23 de maio de 2008

SESSÃO SOLENE DA ACADEMIA ITATIAIENSE DE HISTÓRIA, SÁBADO, DIA 31, NA CÂMARA MUNICIPAL

Os cem anos do Núcleo Colonial de Itatiaia serão tema da próxima Sessão Solene da Academia Itatiaiense de História, que será realizada no dia 31 de maio, às 15 horas, na Câmara Municipal. Na oportunidade serão comemorados também o 190 aniversário de emancipação do município e o 160 da criação da própria Academia.

Segundo a professora Alda Bernardes, presidente da entidade, a programação inclui uma exibição de fotos e palestra sobre o tema. A criação dos Núcleos Coloniais de Itatiaia e de Visconde de Mauá promoveu a vinda de alguns dos maiores grupos de imigrantes europeus para a região.

O primeiro passo foi dado em 30 de abril de 1908, quando o governo do Estado do Rio de Janeiro, representando a União, propôs ao Comendador Henrique Irineu de Souza – filho e herdeiro do Visconde de Mauá – a compra do conjunto de fazendas de sua propriedade no maciço de Itatiaia.

O objetivo dos Núcleos Coloniais era a produção de frutas européias, de cereais, tubérculos e a criação de gado de clima temperado, além de pequenos animais. Outros grupos de imigrantes europeus foram chegando nos anos seguintes, formados principalmente por alemães, franceses, belgas e italianos, ocupando os lotes ainda disponíveis.

Essa época marcou também o despertar da vocação turística da região, quando as famílias de origem européia passaram a receber turistas em suas próprias casas. Nos anos seguintes surgiram as primeiras pousadas. A criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 14 de junho de 1937, não causou maiores problemas aos colonos, já que o decreto n0 1.713 dessa data não incorporava os lotes do Núcleo Colonial pertencentes a particulares.

A convivência pacífica entre o núcleo colonial e o Parque, entretanto, começou a ser ameaçada 45 anos mais tarde, em 1982, quando o decreto n0 87.586, de 20 de setembro, sancionado pelo então presidente Gal. João Batista Figueiredo, ampliou os limites da reserva para cerca de 30.000 hectares, incluindo lotes do antigo núcleo pertencentes a particulares, sem definir entretanto que seriam desapropriados, e sem justificativa técnica para incluí-los.

Os descendentes dos colonos do núcleo de Itatiaia, e demais residentes que adquiriram os lotes deles, vêm empreendendo desde então uma incansável batalha judicial em busca de uma solução negociada para o problema. Eles argumentam que, ao contrário de ameaçar a natureza, contribuíram muito para a preservação dessas áreas, que haviam sido anteriormente destinadas à campos e pastagens, e que com a mudança das atividades planejadas, acabaram se transformando em florestas secundárias.

Célia Borges

POETAS DE RESENDE – José Alberto Somavilla

Pelo aniversário da Ponte Velha

Esta ponte, que o povo, com carinho,

Chama de velha, sim, já fez cem anos.

No passado era o mágico caminho

Para as tropas, os carros, os humanos.

Em face do festivo burburinho,

A ponte revelava seus arcanos

Para todos, até para os insanos

Que a buscavam, em pleno torvelinho.

É certo que atraia suicidas,

Aquelas criaturas tão sofridas

Mirando o Paraíba revoltoso...

Mas unindo, inspirando alegorias,

Hoje suscita bênçãos, alegrias,

E pereniza um tempo mais airoso.

Praça da Matriz

A praça...Quantos sonhos, quanta espera,

Quanta alegria de colegiais.

De repente era sempre primavera

No canto irreverente dos pardais.

Neste momento, em transes terminais

A praça da matriz se desespera.

Ninguém escuta seus sentidos ais:

Infame, triste indiferença impera...

Sempre foi o centro, a alma desta terra:

Era aqui o lugar dos carnavais,

Das retretas, encontros, uma era

Desfigurada em pó e nada mais.

Regressar a outro tempo...Ah quem me dera...

A época dos pais dos nossos pais,

“Flertes” na quermesse, a gentil quimera:

O bar do ponto, encontro de casais.

Relembro “A Lira”, doce, mas severa,

Na defesa de puros idéias

De uma democracia mais sincera

Que parece exaurir-se em carrascais.

A praça morre, já não reverbera,

Morrem também os sonhos, os jornais,

A fimbria do olhar azul da serra,

Fatos comuns nos dias atuais

Ponte Velha

Minha velha ponte, ponte primeira,

Mágico lugar, de onde se divisa

Algum passado que nos suaviza:

De um lado o centro, de outro a serra inteira

Ponte mulher, amiga, sobranceira

Ao descaso do tempo, hoje agoniza

E, como a Praça da Matriz, precisa

De alguém que lhe escute a mágoa derradeira.

As palavras são vãs, nem mesmo imagens

Exprime a dor que verte das ferragens

Da ponte que pôs fim à incerteza

Dos barcos, no ancestral envolvimento

Do ser, para vencer o isolamento,

Não pode soçobrar na correnteza...

Lavapés

Tal nome não procede da paixão

Do Cristo, pouco antes do desfecho.

Os que vinham da roça, em certo trecho,

Tinham de vadear um ribeirão.

Traziam um sapato em cada mão;

As mulas conduziam o apetrecho,

Jacás atulhados, onde remexo

Rapaduras, queijos, fubá, feijão...

As mulheres, deixados nos grotões,

Davam pitos nos machos maganões”:

Juízo! E no riacho lavem os pés;

Só entram na cidade bem calçados,

Do contrário, serão considerados

Cachaceiros...jecas...Zé-prequetés...

Comentário do autor: “Devia grafar “Lava-pés”, mas li nas placas “Lavapés”. Pobre lavapes, o mais triste e abandonado bairro de Resende. Era a entrada de Resende-RJ, pelo Leste, para os que vinham das roças, sítios e fazendas a pé ou a cavalo. Posteriormente tornou-se o portal para quem chegava do Rio, Barra do Piraí e Barra Mansa, até meados do século passado, vivendo de comedido brilho, uma vez que neste bairro da cidade desembocava a antiga Estrada Rio-São Paulo.

Só o velho Guna, o maior de todos os fazendeiros, jamais se calçou para entrar na cidade. Vinha sempre de terno, gravata e chapelão, mas descalço... (J.A. Somavilla)

Célia Borges