16 de outubro de 2011

ALDEIA GLOBAL – O Horror Econômico, a Febre de Poder e a retomada de consciência do cidadão comum

A economia global já vem dando, há alguns anos, demonstrações de que segue como um trem fora dos trilhos... e que agora ameaça descarrilar de vez. Guiados por um conceito que toma a ganância como atitude muito natural, e refém dessa figura mítica em que se transformou o tal de “mercado financeiro”, para a qual o lucro é o único objetivo, a política e os negócios internacionais – através das pessoas que os exercem – foram tomados pela “febre de poder”, que desviou o foco das necessidades coletivas das populações, para se concentrar nos interesses corporativos de uma minoria de privilegiados...que são apenas os deles mesmos.
Assim, as manifestações populares iniciadas há poucos dias em Nova York - questionando as condições em que vem sendo gerenciada essa economia global - e que vêm se alastrando por outros países, não são exatamente uma surpresa. Aliás, sinceramente, acho que demoraram muito. Foi preciso que o nó apertasse o coração daquela que é ainda maior economia global, os Estados Unidos, para surgir uma reação à altura do problema. Num mundo em que só o dinheiro manda, fala mais alto quem ganha mais. Mas foi só os norte-americanos darem o primeiro grito, que a zoeria se espalhou... e agora as populações pelo mundo afora começam uma monumental retomada de consciência, e indo para as ruas na tentativa de dar um basta a esse estado de especulação e expropriação que nos assola, nos mais variados níveis.
O grande problema da economia global é que seus gestores, cansados de enganar “os trouxas”, também pretenderam dar uma volta na matemática, mas a ciência exata não é tão complascente como as pessoas, e chegou uma hora em que a conta não fechou mais. Parece brincadeira, mas é simples assim. Ninguém pode esperar lucrar sempre e mais, mas essa é a proposta das Bolsas de Valores. Não há como o crescimento aritmético das populações e das suas riquezas possam acompanhar uma busca de lucros em progressão geométrica. Mas o mercado financeiro se comporta como um dragão alucinado, que precisa de sempre mais. E quando falta dinheiro, maquia-se as contas, e inventa-se riquezas onde não existem... porque afinal, alguém vai pagar por isso, e não é o irresponsável que fez essa conta.
Todo esse quadro que hoje vivemos já foi – e muito bem – delineado, num livro que acompanha as minhas insônias há mais de uma década, “O Horror Econômico”, da ensaísta francesa Viviane Forrester. Publicado na França em 1996, e com edição brasileira em 1997, o texto nos mostra bem a dimensão da cegueira que já predominava no campo econômico, desde aquela época, na medida em que a remuneração do capital extrapolava condições realistas, em detrimento da remuneração do trabalho e outros investimentos não financeiros. O resultado dessa equação maldosa seria o do desemprego crônico de parcelas das populações, o que só vem se confirmando com o passar dos anos.
É lamentável que os doutos economistas, de aquém e d´além, com tanto acesso a informações, não tenham vislumbrado as conseqüências, e tentado evitá-las à tempo. Mas há o miraculoso fato de quanto os economistas são dados à sua própria prosperidade, como poderemos verificar nos currículos daqueles que foram autoridades no nosso país. Vários viraram banqueiros... essa deve ser a vocação natural de muitos economistas. Mas o fato é que não me lembro de nenhum que tenha levantado uma voz relevante, para avisar que navio muito pesado tem tendência para afundar.
E enfim, esse é que me parece o grande problema da economia global, o fator humano, e a febre de poder daqueles que detém os nossos bens – como o tal mercado financeiro – e os nossos destinos – os governantes de países e grupos de países. Como lembrar a quem anda de avião particular, transita em limusines, e vive em ambientes climatizados, que há gente com fome lá fora, que há desempregados sem ter como sustentar suas famílias, que a pobreza gera violência que afeta aos trabalhadores...eles já sabem muito bem de tudo isso, e têm a firme intenção de resolver todos esses problemas nos próximos anos... quando já tiverem realizado todos os seus próprios sonhos de consumo e de grandeza!!!!
Tenho a desagradável impressão de que, apesar de toda a “civilização” e tecnologia, nos aspectos humanos, continuamos séculos atrasados, sendo os reis e imperadores antigos, substituídos por novos déspotas econômicos, que decidem os nossos destinos ao sabor de suas ambições por mais e mais riqueza. O conceito de democracia está longe de atingir, se não a igualdade, mas pelo menos um certo equilíbrio econômico. Quem tem algum dinheiro, quer sempre mais... quem tem algum poder, não quer jamais abrir mão dele. E quem não tem poder nem dinheiro, vai reivindicar o quê e quando? Se o foco é cada vez mais poder e lucro, quando vai sobrar tempo e recursos para a ética, a igualdade, a fraternidade... tudo isso que todos os partidos, religiões e seitas pregam à exaustão, e que as corporações também prometem, sem a menor intenção de respeitá-las ou cumpri-las.
As manifestações que se multiplicam por países de todos os continentes, e mesmo descontando as motivações locais de muitas delas, confesso que me dá um certo alívio. Eu já vinha me perguntando que mundo é esse em que eu vivo, que apesar de toda a literatura de ficção, vem desembocando num 1984 atrasado, num Admirável Mundo Novo, num verdadeiro “rock-horror-show” sem Inteligência Criativa...Credo!!! Deve ser por isso que estou fazendo – e precisando muito – de terapia. O Horror Econômico, até além do que previa Viviane Forrester, está aí, batendo à nossa porta, e além de protestar, acho que nem sabemos mesmo o que é o caso de reivindicar.
Será que existe uma fórmula para combater o princípio da ganância que nos contagia, e que nos mantém prisioneiros da arrogância de quem tem mais dinheiro ou poder? Será que o erro está só nos outros, nos poderosos, ou também somos cúmplices, quando e se fazemos parte dessa corrente do lucro a qualquer preço? No momento em que temos a chance do “botar o nosso bloco na rua” para engrossar o coro em defesa de uma democracia verdadeira, que seja também uma democracia econômica, é tempo de também reconsiderarmos nossas próprias posições, e avaliar até que ponto estamos prontos para essa nova realidade, de retomar a consciência dos nossos papéis como cidadãos, e nos decidirmos a intervir na realidade.
No Brasil, além das motivações internacionais, temos razões demais para protestar. Em nenhum outro país se paga tanto imposto, em nenhum outro os juros são tão altos, pagamos caro para combater a miséria, mas ainda assim as filas nos hospitais são intermináveis, o atendimento na área de saúde é pra lá de lamentável...populações continuam habitando em áreas de risco, e morrendo às centenas à cada ano...a educação está sempre abaixo da crítica, não temos mão de obra adequada para um crescimento em expectativa...e a corrupção leva embora grande parte dos recursos que poderiam ser investidos em tudo...ainda vivemos na idade dos feudos eleitorais... São tantos os nossos problemas, que é difícil até decidir por onde começar.
A “febre do poder” é uma doença para a qual não se descobriu a cura, nem se desenvolveu nenhuma vacina. Ela se manifesta na forma da arrogância daqueles que chegam à uma situação privilegiada, e assim se acham superiores a todos e à tudo. Acomete sobretudo autoridades, como presidentes, senadores, deputados, juízes... e até categorias menos cotadas, como os reles vereadores.... até a pseudo-autoridades, como carguinhos em comissão, de gente que não sabe mandar nem em si mesmo...
Célia Borges

