31 de março de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM V – Elementos decorativos dão personalidade ao jardim interno



Se você dispõe de um espaço externo suficiente para fazer seu jardim, não é difícil emprestar a ele a sua personalidade, através da escolha e disposição das plantas. Mas se o espaço é pequeno, e principalmente se ele é um jardim interno, as opções ficam bastante reduzidas, tanto quanto ao tipo de planta, quanto com relação à maneira de arruma-las de forma agradável e harmônica.

Ao ar livre há quase sempre a chance de se fazer canteiros, e mesmo os vasos mais simples, latas e caixotes podem ser usados na composição do conjunto sem comprometer a estética. Já num espaço interno os detalhes ficam mais próximos e expostos, e por isso um certo cuidado na escolha dos elementos adicionais – além das plantas, propriamente – pode fazer grande diferença na aparência do lugar.

As possibilidades, em termos de elementos de jardim, são praticamente infinitas, tanto pra quem tem recursos para escolher as melhores peças nas lojas especializadas, quanto para quem prefere usar a criatividade. É necessária alguma atenção no uso de objetos de madeira ou outros materiais permeáveis, como papelão, porque podem se deteriorar facilmente no contato com a água e a umidade das plantas, mas mesmo estes podem ser usados, se forem tomados os cuidados indispensáveis, como aplicação de verniz ou outro tipo de isolamento impermeável.

Alguns elementos interessantes na composição de um jardim interno são:

FONTES – Além de serem facilmente encontradas em lojas do ramo, elas são um recurso muito usado, não apenas do ponto de vista estético, mas como fator de movimento e energia no jardim interno. O efeito calmante do barulho da água e sua contribuição para manter a umidade do ambiente são outros motivos que as tornam tão atraentes num projeto. Além daquelas que podem ser compradas prontas – e é preciso observar a existência de energia elétrica e água nas proximidades – pessoas com talento para isso podem construir as suas, geralmente com pedras, bambu, peças de madeira impermeabilizada e outros.

VASOS – A escolha deve ser cuidadosa, de acordo com o tamanho potencial do crescimento da planta e também com as exigências da composição estética. Vasos de tamanhos diferentes ajudam a dar idéia de mobilidade ao ambiente, e se houver espaço para concentra-los, colocando-se os mais altos no fundo e os mais baixos na frente, pode-se ter uma impressão de um jardim mais denso. Vasos pintados de cores fortes são mais adequados em espaços onde predominam as folhagens, mas são perigosos onde há plantas coloridas: nesses casos, só mesmo aqueles “feitos um para o outro”.

Vasos verdes não são adequados para folhagens, a não ser que o contraste de tons seja intenso, para evitar um clima de monotonia no ambiente. Eles vão funcionar melhor com plantas coloridas, principalmente as que puxem para o vermelho. Jardineiras são adequadas para prateleiras e batentes, e a escolha deve obedecer aos mesmos cuidados. Outro recurso indicado para jardim interno são os painéis de parede com vasos embutidos, seja em xaxim, fibra de coco e outros materiais.

PEDRAS, PEDRISCOS E ETC...- Para dar um toque pessoal no seu jardim, existe uma grande variedade de materiais, como pedras das mais diversas das cores, pedriscos, cascas de pinus e argila expandida, sendo que esses dois últimos são os de preços mais acessíveis. Eles tanto podem ser colocados dentro dos vasos, dando acabamento e auxiliando na manutenção da umidade, quanto em volta dos vasos e dos demais elementos.

Mas muitos outros materiais podem ser aproveitados com esse objetivo, alguns deles encontrados na própria natureza, como galhos e pedaços de troncos, para quem gosta de pesquisar nas matas, parques e outros locais com abundância de vegetais. Areia lavada, aquela pedra bonita que você trouxe de uma viagem...há enfim, dependendo da inspiração, do gosto e da personalidade de cada pessoa, quase tudo pode ser aproveitado para compor estéticamente o seu jardim interno.

Mais uma dica, e importante, é que é preciso conciliar os elementos com as necessidades das plantas, cuidando para não sacrificar uns em benefício de outros. A convivência entre os dois fatores é primordial, pois não adianta ter um ambiente com objetos lindos e plantas maltratadas. Se for preciso optar, melhor é cuidar que as plantas fiquem lindas, mesmo em contraste com os materiais mais simples

Célia Borges.

ALDEIA GLOBAL XXIII – Abaixo o “foro especial” para autoridades

Todos são iguais perante a lei. Menos os deputados, senadores, governadores, promotores, procuradores, juizes, desembargadores, ministros, presidentes e vice-presidentes da República. Quem lê sempre essa coluna vai pensar que a frase é minha, mas na verdade ela abre um artigo do deputado federal Marcelo Itagiba no jornal O Globo de hoje (31/03), onde escreve sobre sua proposta de emenda à Constituição federal (PEC n0 130), destinada a acabar com o foro especial para o julgamento de crimes dos quais sejam acusadas autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

A minha confiança na classe política é bem reduzida, mas quando aparece alguém com uma iniciativa dessa natureza, não tenho dúvidas de que merece apoio. Segundo o deputado, a proposta foi elaborada com base em preceitos defendidos pela Associação dos Magistrados Brasileiros, em seu seminário “Juizes contra a corrupção”, e aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Mas creio que, para que ela seja aprovada até as últimas conseqüências, vai ser preciso uma grande mobilização da opinião pública, capaz de deter o corporativismo dos poderes.

Só costumo publicar textos que eu mesma escrevo, mas nesse caso me atrevo a transcrever abaixo outros trechos do artigo do deputado, que considero brilhante: “ É injustificável a manutenção da prerrogativa do chamado foro privilegiado nos ilícitos penais, em favor de quem quer que seja, perante o Supremo Tribunal Federal ou quaisquer outras cortes. Tal prerrogativa está degradada à condição de inaceitável privilégio, que transgride o principio de igualdade e promove o desequilíbrio da cidadania, com enormes danos, próximos ao irreversível, à crença num país justo”.

E ele continua: “O foro privilegiado é um direito que já nasceu retrógrado e injusto. Não podemos mais continuar nos reconhecendo, vergonhosamente, como um país formado por milhões de pessoas que têm seus direitos primordiais negados – e o à Justiça é um deles – e uma minoria de “cidadãos especiais” cujos privilégios os aproximam da impunidade”.

Não vou transcrever o artigo inteiro por respeito ao direito autoral, mas acho importante sua conclusão: “Somos um país cuja desigualdade vai do supermercado aos tribunais, onde o homem comum, na condição de réu e de vítima, não recebe qualquer tratamento privilegiado. Não é possível que autoridades continuem se alimentando do privilégio de responder a acusações de crimes comuns em cortes especiais num país que tem fome e sede de justiça”

Nunca votei no Sr. Itagiba nem tenho opinião formada por seu desempenho em Brasília, mas com essa postura, passou a merecer pelo menos o meu respeito. Hoje são muito poucas as figuras do nosso Congresso sobre as quais posso dizer o mesmo. Surpreendentemente, encontro uma ou outra figura ética, e nos mais variados partidos. E já vi também, muitos desses que considerava éticos, debandarem para o lado do inimigo. Confiar no deputado talvez já seja um exagero, mas apoiar sua iniciativa, e lutar por ela em todas as frentes possíveis, isso é uma exigência da cidadania.

Célia Borges

30 de março de 2008

ITATIAIA HISTÓRICA – Reliquias de Guignard no Parque Nacional


Um verdadeiro tesouro artístico, relíquia da arte moderna brasileira, se abriga discretamente no Parque Nacional do Itatiaia: as pinturas feitas por Alberto da Veiga Guignard nas portas, janelas, paredes e traves da cabana, e na sede do Hotel Donati, onde morou nos anos 40. Considerado um dos mestres da nossa pintura, seus quadros alcançam altas cotações no mercado de arte internacional, ao nível de Portinari e Tarsila do Amaral.

Embora não se comparem em valor à maioria de seus quadros, os trabalhos de Guignard no Hotel Donati são característicos de uma certa faceta do pintor, que transbordava criatividade além do limite das telas e outras bases tradicionais, e pintava sobre as mais variadas superfícies, atendendo a pedidos ou segundo sua própria inspiração.

Dono de uma personalidade das mais originais, a biografia de Alberto Guignard mostra que os inúmeros conflitos de sua vida pessoal se contrapõem a uma produção artística repleta de leveza e alegria, com destaque para as paisagens e cenas populares, com seus balõezinhos coloridos. O domínio rigoroso da técnica, desenvolvido através de seus estudos na Alemanha, se dilui numa busca de simplicidade, que o leva a ser frequentemente confundido como primitivo.

Guignard nasceu em Nova Friburgo, RJ, em 25 de fevereiro de 1896, e era portador do defeito físico conhecido como lábio leporino, característica que teve grande influência em diversos aspectos do seu comportamento, inclusive no relacionamento com as mulheres. Primeiro filho de Alberto José Guignard e Leonor Augusta da Silva Veiga, teve uma irmã, também Leonor, nascida em 1900. A família mudou-se para Petrópolis, ali permanecendo até 1906, quando o pai morreu por suicídio.

