27 de junho de 2008

ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE – “Morte Súbita dos Cítricos” ameaça plantas enxertadas em limão-cravo e já chega ao Rio de Janeiro


As laranjeiras, limoeiros e outros cítricos plantados nas áreas rurais de Resende e Itatiaia, vêm apresentando nos últimos anos um acelerado processo de decadência, caracterizado pela infestação simultânea de várias pragas, com o ressecamento de galhos e troncos, comprometimento e perda das folhas, e retenção ou deformação de frutos. Nas minhas andanças por esses locais, venho observando isso há cerca de um ano e meio.

Primeiro considerei essa incidência como fatos isolados, mas no momento, empenhada na recuperação de um pomar em Visconde de Mauá, me vi diante de um problema que se revela mais amplo, já que além da contaminação generalizada e da destruição dos cítricos, pude observar que a doença parece ter se propagado para outras frutiferas, destruindo rapidamente espécies mais frágeis, como figueiras, pessegueiros e cerejeiras. Pensei em tratar o caso com podas radicais, inseticidas naturais e adubação intensiva, mas decidi antes de criar despesas desnecessárias para o cliente, pesquisar mais sobre o assunto.

As características da doença, conforme consegui levantar pela internet, são compatíveis com a MSC – Morte Súbita dos Cítricos – que nos últimos anos vêm provocando grandes prejuízos à citricultores, nas regiões interiores de São Paulo e Minas Gerais. Segundo informações colhidas na publicação especializada Caderno Agrícola, “a MSC vem preocupando o setor agrícola devido a rapidez com que aniquila as laranjeiras doces enxertadas de limão Cravo. Ela foi observada pela primeira vez em 1999 afetando laranjeiras de Valência, com 12 anos de idade, enxertadas de limão Cravo no município de Comendador Gomes-MG. Posteriormente expandiu-se para outras regiãos, e segundo o Fundecitrus, ela já atinge mais de um milhão de plantas no sul do Triângulo Mineiro e norte do Estado de São Paulo”.

Os estudos mais acessíveis, que vão até 2003, não indicam que ela se propague para outras espécies, e meu comentário sobre outras frutíferas é apenas produto da minha observação pessoal. O que se pode saber é que em março daquele ano a MSC já havia sido identificada em 14 municípios, sendo sete de São Paulo (Altair, Barretos, Colômbia, Guaraci, Nova Granada, Olímpia e Riolândia) e outros sete no Triângulo Mineiro (Campo Florido, Comendador Gomes, Frutal, Monte Alegre, Planura, Prata e Uberlândia). Em fevereiro de 2003 foi instituída uma “força-tarefa” pelos governos federal e estaduais de SP, MG e Paraná, ficando decidida varredura imediata em cerca de 210 milhões de plantas cítricas nesses estados.

O conhecimento empírico de que os cítricos enxertados em limão Cravo têm vida efêmera, como pude verificar, fazem parte da cultura botânica dos nossos homens do campo, que a chamam popularmente de “tristeza”, mas que entretanto não parecem ter idéia dos riscos à médio e longo prazo que significam a manutenção dessas espécies contaminadas. As plantas vão morrer, secando completamente ou dando origem à uma muda secundária de limão Cravo, mas não sem antes propagar a doença à sua volta.

Até onde consegui pesquisar, a MSC não tem cura, e a indicação para evitar sua propagação é o extermínio radical das espécies contaminadas. As suspeitas mais consideradas eram a da existência de algum tipo de “distúrbio fisiológico” decorrente do comportamento do limão Cravo como porta-enxerto. Motivo pelo qual, mesmo sem comprovação científica definitiva, passou a ser recomendado que se evite o limão Cravo como base de enxertos, ou que se recuse a reprodução de enxertias assim produzidas.

O comportamento dinâmico da Natureza, respondendo de formas variadas aos desafios impostos pela ocupação humana, vem criando novas doenças e distúrbios de ordem biológica, cuja compreensão pode ser demorada. Lidar com a natureza de forma atenta e responsável, faz parte do compromisso intrínseco do ser humano em preserva-la. Assim, estudar melhor o assunto e tomar as providências adequadas para evitar a propagação de pragas e doenças é a atitude mais recomendável, o que pode ser decisiva inclusive para a sobrevivência da espécie humana, sabe Deus quando!!!

Sem maiores recursos senão a prevenção, os estudiosos do assunto só tiveram a dizer, até agora, que é indispensável erradicar as espécies contaminadas, e passar a fazer replantio com mudas enxertadas em outras espécies alternativas, que não o limão Cravo. Na dúvida, pode ser um investimento para evitar a perda de outras frutíferas. Mas pelo visto, é assunto longe de ser esgotado. Quem quiser conferir, indico pesquisa Google, com o nome Morte Súbita dos Cítricos, onde estão disponíveis vários trabalhos.

Célia Borges