22 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XV – Bonsais: soluções requintadas para pequenos espaços (primeira parte)



O cultivo de bonsais é uma prática milenar chinesa, mais tarde difundida por todo o oriente, e que encontrou no Japão sua plena expressão como verdadeiras obras de arte botânica. Foram os japoneses também os responsáveis pela divulgação das técnicas de cultivo no mundo ocidental. Desde meados do século XVIII, viajantes ingleses já comentavam sobre as árvores em miniatura vistas no Japão, e em 1878 está registrada a realização de uma exposição de bonsais, em Paris.

Em 1892 o Japão promoveu seu primeiro concurso artístico da arte do bonsai, e em 1914 foi realizada a primeira exposição nacional. Em 1959 o mestre Yoshi Yoshimura imigrou para os Estados Unidos, iniciando ali o cultivo, com tanto sucesso, que clubes se multiplicaram pelo país inteiro, tornando-o atualmente o maior centro de produção depois do Japão. No Brasil surgem na década de 30, como resultado da onda migratória de japoneses, mas ficando restritos às famílias nipônicas até os anos 70, quando o mestre Jiro Mizuno estendeu seus ensinamentos também a brasileiros.

Criar bonsais desde a semente ou de uma pequena muda é, definitivamente, um trabalho para mestres. As árvores, ainda que em miniatura, continuam sendo árvores, com quase todas as suas características botânicas, mas exigindo certos cuidados muito especiais. O tempo é determinante na qualidade do bonsai, motivo pelo qual seu valor depende da idade. Por isso, a maioria dos que os cultivam preferem adquirir os seus já prontos ou em estágio de desenvolvimento.

Se uma árvore leva 60 anos na natureza para chegar à sua plenitude, um bonsai dela vai exigir o mesmo tempo, em dedicação e paciência. Os mais jovens, entre os bonsais autênticos, costumam ter pelo menos uns 20 anos, e o jardineiro que quiser cultivar um desses, deve ter em mente que está fazendo um investimento para o resto da vida. E quanto mais jovens, maiores as atenções exigidas.

Espero que o leitor não desanime!!! Porque se por um lado o bonsai exige um tanto de trabalho, por outro ele retribui com inimagináveis alegrias. Há poucas emoções comparáveis com a de ver uma arvorezinha de 20cm de altura sobre a sua mesa, ou recanto da casa, cheia de frutos ou de flores como seus equivalentes naturais, ou adotando formas absolutamente artísticas, de fazer inveja à própria natureza.

Se é verdade que a escolha do tipo de jardim reflete a personalidade do jardineiro, pode-se dizer que quem se dedica ao cultivo de bonsais são as pessoas que gostam de desafios. E estão preparados para exercitar a paciência.

Aceito o desafio, vamos lá!!! Mãos à obra!!! O primeiro cuidado é a escolha da espécie, de acordo com o ambiente que você tem para oferecer. Além dos dois tipos de árvores – aquelas tradicionais do oriente ou as espécies nativas adaptadas – existe a questão crucial do tempo de exposição ao sol.

Como já escrevi antes, árvores são sempre árvores, e mesmo em miniatura, precisam de respostas às suas exigências naturais para sobreviver. E se seu “habitat” é ao ar livre, a maioria delas exige bastante sol. Poucas espécies de bonsais se adaptam bem à meia sombra – Azevinho, Bambu, Berberis, Camélias e Fícus são os mais indicados nesse caso – e algumas podem se desenvolver bem com sol fraco – Acer Palmatum, Azaléias e o Buxus.

Para situações de sol médio, ou intenso apenas em uma parte do dia, existem ainda as indicações do Jasmim, da Macieira e do Salgueiro Chorão (que eu conheço) e também da Carmona, do Juniperus Shimpaku e do Acer Campestre (que sinceramente, nunca vi no Brasil). As demais, inclusive cedros, cerejeiras, carvalhos, castanheiras, primaveras e romãs, citando apenas as mais populares, todas exigem o máximo de sol possível para se manterem plenas e saudáveis.

A segunda característica mais importante dos bonsais é a quantidade das podas, de forma a manter sua arvorezinha dentro do padrão pré-concebido. A quantidade, a qualidade e a oportunidade, diga-se de passagem. Porque bonsais precisam de pelo menos três podas por ano (ou pelo menos na primavera e no verão), dependendo da espécie. Deixar crescer demais pode mudar as características de cada um, assim uma poda excessiva pode comprometer seus aspectos. E é nessa busca de equilíbrio que o bonsai ajuda a revelar o artista que existe em você.

Como todas as plantas, e até mais do que a maioria, bonsais exigem cuidados além desses, como a necessidade de adubação, a manutenção da umidade, a retirada de mudas e replantio. O significado dos formatos, os tipos de vasos. São tantos os aspectos envolvidos no cultivo de bonsais, que seria impossível esgotar o assunto num simples texto. Motivo pelo qual estou optando em dividi-lo em partes, inclusive para dar ao leitor oportunidade de expor, e a mim de esclarecer, eventuais dúvidas.

Os mestres do bonsai precisaram estudar e praticar por décadas, até chegar à essa posição. Os estudantes, mesmo os mais aplicados, têm consciência de que vão precisar estudar por muitos anos. Os curiosos, como eu, são apenas pesquisadores persistentes, que tentam estabelecer uma ponte entre os que sabem muito e os que querem aprender. Como eu mesma, aliás. Entretanto, o cultivo de um ou mais bonsais está além dessas questões.

No meu caso, por exemplo, foi uma espécie de “caso”. Amor à primeira vista. Trouxe a pequena romãzeira para casa sem saber nada à respeito dela, e até hoje não parei de estudar sobre o assunto. Tivemos bons e maus momentos, já me deixou muito preocupada, já me deu grandes alegrias, e atualmente...está sobrevivente. Já estou no segundo bonsai, e percebi que tenho muito o que aprender. Mas estou disposta a continuar partilhando com vocês as minhas dúvidas e as minhas pesquisas. Escrevam, se quiserem, ou aguardem próximas postagens sobre o assunto. Saudações botânicas.

Célia Borges