12 de abril de 2008

ALDEIA GLOBAL XXVI – A invasão à UNB e a força da opinião pública

Há uma reflexão indispensável ao exercício da Cidadania nesses nossos dias de Século XXI: dentro do conceito de estado republicano e democrático, governos existem para servir ao povo, ou o povo existe para servir aos governos? O peso da cultura histórica não contribui muito para o discernimento nessa questão, pois estamos acostumados à idéia de impérios, monarquias, e autoritarismos de todos os tipos, no decorrer da maioria dos séculos que nos antecederam. Mas não podemos nos esquecer dos movimentos que nos resgataram, e que apesar de seus eventuais excessos e violência, traduziram os anseios das populações, em busca de igualdade, liberdade e fraternidade entre os homens.

Essa discussão pode ser irrelevante nos estados em que o autoritarismo ainda predomina. Mas nos chamados “estados democráticos” ela deveria ser alvo de uma reflexão diária de cada cidadão, assim como quem profere uma oração. Porque é inquestionável a vocação de governos e poderes a se entrincheirarem em privilégios que os afastam do interesse comum. O poder corrompe, distorce as prioridades, alimenta vaidades, e isola as lideranças dos verdadeiros objetivos para os quais foram criadas. E cabe ao cidadão estar atento, estabelecendo limites ao poder do estado, para não ser engolido por ele.

A recente invasão de estudantes à reitoria da Universidade de Brasília, e seu desfecho, com o afastamento do reitor, mostram bem como a reação de cidadãos – e eu me sinto extremamente orgulhosa de ser compatriota desse grupo de pessoas que conseguiram seus objetivos driblando a violência – podem fazer diferença no restabelecimento da lei e da ordem, quando elas são tão nitidamente, tão obviamente, transgredidas. Estudantes, professores e funcionários daquela universidade, não estavam motivados por quaisquer dissenções de ordem política, mas por uma rigorosa exigência de respeito e responsabilidade no trato com os bens públicos. Sejam eles materiais, como os recursos financeiros desviados de seus objetivos, sejam subjetivos, como a falta que fizeram no conjunto da educação pública no país.

Esse episódio teve o mérito, além de seus próprios resultados práticos com o afastamento do reitor, de confirmar o quanto a força da opinião pública pode ser decisiva no combate à corrupção, à impunidade e à arrogância que parecem ter tomado de assalto a maioria dos setores da administração pública. Às vésperas de pedir licença do cargo, o reitor declarava nos noticiários, pura e simplesmente “não saio”. Não se dispunha a discutir, justificar ou se desculpar pelos desmandos. Iludido por uma garantia de impunidade que não se concretizou, ele resistiu até o último minuto. E acabou saindo pela porta dos fundos.

O que se tratou, nesse caso, foi de medir forças: por um lado a arrogância autoritária de um cidadão que achava que podia tudo, que se situava acima da lei e do interesse coletivo, contra a força da opinião daqueles que discordaram desse ponto de vista e se dispuseram a lutar por suas convicções. Um a zero. O Ministério Público Federal assumiu sua responsabilidade, o reitor está temporariamente afastado, o processo instaurado, e nós, aguardando para ver o resultado. Torcendo para que o Sr. Mulholhand não volte para o cargo. Pelo menos para esse cargo de reitor da UNB. Pelo menos até que o governo encontre uma solução ao gosto do momento, como um novo cargo, para premia-lo pelos deslizes ampla e publicamente constatados.

“Não saio” é uma expressão que vem sendo repetida por outras autoridades, de mais de um dos Poderes, à título de resistência à circunstâncias que desafiam a opinião pública. Foi assim com Severino, foi assim com Renan Calheiros. Quantos foram os ministros já que caíram, depois de igual manifestação de arrogância? Perdi a conta. Lembro do Zé Dirceu. Mas são tantos os ministros, e tantos os mal-feitos, que não dá pra lembrar de todos. Ah, tem aquela senhora da Integração Racial!!! Enfim, por mais apoio que recebam do nosso presidente da República – e por mais aprovação que esse presidente receba nas pesquisas de opinião – eles acabam caindo. Por menor que seja a nossa consciência dessa força, a opinião pública, em maior ou menor escala, ainda continua fazendo diferença. Principalmente quando conta com a sintonia da imprensa.

É pena que a educação deficiente da maioria da população torne a força da “opinião pública” um poder ainda incipiente em nosso país. Mas mesmo atuando apenas em alguns poucos momentos e circunstâncias, é inquestionável a sua influência. E ela tem sido exercida em momentos cruciais da nossa história recente. Ela é o derradeiro reduto da ética e da moralidade, o “cartão vermelho” que a população dá a quem não “anda direito”. Ela é o lembrete aos poderosos, de que governos existem para servir à população e não o contrário. Afinal, “todo o poder emana do povo, e em seu nome deve ser exercido”. Não é isso que diz a nossa Constituição?