No ano seguinte a mãe casou-se com o barão Ludwig Von Schilgen, radicando-se em Vevey, na Suíça. Guignard foi mandado estudar agronomia e zootecnia em Munique, em 1915, mas adoeceu e voltou para casa. Percebendo o talento do filho para o desenho, a mãe matriculou-o em 1917 na Real Academia de Belas Artes de Munique, onde estudou, alternando períodos em Grasse, na França, e em Florença, na Itália, além de algumas viagens ao Brasil, para onde retornou definitivamente em 1929.

Em 1922 começou a participar de exposições na Europa. Em 23 casa-se com uma estudante de música alemã, Annie Doering, mas o casamento dura apenas a lua de mel. Sem sorte no amor, Guignard se recompensa na arte. Em 24 ganha menção honrosa no Salão Nacional de Belas Artes, em 28 participa do Salão de Outono de Paris e da Bienal de Veneza. Em 29 ganha medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes, e expõe também no Salão dos Independentes de Paris e no IX Salão de Artes de Rosário, na Argentina.

A volta ao Brasil marca uma temporada de sucessos e intensa produção. No ano seguinte faz individual em Buenos Aires e participa da coletiva de arte brasileira no Art of Roerich Museum, de Nova York, ao lado de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Ismael Néri e Anita Malfati, entre outros. Relaciona-se e merece o respeito de outros mestres, no Portinari e Di Cavalcanti. Também começa a dar aulas de pintura, o que viria a ser uma de suas grande alegrias, como um antídoto para a solidão. Os alunos passam a ser para ele uma família substituta.

Di Cavalcanti dizia que ele era um santo. Amigos e alunos referiam-se a ele, frequentemente, como um anjo ou uma criança. Num ponto todos concordavam: vivia com a cabeça nas nuvens. Era proverbialmente um distraído, o que era agravado por seus hábitos boêmios e pelo excesso de bebida. Vivia em dificuldades financeiras, mas quando vendia um quadro – e já vendia muito bem naquela época – gastava o dinheiro comprando balas e brinquedos para as crianças.

Essa generosidade também se manifestava quanto ao seu trabalho, e Guignard não era exatamente um bom gerente de sua produção: doava seus quadros para as moças pelas quais se apaixonava, platônicamente aliás, e também a amigos e conhecidos, trocando-os às vezes por quantidades de cerveja e outros materiais de que necessitasse no momento.

Em 1940, depois de uma temporada em Friburgo, sua terra natal, Guignard refugia-se em Itatiaia. Passando por graves problemas, não só de ordem financeira mas também de saúde, aceita o convite dde um amigo, Roberto Donati, para ocupar um cabana no hotel de sua propriedade no Parque Nacional do Itatiaia. De lá, nessa época, escreve uma carta ao amigo Portinari, declarando sua paixão pela natureza.

As pinturas feitas por ele nas portas externas e internas, janelas, vidraças, paredes e traves, tanto da cabana que ocupou quanto na sede do hotel, foram sua forma de pagamento pela hospedagem e hospitalidade. Elas são os exemplos mais frequentemente citados do transbordamento criativo, que produziu pinturas em janelas e móveis ainda preservados no Pouso Chico Rei e na casa de Rodrigo de Melo Franco de Andrade (ambas em Ouro Preto, MG), nas casas de Gerty Von Smigay e Caio Benjamim Dias, em Belo Horizonte, além de outras em Minas e no Rio, inclusive em objetos como oratórios e violões.

Muitos desses trabalhos foram destruídos, e outros tantos preservados, como uma Paisagem de Minas, de 1945, óleo sobre laje de 50m2, na Rua Caraça 200, em que a casa foi demolida mas a pintura preservada, e integrada ao prédio construído no lugar.

Célia Borges

27 de março de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM IV – Ervas e temperos em pequenos espaços


O cultivo de mini-hortas ou de ervas medicinais em vasos e jardineiras, solução para quem mora em apartamentos ou em casas com pouco espaço externo, pode parecer inicialmente uma impossibilidade. Mas muita gente já tentou isso antes, com bons e maus resultados. É célebre a história do escritor Rubem Braga, que teve um exuberante jardim, inclusive com ervas e frutíferas, no restrito espaço de sua cobertura em Ipanema, lá pelos anos 60.

Existem outros casos bem sucedidos em grandes cidades do mundo inteiro, é só folhear revistas especializadas que vamos encontrar sempre um bom exemplo. Essas matérias são um incentivo, mas não uma garantia. É possível, sim, cultivar ervas, verduras e até frutíferas num espaço pequeno, ou mesmo num ambiente interior. A questão se resume apenas em encontrar a espécie certa para o espaço adequado.

As ervas medicinais e de tempero são as que oferecem maiores possibilidades: além de diversas espécies serem bem adaptadas à meia sombra, não costumam exigir muito espaço. Respeitando o potencial de crescimento de cada uma, elas podem ser plantadas individualmente em vasos, ou compor arranjos em jardineiras, canteiros ou até mesmo em caixotes de madeira forrados com materiais apropriados.

Um mínimo de luminosidade é indispensável para a maioria das plantas, e para esse tipo, especialmente. Se houver chance de algumas horas de sol, aumentam as possibilidades se sucesso no cultivo. É importante observar que algumas espécies possuem cheiro bem forte, o que deve ser levado em consideração na hora de escolher a localização, para que, o que devia ser um prazer, não se transformar em um incômodo.

Entre as espécies com maiores possibilidades de cultivo nessas condições estão as seguintes:

ALECRIM – Medicinal, para tempero, e perfumada, podendo ser utilizada inclusive com base para incensos. Chega a 50 cm de altura e seu “habitat” original é o clima mediterrâneo, sendo bem adaptada ao temperado até o sub-tropical.

ALFAVACA – Medicinal, para tempero e extremamente perfumada, nativa do interior da região sudeste do Brasil, podendo ser bem adaptada ao clima tropical.

COENTRO – Medicinal, para tempero e perfumada, sendo conhecida na Europa desde a Idade Média, bem adaptada aos climas temperado e sub-tropical, oferece boa possibilidade de cultivo.

ERVA-CIDREIRA – Medicinal, para tempero e perfumada, conhecida desde a antiguidade grega, e com grande facilidade de adaptação aos mais variados locais.

HORTELÃ E MENTA - Existem as espécies Mentha spicata, crispa, piperita e pulegium, todas medicinais, para tempero e perfumadas. Conhecidas desde a antiguidade grega, crescem entre 30 e 60 cm, e são bem adaptadas, exigindo apenas um mínimo de sol por dia.

MANJERICÃO – Cultivada pelos hindus e no Egito há mais de 4.000 anos, é medicinal e aromática, mas usada principalmente como tempero. Cresce até 50 cm e tem boa adaptação em climas temperado e sub-tropical.

MANJERONA – Também cultivada desde a antiguidade, medicinal, para tempero e aromática, cresce até 30 cm e é bem adaptada a todos os climas.

ORÉGANO – Outra erva cultivada desde a antiguidade grega, cultivada e usada nos países mediterrâneos, serve principalmente como tempero. Cresce até 50 cm e é bem adaptada aos climas temperado e sub-tropical.

Outras ervas, como a Camomila e a Lavanda, podem ser cultivadas em espaços pequenos, mas exigem a condição de “touceiras”, então a adaptação aos vasos e jardineiras fica mais difícil. Salsa e cebolinha não são difíceis de cultivar, o grande problema é que não é possível fazer sementeiras (á partir dos saquinhos de semente) em pequenas quantidades, então o ideal é comprar mudinhas de que faz sementeiras para hortas maiores, para evitar o desperdício de mudas. Esse é o mesmo problema, por exemplo, da alface em vasos, assim como de outras verduras.

Já as frutíferas, hoje é fácil encontrar nas floriculturas, ou encomendar nas lojas especializadas, espécies adaptadas para vasos. A laranjinha japonesa é uma das espécies mais interessantes para esse uso, mas existem outros, como por exemplo as “lichias”. Mas como a criatividade de um bom jardineiro, mesmo dono de um pequeno espaço, não tem limites, você pode se atrever a tentar cultivar a fruta de sua preferência. É só cuidar da sua plantinha com carinho, procurar ver onde ela se sente melhor, e ir aceitando o desafio de faze-la um sucesso. A Natureza é cheia de surpresas, e frequentemente ela retribui aos nossos esforços, além do esperado.

Célia Borges

ALDEIA GLOBAL XXII - O Estado delinqüente e a conivência entre os Poderes

Os jornais de hoje estampam na primeira página o nosso presidente, em pleno palanque eleitoral, afirmando alto e bom som que vai “fazer o seu sucessor” e até já adiantando quem vai ser o candidato, ou melhor, a candidata cuja eleição está convicto de garantir, a “mãe do PAC”. E ainda manda um recado à oposição, para “tirar o cavalo da chuva”. Só faltou mandar dizer a nós outros, cidadãos, para colocarmos as nossas “barbas de molho”.

A arrogância, e sua amiga dileta, a estupidez, parecem ter tomado conta do nosso país, sem qualquer limite. Depois de ver os três Poderes rasgarem a Constituição com tanta freqüência (Haja exemplares!!! Haja cidadania!!!), agora temos que enfrentar mais esse tapa na democracia. Porque afinal, se o presidente acha que pode ter a palavra final sobre os desígnios políticos/institucionais do país, pra quê eleições, não é mesmo?