26 de maio de 2011

BIODINÁMICA - Workshop com Ebba Boysesen e novas turmas em Resende




A psicoterapeuta norueguesa Ebba Boyesen, filha de Gerda Boyesen e cofundadora da Psicologia Biodinâmica, encontra-se em São Paulo para realizar workshop sobre o tema nos dois próximos fins de semana, 28 e 29 de maio, e 4 e 5 de junho. Radicada em Londres, e responsável pela formação de psicoterapeutas nessa abordagem desde 1971, Ebba aprofundou a raiz reichiana da Psicologia Biodinâmica, e mostrará os desdobramentos de seu percurso nesse campo.
O primeiro encontro, nesse próximo fim de semana, terá o tema “Análise Segmentar e o Mapa Corporal Emocional, onde partindo da visão reichiana relativa à disposição segmentar da couraça muscular do caráter, ela desenvolve uma proposta inovadora de Vegetoterapia, na qual propõe uma nova divisão dos segmentos e inclui o toque como parte do processo. Tem como objetivo restabelecer o fluxo energético e a autorregulação do organismo. Neste trabalho articula o pensamento de Wilhelm Reich, Gerda Boyesen (sua mãe), Frederico Navarro e Stanley Keleman.
No seguinte, 4 e 5 de junho, o tema será a Psicoenergética, onde, om base na Orgonomia de Wilhelm Reich, Ebba aborda a angústia do prazer, o desbloqueio do reflexo orgástico e aspectos do manejo da agressão frustrada, no sentido de canalizá-la para uma ação criativa. O local é Rua Fidalga 521, Vila Madalena, SP.

NOVAS TURMAS EM RESENDE
Com as atividades iniciadas em meados de março passado, o Grupo de Movimento Biodinâmico, em Resende já está rendendo frutos, e novas turmas já começam a ser formadas. O trabalho é coordenado pela psicóloga Líliam Motta, em formação na especialidade pelo Instituto Brasileiro de Biodinâmica.
Os interessados podem obter maiores informações, e inscrever-se, com a própria Liliam Motta, pelo telefone (024) 9251-8442. Ela esclarece que a atividade utiliza várias técnicas de psicoterapias corporais, aliando a dança ao teatro, eutonia, fisioterapia e ioga, entre outras.

13 de março de 2011

ALDEIA GLOBAL - Malu Santa Rita (02/10/1946 – 10/03/2011)

Uma das minhas melhores amigas partiu. E o melhor que posso fazer no momento é escrever sobre ela, enquanto me lembro dos bons momentos que partilhamos nesse nosso encontro tão transitório que é a vida. Tinhamos muito em comum, e também muitas diferenças. O que mais me lembro é do quanto nos divertíamos uma com a outra, o quanto ríamos por conta de um senso de humor que acreditávamos ser peculiar das mulheres librianas... e por tantas outras afinidades que nos faziam ser “irmãzinhas”, “bruxinhas”, e assim partilhar tanto alegrias, quanto tristezas e preocupações. E me lembrar de quantas vezes oferecemos os ombros, uma à outra, e de quanto levamos à sério e honramos aquele que é o mais puro e nobre dos relacionamentos, a amizade.
Poderia escrever um livro sobre as experiências que partilhamos entre 1985, quando nos conhecemos, até 1995, quando por conta de ter ido morar no Rio, passamos a permanecer menos próximas. Nossos em encontros eventuais sempre foram a celebração do prazer dessa amizade, e mesmo quando não concordávamos em alguma coisa, sempre lidamos com essas diferenças com a delicadeza típica das librianas, essa espécie de linguagem mágica que transformou nossos momentos de convivência, quando não de alegria e prazer, pelo menos de saudáveis desafios. Com infinita saudade, segue o que me lembro sobre ela:
Dinâmica, empreendedora, voluntariosa. É assim que a maioria das pessoas que a conheceram, vai se lembrar da empresária Malu Santa Rita, falecida nesta quinta-feira, 10 de março de 2011. Proprietária do Hotel da Cachoeira, construído e fundado por ela em 1976, foi também uma das principais idealizadoras da Associação de Hoteleiros e Similares do Penedo, criada no início da década de 1980, e que ela presidiu por mais de dez anos. Sob sua liderança, até meados dos anos 90, o turismo em Penedo ganhou projeção nacional, com a divulgação da Colônia Finlandesa e a criação do Festival de Trutas, entre outras iniciativas. Para garantir esse espaço, ela fez parte das diretorias de diversas entidades estaduais e nacionais ligadas ao turismo, como TurisRio e ABIH, levando o nome de Penedo à feiras, congressos e exposições turísticas em todo o país.
Maria Lúcia Nogueira Santa Rita, nasceu na cidade de Santos-SP, no dia 2 de outubro, há 64 anos. Comunicação, arte e moda foram seus interesses, até que veio à Penedo como turista, no início da década de 70, e hospedada no Hotel Daniela, ficou tão encantada com o lugar que em pouco tempo adquiriu o terreno vizinho àquele hotel, construindo o seu próprio, o Hotel Cachoeira, que está completando 36 anos. Casada na época com o jornalista Chico Santa Rita, com fácil acesso aos meios de comunicação, Malu viu em Penedo um filão turístico com grandes possibilidades de sucesso, e que valia à pena explorar. Mas sua visão empresarial lhe mostrava que era preciso trabalhar em conjunto, e assim ela passou a se mobilizar pela criação de uma entidade representativa, a Associação dos Hoteleiros e Similares do Penedo, que veio dar um aspecto formal às diversas ações visando o crescimento turístico local.
Naquela época, início dos anos 80, havia uma peculiaridade em Penedo, que era de serem mulheres a maioria do empresariado - tanto nos hotéis, quanto em restaurantes e lojas de artesanato - o que resultou numa diretoria da associação quase exclusivamente feminina. Unidas em torno de diversos projetos, sempre presentes às reuniões, esse grupo ficou conhecido como o “matriarcado do Penedo”, e que conciliando fortes laços de amizade com as necessidades das suas atividades profissionais, conseguiram promover eventos, e criar momentos inesquecíveis, na história cultural e social desse recanto encantador.
Após a emancipação de Itatiaia, em 1989, Malu Santa Rita teve papel relevante na organização do setor no novo município, empenhando-se pela criação do Conselho Municipal de Turismo, do qual fez parte. Amiga pessoal do prefeito Luis Carlos de Aquino, e uma das idealizadoras do Parque Temático Casa do Papai Noel, trabalhou incansavelmente pela desapropriação do terreno, que acabou tendo que ser comprado por um grupo, e pela implantação do empreendimento, do qual acabou se afastando, juntamente com um grupo de sócios originais, para dedicar-se prioritariamente ao seu próprio negócio. Além do hotel, ela administrava nessa época também um novo empreendimento, a agencia de turismo CachoeiraTour. E estudava e trabalhava para especializar-se em turismo de negócios, visando a atender às novas empresas que chegavam à região.
Seus esforços em busca do sucesso do Penedo, e sua maneira de ser, voluntariosa, nem sempre foram bem compreendidos, e após uma seqüencia de decepções pessoais e profissionais, Malu radicou-se em São José dos Campos, SP, há cerca de cinco anos. Há pouco mais de um ano foi diagnosticada como portadora de um hepatocarcinoma (câncer de fígado) tendo se submetido à quimioterapia, além de outros tratamentos. Apesar da doença, mantinha-se corajosa e só aparentando-a pela excessiva magreza. Decidida e independente, nos últimos dias optou por fazer uma dieta hídrica, na tentativa de reduzir um inchaço na barriga, e também a ocorrência de enjôo e vômitos. Seu quadro, entretanto, piorou, tendo sido hospitalizada no dia 7, e preferindo voltar para casa, e no dia 8, quando ficou inconsciente, situação que não se reverteu até seu falecimento, nesse dia 10 de março.
A última visita de Malu à Penedo foi no feriado de 12 de outubro de ano passado, sendo que depois dessa data não conseguiu mais suportar a viagem. Antes ela vinha regularmente, e mesmo de São Paulo ela se mantinha na administração do hotel, que vinha tentando vender. Seu último contato com o hotel foi no dia 6 de março, quando resolveu questões administrativas com seus assessores. Destemida como sempre, e disposta a enfrentar a doença, no dia 4 de março ainda foi ao supermercado com a empregada. Nos contatos com os amigos, sempre se mostrava disposta, e falando dos seus próximos compromissos. A mulher bela e inteligente que conhecemos, partiu altiva e corajosa, como sempre.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – Psicologia Biodinâmica ganha espaço em Resende



