Para Luiza Nagibeluf, da Folha de São Paulo, foi “um trabalho sem precedentes no país”.

Segundo a organizadora, na contra-capa do livro “a história das mulheres não é só delas, é também aquela da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura e das suas imagens frente à sociedade. É a história do seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e que praticaram, da sua loucura, dos seus amores e dos seus sentimentos”.

Talvez não pareça muito, mas considero, pessoalmente, que esse é um livro básico para o resgate da auto-estima de cada mulher brasileira, provavelmente muito mais útil que uma coleção de livros de auto-ajuda. Mais importante ainda para aquelas que são formadoras de opinião, como as professoras. Importante para homens e mulheres.

Célia Borges

ITATIAIA HISTÓRICA – Wanderbilt Duarte de Barros e o Parque Nacional


Quem entra à direita, vindo pela Via Dutra, no acesso ao município de Itatiaia, e na direção do Parque Nacional, vai percorrer uma longa avenida, até chegar aos portões daquela unidade de conservação: é a Avenida Wanderbilt Duarte de Barros. O nome não foi dado gratuitamente, como acontece com tantos logradouros públicos, Brasil afora. Na verdade ele é uma justa homenagem a um homem que soube, merecidamente, inscrever seu nome na história.

O currículo desse engenheiro agrônomo, e ambientalista pioneiro, é bastante longo e rico, não cabendo nesse espaço. Daí o resumo que se segue: nascido no seio de uma família de castanheiros da Amazônia, desenvolveu desde cedo intimidade com a natureza, em sua forma mais exuberante e primitiva, despertando nele um fascínio que o seguiria pela vida inteira.

Fez seus estudos primários em Óbidos, e em Belém, transferidos depois para Passa Quatro-MG, onde cursaria o secundário. Nessa cidade, em 1934, ingressou no curso de Engenharia Agronômica, formando-se três anos depois. Formado, buscou pela primeira vez trabalho no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, não tendo sido aceito. Outra oportunidade profissional levou-o à São Paulo, onde trabalhou no Departamento de Estradas de Rodagem.

Mas ele tinha uma meta, e não desistiu de persegui-la: em 1940, por concurso público, ingressa finalmente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde teria oportunidade de aliar seus conhecimentos técnicos ao espírito conservacionista e ao fascínio pela natureza.

Em 1941 foi transferido pela primeira vez para o Parque Nacional do Itatiaia, onde iniciaria estudos botânicos na área de dendrologia, indo em seguida dirigir o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, entre setembro de 1942 e maio de 1943. O sucesso e o reconhecimento pelos resultados de sua administração o trariam de volta ao Parque Nacional em setembro daquele mesmo ano, agora como diretor, função que exerceria até 1957, tendo tido a chance de por em prática inúmeros dos seus projetos.

Sua ampla visão das necessidades de conservação dos recursos naturais o fazem trabalhar não apenas nos esforços para dotar o parque das condições físicas e materiais necessárias – como a construção de prédios e estradas – mas principalmente promovendo a região como núcleo de atividades científicas. Nesse aspecto, promove a criação do Boletim Técnico, convidando cientistas brasileiros e estrangeiros, das mais variadas instituições, para ali desenvolverem estudos e pesquisas, destinados inclusive a orientar a administração do parque nas práticas de manejo do ambiente natural, delimitar as áreas de turismo e desenvolver programas de cultivo de espécies nativas para reflorestamento de áreas degradadas.

A gestão de Wanderbilt Duarte de Barros à frente do Parque Nacional foi marcada por pesquisas nas áreas de entomologia, ornitologia, ecologia geral, botânica sistemática, anatomia da madeira, dendrologia, biologia dos vertebrados, climatologia e recursos hídricos. As coleções resultantes dessas pesquisas constituíram o precioso acervo do Museu da Fauna e da Flora (incluindo as de plantas secas de Curt Brade, Campos Porto, Graziela Barroso e Kuhlman, a coleção Zikan de entomologia e os exemplares taxidermizados por Élio Gouvêa e sua equipe), desativado pelo IBAMA no ano passado, sob protestos de cientistas e pesquisadores locais e da comunidade.

