25 de maio de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM XVI – Bonsais: cultivando obras de arte (segunda parte)


Bonsais não são plantas como todas as demais. Não basta comprar um espécime, colocar o vaso num canto (ainda que extremamente adequado) e regar de vez em quanto. Bonsais exigem do jardineiro um relacionamento constante, toda a atenção que for possível, e até mesmo uma espécie de ligação afetiva...como uma paixão, ou pelo menos um namoro. Aliás, um longo nomoro.

Em princípio, um bonsai autêntico deve ter mais de 20 anos (a média é entre 30 e 45 anos), podendo, portanto, ser até seu contemporâneo. E se for bem tratado, pode sobreviver à você e chegar aos seus netos. Essa perspectiva de longevidade, e ainda mais de uma miniatura, mostra traços de requinte da cultura oriental onde se originou, há seguramente mais de dois mil anos, assim como traduz o empenho do ser humano em tentar domar a natureza.

Mas, domar a natureza, também significa conhece-la e respeita-la, de forma que, ao comprar um bonsai, é bom estar preparado para ser conquistado por ele, admira-lo e corteja-lo, no sentido de adivinhar suas necessidades, e atende-las. Quanto mais jovem, maiores serão suas exigências até chegar à plenitude. A cada aniversário da sua plantinha, viçosa e saudável, comemore. É sinal de que você fez por merecer. E de que está valendo à pena o investimento.

O custo é proporcional ao tipo de planta e à idade, sendo que uma espécie importada com 15 anos chega à mil reais, e uma adaptada, entre R$ 500 e R$ 700. Para a faixa de 30 anos os valores dobram, sendo que, à partir daí, cada caso é um caso, e não há limites de preço, considerado-se principalmente o resultado estético obtido pelo mestre. Há excelentes bonsais entre R$ 2 mil e R$ 6 mil. Entre R$ 10 mil e R$ 30 mil é possível comprar uma verdadeira jóia. Quanto mais belo, mais harmônico, mais perfeito, mais caro. Por um lado, é como comprar uma obra de arte. Por outro, é como comprar uma obra de arte que nunca vai ficar pronta, se você não cuidar dela.

Estudar a localização adequada e providenciar as podas necessárias são os primeiros pontos para quem quer cultivar bonsais, como já tratamos na primeira parte dessa série. O bom gosto artístico de cada um é opcional, mas pode fazer grande diferença no resultado, assim como a disposição para observar a natureza, ao ar livre, em sua plenitude, pode ser inspiradora na hora de dar personalidade ao seu bonsai.

Outras providências são (1) ter ferramentas nos tamanhos adequados, quanto menores melhor, ainda que tenha que improvisar, entre elas garfo, gancho, tesouras e vários tipos de alicates; (2) procurar no mercado os produtos adequados para adubação, nutrição e controle de pragas, considerando que as pequenas dimensões do bonsai exigem dosagens específicas desses recursos (inseticida natural, cicatrizante, NPK 10-10-10 e vitaminas para as raízes); (3) observar o comportamento de sua planta para determinar a quantidade de regas, mudança de localização, e exposição às condições naturais mais adequadas para que permaneça sempre saudável.

Os bonsais mais jovens, provavelmente, vão exigir replantio, para transferi-lo do vaso de treinamento para o vaso definitivo ou quando se observar crescimento excessivo das raízes. É importante ter-se em mente o formato que se quer dar: existem vários estilos herdados da tradição oriental, de acordo com o formato do tronco, dos galhos e das folhagens. No bonsai maduro, é importante respeitar esse formato, mas no mais jovem, você pode interferir, e modifica-lo ao seu gosto. Para conhecer todos esses estilos, existem alguns pequenos manuais nas lojas, e você poderá pesquisar através da internet. Na próxima postagem estarei escrevendo sobre os mais populares.

O replantio começa com a escolha do vaso e a preparação do substrato cuja composição mais indicada é 50% de terra granulada de cupinzeiro (ou equivalente adquirido em lojas), 50% de pedriscos de rio (3mm) e brita bem fina (2mm). O fundo do vaso sobre o furo de drenagem deve receber uma camada de tela, fixado de preferência por arame de cobre e coberta por uma parte do pedrisco; coloca-se um pouco do substrato novo até a metade do vaso, acomodando a planta em seguida, depois de ter desbastado as raízes; completa-se com o restante do substrato, dando acabamento com uma fina camada de pedriscos ou de musgo.

Essa manutenção é indicada principalmente na primavera (mas apenas nos bonsais mais jovens e quando houver necessidade). O trabalho de dar formato ao tronco e aos galhos pode contar com a ajuda de arames flexíveis, enrolados com firmeza mas não muito apertados para não estrangular a planta no processo de crescimento. Para alguns formatos mais simples, pequenas ripas de bambu e barbante grosso podem ser suficientes, desde que consigam manter a planta na posição desejada.

O cultivo de bonsais encerra também alguns mistérios e segredinhos, sobre os quais escreverei no próximo e último texto sobre o assunto. Como os estilos e as espécies para eles indicadas, os macetes para se identificar a idade dos bonsais e algumas fórmulas para adubação.

Célia Borges