Nessa “democracia relativa” em que tentamos sobreviver, tudo é permitido a quem está no poder. O próprio processo eleitoral, completamente viciado, privilegia a politicagem profissional, a corrupção e todos os demais tipos de abuso daí decorrentes. A opção de manter a educação em níveis tão baixos, facilitando a manipulação da população, é apenas o aspecto mais cruel desse “iceberg” anti-democrático em que se transformou a vida política do país.

A audácia autoritária do presidente já seria assustadora, se dissesse respeito apenas à questão da sucessão. Mas infelizmente ela é apenas mais um dado na escalada de impunidade que nos assola, e que está presente em todos os aspectos da nossa vida, não apenas como eleitores, mas também como contribuintes e cidadãos. Pagamos a maior carga tributária do planeta, e não temos direito assegurado à nada.

A falta de educação nos nivela por baixo, e assim somos tratados, todos, como cidadãos de quinta categoria pelos órgãos públicos: a Receita Federal age como se fossemos todos uns fraudadores em potecial; tirar um passaporte, que devia ser direito líquido e certo de qualquer pessoa, exige paciência e sofrimento; somos submetidos aos mais altos custos burocráticos para quase qualquer coisa que se precise fazer... Quem paga todos os impostos e cumpre todas as exigências legais é penalizado de todas as maneiras. E sistemas complicados são um convite à sonegação.

Se houvesse algum vestígio de “reserva moral” no Brasil, seria inadmissível que um presidente fizesse o que o nosso vem fazendo: ele não cumpre as leis, e ainda manda o Judiciário “lamber sabão”. Não respeita o Legislativo e usa recursos que são produto do nosso trabalho para comprar votos e consciências, tendo como objetivo não um projeto de governo que leve o país no patamar de desenvolvimento que merece, mas apenas o projeto de poder que garanta os privilégios dessa nova elite de “novos poderosos”, tão apegados e deslumbrados com o poder.

A chamada “dívida interna”, tão monumental, pode ser traduzida como a soma dos delitos do Estado contra o cidadão brasileiro, como a falta de investimentos na Educação, na Saúde, na Segurança, que afinal, são o finalidade dos nossos impostos. O Estado é delinqüente enquanto é responsável pela perda de vidas, resultado da omissão e irresponsabilidade de seus representantes. Não cumprir leis, não pagar o que deve, valer-se de ilegalidade para obter resultados... a lista de crimes já seria imensa, se não nos lembrássemos também do nepotismo, do uso indevido de cartões corporativos, do uso de informação privilegiada...enfim...não tem fim.

O equilíbrio entre os três Poderes, que devia ser um importante fator para regular forças, para amortecer impactos, para neutralizar excessos, parece ter se perdido nas brumas das ambições pessoais... e o caso é que não funciona. A balança agora sempre pesa para o lado de quem está no Poder. E o Poder só está ocupado em seus próprios interesses. Ancorado no apoio dos mais ricos (que estão sendo extremamente bem tratados) e dos mais pobres (via clientela eleitoral), ele, o Poder, sabe que, se tudo der errado, vai poder descarregar a culpa dos bodes expiatórios de sempre: a classe média e a imprensa.

Célia Borges

23 de março de 2008

ELEIÇÕES – Fontanezzi, um cidadão na política

O biólogo Paulo José Fontanezzi, candidato à prefeito de Resende pelo PSDB, é um líder em vários aspectos: desde o profissional, como técnico ambiental e defensor do meio ambiente, até o social. Como líder político, fundou e dirigiu o PV de Resende. Mas ele faz questão de observar que não é um político profissional: “Meu envolvimento com a política é um desdobramento da minha vida profissional, social e como cidadão. Acho importante que, tanto no legislativo quanto no executivo, não se perca a referência com relação à realidade, que é o que tende a acontecer quando a pessoa se acostuma com o poder”.

Ele cita, por exemplo, a questão da reeleição: “Não vou dizer que sou contra, porque no legislativo ela pode garantir o bom trabalho de pessoas competentes. Isso é o eleitor quem decide. Mas no executivo, minha opinião é de que a renovação é muito importante, inclusive pelos riscos do uso da própria administração pública, a chamada “maquina do governo”, de atuar no sentido de beneficiar decisivamente quem está no poder”.

Sobre reeleição ele diz ainda que “quem entende o mandato como uma chance de dar sua contribuição ao município, ao estado e ao país, não vai achar que precisa ficar fazendo isso a vida toda. Um mandato é suficiente, e depois é seguir com a vida”.

Questionado sobre uma eventual desvantagem, pelo fato de não estar respaldado pelas facções políticas tradicionais do município, Fontanezzi traduz isso numa vantagem: “Acho importante dar ao eleitor uma opção. É uma questão democrática. Fui indicado porque há quem acredite que sou capaz, então tenho um compromisso com essas pessoas. Na campanha vou ter oportunidade de mostrar meus objetivos. Quero fazer uma campanha limpa, em todos os sentidos. E no final, é o eleitor quem decide”.

Célia Borges

22 de março de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM III – Orquídeas e bromélias dentro de casa: um desafio



Eu considero que não há gesto mais gentil e sensual do que oferecer orquídeas de presente. Ganhar uma orquídea é coisa que dificilmente vai deixar de sensibilizar o coração de uma mulher. Mas às vezes são as próprias que nos seduzem, e nos deixamos levar pelo entusiasmo de nos dar, nós mesmos, um belo presente, levando para casa uma tentação em forma de flor.

Ganhar ou comprar uma orquídea pode ser uma experiência maravilhosa...o difícil é mante-la viva, saudável e florindo tanto quanto suas características botânicas permitem. A maioria das espécies disponíveis nas floriculturas são epífitas, ou seja, plantas que vivem sobre outras, sem entretanto retirar nutrientes, apenas apoiando-se nelas. Por isso o seu “habitat” natural e mais adequado é sobre os troncos de árvores. Elas também podem ser colocadas em arbustos ou placas de xaxim, além de troncos mortos. Mas todas essas soluções são externas.

A dificuldade do cultivo em ambiente interior vem do fato de que a maioria delas prefere sol. Mesmo as famílias que se adaptam bem à meia sombra, como as Cattleyas, não reagem bem à um sombreamento predominante, e no caso, a meia sombra significa também algum sol, ou pelo menos bastante luz. Por isso, é muito comum que a sua bela planta, quando deixada em ambiente fechado, em poucas semanas vá perdendo as flores, amarelando as folhas, e, se não houver um pronto socorro, virando um lixo ressecado.

Difícil, entretanto, não quer dizer impossível. Se forem observadas certas condições, como a colocação do vaso num local adequado, oferecendo tanto sol e luz quanto necessário, regas na medida certa – nunca demais nem de menos – e proteção contra pragas e insetos, você pode ter sim, e por muito tempo, uma bela orquídea florida dentro da sua casa. Mesmo assim orquídeas são caprichosas, e você vai precisar amar a sua, dando a ela toda a atenção que puder, mudando-a de lugar e adaptando os cuidados, até sentir que ela está plenamente satisfeita.

Outra questão delicada é que as orquídeas estão entre as mais ricas famílias botânicas da natureza, possuindo uma infinidade de espécies, que variam muito do ponto de vista de suas exigências. Por isso, identificar e conhecer um pouco das “manhas” da sua planta pode ajudar muito no cultivo. Para o colecionador existe uma grande quantidade de livros e revistas, mas quem tem poucos exemplares, pode pesquisar na internet, pois existem muitos “sites” especializados sobre o assunto.

Iguais atenção e delicadeza são exigidas de quem quer cultivar bromélias em interiores. Mesmo aquelas espécies identificadas como “de sombra”, tem dificuldades em ambientes fechados e escuros demais. Até mesmo uma boa claridade indireta pode ser insuficiente para manter sua planta saudável. Por isso é preciso sensibilidade para ir trocando a planta de lugar, até sentir que ela encontrou boas condições para sobreviver. No caso das bromélias, é importante também observar os riscos de proliferação de insetos, como inclusive o mosquito causador da dengue. Usar borra de café ou uma solução de cloro bem diluído, na rega de pelo menos uma vez por semana, é indicado para evitar esse tipo de problema.

Célia Borges

ITATIAIA HISTÓRICA - Oitenta anos da chegada dos finlandeses à Itatiaia


Em abril de 1928 o finlandes Toivo Uuskallio, em companhia de Toivo Suni chegou à Itatiaia em busca de local para se estabelecerem, e à um grupo de compatriotas, que esperavam trazer para o Brasil. Era o primeiro passo para a realização de um sonho. O sonho de um idealista, de estabelecer uma comunidade com os mais altos padrões de saúde física e mental, vivendo em perfeita harmonia com a natureza, e que deu origem a um dos mais encantadores recantos turísticos do estado do Rio de Janeiro, que é Penedo, uma das quatro regiões turísticas do município.

Sua história começa nos anos 20, na Finlândia: o agricultor Toivo Uuskallio, cuja família havia transformado a fazenda Toimela de uma pedaço de terra abandonado numa das mais prósperas fazendas-modelo do país, costumava reunir os amigos em sua casa para debater sobre assuntos de interêsse comum. Eram os anos seguintes à primeira guerra mundial, e além das difuculdades de um clima onde o verão é muito curto, e o inverno longo, cobrindo tudo de gelo e de neve, havia a preocupação com os conflitos latentes que ainda existiam nos países da Europa, e que poderiam resultar em novos confrontos.