Quando se aposentou, em 1975, após trinta e cinco anos de trabalho, nunca havia tirado férias. Depois disso atuou como professor de cursos de aperfeiçoamento da OEA, foi professor da UFRJ e também Superintendente de Recursos Naturais e Meio Ambiente do IBGE. Em 1990, aos 74 anos, voltou ao Jardim Botânico como Superintendente, e cheio de energia como sempre, promoveu uma grande campanha de revitalização daquela instituição, mobilizando a iniciativa privada e ampliando o intercâmbio com instituições internacionais, ao organizar no Rio de Janeiro um Congresso Internacional de Jardins Botânicos, com o apoio do Comitê Internacional dos Jardins Botânicos, sediado na Inglaterra.

Um dos primeiros brasileiros a levantar a bandeira da proteção ambiental, foi autor de diversos livros sobre o tema. Falecido em maio de 1997, além do nome na avenida que dá acesso ao parque, tem seu nome inscrito também no Centro de Visitantes daquela unidade de conservação. A ele é dedicada também a cadeira 17 da Academia Itatiaiense de História.

(Pesquisa baseada no discurso de posse de Luiz Sérgio Pereira Sarahyba, na Acidhis, no Obituário de O Globo de 2/5/97 e no meu texto publicado no livro Duzentos Anos, da Ardhis/Resende)

Célia Borges

MULHER NA HISTÓRIA – Brasileiras e pioneiras (segunda parte)


Apesar da discriminação sofrida pela mulher no decorrer da nossa história, refletindo o papel secundário que lhe foi atribuido durante séculos, muitas pioneiras começam a surgir no início do Século XVIII, conquistando espaços à custa de suas inteligências e capacidades. Buscando formação técnica ou reivindicando igualdade de direitos, pode-se dizer que venceram porque não desistiram, enfrentando todo o tipo de obstáculos.

Essa chamada “revolução feminina” não aconteceu repentinamente, ela foi se estabelecendo passo a passo, primeiro através de conquistas pessoais, mas em seguida, à partir do Século XIX, ganhando contornos cada vez mais coletivos. Os casos das mulheres que se destacaram, por raros, acabaram recebendo notoriedade, e servindo de exemplos, cada vez mais influentes, para as demais mulheres.

Nísia Floresta – Na ponta desse pioneirismo, é preciso citar, por questão de justiça, o papel de Nísia Floresta, que em 1832 publicou o primeiro livro de que se tem notícia tratando dos direitos da mulher à instrução e ao trabalho. Sob o título “Os Direitos da Mulher e a Injustiça dos Homens”, a obra exigia que as mulheres passassem a ser consideradas como seres inteligentes e merecedoras de respeito pela sociedade.

Nascida em 12 de outubro de 1810, em Papari-RN, no Sítio Floresta, era filha de um advogado e recebeu o nome de batismo Dionísia Gonçalves Pinto. Casada aos 13 anos, separou-se em seguida. Em 1824 mudou-se para Pernambuco, e em 1828 passou a viver com o advogado Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem teve em 1830 a primeira filha, Lívia Augusta.

Em 1831 estréia nas letras, publicando artigos no jornal Espelho das Brasileiras, e no ano seguinte lança seu livro, inspirado da obra da feminista inglesa Mary Wollstonecraff, “Vindications of the Rights of Woman. Nessa obra, assume o pseudônimo pelo qual viria a ser sempre conhecida: Nísia Floresta Brasileira Augusta. Em 1833 nasce seu segundo filho, Augusto Américo, e ela muda-se para Porto Alegre-RS com os filhos e o companheiro, mas esse vem a falecer a seguir, aos 25 anos.

Em 1837 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde no ano seguinte anunciava a inauguração do Colégio Augusto. Nos anos seguintes publicou vários livros, como Conselhos à Minha Filha (1842), Daciz ou a Jovem Completa, Fany ou O modelo das Donzelas e Discurso às suas Educandas (todos em 1847); A Lágrima de Um Caeté (sob o pseudônimo Telesila, em 1849); e Dedicação de Uma Amiga (em dois volumes, em 1850). Viveu na Europa (Paris, Roma e Lisboa) por vários períodos, tendo escrito em publicações desses países, e em vários idiomas, até seu falecimento em 1885.