A Psicologia Biodinâmica, que se propõe a ser uma visão do mundo em que o corpo e a mente são elementos de um mesmo organismo, começa a ganhar espaço em Resende, com o início das atividades do Grupo de Movimento Biodinâmico, neste mês de março. Realizado em grupo, como o nome indica, esse trabalho tem o objetivo de aprofundar a percepção de si mesmo e do mundo, aumentar a vitalidade, o bem estar, e resgatar a capacidade de expressão criativa, pela desinibição e através do desbloqueio emocional.
O Grupo de Movimento Biodinâmico, em Resende, está sendo coordenado pela psicóloga Liliam Mota, em formação na especialidade pelo Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica. Para informações e inscrições, ela pode ser acionada pelo telefone (024) 9251-8442. Liliam esclarece que são utilizadas técnicas variadas de psicoterapias corporais, como dança, teatro, eutonia, fisioterapia e ioga, entre outras.
Segundo ela, “ao assimilar informações sobre si e sobre o outro, formam-se novos hábitos, expande-se a consciência e recuperam-se capacidades. O trabalho com Movimento significa ir à busca – interiorizar, conectar, constatar e expressar, dando direção. Através do desbloqueio das tensões, ativa-se a pulsação do organismo, amplia-se o fluxo e o equilíbrio energético. O resultado é um aumento da assertividade, desbloqueio emocional, redução do estresse e realização do potencial de prazer e alegria de viver.”
O CORPO RESPIRA, PULSA, CRESCE, AMA, SOFRE, DESEJA, PENSA E AGE
A Psicologia Biodinâmica tem como princípio a singularidade de cada ser humano, buscando incentivar sua criatividade, potência e espontaneidade, de forma efetiva, tolerante e não-invasiva. Enfatiza o amor, o prazer, o conhecimento, o trabalho e a espiritualidade como fundamentos para uma existência plena. A Psicoterapia Biodinâmica é sua aplicação prática, e se propõe a perceber cada pessoa como única, propiciando uma intervenção de acordo com suas necessidades e possibilidades, e que lhe permita conscientizar o que é inconsciente, em um processo gradual e profundo.
Surgida na década de 1960, em Londres, quando teve suas bases teóricas e técnicas formuladas pela psicóloga e psicoterapeuta norueguesa Gerda Boyesen, a Psicologia Biodinâmica vem influenciando um grande número de profissionais em vários países do mundo desde então. Radicadas em Londres desde 1969, Ebba e Mona Lisa, filhas de Gerda, passaram a trabalhar como psicoterapeutas biodinâmicas, e auxiliaram a mãe a desenvolver seus fundamentos, inclusive escrevendo artigos em conjunto com ela.
No Brasil, a Psicologia Biodinâmica surgiu através de psicoterapeutas que tiveram a oportunidade de contato na Europa, ao longo das décadas de 1970 e 1980, sendo influenciados por suas teorias e técnicas. Em grupos de estudo, cursos e supervisões, muitos profissionais foram tomando conhecimento dessas novas idéias, assim trazidas por eles. Essas idéias entretanto, foram assimiladas de forma difusa, juntamente com elementos de outras escolas neo-reichianas.
Era uma época em que a divisão entre as diversas formas de psicoterapia corporal não era tão nítida, e todos estudavam e praticavam um pouco de tudo. Em São Paulo, entre os primeiros terapeutas que ajudaram a difundir os ensinamentos biodinâmicos, podemos destacar Antônio Carlos Godoy, Maria Mello, Regina Favre e Rubens Kignel, sendo que este foi professor de Biodinâmica em diversos cursos de psicoterapia corporal, naqueles primeiros tempos, além de ter organizado os Cadernos de Psicologia Biodinâmica – em três volumes, publicados em 1983 – e o livro Entre Psique e Soma, de Gerda Boyesen, em 1986, quando ainda não havia um curso de Formação em Psicoterapia Biodinâmica no Brasil.
Essa situação só começou a mudar à partir de 1993, através de André Samson, que havia realizado a formação completa no Instituto de Gerda em Londres, e trabalhado por diversos anos como psicoterapeuta biodinâmico naquela cidade, e retornou ao Brasil em 1992. No anos seguinte, André e seu colega Ricardo, lançaram um curso de Massagem Biodinâmica, que acabou sendo o embrião do Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica e do Curso de Formação, reconhecido por Gerda Boyesen, o primeiro no Brasil e na América Latina. Desde essa época, Gerda e sua filha Ebba já estiveram várias vezes no Brasil, participando de cursos, seminários e outros eventos, que vem ampliando a divulgação de seu trabalho no país.
Célia Borges

