27 de março de 2008

PAISAGISMO E JARDINAGEM IV – Ervas e temperos em pequenos espaços


O cultivo de mini-hortas ou de ervas medicinais em vasos e jardineiras, solução para quem mora em apartamentos ou em casas com pouco espaço externo, pode parecer inicialmente uma impossibilidade. Mas muita gente já tentou isso antes, com bons e maus resultados. É célebre a história do escritor Rubem Braga, que teve um exuberante jardim, inclusive com ervas e frutíferas, no restrito espaço de sua cobertura em Ipanema, lá pelos anos 60.

Existem outros casos bem sucedidos em grandes cidades do mundo inteiro, é só folhear revistas especializadas que vamos encontrar sempre um bom exemplo. Essas matérias são um incentivo, mas não uma garantia. É possível, sim, cultivar ervas, verduras e até frutíferas num espaço pequeno, ou mesmo num ambiente interior. A questão se resume apenas em encontrar a espécie certa para o espaço adequado.

As ervas medicinais e de tempero são as que oferecem maiores possibilidades: além de diversas espécies serem bem adaptadas à meia sombra, não costumam exigir muito espaço. Respeitando o potencial de crescimento de cada uma, elas podem ser plantadas individualmente em vasos, ou compor arranjos em jardineiras, canteiros ou até mesmo em caixotes de madeira forrados com materiais apropriados.

Um mínimo de luminosidade é indispensável para a maioria das plantas, e para esse tipo, especialmente. Se houver chance de algumas horas de sol, aumentam as possibilidades se sucesso no cultivo. É importante observar que algumas espécies possuem cheiro bem forte, o que deve ser levado em consideração na hora de escolher a localização, para que, o que devia ser um prazer, não se transformar em um incômodo.

Entre as espécies com maiores possibilidades de cultivo nessas condições estão as seguintes:

ALECRIM – Medicinal, para tempero, e perfumada, podendo ser utilizada inclusive com base para incensos. Chega a 50 cm de altura e seu “habitat” original é o clima mediterrâneo, sendo bem adaptada ao temperado até o sub-tropical.

ALFAVACA – Medicinal, para tempero e extremamente perfumada, nativa do interior da região sudeste do Brasil, podendo ser bem adaptada ao clima tropical.

COENTRO – Medicinal, para tempero e perfumada, sendo conhecida na Europa desde a Idade Média, bem adaptada aos climas temperado e sub-tropical, oferece boa possibilidade de cultivo.

ERVA-CIDREIRA – Medicinal, para tempero e perfumada, conhecida desde a antiguidade grega, e com grande facilidade de adaptação aos mais variados locais.

HORTELÃ E MENTA - Existem as espécies Mentha spicata, crispa, piperita e pulegium, todas medicinais, para tempero e perfumadas. Conhecidas desde a antiguidade grega, crescem entre 30 e 60 cm, e são bem adaptadas, exigindo apenas um mínimo de sol por dia.

MANJERICÃO – Cultivada pelos hindus e no Egito há mais de 4.000 anos, é medicinal e aromática, mas usada principalmente como tempero. Cresce até 50 cm e tem boa adaptação em climas temperado e sub-tropical.

MANJERONA – Também cultivada desde a antiguidade, medicinal, para tempero e aromática, cresce até 30 cm e é bem adaptada a todos os climas.

ORÉGANO – Outra erva cultivada desde a antiguidade grega, cultivada e usada nos países mediterrâneos, serve principalmente como tempero. Cresce até 50 cm e é bem adaptada aos climas temperado e sub-tropical.

Outras ervas, como a Camomila e a Lavanda, podem ser cultivadas em espaços pequenos, mas exigem a condição de “touceiras”, então a adaptação aos vasos e jardineiras fica mais difícil. Salsa e cebolinha não são difíceis de cultivar, o grande problema é que não é possível fazer sementeiras (á partir dos saquinhos de semente) em pequenas quantidades, então o ideal é comprar mudinhas de que faz sementeiras para hortas maiores, para evitar o desperdício de mudas. Esse é o mesmo problema, por exemplo, da alface em vasos, assim como de outras verduras.

Já as frutíferas, hoje é fácil encontrar nas floriculturas, ou encomendar nas lojas especializadas, espécies adaptadas para vasos. A laranjinha japonesa é uma das espécies mais interessantes para esse uso, mas existem outros, como por exemplo as “lichias”. Mas como a criatividade de um bom jardineiro, mesmo dono de um pequeno espaço, não tem limites, você pode se atrever a tentar cultivar a fruta de sua preferência. É só cuidar da sua plantinha com carinho, procurar ver onde ela se sente melhor, e ir aceitando o desafio de faze-la um sucesso. A Natureza é cheia de surpresas, e frequentemente ela retribui aos nossos esforços, além do esperado.