Célia Borges

ARTE, ARTISTAS E EXPOSIÇÕES III - Wendell Amorim – Reciclando a Arte

.
CLIQUE NAS FOTOS PARA AMPLIÁ-LAS
.
Fome Zero
.
O poeta e artista plástico Wendell Amorim revela, nas várias facetas do seu trabalho, a marca de um espírito inovador. A própria variedade de suas atividades (que inclui textos para teatro), assim como a exploração de novos materiais, formatos e conceitos em cada uma delas, mostra uma personalidade inquieta, sempre em busca de novas possibilidades. E a arte desenvolvida com materiais reciclados, onde projeta sua preocupação com o meio ambiente, é a mais recente delas...
O artista, Wendell Amorim
.
Quem quiser conferir pessoalmente, poderá ver a escultura do artista sobre a Ponte Velha, que fará parte da exposição sobre o tema, promovida por Claudionor Rosa, à partir do próximo dia 16, às 19 horas, no Anexo da Câmara Municipal de Resende. Em junho ele volta ao mesmo espaço, em exposição sobre Meio Ambiente, dividindo-o com Fátima Porto; e nesse mesmo mês estará expondo individualmente na Semana do Compromisso Social com o Meio Ambiente, em Volta Redonda.
Carioca de Campo Grande, Wendell veio para Resende na adolescência. Artista plástico autodidata, está cursando o quinto período da Faculdade de Artes Visuais da Universidade de Barra Mansa. Já teve um de seus quadros premiado no XXX Salão da Primavera (Prêmio Eitel César Fernandes/MAM-Resende em 2002) e outro pela exposição Universidarte, promovida pela Universidade Estácio de Sá.A reciclagem da arte ou a arte da reciclagem? Essa é uma pergunta com muitas respostas para esse artista: Wendell Amorim vem desenvolvendo novas técnicas no Atelier Mosaicolagem, inclusive aquela que deu nome ao próprio atelier. Ele reconhece, no seu trabalho, a influência de Cézanne e Picasso, especialmente no aspecto do cubismo, e as ultrapassa, através do cubismo sintético, com a introdução de letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal, e até objetos inteiros nas pinturas. E em suas esculturas, essa influência encontra uma expressão ainda mais livre.

.
Pão de Açúcar

Tartaruga (Bienal Santos)
.
Além das premiações já citadas, Wendell Amorim foi terceiro colocado no II Salão Estudantil de Humor, em 96, na categoria Caricatura, e um dos três finalistas no I Prêmio Ambev de Reciclagem, categoria Artes Plásticas, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Como poeta já participou de várias antologias regionais e publicou os livros Poeta de Boteco e AMORIMprovisado. Também foi um dos fundadores, e dirige a Ong Cultural Oito Deitado, ao lado de Jenifer Faulstich e Kátia Kirino.
Exposições individuais do artista: em 2007, Exposição Itinerante no Centro Histórico de Paraty-RJ, com mosaicos de instrumentos musicais em madeira e textura; MPB na Parede, Hotel do Ypê, Itatiaia; Festjazz na Parede, no Sesc de Barra Mansa; Conexão Cultural, na Universidade de Barra Mansa; Homem Lixo, na Casa de Cultura de Bananal. Em 2006, MPB na Parede, no Espaço Cultural da Câmara de Resende e no Resende Shopping; Semana do Meio Ambiente, Guardian do Brasil, Porto Real. Em 2005, I Encontro de Poesia e Natureza do Parque Nacional do Itatiaia, e Para não Dizer que Não Pintei Flores, no Hotel Ypê e no Espaço Sax-Resende, onde também apresentou Saxomania. Em 2004, Bossa Nova, no Espaço Sax e 2002, Copa do Mundo, Caricaturas dos Jogadores de Futebol, na Biblioteca Municipal Jandyr César Sampaio, Resende-RJ.
Também tem participado ativamente em exposições coletivas, com destaque àquelas do Museu de Arte Moderna de Resende, mas também em outras instituições culturais de Barra Mansa e Volta Redonda. Em 2007 foi curador da mostra Verde Vida, em homenagem ao artista plástico Marcius Lima; em 2005, da mostra Natureza Humana e Arte Sacra – Samuel Costa, no Espaço Sax; e em 2004, Casario Resendense, aquarelas de Alandarque Linhares, no Espaço Sax.
.

À esquerda, Puri (Bienal Santos)