17 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Gustavo Praça lança “Cavalo Baio” no C.C.Visconde de Mauá



ALDEIA GLOBAL – Gustavo Praça lança “Cavalo Baio” no C.C.Visconde de Mauá
O jornalista e escritor Gustavo Praça estará lançando, nesse domingo, 20 de fevereiro, no Centro Cultural Visconde de Mauá, o seu quarto livro, Cavalo Baio, em evento marcado para as 18 horas, com direito a autógrafos. A obra, que fala do mistério que abalou Penedo em 1960, é ilustrado pelo artista plástico Roberto Granja.
A trama criada a partir de um atentado ocorrido no casarão da Fazenda Penedo, que funcionava como hotel na época em que se passa a história, se desenrola num cenário real. O autor mistura personagens fictícios com personagens históricos, como Toivo Uuskalio e Toivo Suni, pioneiros na fundação da colônia finlandesa. Alguns personagens fictícios são baseados em pessoas reais, como o jornalista que conduz a trama, inspirado no escritor resendense Macedo Miranda.
O jornalista, hóspede do hotel onde acontece o atentado, decide investigar o caso, cujas pistas o levam a subir a serra, chegando a Mauá, Mirantão e Santo Antônio, região que também compõe o cenário do livro. Além da trama policial, a obra prende a atenção do leitor pela descrição minuciosa, quase cinematográfica, dos cenários onde a história se desenrola, retratando usos e costumes do povo desses lugares, e sua bela paisagem.
Conhecedor como poucos da história e das histórias de Penedo, e herdeiro de uma tradição cultural familiar, que une arte e literatura, política e turismo, Gustavo já escreveu e publicou também “Capinando o Rio”, de crônicas, em 1994; As Caravelas do Apocalipse, em 1999, e Sonho do Filósofo Agricultor, de 2006, com entrevistas sobre Toivo Uuskalio, pioneiro da colônia finlandesa de Penedo.
Para escrever Cavalo Baio, sua primeira novela policial – que ele faz questão de classificar como novela, e não como romance – Gustavo confessa que foi influenciado pelo escritor belga George Simonon, autor de vários romances policiais ambientados na França. “Em seus livros, Simenon humaniza a figura do detetive; assim como no meu livro o personagem que resolve fazer o papel de detetive é um jornalista”, comenta o autor, ele próprio jornalista, que há 30 anos trocou a grande imprensa do Rio por Penedo, e que segue como editor dos jornais Ponte Velha e Nariz da India, dois tradicionais veículos da região.
Segundo ele, a formação de Penedo tem duas vertentes principais, os finlandeses que chegaram a partir de 1929, e os lavradores que desceram dos vales mineiros do alto da Mantiqueira, desde 1950, para praticar uma agricultura de subsistência. Mais adiante, a partir da década de 1960, incluem-se mais duas vertentes, dos empresários que vêm de fora para investir no turismo, e o grupo dos alternativos, que nos anos 70 fizeram a opção de sair das grandes cidades em busca de uma vida mais próxima da natureza, numa espécie de reedição do sonho de Toivo Uuskalio, e entre os quais ele se coloca. Todos esses tipos encontram-se retratados um pouco em cada um de seus livros.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – Big Baixaria

Há algumas semanas recebi, e repassei para os meus amigos e contatos, um texto do Luis Fernando Veríssimo, sobre esse lamentável programa que é o tal de Big Brother Brasil. Aliás, o BBB e essas outras cópias que ouço dizer que existem por aí. Ouço dizer, porque não consigo perder nem um único segundo da minha vida para ver tanta bobagem e baixaria. O que não impede que toda essa futilidade invada meu espaço, e o de vocês, nas páginas de abertura dos nossos provedores, e nos anúncios das TVs.
Não tenho muito a acrescentar aos comentários do Veríssimo, com seu proverbial talento para as palavras exatas, mas não resisto a dar alguns palpites, na esperança de mobilizar o cidadão expectador para lutar pelos seus direitos, e escapar desse espetáculo de mediocridade que nos assola, no que parece uma enorme quantidade de dias por ano.
Num país que tanto sofre com a falta de educação – não só no sentido da escolaridade, mas também na falta de valores morais – é de se lastimar que tal tipo de programa se multiplique com tanta abundância, provendo a nossa TV desses shows de vulgaridade e promiscuidade, onde as notícias são quem beijou quem, quem agarrou quem, quem se esfregou com quem, quem trocou de parceiro e quantas vezes. É a exaltação do sexo sem conseqüências, numa competição de fofocas e esforços por revelar o mau caráter de cada um. Que vença o pior.
Será que essa é a única fórmula para se conquistar audiência? Será que para ganhar mais dinheiro é indispensável nivelar a população por baixo? Será que é lícito que empresários da comunicação esqueçam suas responsabilidades éticas, e continuem apelando para uma programação de baixo nível, para manter seus faturamentos em alta? Será que alguém se orgulha de projetar no sucesso fácil o paradigma de um futuro para a nossa juventude, desestimulando o esforço e o estudo? Ah, as perguntas são muitas...
Eu me lembro com saudades de outro tipo de programas, que existiram nos primórdios da TV, quando eu ainda era criança. Programas como O Céu é o Limite, uma competição para quem soubesse mais sobre algum assunto. Ou os programas de calouros, destinados a revelar novos talentos. Quantos estudiosos e artistas se revelaram nessa época? Quantos estudiosos e artistas poderiam ser revelados nos dias de hoje, se essas fórmulas de programa pudessem voltar, ainda que atualizadas? Quantas pessoas esforçadas e especiais – cientistas, pesquisadores, artistas e atletas - poderiam ter oportunidade de sair do desconhecimento, para contribuir relevantemente para a educação, a cultura, as artes do país? E merecer uma justa oportunidade para se desenvolver?
Não vejo qual é o mérito de incentivar a mediocridade. Nem aceito a idéia de que é preciso dar ao povo pão e circo, engambelando-o para perpetuar a ignorância. Aproveito a oportunidade para dizer também que acho lastimável essa cultura funk, machismo retardatário que se esmera em transformar a figura da mulher, não em objeto, mas em lixo. Cito isso, porque esses motivos, juntos, me fizeram ser chamada de “déspota cultural”. O que é valido nos meios ditos culturais, onde o critério universal é aceitar tudo.
Não se pode culpar o expectador do BBB, porque é só isso que a TV tem a lhe oferecer. Mas podemos culpar a TV por não dar acesso ao expectador a outras opções. Ou por criar essas opções e não colocá-las ao alcance do expectador, que é o que se faz com os canais oficiais. Mas o fato é que, se queremos mudar nossa cultura, se queremos melhorar nossa educação, esse processo passa necessária e indispensavelmente pela qualidade da programação da TV, que é o nosso meio de difusão mais amplo e abrangente, seja pelo melhor ou pelo pior. Pode ser um BBB, beirando a pornografia, ou uma nova produção, que exalte vocações e talentos, para as artes, ciências e literatura. O que desanima é que mudar isso depende de nós, e existem muito poucas pessoas, proporcionalmente à nossa população, dispostas a se mobilizar pelo país, pelos nossos jovens, pela nossa CULTURA.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – O adeus a Isabella Cerqueira, a atriz que escolheu a montanha



