21 de novembro de 2009

ROBERTO DONATI – Um resumo biográfico possível


O nome de Roberto Donati é frequentemente associado ao do pintor Alberto da Veiga Guignard, por ter esse genial artista vivido em alguns períodos, entre 1940 e 1944, no Hotel Repouso, em Itatiaia, de propriedade de Donati, de quem era grande amigo. Ali, recuperando-se de problemas de saúde e encontrando abrigo para enfrentar as dificuldades financeiras, Guignard teve um período extremamente produtivo, do qual ainda se conhecem alguns quadros.
Donati foi amigo de muitos artistas – compositores, músicos, cantores líricos, romancistas, poetas e pintores – que freqüentaram o seu hotel desde 1931, quando foi inaugurado, mas as referências biográficas sobre ele mesmo são raras. Há um esforço de pesquisa sendo realizado para recuperar documentos, já que a maioria das informações que se pode obter, são resultado de lembranças de pessoas que conviveram com ele.
Roberto Donati nasceu em Berlim, por volta de 1886, tendo deixado a Alemanha logo depois da primeira Guerra Mundial, estabelecendo-se em Paris, onde dedicou-se ao comércio de peles. Essa mesma atividade levou-o a Argentina, onde viveu até meados da década de 1920, quando veio para o Brasil, onde radicou-se definitivamente. Homem culto, falava oito idiomas e tocava piano. E foi justamente a música que o inspirou para uma nova atividade profissional, quando veio para o Rio de Janeiro, tendo adquirido a Casa Carlos Wers, especializada na venda de instrumentos musicais e partituras.
Mais que um negócio, a Casa Carlos Wers foi um ponto de encontro dos artistas da época, onde Donati teve a oportunidade de cultivar uma verdadeira legião de amigos, que preenchiam sua vida solitária. Tendo perdido na guerra a família, os amigos, e possivelmente aquela que teria sido o grande amor da sua vida, tinha em seu país natal apenas duas sobrinhas...e foi no Brasil que ele encontrou um novo tipo de fraternidade, entre pessoas com as quais partilhava sua sensibilidade e generosidade.
Pouco depois de chegar ao Brasil, Donati conheceu Itatiaia, onde costumava hospedar na famosa Pensão Walter. Encantado com o local, onde encontrou outros imigrantes europeus, vindos em 1908, na época da criação do Núcleo Colonial do Itatiaia, Donati adquiriu em 1928 a gleba 128, do mesmo casal Walter que o hospedava. E ali construiu o Hotel Repouso, inaugurado três anos mais tarde. Na época não havia estrada, e o material da obra era transportado em carros de bois. E os hospedes tinham que chegar lá à cavalo.
Em poucos anos, o hotel transformou-se em seu principal interesse, tendo fechado a Casa Carlos Wers para dedicar-se integralmente. Afinal, o hotel era também um bom endereço para receber seus muitos amigos, como o poeta Vinicius de Morais, que se refere a ele em algumas cartas. E como Alberto da Veiga Guignard, que retribuía a hospitalidade de Donati pintando muito, inclusive nas portas, paredes, traves e janelas da cabana que ocupou, e na sede do hotel.
O Hotel Repouso hoje, chama-se Hotel Donati, por iniciativa dos novos proprietários, herdeiros do casal Marina e Mamede Vidal de Andrade, que o administraram durante décadas, e inclusive em seus últimos anos de vida. Donati adotou-os, assim como a alguns dos seus vizinhos em Itatiaia, como a sua verdadeira família, tendo sido padrinho das duas filhas do casal, Dora e Dalva. E deixou-lhes o hotel, hoje administrado por Dora e seu filho Carlos Eduardo, como herança.
Roberto Donati faleceu entre 1967 e 1968, não tendo sido possível precisar a data, mais de 80 anos. A cabana onde Guignard morou, e que é uma das atrações do hotel, ainda mantém as pinturas do artista, e onde, apesar da necessidade de reforma por que passou, continuam preservadas.
Célia Borges

IMAGENS DE ITATIAIA – Desordem urbana





A proposta da atual administração de Itatiaia, de apoiar e incentivar o turismo como prioridade no município, parece ter caído no esquecimento, antes mesmo de se completar um ano de mandato. Um bom testemunho disso são as condições em que se encontra Penedo, uma das suas principais regiões turísticas.
A prefeitura argumenta que não tem dinheiro, mas muitos dos problemas e situações existentes dependem mais de trabalho e vontade política, o que parece que, além da crônica falta de verbas, também não está existindo na proporção necessária.
Além dos inúmeros buracos nas principais vias de acesso, quem transita por Penedo encontra situações completamente absurdas, como a pista de uma das avenidas principais, a Avenida Penedo, no Jardim Martinelli, onde trafegam linhas de ônibus e caminhões, além dos demais veículos, ser usada para “virar cimento” de uma obra, e isso durante semanas, sem ser incomodado por qualquer fiscalização.
Veículos avariados, abandonados nas ruas por seus proprietários, também durante semanas, sem pneus, e até sem as rodas (o da foto está há meses, no alto da ladeira do Formigueiro) mostram que a falta de fiscalização permite todo o tipo de abuso. Até uma obra, em terreno com grande encosta, sem qualquer placa de identificação, o que pressupõe clandestinidade, está sendo realizada, para a perplexidade de uma parcela da população local, que se preocupa com a coletividade.
Ao prometer tratar o turismo como prioridade, o atual governo de Itatiaia apostava nessa atividade como fator de desenvolvimento econômico sustentável, associando-a com uma política ambiental à altura do que o município, com seu grande patrimônio natural, precisa e merece. Mas até agora, muito pouco, ou nada, evoluiu, nas políticas voltadas para esses dois setores. E o prefeito, como as demais autoridades do país, começa a procurar refúgio na política da desculpa esfarrapada, também conhecida como “eu não sabia”.
Célia Borges