Uuskallio, competente profissional, profundamente religioso, e uma especie de líder naturalde sua comunidade, meditava sobre um modo de viver melhor, numa sociedade nova e ideal. Defendia uma dieta vegetariana, e uma maneira de vida simples, saudável e natural, onde se plantasse e colhesse o necessário, sem a submissão a um trabalho escravizante. Embora amasse seu país, concluiu que esse lugar teria que ser fora da Finlândia, de preferência num país tropical. Depois de alguma pesquisa, decidiu-se a procurar este lugar no Brasil.

No dia 6 de agosto de 1927 foi dado o primeiro passo para a concretização do projeto que resultaria na criação da colônia finlandesa no Penedo: Uuskallio e sua esposa Liisa, acompanhados de outros três jovens finlandeses, embarcavam para o Brasil, rumo ao Rio de Janeiro. Duas semanas depois da chegada do grupo, Toivo conseguiu emprego como administrador de horticultura da Fazenda Três Poços, propriedade do Mosteiro de São Bento no município de Barra Mansa, tendo lhes proporcionado o primeiro contato com a região. O trabalho foi bem sucedido, surgindo novas propostas de emprego, mas em abril de 1928, após a chegada de mais um finlandês, Toivo Suni, Uuskallio decidiu que já era hora de procurar o lugar para a futura colônia, e o grupo dirigiu-se para Itatiaia, hospedando-se na pensão alemã Walter.

Antes da escolha, Uuskallio e Suni visitaram fazendas em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, mas decidiram-se pela Fazenda Penedo, junto à Itatiaia, de cujo clima tanto gostaram: eram 3.500 hectares, sendo 2.000 de florestas, altitude variando entre 450 e 1.500 metros, distante 10 km da cidade de Resende e seis da estação ferroviária de Marechal Jardim. Havia água em abundância, o solo parecia bom, o lugar era sossegado e tranquilo, sem ser muito isolado, e o preço de 350 contos de réis foi considerado razoável.

Após uma intensa negociação com amigos na Finlândia, Uuskalio levantou a primeiraparte do dinheiro necessário à compra, tendo pago 1.000 libras esterlinas no dia 5 de dezembro de 1928, e outras 6.000 em janeiro de 1929, quando foi feita a escritura de promessa de compra e venda com os proprietários, a Abadia de Nullius de Nossa Senhora de Monte Serrat. Outras 3.000 libras deveriam ser pagas no prazo de seis meses, recursos estes que deveriam também vir da Finlândia, levantados entre amigos e admiradores do projeto. Ao mesmo tempo era feita uma rigorosa seleção dos candidatos, dos quais era exigida boa saúde, disposição para o trabalho e para enfrentar as dificuldades iniciais, assim como estivessem dispostos a uma dieta vegetariano e à total abstinência a bebidas alcoólicas e ao fumo.

Um grupo de 28 candidatos a colonos foram inicialmente selecionados, e orientados na organização de uma bagagem que deveria incluir ferramentas e apetrechos agrícolas, assim como os utensílios de cozinha. Este primeiro grupo embarcou no porto de Helsinki, em 15 de maio de 1929, no navio alemão Nordland, que chegou ao Rio em 16 de junho. Um segundo grupo viria quase em seguida, trazendo familiares de alguns finlandeses que já estavam no Brasil, inclusive várias crianças, à bordo de outro navio alemão, o Sierra Córdoba.

Os primeiros colonos finlandeses ficaram alojados na Casa Grande da fazenda, sendo os quartos destinados aos casais e as dependências maiores, divididas em dormitórios masculino e feminino. O trabalho era comunitário, cada um dava sua contribuição, e algumas famílias iniciaram também, ao mesmo tempo, a construção de suas casas, nos lotes particulares em que a terra havia sido dividida. Mas as dificuldades iniciais eram grandes, especialmente a de ordem financeira, já que o prazo para a quitação da compra das terras vencera no dia 28 de julho de 1929, sem que eles dispusessem dos recursos suficientes. Parte da dívida foi paga, mas outra parte, quase metade, havia tido o prazo prorrogado até 28 de setembro. A quitação só aconteceria em 15 de outubro, trazendo muita alegria aos colonos, mas outras dívidas haviam sido assumidas, inclusive dando a propriedade como garantia, através de hipoteca.

Os finlandeses trabalharam com afinco, mas apesar de ajudas financeiras eventuais, levaram seus projetos agrícolas com bastante dificuldade, tanto trabalhando para si mesmos como para terceiros. Algumas culturas não deram certo, uma enchente do Rio das Pedras, logo nos primeiros anos, levou boa parte do que havia sido construído. Mas eles persistiram e se adaptaram às condições climaticas. Produzindo mudas, recebendo hóspedes em suas casas, disseminando o uso da sauna entre brasileiros, muitas foram as contribuições desses colonizadores. Muitos colonos voltaram para a Finlândia, e muitos outros finlandeses vieram para o Brasil, neste 80 anos.

Muitas famílias de origem finlandesa ainda vivem e trabalham em Penedo, dedicando-se a diversas atividades, mas especialmente aquelas voltadas para o turismo, inclusive os descendentes de Toivo Uuskallio, cuja filha Taime, já falecida, foi hoteleira. Outros se destacaram nas artes, como é o caso da tapeceira Eila, que tem trabalhos expostos no Brasil inteiro, e do escultor Ville Virkilla, autor da escultura que é o simbolo da presença dos finlandeses no Penedo, Aves de Arribação, que se encontra na Praça Finlandia.

Alguns dos traços mais marcantes da colonização finlandesa dizem respeito à recuperação da flora e da fauna na área por eles ocupada, e que na década de 30 encontrava-se parcialmente devastada pela monocultura cafeeira, e pelos pastos. O gosto pela jardinagem, aliado ao talento para a agricultura, contribuiu para transformar Penedo num recanto colorido pelas frutíferas e floríferas que eles plantaram, em torno de suas casas e em muitos outros pontos.

Outro aspecto marcante foi a manutenção de sua cultura, através da música, da dança, da culinária e de outros traços, que se perpeturam em torno no Clube Finlândia, agremiação que até hoje promove seus bailes, apresentando grupos em trajes típicos, e que atraem não apenas os moradores da localidade, independente da nacionalidade, como é também uma atração turística para os visitantes.

A sede antiga do clube, que funcionou por cerca de 50 anos numa construção de madeira típica dos finlandeses, hoje dá espaço a uma escola comunitária. A nova sede, construída no decorrer de quase dez anos, em blocos de pedra maciça, junto a Praça Finlândia, é uma espécie de homenagem aos pioneiros, e abriga, além do espaço para os bailes semanais e as festas de seu calendário, um museu, cujo acervo foi reunido entre as famílias dos primeiros colonizadores.

Este museu, criado inicialmente por Eva Hildén, filha de Toivo Suni, como Museu da Eva, teve seu acervo doado na época da inauguração da nova sede. Eva Hildén, já falecida,além de ter sido uma das mais ativas defensoras da cultura finlandesa, foi também a autora de uma obra básica sobre a colonização finlandesa no Brasil, “A Saga de Penedo”, livro indispensável para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história do lugar.