Atriz de cinema, televisão e teatro, Isabella Cerqueira – falecida no dia 1º de fevereiro passado, no Rio de Janeiro - inscreveu-se na história cultural da região, por ter criado e mantido, juntamente com o marido, o cineasta Carlos Frederico, o Teatro da Montanha, que por mais de 20 anos foi palco dos mais variados eventos artísticos produzidos e exibidos em Visconde de Mauá. Baiana de Novo Mundo, nascida em 1938, aos 15 anos mudou-se para o Rio, onde estudou teatro e dança, tendo trabalhado como comissária de bordo, e depois como modelo, em Paris, tendo desfilado para a Maison Dior em 1960.
Isabella estreou como atriz dois anos depois, na peça A Prima Dona, e no cinema, no mesmo ano, no filme Os Apavorados, última chanchada da Atlântida. Em seguida fez Cinco Vezes Favela, da Cacá Diegues, um marco do Cinema Novo. Em 1968 chega ao auge da carreira, estrelando Capitu, filme de Paulo César Sarraceni, que foi seu marido. Na televisão, foi destaque em novelas como Passos dos Ventos, de 1968, e A Cabana do Pai Tomáz, em 1971, além do seriado O Sítio do Picapau Amarelo, em 1978.
No teatro, trabalhou nas peças Dura Lex sex Lex, no cabelo só Gumex, de 1965, Viver é Muito Perigoso, de 1968, Quinze Anos depois, de 1985, Amar se aprende amando, de 1987, e Cora Coralina, de 1989. Sua filmografia é mais extensa: Cinco Vezes Favela, 1962, de Marcos Farias; Os Apavorados, 1962, Ismar Porto; O Desafio, 1965, de Paulo Cesar Sarraceni; Proezas de Satanás na Vila do Leva e Traz, 1967, Paulo Gil Soares; Capitu, 1968, Paulo Cesar Sarraceni; Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite, 1969, Miguel Faria Jr.; O Bravo Guerreira, 1969, Gustavo Dahl; A Cama ao Alcance de Todos, 1969, Daniel Filho e Alberto Salvá; Barão Olavo, o Horrivel, 1970, Júlio Bressane; Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa, 1971, David Neves; A Possuida dos Mil Demônios, 1971, Carlos Frederico; As Quatro Chaves Mágicas, 1971, Alberto Salvá; A Lira do Delírio, 1978, Walter Lima Jr.; Lerfa Mu, 1979, Carlos Frederico; Parceiros de Aventura, 1980, José Medeiros e O Mundo aos seus Pés, 1987, curta de Carlos Frederico. Seu último trabalho foi uma participação especial em Brasília 18°, de Nelson Pereira dos Santos, em 2006. No ano seguinte ela deu depoimento no documentário Panair do Brasil, de Marco Altberg.
Em 1970 ela casou-se com o cineasta Carlos Frederico, e no ano seguinte radicaram-se em Visconde de Mauá, onde fundaram o Teatro da Montanha, palco onde apresentaram inúmeros de seus trabalhos, mas que também sempre foi aberto aos demais artistas e animadores culturais, com todo o tipo de espetáculo e evento, de circo ao lançamento de livros. Com o falecimento do marido e companheiro de arte, em meados da década de 90, Isabella ainda manteve o teatro por algum tempo, mas vendeu o local e mudou-se para o Rio. Na semana anterior ao seu falecimento, Isabella Cerqueira fez uma última visita aos amigos de Visconde de Mauá, nos quais deixará saudades.
Célia Borges

4 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL - A responsabilidade do cidadão na proteção da Natureza

Enquanto vemos as intempéries tomarem aspectos cada vez mais catastróficos, afetando as populações dos mais diversos países, e os governos e instituições de proteção ambiental gastando bilhões de dólares, euros e reais, em busca de soluções para o aquecimento global – e com remotas perspectivas de resultados – a maioria das autoridades ainda permanece insensível e desinteressada numa medida crucial, que é o envolvimento do cidadão como participante da preservação ambiental. O mesmo cidadão que contribui para a degradação com o lixo que produz, pode ser vítima de enchentes e outros desastres, resultantes dessa degradação. E é cada vez mais premente, para frear esse processo, que cada um assuma sua parcela de responsabilidade.

“A participação da população na preservação ambiental é a solução mais simples, mais barata e mais eficiente para se obter resultados”, afirma um técnico no assunto, o Presidente da Agencia do Meio Ambiente de Resende - AMAR, biólogo José Paulo Fontanezzi, e completa: “Essa medida pode até ter custos à curto prazo, mas a economia à médio e longo prazos, principalmente considerando-se o ganho ambiental, e tão grande que é até difícil de avaliar”. Em sua opinião, o primeiro passo para essa conscientização do cidadão é o incentivo à Coleta Seletiva do lixo, que pode ajudar a promover uma mudança de hábitos dentro da casa de cada um, envolvendo toda a família, e funcionando como uma aula prática de educação ambiental para as crianças. Mudando a mentalidade e criando o que ele gosta de chamar de “o novo cidadão”.

Segundo Fontanezzi, a Coleta Seletiva em Resende é uma prioridade. O aterro sanitário do município, que encontra-se em avançado estado de exaustão, é o único da região, e recebe também o lixo dos vizinhos Itatiaia, Quatis e Porto Real. São 130 toneladas por dia, suficiente para cobrir um hectare de solo com uma camada de dois metros de altura, todos os meses. O município já implantou a Coleta Seletiva em 16 bairros, e o projeto é ir ampliando esse atendimento gradualmente. Ele lembra que, além de minimizar o impacto ambiental, a Coleta Seletiva também pode dar uma contribuição social: “através de associações regularizadas pelo atual governo, os galpões de reciclagem são fonte de renda de quase cem famílias, beneficiando mais de 400 pessoas”. Há também no município entidades assistenciais que recebem lixo reciclável para venda, aumentando seus recursos, e até as próprias famílias podem melhorar suas rendas, vendendo seu lixo, como latinhas, garrafas e papelão.