Célia Borges

ALDEIA GLOBAL XXII - O Estado delinqüente e a conivência entre os Poderes

Os jornais de hoje estampam na primeira página o nosso presidente, em pleno palanque eleitoral, afirmando alto e bom som que vai “fazer o seu sucessor” e até já adiantando quem vai ser o candidato, ou melhor, a candidata cuja eleição está convicto de garantir, a “mãe do PAC”. E ainda manda um recado à oposição, para “tirar o cavalo da chuva”. Só faltou mandar dizer a nós outros, cidadãos, para colocarmos as nossas “barbas de molho”.

A arrogância, e sua amiga dileta, a estupidez, parecem ter tomado conta do nosso país, sem qualquer limite. Depois de ver os três Poderes rasgarem a Constituição com tanta freqüência (Haja exemplares!!! Haja cidadania!!!), agora temos que enfrentar mais esse tapa na democracia. Porque afinal, se o presidente acha que pode ter a palavra final sobre os desígnios políticos/institucionais do país, pra quê eleições, não é mesmo?

Nessa “democracia relativa” em que tentamos sobreviver, tudo é permitido a quem está no poder. O próprio processo eleitoral, completamente viciado, privilegia a politicagem profissional, a corrupção e todos os demais tipos de abuso daí decorrentes. A opção de manter a educação em níveis tão baixos, facilitando a manipulação da população, é apenas o aspecto mais cruel desse “iceberg” anti-democrático em que se transformou a vida política do país.

A audácia autoritária do presidente já seria assustadora, se dissesse respeito apenas à questão da sucessão. Mas infelizmente ela é apenas mais um dado na escalada de impunidade que nos assola, e que está presente em todos os aspectos da nossa vida, não apenas como eleitores, mas também como contribuintes e cidadãos. Pagamos a maior carga tributária do planeta, e não temos direito assegurado à nada.

A falta de educação nos nivela por baixo, e assim somos tratados, todos, como cidadãos de quinta categoria pelos órgãos públicos: a Receita Federal age como se fossemos todos uns fraudadores em potecial; tirar um passaporte, que devia ser direito líquido e certo de qualquer pessoa, exige paciência e sofrimento; somos submetidos aos mais altos custos burocráticos para quase qualquer coisa que se precise fazer... Quem paga todos os impostos e cumpre todas as exigências legais é penalizado de todas as maneiras. E sistemas complicados são um convite à sonegação.

Se houvesse algum vestígio de “reserva moral” no Brasil, seria inadmissível que um presidente fizesse o que o nosso vem fazendo: ele não cumpre as leis, e ainda manda o Judiciário “lamber sabão”. Não respeita o Legislativo e usa recursos que são produto do nosso trabalho para comprar votos e consciências, tendo como objetivo não um projeto de governo que leve o país no patamar de desenvolvimento que merece, mas apenas o projeto de poder que garanta os privilégios dessa nova elite de “novos poderosos”, tão apegados e deslumbrados com o poder.

A chamada “dívida interna”, tão monumental, pode ser traduzida como a soma dos delitos do Estado contra o cidadão brasileiro, como a falta de investimentos na Educação, na Saúde, na Segurança, que afinal, são o finalidade dos nossos impostos. O Estado é delinqüente enquanto é responsável pela perda de vidas, resultado da omissão e irresponsabilidade de seus representantes. Não cumprir leis, não pagar o que deve, valer-se de ilegalidade para obter resultados... a lista de crimes já seria imensa, se não nos lembrássemos também do nepotismo, do uso indevido de cartões corporativos, do uso de informação privilegiada...enfim...não tem fim.

O equilíbrio entre os três Poderes, que devia ser um importante fator para regular forças, para amortecer impactos, para neutralizar excessos, parece ter se perdido nas brumas das ambições pessoais... e o caso é que não funciona. A balança agora sempre pesa para o lado de quem está no Poder. E o Poder só está ocupado em seus próprios interesses. Ancorado no apoio dos mais ricos (que estão sendo extremamente bem tratados) e dos mais pobres (via clientela eleitoral), ele, o Poder, sabe que, se tudo der errado, vai poder descarregar a culpa dos bodes expiatórios de sempre: a classe média e a imprensa.

Célia Borges