Célia Borges

20 de março de 2008

ALDEIA GLOBAL XXI - Choque de ordem e tolerância zero no Pais das Maravilhas

Semana passada li nos jornais que um grupo de instituições do país, lideradas pelo Ministério Público Federal, está lançando uma campanha de apelo popular, no sentido de mobilizar os cidadãos a denunciarem a deliquencia ao seu redor. Uma campanha tipo “tolerância zero”, como aquela que o ex-prefeito Rudolph Giuliani promoveu em Nova York há alguns anos, que reprimia desde jogar lixo na rua até dirigir embriagado, de avançar um sinal até andar armado.
Civilização deveria ser isso, ter-se a consciência de que seu direito termina onde começa o do vizinho, e vice-versa, ter a convicção de que não há esperança de um “projeto humano” bem sucedido enquanto não houver garantia de “liberdade, igualdade e fraternidade”. Perceber que saber dividir é melhor do que ser roubado. De que partilhar conhecimentos é uma boa forma de ampliar o seu mercado. De não ter medo de agir correto, nem de denunciar o que está errado.
Essa seria, por assim dizer, a ante-sala de um mundo ideal, a perspectiva de uma democracia à caminho da perfeição. Respeitadas as margens de erro, eu acredito sim, que uma iniciativa dessas possa dar certo. Em Nova York, o ganho foi notável. E eu até acredito que aqui funcionaria. Eu sou, confesso, meio deslumbrada com o meu “povo brasileiro”, porque já vi a população dar respostas absolutamente inacreditáveis a questões tais como boicotar o consumo de carne bovina ou economizar energia elétrica.
Antes de ser otimista e sonhadora, sou jornalista. É sob essa ótica que vejo o mundo, não tenho como escapar. É sob essa ótica que vejo o tal do “povo brasileiro”, ou seja nós, como uma orquestra potencialmente afinada. Dependendo do maestro, acho que podíamos sair do funk desafinado, e até tocar uma bela sinfonia (minhas desculpas pela manifestação explicita de preconceito musical). Acredito que o que falta em razão, sobre em emoção... sem desmerecer a força do marketing, e da comunicação em geral.
Do ponto de vista da Utopia, tudo perfeito. Mas vamos tentar projetar isso no mundo prático, no chamado “mundo real”. Eu, pessoalmente, conheço muitas pessoas que vêm praticando o “tolerância zero” há muito tempo. Nós somos (porque eu também faço parte dessa turma de teimosos) aquele bando de “chatos” que reclama!!! Seja do som alto, da proliferação de mosquitos, do perigo num cruzamento de ruas, do maltrato em crianças e animais, dos pontos de venda de droga, dos pontos de reunião de “gangs”, de tudo isso e muito mais, já vi meus amigos e conhecidos reclamarem.
Quem já passou por isso e não desistiu depois da primeira tentativa, merece parabéns. Quem persiste acaba percebendo que defender seus direitos é o melhor caminho de transformar sua vida num inferno. Além de ficar “mal visto” na vizinhança, você ainda corre o risco de retaliação ou vingança do delinquente denunciado. Na quase totalidade dos casos, a denúncia não funcionou, e em grande parte, ainda se virou contra o denunciante. Sem falar nos casos em que nem adianta reclamar, como as filas dos bancos, os juros exorbitantes, os impostos excessivos...
É nesse gargalo que fica entupido o meu otimismo e a também a minha visão jornalística do país. Porque enquanto não houver estrutura para abrigar a “nova ordem”, com as polícias funcionando sintonizadas com essa idéia e com a Justiça pronta para atuar no mesmo nível, é difícil acreditar que alguma coisa vai mudar. Enquanto os deliquentes de várias cores de colarinho continuarem “arrotando” que as acusações contra eles “não vão dar em nada”, não vejo a menor esperança de que um choque de ordem vá dar qualquer resultado.
A campanha é bem vinda, claro!!! Mas ela precisa começar pelos poderosos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário dando bons exemplos, superando o corporativismo e assumindo o conceito de tolerância zero entre seus pares, e até as últimas conseqüências. Enquanto o presidente da República continuar confraternizando com todos os corruptos, fraudadores e mau comportados, apoiando e justificando suas ações criminosas, é muito otimismo acreditar que uma campanha dessas possa dar certo.
Célia Borges

19 de março de 2008

MULHER NA HISTÓRIA - Mulheres, negras e vitoriosas

Nesse mês de comemorações sobre o papel da mulher na sociedade, sem nenhuma palestra encomendada (o que geralmente me ocupa nesse período) e promovendo minha faxina regular na papelada, encontrei um recorte de jornal guardado há pouco mais de um ano, trazendo de volta um tema que há muito tempo eu sonhava em pesquisar: o papel da mulher negra na sociedade brasileira.

O texto, publicado na revista dominical do jornal O Globo, em 11 de fevereiro de 2007, anuncia o lançamento de um livro onde se desvendam numerosos casos e histórias de mulheres negras, pioneiras, destacadas e bem sucedidas na História do Brasil. Casos e histórias que abrangem os mais variados níveis e circunstâncias sociais, da diplomacia ao samba.

O livro é Mulheres negras do Brasil, de Érico Vital Brazil e Schuma Schumaher, editado pelo Senac Editoras. Ainda não consegui encontra-lo para leitura integral, então me baseio na matéria: a primeira negra incluída numa delegação olímpica do país foi Melânia Luz, em 1948, dezesseis anos depois da primeira mulher, Maria Lenk, em 1932. A primeira juíza federal do país foi a sergipana Maria Rita Soares de Andrade, nomeada em 1967, aos 63 anos Apesar de negra, os poucos registros sobre o seu pioneirismo não citam isso.

A primeira negra a cursar o Instituto Rio Branco e fazer carreira diplomática foi Mônica de Menezes Campos. A primeira negra a integrar o corpo de baile do Teatro Municipal foi Mercedes Batista. A primeira Miss Brasil negra foi a gaúcha Deise Nunes. E Zaira de Oliveira, primeira mulher do compositor Donga, foi pioneira ao conquistar o prêmio de canto do Instituto Nacional de Música, em 1921.

Uma parte dessas histórias de sucesso da mulher negra já haviam sido levantados e publicados no Dicionário de mulheres do Brasil, publicado em 2000 por Jorge Zahar Editor, inclusive alguns pelos próprios autores do Mulheres Negras, Érico e Schuma, que decidiram aprofundar-se no assunto, com esse novo livro.

Na entrevista eles confessam que não pretendem esgotar o tema, que é tão amplo e provávelmente cheio de surpresas, mas dar a maior contribuição possível para se lançar luz sobre a história de tantas mulheres brilhantes, e tão pouco lembradas. Esse é também o meu caso: já venho reunindo material sobre o assunto, mas sei que há muito o que se pesquisar e compreender.

Tenho esperança de que o meu não seja um interesse solitário, que haja mais gente sintonizada com essa parte da História. Quem sabe o leitor ou a leitora possam também dar sua contribuição?

Célia Borges

15 de março de 2008

EXTRA!!! EXTRA!!! - Fontanezzi é candidato à prefeito pelo PSDB


Paulo José Fontanezzi, um incansável lutador pelas causas ambientais, já está confirmado como candidato à prefeito de Resende pelo PSDB. A indicação foi decidida esta semana, em reunião com Zito na cidade. Muito conhecido e querido na região, Fontanezzi será uma opção para o eleitor que preferir renovação no executivo resendense.

14 de março de 2008

RESENDE HISTÓRICA II - Narcisa Amália, pioneira no jornalismo e na poesia



Narcisa Amália é uma poeta resendense por definição, até porque, infelizmente, sua produção literária ficou bastante restrita ao período em que viveu aqui. Sua importância para a literatura brasileira, entretanto, vai muito além dessa definição. Porque ela foi pioneira não apenas pelo fato de ter sido uma das primeiras jornalistas brasileiras, e a primeira a se profissionalizar como tal, mas também por ter sido uma das primeiras mulheres do Brasil a romper com o preconceito do que era considerado masculino e feminino, abordando temas e explorando assuntos que até então eram considerados exclusivamente de homens. Foi poeta brilhante, alvo dos comentários dos mais respeitados críticos da época, que entretanto, na maioria, estranhavam o fato dela não se limitar ao romantismo amoroso que se esperava de uma literatura feminina.

Narcisa Amália de Campos nasceu em 1852, em São João da Barra, norte do estado, mas veio para Resende ainda menina. Aos 14 anos casou-se com um palhaço de circo, mas o casamento fracassou, dando-lhe o espaço necessário para se entregar às suas verdadeiras vocações, o jornalismo e a literatura. Sua primeira atividade conhecida foi como redatora, revisora e tradutora de folhetins da época, para o jornal Astro Resendense.

Antes dos dezoito anos já editava o jornal A Gazetilha e colaborava no Garatuja, tendo à partir dessa época, passado a publicar suas poesias no Resendense, e divulgando suas idéias vanguardistas, contra a escravidão e a favor do regime republicano, enfatizando a condição submissa, imposta à mulher pela sociedade conservadora da época. Admiradora de Castro Alves e Victor Hugo, sua principal inspiração era a liberdade, e seu sonho era de que, num futuro não muito distante, pudesse ver os povos, homens e mulheres, livres da violência, da opressão e da injustiça.

Essa bela transgressora, admirada e invejada com igual fervor, não conhecia então, limites para perseguir seus sonhos. E assim, aos 21 anos, partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, com o objetivo de conseguir os recursos para publicar seu primeiro livro. Essa atitude foi um escândalo para a época, gerando comentários maldosos. Mas sua resposta ultrapassou a malícia dos censores, pois em 1873, a Garnier, uma das editoras mais respeitadas da época, lançou Nebulosas.

O livro, prefaciado pelo jornalista Peçanha Povoa, teve surpreendente acolhida, recebendo críticas elogiosas de escritores consagrados, como Machado de Assis e José do Patrocínio, e comentários da imprensa especializada no eixo Rio-São Paulo. Em Resende essa repercussão foi ainda maior, resultando em solenidades, banquetes e bailes, além de efusivas saudações de destacadas figuras da imprensa, como Joaquim Maia, Francisco Vilaça e Pereira Barreto.

Nos anos seguintes, e enquanto continuou a escrever, Narcisa Amália sempre manteve a marca da rebeldia, desafiando limites e chegando ao limiar dos extremos. Em 1874, publica seu segundo livro, dessa vez de contos, Nelúmbia. Suas atitudes corajosas e talento literário indiscutíveis, ganham cada vez mais a consideração e o respeito dos seus contemporâneos. Um exemplo disso é o convite do autor, para que prefacie o livro As flores do campo, de Ezequiel Freire, texto elogiado por Machado de Assis.

A força de seu valor como jornalista e escritora, tem um contraponto de fragilidade na sua vida pessoal. Após usufruir por alguns anos, do sucesso e da admiração tão duramente conquistados, ela casa-se, em 1880, com Francisco Cleto da Rocha, o Rocha Padeiro. Ajuda o marido nos primeiros anos, sem abrir mão de receber, nos saraus em sua casa, amigos literatos como Raimundo Correia, Luis Murat, Alfredo Sodré...e até o Imperador Pedro II, que em vinda a Resende, vai “visitar a sublime padeira, por estar ansioso por lhe provar... do pão espiritual”. E isso, embora ela tenha sido uma fervorosa republicana abolicionista.