As finalidades do lixo reciclável podem ser as mais variadas, e hoje podemos encontrar, através da internet, inúmeros “sites” voltados para o assunto, ensinando técnicas para o reaproveitamento dos mais diversos materiais. Nas últimas semanas um e.mail divulgava o invento de um cientista japonês que consegue transformar plástico em combustível. Não precisamos chegar à tanto, mas podemos reaproveitar muito do que atualmente jogamos fora. O que não podemos reaproveitar, serve para ser separado e encaminhado a alguma finalidade útil. É simples, é fácil, e nem custa muito esforço.

Uma das maiores defensoras da Reciclagem é a artista plástica Fátima Porto, também de Resende, que vem há cerca de quatro anos transformando, e promovendo a transformação do lixo em arte. Curadora da exposição itinerante Lixo Zero, ela conseguiu reunir um grupo de artistas da região, que já produziam, como ela mesma e seu filho Flávio Alex Porto, ou foram incentivados a produzir, obras de arte com materiais recicláveis, constituindo acervos renovados todos os anos, e que são exibidos em locais como Câmaras Municipais e escolas, inclusive divulgando técnicas através de oficinas para estudantes.

Fátima Porto é também uma incansável divulgadora do trabalho do biólogo Luis Toledo de Sá, que construiu, na localidade de Santa Rita de Cássia, que fica entre Volta Redonda e Barra Mansa, uma casa totalmente construída com materiais recicláveis, e com funcionamento baseado na proposta de reciclagem. Dos tijolos de embalagem TetraPak, paredes de garrafas, ao reaproveitamento de toda a água utilizada, a casa é um museu vivo de reciclagem, que vale à pena visitar.

A consciência ambiental, que produziu os exemplos acima, não deve ser um privilégio de poucos. Como diz o biólogo Fontanezzi, “é preciso fazer com que as populações questionem o seu modo de vida, e fazê-las entender que, se os recursos do planeta não tiverem oportunidade de se renovar, e sob a pressão de uma demanda constante de consumo exacerbado, a vida no planeta, como a conhecemos, acabará de forma dramática”. Segundo ele, por menor que possa parecer, a atitude na casa de cada um já vai fazer grande diferença. E pode contagiar a rua ou o condomínio. O bairro... e a cidade.

Para você ter idéia de quanto a menor das atitudes pode fazer diferença, seguem os quadros de custo ambiental, divulgados pela AMAR:

PAPEL – A cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 1 hectare de floresta (1 tonelada evita o corte de 30 ou mais árvores; 1 tonelada de papel novo precisa de 50 a 60 eucaliptos, 100 mil litros de água e 5 mil KW/h de energia; 1 tonelada de papel reciclado precisa de 1.200 kg de papel velho, 2 mil litros de água e 1.000 a 2.500 KV/h de energia; com a produção de papel reciclado evita-se a utilização de processos químicos, reduzindo em 74% a poluição do ar e em 35% os despejados n´água; a reciclagem de uma tonelada de jornais evita a emissão de 2,5 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera; o papel jornal produzido a partir de aparas requer de 25% a 60% menos energia elétrica que a necessária para obter papel da polpa da madeira.

VIDRO – É 100% reciclável, portanto não é lixo: 1 kg de vidro reciclado produz 1kg de vidro novo; as propriedades do vidro se mantêm mesmo após sucessivos processos de reciclagem, ao contrário do papel, que vai perdendo qualidade; o vidro não se degrada facilmente, então não deve ser despejado no solo; para a produção de um material feito de vidro novo são necessários recursos naturais como areia, barrilha, calcário, carbonato de sódio, cal, dolomita e feldspato, sendo esse último um fundente muito raro; a temperatura para fundição é em média 1.500°C, necessitando de muita energia e equipamentos especializados; a reciclagem do vidro requer menos temperatura, economizando 70% de energia e permitindo maior durabilidade dos fornos; 1 tonelada de vidro reciclado evita a extração de 1,3 toneladas de areia, economiza 22% de barrilha (material importado) e 50% do consumo de água.

METAL – Matéria prima que requer exploração, processos tecnológicos sofisticados e altos custos energéticos, econômicos e ambientais; a reciclagem de uma tonelada de aço economiza 1.140 kg de minério de ferro, 155 kg de carvão e 18 kg de cal; na reciclagem de uma tonelada de alumínio economizam-se 95% de energia, 5 toneladas de bauxita e evita-se a poluição causada pelo processo, com redução de 85% de poluição do ar e 76% do consumo de água; uma tonelada de alumínio reciclada economiza 200 m3 de aterro sanitário; no Brasil, 64% (1,7 bilhões de unidades) são recicladas, superando países como Japão, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Ponto pra nós!!!

PLÁSTICO – Derivado do petróleo, recurso natural não renovável, a sua reciclagem economiza até 90% de energia e gera mão de obra pela implantação de pequenas e médias indústrias; 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 1 tonelada de petróleo.

Pense nisso. Um mundo melhor também depende de você. Mãos à obra!!!

Célia Borges

2 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Um estranho caso de condenação sem julgamento

