3 de abril de 2008

ALDEIA GLOBAL XXV – Será que o sucesso econômico justifica a corrupção, a impunidade e a arrogância?

O ex-presidente FHC não é exatamente pessoa que mereça muita consideração da minha parte, porque acho que ele é responsável por muitos dos problemas que enfrentamos hoje. Nunca vou esquecer a forma, no mínimo deselegante, com que ele tratou seu antecessor, Itamar Franco, que tanto contribuiu para que ele fosse eleito. Não vou esquecer que ao invés de investir na educação e na saúde, ele iniciou seu governo apostando todas as fichas num projeto de reeleição.

Sofro de um grande problema para o cidadão dos dias atuais, que é o fato de ter boa memória. Nunca pensei que isso doesse...mas dói. Por isso me lembro do FHC como um sujeito vaidoso, irresponsável e arrogante. Lembro dos sorrisinhos de escárnio do Dr. Malan e de outros economistas prepotentes, daquela “gang” que eu definiria como “os escravos do mercado”, tratando a todos nós como se fossemos apenas um bando de ignorantes.

Não gosto do FHC, mas tenho que concordar com ele em pelo menos um dos seus comentários recentes: falando sobre os altos índices de aprovação do nosso presidente nas pesquisas de opinião da semana passada, ele disse apenas que “em se tratando do Brasil, eu não duvido de mais nada”. Engraçado, eu também não... Tenho a impressão de que estamos chegando ao caos absoluto, ultrapassados todos os limites.

Senão vejamos: o Ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, num jantar de promovido pelo presidente do PMDB Michel Temer, em desagravo à ministra Dilma Rousseff, declarou sobre fatos veiculados pela imprensa nas últimas semanas sobre a bisbilhotice nas contas do presidente anterior, como defesa para as falcatruas do atual governo: “Esse dossiê tem eco zero na sociedade”.

E eu me pergunto: como assim? Tem eco em mim...e em muitas pessoas que eu conheço. Será que não fazemos mais parte da sociedade. Eu não me lembro quando foi que eu dei procuração à esse cidadão para falar por mim. E para a minha sorte, nunca votei nele pra nada. Preocupado em desculpar os desmandos da ministra, ele fala como se fosse uma “pitonisa” moderna. Mas diferentemente do objetivo daquelas figuras mitológicas, essa é daquele tipo que fala sempre tudo ao contrário.

E o pior é que estamos nos acostumando com esse discurso do contrário, pois ele predomina no conteúdo de praticamente a totalidade dos pronunciamentos oficiais. E também nos extra-oficiais. Só pra ficar no caso da ministra Dilma, sua intenção de atingir o governo passado já havia sido manifestada publicamente, e até divulgada nos jornais. Diante disso, as desculpas e negativas de responsabilidade não passam de puro cinismo, atitude aliás bastante comum entre as autoridades do PT.

O esforço para ameaçar, fazer chantagens, e até “partir para o berreiro” como tem sido feito pelo nosso presidente, com relação à qualquer oposição ao atual governo, já é, em si, um comportamento pra lá de suspeito. Quem está contando com tão grande aprovação popular, como parece apontar a última pesquisa do IBOPE, deveria estar mais tranqüilo no exercício do poder, sem precisar se esgüelar, se descabelar, mostrar tanto desespero em defesa do “status quo”, ou fazer campanha eleitoral fora de época, como faz o presidente. E poderia estar tratando a oposição com mais respeito.

Diante de qualquer crítica ou de constatação de fatos desabonadores sobre seu governo, seus ministros e auxiliares, ou mesmo de seus aliados políticos, o presidente saca logo as palavras de ordem sobre o sucesso econômico de sua administração. Afinal, “nunca antes nesse país” se viu tamanha contradição entre os fatos e as suas interpretações, versões, desculpas e explicações. Como também nunca se viu um presidente da República confraternizar, tão prioritariamente, com todo o tipo de suspeitos e acusados de desmandos, corrupção e mau uso de recursos na política e na administração públicas.

Essa persistência em defender a desonestidade, em justificar os piores comportamentos e em desprezar tão acintosamente a ética, revela uma personalidade sem princípios morais, sem educação e sem caráter. Não ter escolaridade não significa nessariamente não ter educação, e acredito que cada um de nós já deve ter visto exemplos disso pela vida afora. Mas nosso presidente desconhece isso, e age como se a pobreza fosse justificativa para a delinqüência. Eu vejo nisso uma manifestação de desprezo e arrogância contra os próprios “pobres” que ele diz tanto defender.

Priorizar um desenvolvimento econômico em bases falsas – porque só através da educação e do senso de cidadania se pode contar com um desenvolvimento verdadeiro – e deixar que os valores morais se esvaziem diante de tantos maus exemplos, não me parece a política mais adequada para um “crescimento sustentável” ou para garantir uma justiça social sólida e eficiente.

Será que dar esmolas, em lugar de educação, saúde e trabalho, vai resolver os problemas da nossa pobreza? Será que dificultar as condições de sobrevivência da classe média – a legião de professores, médicos, técnicos de todas as áreas, profissionais liberais, aposentados e pensionistas, tão penalizados pela tal vitoriosa política econômica – é uma opção que garanta o nosso desenvolvimento? Aprofundar desigualdades, promover conflitos raciais, garantir a livre agiotagem dos bancos, será que isso vai nos levar a ser um país forte e soberano.

Não acredito nessa pesquisa do IBOPE, que através de uma amostragem com duas mil pessoas, num universo de quase duzentos milhões de habitantes, deu tanta aprovação a esse governo. Eu, pessoalmente, vejo em tudo isso um prenúncio de desastre. Se o país virar um lugar insuportável pra viver, o Lula já tem sua vidinha garantida, pois pode se mudar para a Itália em companhia de D. Mariza. E eu, sinceramente, só espero não viver tanto para ver isso acontecer.

Célia Borges