Ana Néri – A mais famosa de nossas pioneiras, é sem dúvida, Ana Néri. Nascida em 13/12/1814, na vila de Cachoeira de Paraguaçu-BA, foi a primeira mulher a se dedicar à enfermagem no Brasil, tendo servido como voluntária na Guerra do Paraguai. Em sua homenagem, em 1926, Carlos Chagas deu seu nome à primeira escola oficial brasileira de enfermagem, e caracterizada por ser uma instituição de alto padrão.

Ana Justina Ferreira Néri, já viúva do capitão-de-fragata Isidoro Antonio Neto, na ocasião do conflito, não se conformava ao ver seus três filhos, o cadete Pedro Antonio Néri, e os médicos Isidoro Antonio Néri Filho e Justiniano de Castro Rebelo, além de dois irmãos oficiais do Exército serem convocados, e decidiu escrever ao presidente da Província uma carta, oferecendo seus serviços como enfermeira.

Proposta aceita, ela parte da Bahia, de onde nunca havia saído, em 1865, para trabalhar como auxiliar no corpo de saúde do Exército, servindo inicialmente no hospital de Corrientes, ao lado de um pequeno grupo de freiras vicentinas. Exerceu a profissão também em Salto, Humaitá, Curupaiti e Assunção. Na capital paraguaia, sitiada pelo Exército Brasileira, ela montou com recursos próprios, e na casa onde vivia, uma enfermaria modelo, na qual trabalharia com dedicação até o final da Guerra, na qual perdeu o filho Justiniano e um sobrinho.

Ao voltar ao Brasil em 1870, vê seu trabalho festejado e reconhecido, tendo recebido, além de condecorações, uma pensão vitalícia concedida pelo Imperador, e com a qual pode educar quatro órfãos que trouxera do Paraguai. Ana Néri morreu no Rio de Janeiro, em 20/05/1880, e uma das homenagens que perpetua sua história é o retrato pintado por Vitor Meireles, e que ocupa lugar de honra no Paço Municipal de Salvador.

Chiquinha Gonzaga - No campo das artes, esse nome é uma verdadeira lenda na História do Brasil. Nascida no Rio de Janeiro, em 17/10/1847, Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi compositora e pianista de sucesso, tendo sido também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Seu talento inquestionável foi o melhor argumento para vencer os preconceitos da época, inclusive no aspecto da sua vida pessoal. Casada por imposição da família, teve a coragem de se separar, após o que assumiu sua relação com o engenheiro João Batista.

Musicista independente, tocava piano em lojas de instrumentos musicais, dava aulas de piano e também se apresentava em festas, ao lado de um grupo de músicos como Joaquim Calado. Preocupada em adaptar o som do piano ao gosto do público, tornou-se a primeira compositora popular do país. Seu sucesso começou em 1877, com a polca Atraente. Mas a notoriedade veio em 1897, com a versão estilizada do Corta-Jaca, e a consagração, dois anos mais tarde, com a marcha Abre-Alas, a primeira música escrita para o carnaval, para o Cordão Rosa de Ouro, do bairro carioca do Andaraí.

Chiquinha foi uma precursora também no teatro de variedades, onde estreou em 1885 com a comédia de costumes A Corte Na Roça. Em 1911 conquistou seu maior sucesso no gênero, com a opereta Forrobodó, que chegou a 1.500 apresentações e foi o melhor desempenho de uma peça do gênero durante muitos anos. Em 1934, com 87 anos, escreveu a partitura da opereta Maria. Ao todo, é autora de mais de duas mil composições, sendo 77 para peças teatrais. Foi também ativa abolicionista, e fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

Mais pioneiras – Conforme escrevi no primeiro texto dessa série, a pesquisa sobre o assunto parece infinita..e quanto mais se pesquisa, mas preciosidades se encontra. Em vista disso, só posso prometer novos capítulos, nem eu mesma posso avaliar quantos. Mas a pesquisa é estimulante, e pretendo continuar nela. Se os prezados leitores e leitoras quiserem compartilhar seus conhecimentos, e colaborar para enriquecer o tema, saibam que serão recebidos de braços abertos.

Célia Borges