Mas o casamento não deu certo, e seu fim coincide também com um momento difícil no jornalismo. Em l984, ela ainda tenta reagir, tendo criado o suplemento quinzenal, Gazetinha, de O Timburibá, que tem como subtítulo, “folha destinada ao belo sexo”. Mas em artigo de 1889, publicado em A Família, diz que a violenta oposição a um artigo seu fizera-a despertar para o estilete que a palavra representa, e que feriu “certo e fundo” provocando violenta reação. Afirma que gostaria de continua escrevendo, mas que “colheu-me de surpresa uma nevrose cardíaca, enfraquecendo-me a energia, inutilizando-me para as lutas da inteligência, para as pugnas incruentas mas extenuantes da imprensa.” Além disso, a campanha maledicente movida pelo marido enciumado, ajudam a minar sua resistência.

A luta pela auto-afirmação acabou custando-lhe o preço da saúde. Talvez porque sua atitude solitária não tenha despertado a solidariedade necessária da comunidade feminina. Narcisa Amália tentou viver como jornalista, tradutora, escritora, poeta. Aos trinta anos era famosa, apreciada, cultuada. Demonstrava erudição, e estava sintonizada com a literatura européia, com os acontecimentos políticos e com as reivindicações feministas. Era, enfim, uma personalidade à frente de sua época.

Mas a luta era difícil demais, até para uma pessoa corajosa como ela. Cansada de tantos obstáculos, desiludida e desanimada, ela retirou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se a ser professora, e depois, diretora de escola. Viveu ainda muitos anos, mas não se soube que tenha voltado a escrever. Morreu em 1924, aos 72 anos, cega e paralítica. Esquecida e desvalorizada, como parece ser a sina dos gênios.

Narcisa Amália foi uma grande poeta resendense, mas foi também muito mais do que isso. Quem se dispuser a pesquisar, vai descobrir, com surpresa, que ela está incluída nos mais importantes estudos da literatura brasileira, como uma das mais expressivas e notáveis poetas mulheres do século XIX. Poderia compara-la sem susto à Arthur Rimbaud, que escreveu sua obra na juventude e depois abandonou completamente à literatura. Ou à Fernando Pessoa, porque ela, como ele, “ardeu na lenha desse fogo” que é a abdicação do EU em favor de algum valor maior, como dar seu sangue pela humanidade.

Narcisa Amália inscreveu, por seu próprio valor, o nome na história da nossa literatura, na história da vida cultural do nosso município, na nossa própria história. Por tudo isso, merece ser sempre lembrada, de ter sua memória cultivada...e de valer mais do que esse modesto esforço para ser reconhecida. Gostaria de, nesse momento, estar plantando apenas uma sementinha, daquilo que precisaria ser o empenho das novas gerações de poetas, escritores e historiadores, para não deixar que essa chama se apague. De garantir que ela nunca será esquecida.

ALDEIA GLOBAL XIX - Socorro!!! Estão roubando dos velhinhos!!!

Se o mundo fosse um lugar justo, e se eu fosse respeitada como cidadã, com certeza isso não estaria acontecendo!!! Aliás, mais com outros do que comigo... Nós já vimos um filme parecido antes, mas parece que só eu tenho boa memória, pois tudo se passa diante dos nossos olhos, e nós, omissos ou distraídos, vamos deixando... quer dizer, nós não, porque eu não vou deixando nada!!! Eu reclamo, eu esperneio, eu simplesmente não me conformo!!!

No meio de toda essa loucura em que nós vivemos – internacional, nacional, estadual, municipal e, porque não reconhecer, até comunitária – eu ainda me espanto de ver essa mentalidade utilitarista que vai tomando conta dos nossos valores, de forma que só merece espaço quem tem potencial de produzir dinheiro ou poder (nesse último caso, e na maioria dos “ativos”, para outros, na forma de clientelismo, voto comprado, ignorância garantida). Segundo esse raciocínio, os velhos, como inativos, ficam reduzidos à uma espécie de “peso social”, sem voz e cada vez com menos direitos.

Quando digo que já vi filme parecido é porque me lembro da situação dos aposentados na época do “impeachment” do Fernando Collor, e de como tiveram peso no meio do conjunto da opinião pública, quando se tratou de destronar um governo corrupto e desonesto. O caos da previdência, na época, era uma boa desculpa para a fraude, e para o governo “fazer caixa” lesando os idosos, um dos grupos mais indefesos da população. Mas o problema não era tão grave, tanto que em poucos meses o governo Itamar conseguiu por ordem na casa, devolvendo aos aposentados os seus direitos e um tratamento mais digno.

Mas, como alegria de pobre dura pouco, o governo FHC (como se o próprio fosse um garotão), retomou a política de retaliação – sabe-se lá com que objetivo!!! – contra idosos e aposentados, política essa que chegou ao inimaginável, quando o governo Lula (teoricamente representante do trabalhador), conseguiu taxar pensões e aposentadorias, criar tetos e redutores, que só se aplicam aos que não têm voz ativa para protestar...porque os privilegiados continuam dispondo de todas as prerrogativas que garantem os “direitos” que para os comuns dos mortais, deixaram de existir.

A tal Reforma da Previdência, como quase tudo o que acontece no Brasil desde os tempos da colônia, foi “pra inglês ver”. Ou “pra americano ver”. Ou “pro mercado ver”... O tal rombo da previdência continua igual, ou muito maior, porque as fraudes não tiveram descanso nem intervalo. Roubaram a poupança dos velhinhos a troco de nada. Ou talvez a troco de garantir os recursos para o pagamento da dívida externa. Ou para programas preconceituosos e segregacionistas, que privilegiam grupos étnicos, ou mesmo preferências sexuais, mas não o conjunto da população. Esqueceram que entre os idosos também existem negros...e gays, todos eles relegados ao abandono. Relegados a um, digamos assim, democrático abandono...

O caso é que a população do país, assim como a população de todo o mundo, está envelhecendo. E a expectativa de vida aumentando. E enquanto isso ocorre, vamos enfrentando as conseqüências de uma política social que deixa essa parcela da população cada vez mais desprotegida, seja retirando-lhes os meios suficientes de sobrevivência através da redução dos seus vencimentos, seja por falta de programas e assistência adequada aos mais carentes, e até pelas dificuldades que lhes são impostas para se beneficiarem dos direitos legais a que fazem juz.

Só para dar um pequeno exemplo, existe uma legislação específica relativa ao pagamento de impostos, para maiores de 65 anos. O título VI, capítulo I, Seção III (Dos impostos da União), artigo 153, da Constituição Federal, diz o seguinte: “Os impostos não incidirão sobre rendimentos provenientes de aposentadoria e pensão, pagos pela Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios às pessoas com mais de 65 anos, cuja renda total seja constituída, exclusivamente, de rendimentos de trabalho”. Agora, me aponte um único cidadão idoso do país que nesse momento esteja se beneficiando dessa lei...porque eu não conheço nenhum.

Um notório sintoma do caos social e jurídico sob o qual vivemos é o fato de que o Estado, nas suas várias instâncias, não se sente obrigado a cumprir leis. Para se habilitar ao cumprimento de uma, o cidadão tem que – pasmem!!! – apelar para a Justiça. Justiça essa que, para a maioria dos cidadãos, vem se mostrando não apenas tarda, mas extremamente falha. O idoso que entra na Justiça para reclamar algum direito, mesmo que tenha sentença favorável, provavelmente vai morrer antes de ver seu esforço recompensado. A mesma Justiça que lhe dá ganho de causa, vai dar abrigo a uma infinidade de recursos, para adiar indefinidamente que o direito seja restabelecido.

Há alguns anos foi sancionado no país o Estatuto do Idoso, com toda a pompa e circunstância, com muitas promessas vãs, e que afinal, na maioria dos itens, como é praxe na legislação brasileira, virou letra morta. Apesar da publicidade feita em torno disso, a Justiça continua não dando prioridade aos processos envolvendo idosos. A legislação que permite que os credores de precatórios descontem do valor a receber seus débitos com o Estado (federal, estadual e municipal) também não é cumprida. Os custos de um processo, frequentemente, estão acima do poder aquisitivo do idoso. Advogados, principalmente bons advogados, custam caro. Diante disso, fica fácil lesar os mais velhos, porque a impunidade sobre o que se faz contra eles está cada vez mais garantida.

Ainda falta quase uma década para eu me enquadrar no bloco dos oficialmente idosos, por isso, não me considero reclamando em causa própria. Minha motivação é a de não conseguir compactuar com tanta injustiça, com tanta covardia. É a de ver os esforços de quem trabalhou toda uma vida, sendo sacrificados em benefício daqueles que nunca fizeram nada. De ver os recursos a que tinham direito sendo desviados para corrupção. De terem suas vidas – o final de suas vidas – trocadas por um sucesso econômico fundamentado no logro, na desonestidade e na injustiça.