Um cidadão, mecânico de profissão, pessoa conhecida em Resende, encontra-se preso desde meados de dezembro, sob suspeita de tráfico de drogas. Poderia ser um caso corriqueiro, se não fosse por certas circunstâncias estranhas que caracterizaram esse fato, e que vem despertando comentários na cidade. Em primeiro lugar, segundo o auto de prisão, aliás, dito “em flagrante”, o cidadão não portava nenhum vestígio de droga, nem com ele mesmo, nem no seu carro, que se encontrava estacionado próximo, e que foi devidamente apreendido e revistado.
A droga em questão - uma pequena quantidade de maconha, doze gramas - encontrava-se na posse de outra pessoa, que caminhava ao seu lado, e que no momento da abordagem policial, optou por afirmar que a droga pertencia ao citado cidadão, de quem teria comprado, por R$ 20,00. Afirmando ser usuária, essa pessoa foi autuada e liberada. Já o cidadão que não portava nenhuma droga, ao chegar á Delegacia, encontrou a presença da imprensa, aliás de diversos veículos, diante dos quais foi fotografado e alvo de reportagens que o apresentavam como “Traficante preso em flagrante em Resende”, publicadas não só em veículos locais, como A Voz da Cidade e Diário do Vale, como até em jornais da capital, como o Extra e o Jornal do Brasil. Entre outros.
Na maioria dessas matérias, foi esquecida a circunstância de simples suspeição, tendo sido o cidadão tratado como um criminoso contumaz. Sem julgamento, e sem direito à qualquer defesa, essa pessoa foi condenada publicamente, para grande impacto de seus familiares, amigos e clientes, e principalmente para o filho, de apenas 15 anos, e a quem sempre o cidadão procurou proteger do acesso ao vício. Alvo de uma acusação circunstancial, e com provas no mínimo insuficientes, ele encontra-se preso desde 15 de dezembro, penalizado antecipadamente por uma culpa da qual nem sequer foi julgado.
A prisão do cidadão foi, obviamente, planejada, já que os policiais reconhecem que estavam “de tocaia”, e a imprensa já estava na delegacia esperando. Segundo o registro, o cidadão em questão havia sido alvo de denúncias, justamente por permanecer frequentemente no lugar onde foi preso. Sua presença no local estava incomodando alguém, possivelmente alguém poderoso bastante para mobilizar a força policial, e permanecer anônimo. Alguém poderoso bastante para justificar o esforço da força policial, em prender em flagrante um cidadão que não portava drogas, e mesmo assim foi submetido ao vexame de uma condenação publica, antes mesmo de ser julgado, numa injustificável presunção de culpa.
A presença do cidadão naquele local, uma praça, pode ter uma explicação muito simples, que o denunciante e a polícia preferiram não considerar: vítima de um acidente de trânsito há pouco mais de um ano, o cidadão em questão sofreu grave fratura num braço, o que o obrigou a uma cirurgia delicada, meses de imobilidade, e outros tantos de fisioterapia, para tentar recuperar os movimentos e poder voltar a trabalhar. Por ser local próximo à casa dos pais, já idosos, onde foi criado, e onde vai constantemente, em seus momentos de imobilidade forçada, costumava permanecer ali por algum tempo, em horário de almoço e no final da tarde, trocando “um dedo de prosa” com antigos moradores do local, que o conhecem bem.
Enquanto os verdadeiros bandidos, armados e portadores de grandes quantidades de droga, continuam à solta, um cidadão que é reconhecidamente pessoa pacífica, contra a qual não se atribui nenhum ato de violência, permanece preso por uma droga que não estava em sua posse, e nem se provou que era dele. Um cidadão que, por ser apenas suspeito, merece um julgamento justo, e não uma condenação pública antes mesmo de ser julgado, como aconteceu no caso. Se alguém denunciou, que se apresente e mostre suas provas. Se o policial, como declara no auto, viu o suspeito colocar a droga na bolsa da testemunha, porque não fotografou. Se estava tão longe para não ser visto, quem garante que realmente viu.
Como jornalista, me repugna ver a imprensa ser usada para condenar antecipadamente pessoas que não foram ainda julgadas, motivo pelo qual esse caso me mobiliza tanto. Mesmo que venha a ser inocentada no julgamento, essa pessoa estará definitivamente marcada como criminoso, como marginal. Fico impressionada diante da irresponsabilidade da autoridade policial, tanto quanto a dos próprios colegas jornalistas, em condenar alguém sem a confirmação judicial da culpa. Isso nos remete ao nazismo, e não a uma democracia onde se respeita os direitos do cidadão. Inocente ou culpado, a imprensa já condenou esse cidadão diante da comunidade.
A maioria dos fatos acima é de conhecimento público, e podem ser verificados através da internet, nas notícias publicadas no dia 16 de dezembro do ano passado, e dias seguintes, nos jornais citados. Mesmo que inocentado, quem dará trabalho à essa pessoa, depois de publicamente condenada como traficante? E ainda que culpado, onde ficou o seu legítimo direito de defesa? Se fosse seu filho, seu marido, seu parente, o que você diria de uma prisão nessas circunstâncias? Como você pode se sentir seguro, se basta uma denúncia anônima para você ser transformado num criminoso?
Se o cidadão for culpado, que seja julgado, à tempo e à hora, no momento certo. O que é inaceitável é que a autoridade policial promova a condenação de alguém, por motivo fútil – como a apreensão de menos de 20 gramas de maconha – e sem a devida comprovação do ilícito. A palavra de uma pessoa contra outra, no mínimo, é um caso de dúvida razoável. Não seria de surpreender que alguém, diante de um risco pessoal de ser acusada de tráfico, acuse o outro que esteja ao seu lado, para se livrar do flagrante e da prisão.
Que a polícia e a justiça combatam o tráfico de drogas, é atitude que só merece o nosso aplauso. Mas o caso em questão mostra que, nessa luta, se permite o abuso da autoridade, em circunstâncias que podem penalizar quem não merece. Por trás desse suspeito, um mero número num processo policial e judicial, existe um cidadão, com sua família aflita por respostas, e que está sendo condenada, talvez injustamente, junto com ele.
Célia Borges

30 de janeiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Um piano para Visconde de Mauá

O Centro Cultural Visconde de Mauá, que tanto vem trabalhando para manter a vitalidade das atividades culturais na nossa região serrana, ganhou, merecidamente, um piano – que apesar de usado, encontra-se em ótimo estado. O doador foi o Maestro Marco A.B. Coutinho, de Brasília, que também conseguiu seu transporte, de “carona” numa mudança, até Niterói. Para vir de Niterói até Visconde de Mauá, entretanto, o custo está orçado em R$ 1.300,00, o que está acima dos recursos próprios do Centro Cultural, que também não poderá usar a verba do Ponto de Cultura, por tal despesa não estar prevista no orçamento.
Dessa forma, a única maneira de trazer o piano para Visconde de Mauá será contando com a ajuda da comunidade, que poderá fazer suas contribuições através das contas Itaú agencia 0320 e c/c 55664-0 ou Banco do Brasil agencia 0131, c/c 23670-5, ambas no nome de Márcia do Patrocínio G. Silveira, CPF 291661601-20. Márcia Patrocínio aproveita para agradecer a doação de um violino, pelo Alexandre, da Mauatec, que vai atender à turma de 16 estudantes desse instrumento musical.
Também nesse início do ano começam a ser recebidas as anuidades do Centro Cultural Visconde de Mauá para 2011, à partir de R$ 50,00, e que podem ser depositadas também nas contas acima. Márcia lembra que é preciso enviar e.mail confirmando a contribuição. Os recursos dessas contribuições são usados para a manutenção das atividades do CCVM, que oferece aulas de música e outras atividades culturais, para todas as faixas de idade, e criando eventos para a comunidade da região serrana.
Célia Borges

16 de janeiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – A sede de poder e as vidas desperdiçadas