Célia Borges

12 de março de 2008

JARDINAGEM E PAISAGISMO II - Jardins internos e pequenos espaços



A presença da natureza no ambiente de uma casa é sempre fator positivo em termos de qualidade de vida. Mesmo no menor e mais simples dos lares, um vaso de plantas, quanto mais bem cuidado melhor, vai fazer grande diferença. Para quem gosta de cultivar, mesmo não dispondo de muito tempo, quase qualquer recanto ou cômodo pode se transformar num pequeno milagre da botânica.

O primeiro passo para fazer um ambiente verde ou florido em pequenos espaços é respeitar as limitações naturais, com relação à incidência de luz, umidade, temperatura e disponibilidade de tempo para cuidar, além, é claro, das espécies de plantas indicadas para cada circunstância. Se você adora cactus, mas seu espaço é sombreado e úmido, pode desistir que não vai dar certo. Da mesma forma que colocar uma espécie florida de meia sombra numa jardineira que recebe sol pleno, é meio caminho para o fracasso.

Mas a natureza é pródiga, e existem espécies alternativas para todos os gostos. Para os menos exigentes, então, é fácil escolher as plantas necessárias para compor um espaço atraente. O ideal é se fazer um pequeno esquema do que ser quer em termos de espaço e localização (por mais infantil que seja o seu desenho), e depois sair em campo pesquisando as espécies. A internet é um excelente campo de pesquisa, mas as bibliotecas também costumam ter obras sobre plantas. Em último caso, as próprias floriculturas podem orientar na escolha.

Se o seu espaço interno for muito reduzido, e a luminosidade tão precária que impossibilite plantas, sempre há o recurso das jardineiras, que podem ficar tanto para o lado de dentro quanto do de fora (respeitadas as questões de segurança) e receber luminosidade suficiente para o cultivo de espécies menos exigentes. Um corredor externo, junto de janelas, mesmo que completamente cimentado, pode ser lugar adequado para vasos com plantas cumpridas, como as dracenas e outras, que enchem a vista de verde ou folhas coloridas, substituindo a decoração interna.

Um pequeno jardim de inverno, uma saleta, o vão sob a escada, um corredor, janelas com espaço para jardineiras, estes e outros recantos podem ser explorados com sucesso na criação de espaços paisagísticos, fazendo da casa um lugar mais atraente e acolhedor. E o micro-jardineiro que tiver tempo e paciência, pode transformar seu pequeno espaço numa verdadeira obra de arte.

Célia Borges


8 de março de 2008

ALDEIA GLOBAL XVIII - Pedágio e Imposto de Renda: ralos por onde escorre a nossa cidadania


O conhecimento e a consciência dos nossos direitos e deveres é o primeiro, e o mais importante passo, para exercermos nossa cidadania. Por isso, quero começar essa crônica transcrevendo um artigo dos mais relevantes da nossa Constituição Federal de 1988, Título II, dos Direitos e Garantias Fundamentais, artigo 5: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Escrevo isso inspirada no trabalho de uma estudante de Direito da Universidade Católica de Pelotas, Márcia dos Santos Silva, de 22 anos, e que circulou na internet nas últimas semanas: “A Inconstitucionalidade dos Pedágios”. Ela se baseia no inciso XV daquele artigo: “é livre a locomoção no território nacional em tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. E acrescenta: “o direito de ir e vir é cláusula pétrea da Constituição Federal, o que significa dizer que não é possível violar esse direito. E ainda que todo o brasileiro tem livre acesso em todo o território nacional. O que também quer dizer que o pedágio vai contra a Constituição”.

Segundo a estudante, as estradas não são vendáveis, e as concessionárias que realizam contratos com os governos cobram pedágio para ressarcir os gastos: “No valor da gasolina é incluído o Cide e parte dele é destinado às estradas. No momento em que abasteço meu carro, estou pagando o pedágio. Não é necessário eu pagar novamente. Só quero exercer meu direito, a estrada é um bem público e não é justo eu pagar por um bem que já é meu”, argumenta ela, e conclui que não há lei que possa ser usada contra quem passar nas cancelas dos pedágios sem pagar.

Vale à pena pesquisar o trabalho e lê-lo na integra. A mim, ele deu muito em que pensar, como por exemplo em como a maioria de nós conhece pouco sobre as leis que deveriam reger a nossa vida, e como, por isso mesmo, aceitamos passivamente alguns abusos tão óbvios, e que contrariam tão flagrantemente o princípio dos “direitos iguais”. Porque definitivamente, não somos tratados de acordo com esse princípio. Entre tantos aspectos que confirmam isso – e que me ocorre pois acaba de ser aberta a “temporada de caça ao contribuinte” – é o do famigerado Imposto de Renda. E que, do jeito como funciona, deveria se chamar Imposto sobre o Trabalho.

Quem paga Imposto de Renda, em última análise, é o trabalhador. E entre todos os trabalhadores, os mais penalizados são aqueles que tem emprego de carteira assinada, o funcionalismo público e quem vive de rendimentos resultantes de trabalho, como aposentados e pensionistas. Porque esses tem suas contribuições descontadas na fonte, e com grande antecedência sobre o momento de prestar contas com a Receita. O IR retido na fonte em janeiro passado, só vai ser objeto da declaração a ser feita em março/abril do próximo ano. Para fins do contribuinte pessoa física, todos os valores arrecadados em 2008 ficarão “congelados” para o cidadão até a data da declaração de 2009, pois não terão qualquer tipo de atualização em seu benefício.

Uma outra parcela da população “contribuinte” só terá obrigação de prestar contas e pagar seu imposto naquele momento, o que caracteriza bem o fato de que alguns têm direito de reter seu dinheiro, aplica-lo, obter rendimentos até o momento de pagar o imposto, enquanto outros são obrigados à pagar com antecedência. Na prática, são recursos confiscados. E aquele que recolhe na fonte ainda corre o risco de demorar muitos meses para receber o IR recolhido a mais, a também famigerada devolução, que com a sua atualização mínima, ainda aumenta o prejuízo do cidadão.

O mais chocante nessa nossa condição de contribuintes “pré-pagantes” é que, além desse preço, ainda somos afetados moralmente, no momento em que o Poder nos trata como fraudadores em potencial, como cidadãos pouco confiáveis, submetendo-nos à tal de “malha fina” que inferniza a vida de quem comete até pequenos erros formais, como um endereço ou uma data errada. No afã de informatizar o sistema, a Receita joga o cidadão num labirinto de dificuldades, começando por regras e formatos de programa de declaração que mudam a cada ano, até a dificuldade, ou mesmo a total falta de informações sobre qual teria sido o erro cometido.

Todo o sistema parece estar sendo concebido para dificultar ao máximo o resgate do nosso dinheiro, pois afinal, é fácil “fazer caixa” às custas do trabalhador. E lamentavelmente, os idosos tem sido alguns dos mais prejudicados, pois além da dificuldade de lidar com as declarações eletrônicas e seus formulários cada vez mais complicados, ainda são frequentemente penalizados pelo “excesso” de gastos com saúde, quando na verdade não podem deduzir por exemplo os gastos com medicamentos de que tanto necessitam.

Admiro gente desbravadora, como a futura advogada Márcia dos Santos Silva, que não tem medo de cara feia e vai à luta pelos seus direitos. Acho que, de um modo geral, estamos sendo omissos e descuidados com relação à nossa cidadania. Certos hábitos inconstitucionais das nossas autoridades só são possíveis porque não estamos sabendo reagir com presteza e defender nossos direitos. Eu gostaria de não ter que pagar pedágios se já estou os estou pagando através de impostos. Mas não quero fazer isso como “desobediência civil”, embora, se pensarmos bem, vivemos sob o domínio da desobediência civil, e os delinqüentes (de traficantes a corruptos) sabem sobreviver com desenvoltura, às custas disso.

Mas eu gostaria de discutir a inconstitucionalidade do pedágio, assim como gostaria de poder discutir o desconto antecipado da minha contribuição ao Imposto de Renda. Entre outras inconstitucionalidades que nos assolam... Entre outros abusos de que estamos desacostumados de reclamar. Procuro ser cidadã cumpridora dos meus deveres, mas também quero defender os meus direitos. Vou começar lendo a Constituição Federal de cabo a rabo. E acho que o prezado leitor deveria fazer o mesmo.

Célia Borges

4 de março de 2008

ARTES, ARTISTAS E EXPOSIÇÕES - I

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Luiza Ramagem na coletiva das Pintoras de Resende do projeto Câmara Cultural
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A artista plástica Luiza Ramagem é uma das pintoras convidadas para expor na mostra que homenageia as pintoras da região, como parte do projeto Câmara Cultural. Carioca, mas visitante encantada por Mauá desde a juventude, reside em Resende há cerca de 25 anos. Várias vezes premiada nos Salões da Primavera do Museu de Arte Moderna de Resende, possui diversas obras catalogadas neste museu. Em sua formação, foi aluna do Instituto Brasileiro de Belas Artes (Parque Lage) e dos professores João Salgueiro (história da arte), Hélio Rodrigues e Maria Tereza Vieira.
Com cerca de trinta exposições em seu currículo, teve seu trabalho mostrado em 2005 no Museo Francisco P. Moreno, em Bariloche, na Patagônia argentina. Em 2007 participou da mostra comemorativa dos 80 anos da Associação Comercial, Agropecuária e Turística de Resende (Aciar) e na coletiva do acervo do MAM-Resende.
Mais conhecida por suas colagens, onde reúne magia, misticismo e metafísica, ora em cores delicadas, ora em tons mais exuberantes, Luiza incursiona, em seus novos trabalhos, no óleo sobre tela, técnica para onde leva sua sensibilidade e preocupação sobre os desígnos do ser humano.


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Afrodite e A Mulher e sua Unidade Cósmica

Borboletas e Percepções

Caminhos da Luz e Vigília Transcendente

Entidades e O Homem e sua Unidade Cósmica

I - CRIAR UM JARDIM

Este é o primeiro de uma série de textos que vou postar sobre paisagismo e jardinagem, com eventuais incursões na botânica e ciências afins. Não gosto de publicar textos de outros autores, menos ainda sem autorização deles, mas não resisto a transcrever o texto que se segue, por considerar que é uma das mais brilhantes introduções que já li sobre o assunto. É lindo, é poético, é exatamente tudo o que gostaria de dizer. A titulo de retribuição, este texto é a introdução do livro O Mundo dos Jardins, uma obra linda em todos os aspectos, de autoria de Marina Schinz. Meus agradecimentos a ela, pelo texto e pelo livro maravilhoso que produziu.
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CRIAR UM JARDIM
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"Criar um jardim é buscar um mundo melhor. Em nosso esforço para aperfeiçoar a natureza, somos guiados por uma visão do paraíso. Quer o resultado seja uma obra-prima da horticultura ou apenas um modesto recanto vegetal, ele se baseia na expectativa de um futuro glorioso. Essa esperança de futuro está no cerne de toda a jardinagem. Quem trabalha o solo precisa fazer uma previsão com algumas semanas de antecedência ou imaginar o jardim no ano seguinte, pois a maioria dos jardineiros está convencida de que a melhora está a caminho. Portanto, a jardinagem é um exercício de otimismo. Às vezes é a vitória da esperança sobre a experiência."

"Ainda que todas as formas de jardinagem sejam válidas, nem todos os resultados podem ser considerados uma realização artística. Para que um jardim seja um prazer estético, é preciso um cérebro que planeje a estrutura e escolha o conteúdo. Como assinalou Russel Page, a idéia, ou mesmo o tema, deve vir em primeiro lugar. O tema pode ser qualquer coisa: um padrão geométrico, um grupo de plantas, uma característica da paisagem já existente – uma árvore, um muro, uma massa d’água – ou um conceito arquitetônico, com espaços demarcados. Se o tema for realçado e bem sucedido, se a idéia for clara, se a composição do volume, da forma, da cor for boa, se a plantação resulta num conjunto harmonioso, pode-se dizer que o jardim é uma obra de arte."

"Enquanto que a jardinagem básica – fazer crescer as plantas – é fácil, criar uma obra-prima é bem mais difícil. Há muitos fatores em jogo. O solo, o clima, o momento oportuno de cada ação e a viabilidade do trabalho têm que ser levados em conta. Os jardins nunca ficam prontos. Estão sempre fluindo, e seu momento de perfeição é efêmero. Captar essa visão, como uma fotografia, é fixar aquele breve momento de esplendor."

3 de março de 2008

NARCISA AMÁLIA (1852-1924)

Narcisa Amália é uma poeta resendense por definição, até porque sua produção literária ficou bastante restrita ao período em que viveu aqui. Sua importância para a literatura brasileira, entretanto, vai muito além dessa definição, porque ela foi pioneira não apenas pelo fato de ter sido uma das primeiras jornalistas brasileiras, e a primeira a se profissionalizar como tal, mas também por ter sido uma das primeiras mulheres do Brasil a romper com o preconceito do que era considerado masculino e feminino, abordando temas e explorando assuntos que até então eram considerados exclusivamente de homens. Poeta brilhante, alvo dos comentários dos mais respeitados críticos da época, que entretanto, na maioria, estranhavam o fato dela não se limitar ao romantismo amoroso que se esperava de uma literatura feminina.
Antes dos dezoito anos já editava o jornal A Gazetilha e colaborava no Garatuja, publicando suas poesias também no Resendense, e divulgando suas idéias vanguardistas, contra a escravidão e a favor do regime republicano, enfatizando a condição submissa, imposta à mulher pela sociedade conservadora da época. Admiradora de Castro Alves e Victor Hugo, sua principal inspiração era a liberdade, e seu sonho era de que, num futuro não muito distante, pudesse ver os povos, homens e mulheres, livres da violência, da opressão e da injustiça.
Essa bela transgressora, admirada e invejada com igual fervor, não conhecia então, limites para perseguir seus sonhos. E assim, aos 21 anos, partiu para o Rio de Janeiro, sozinha, com o objetivo de conseguir os recursos para publicar seu primeiro livro. Essa atitude foi um escândalo para a época, gerando comentários maldosos. Mas sua resposta ultrapassou a malícia dos censores, pois em 1873, a Garnier, uma das editoras mais respeitadas da época, lançou Nebulosas. É desse livro o poema “À Resende”, que publicamos em seguida.
Nos anos seguintes, e enquanto continuou a escrever, Narcisa Amália sempre manteve a marca da rebeldia, desafiando limites e chegando ao limiar dos extremos. Em 1874, publica seu segundo livro, dessa vez de contos, Nelúmbia. Suas atitudes corajosas e talento literário indiscutíveis mereceram a consideração e o respeito dos seus contemporâneos.
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À RESENDE
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(respeitada a forma de escrever da época)

Enfim te vejo, estrella da alvorada,
Perdida nas cellagens do horizonte!
Enfim te vejo, vapososa fada,
Dolente preza de um sonhar insonte!
Enfim, do meu peregrinar cansada,
Pouzo em teu collo a suarenta fronte,
E, contemplando as pétreas cordilheiras,
Ouço o rugir de tuas cachoeiras!

Mal sabes que profundos dissabores
Passei longe de ti, éden de encantos!
Quanto acerbo soffrer, quantos agrôres
Humedeci co’as bagas de meus prantos!
Sem um raio se quer de teus fulgores
Sem ter a quem votar meus pobres cantos...
Ai! O Simun cruel de atroz saudade
Matou-me a rubra flor da mocidade!...

Vivi bem triste! O coração enfermo
Buscava embriagar-se de harmonias,
Porem via do céo no azul sem termo
Um presságio de novas agonias!...
O bolício do mundo era-me ermo
Onde as lavas do amor chegavam frias...
Só uma melancholica miragem
Doirava-me a solidão – a tua imagem!

Caminhei, caminhei sem ter descanço
Ao som das epopéias das florestas;
Caminhei, caminhei e no remanso
Da tarde, ouvi do mar as vozes mestas;
Nas ribas descansei de um lago manso
P’ra gozar do talento as nobres festas,
E adormeci na esmeraldina alfombra
Da palmeira real a grata sombra!

Caminhei inda mais: com nobre empenho
Penetrei no sagrado sanctuario
Onde o gênio – em delírio – arrasta o lenho
Do trabalho, em demanda de um Calvário!
Vi surgir sobre a tella, à luz do engenho,
E povoar o templo solitário,
Da carioca a lânguida figura,
De Nhagassú o feito de bravura!...
Inclinada nas longas penedias
Acompanhei o vôo das gaivotas;
Meu nome arremessei às ventanias
Sem que sentisse sensações ignotas!
Da musa do piano as melodias
De uma flauta canóra as doces notas,
O gello que sorvi n’um mago enleio,
Tudo gellado achou meu débil seio!...

Mas apoz negridão de noite lenta,
Na curva do horizonte o sol resplande:
Apoz o horror da tétrica tormenta,
Gazil santelmo ló no céo se acende:
Apoz o latejar da dor cruenta
Vejo-te enfim, ó plácida Resende,
Debruçada no cimo da colinna,
Sorrindo meiga à exhausta peregrina!

Abre-me os braços, filha do occidente,
Quero beber teus máditos luares!
Quero escutar o solluçar plangente
Do vento pelas franças dos palmares!
Não vês no no meu lábio há sede ardente?
Que calcinou-me a tez o sol dos mares!...
Ah! Mostra-me ao passo meu tardio, incerto,
A sombra d’arequeira do deserto!

Que saudades que eu tinha das campinas,
D’estes prados e veigas odorantes!
De teu tyrso de cândidas neblinas
Recamado de auroras cambiantes!
D’estas brandas aragens matutinas
Que doudejam com as ondas murmurantes,
De tudo, tudo quanto em ti resumes,
Formosa noiva dos estivos lumes!...

Na corolla da flor da minha vida
Se aninha agora inspiração mais pura;
Do meu rio natal a voz sentida
Desperta em mim um mundo de ternura!
Em minha triste fronte empallidecida
Mais uma estrophe límpida fulgura,
E no berço de tuas matas densas
Libo sedenta o orvalho de mil crenças!...

Ó filha de Tupan, que um véo de brumas
Estendes sobre o mísero precito;
Ó ave linda, as mimosas plumas
Aqueces nos ardores do infinito;
Garça gentil, que surges das espumas
Como da mente do poeta o mytho,
Enquanto a lua ondula pelo espaço
Abre a meu somno eterno o teu regaço!