As chuvas de verão na região sudeste do Brasil, e especialmente no estado do Rio de Janeiro, são tão previsíveis quanto a ambição desenfreada dos nossos políticos, quando chegam ao poder. A expressão “tragédia anunciada”, embora tão desgastada pelo uso, continua mais atual do que nunca. Não duvido que, até o final desse janeiro de 2011, tenhamos mais de mil vítimas à contabilizar em enchentes e deslizamentos de terras. Isso se a chuva der uma trégua.
Assim, é surpreendente que o nosso governador, recém-reeleito, tenha aproveitado justamente essa época para tirar férias na Europa. Férias que teve que interromper, é claro, diante dos trágicos acontecimentos – não encontrei sinônimos para isso – verificados na região serrana, central e norte do estado. As lições do Reveillon de 2009 para 2010, na Ilha Grande, em Angra e em Niterói, parecem não ter sido levadas a sério.
Eu não tinha ainda 15 anos, quando em 1966 vi, com meus próprios olhos, terras e pedras deslizando no Riachuelo, onde nasci, e morava então. Da janela de casa, numa ladeira em frente, na primeira claridade de uma manhã terrível, pude ver toneladas de entulho e pedras descerem morro abaixo, destruindo a maior parte da casa da minha avó Mariquinha, onde nossa família não morava mais, e onde, felizmente, os inquilinos saíram à tempo e sobreviveram. Os vizinhos das casas mais abaixo não tiveram a mesma sorte... a maioria morreu dormindo.
Confesso que essa experiência pessoal alimenta a minha indignação, ao ver, tantas décadas mais tarde, a mesma situação se repetindo indefinidamente. E constatando, com alguma amargura, que a nossa vida vale apenas o nosso voto. A nossa segurança e sobrevivência é assunto de importância secundária. Os recursos dos nossos impostos seguem servindo prioritariamente para pagar as mordomias daqueles que, eleitos, esquecem que vivemos numa democracia, e agem como se ungidos de poderes divinos, reis, imperadores, marajás, insensíveis à realidade da população brasileira.
Ano após ano, as promessas e discursos se repetem, nos momentos da tragédia, para serem esquecidos logo depois. “Vamos trabalhar muito, para que essa situação nunca mais se repita”. Vocês já ouviram isso antes. Eu já. Muitas vezes. No calor da comoção, vereadores, deputados e senadores se apressam em prometer e apresentar projetos, em reivindicar e destinar recursos. Tudo no papel. Prefeitos e governadores também se tornam os paladinos da salvação... de pessoas e lavouras. De vidas e de bens... que continuam se perdendo.
Desde 1966 – e só escrevo sobre o que sei e lembro – portanto há 44 anos, espero ver o desenvolvimento de projetos habitacionais que tirem as populações carentes das situações de risco, às quais são levadas por falta de opções de moradia. Nesse meio tempo, vi ser construído na Av. Chile, no centro do Rio, um prédio monumental e luxuosíssimo, para abrigar o BNH – Banco Nacional da Habitação – que já não existe, e nem cumpriu o seu papel. Os recursos da poupança, aprendi na adolescência, seriam destinados ao financiamento de imóveis, principalmente os populares. Se tivesse sido gerenciado com seriedade, se tivesse funcionado, não teríamos favelas nem gente morrendo em desabamentos de encostas.
Já vou fazer 60 anos, e tudo o que vi até agora foi a criação de redutos de marginalidade, como a Cidade de Deus, no Rio, e a Cidade Alegria, em Resende. Além de outros conjuntos habitacionais espalhados pelo Rio, que dá até tristeza ver. Não sei de onde as nossas autoridades tiraram o conceito de que, pobre tem que viver em lugares horríveis e de aparência miserável. A idéia deveria ser ajuda-los a melhorar de vida, mas o que se vê são construções de péssima qualidade, e que se deterioram facilmente, não só pelo seu conceito precário, mas pela falta de educação dos moradores. Que também não a recebem, e não por culpa deles mesmos.
Vivemos num país onde a desordem é institucionalizada. Desordem e retrocesso, é o que deveria constar na nossa bandeira, a bem da verdade. Aqui, ninguém é responsável por nada. A culpa é sempre do outro. O governador Sérgio Cabral, por exemplo, na primeira chance de dar entrevista, culpou os governos anteriores. Esqueceu o dele próprio, nos últimos quatro anos, que não mostrou nenhum avanço nessa questão. Se o governador tivesse gasto na contenção de encostas, o que gastou na sua campanha eleitoral pela reeleição, talvez muitas vidas tivessem sido poupadas. Mas disso, ele não vai se lembrar nunca.
A eterna desculpa é de que não há recursos. Não faltam recursos para que nos candidatemos à sede de um campeonato mundial de futebol, ou para sede das Olimpíadas. Mas para prover as nossas populações de melhores condições de vida, investir em projetos de habitação que ofereçam alguma qualidade de vida, em projetos ambientais que tracem limites para a ocupação humana, em educação e saúde para as populações mais necessitadas, para isso nunca há recursos suficientes. Nem a menor vontade política.
Pagamos os maiores impostos do planeta, e esse preço nos dá direito a ingresso para assistir ao triste espetáculo da miséria e do abandono em que se encontra grande parte da nossa população. De ver pessoas soterradas em avalanches, ou perdendo tudo o que construíram numa vida inteira. E tendo, como intervalos, as desculpas esfarrapadas das nossas autoridades incompetentes. Que sempre culpam os governos anteriores, e prometem providências, promessas esquecidas em um ou dois meses. E que só serão relembradas quando acontecerem as tragédias do ano que vem. Pois os temporais são tão previsíveis no verão, quanto a falta de providências, que evitaria o desperdício de vidas.
A violência dos temporais, devido a mudanças climáticas, sempre vai fazer os seus estragos. Como aconteceu na Austrália, recentemente. E onde morreram cerca de 20 pessoas. Mas as mudanças climáticas, aliadas ao descaso das autoridades, à falta de providências – menos de 1% das verbas federais para a contenção de encostas e remoção de moradores em áreas de risco no Rio de Janeiro chegou ao seu destino – e ao crescimento populacional desordenado, como acontece entre nós, tendem a fazer, a cada ano, um número maior de vítimas.
De quem é a culpa, depois de tantas vidas perdidas, só interessa se for para realmente evitar a repetição da tragédia. Podemos nos entristecer, mas principalmente, devemos começar a agir, cobrando ações efetivas. Muitos técnicos têm dado entrevistas nos últimos dias, e a maioria defende a tese de que é melhor prevenir do que remediar. Os custos para a reconstrução de áreas devastadas em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, só para citar os municípios mais atingidos, serão muito maiores do que aqueles destinados à prevenção, e que não foram devidamente aplicados.
Vamos aproveitar a deixa da presidente Dilma Rousseff, que supreendentemente apareceu no local da tragédia, 48 horas depois dos fatos – melhor que o Lula, que nunca foi a Angra – e começar a cobrar providências. Mas cobrar mesmo. Instituir um dia por mês como o “dia nacional da cobrança”, lembrar o que não está sendo feito, e se manifestar, começando pelas câmaras municipais. Escrever e mandar e.mails para deputados. Enviar cartas para os jornais. Se a indolência deles corresponde à nossa omissão, vamos agir. Só “botando a boca no trombone”, de preferência um grande trombone, é que podemos ter a esperança de ver o Brasil mudar.
Célia Borges