23 de dezembro de 2007

VII - Mensagem pra quem não gosta de Natal

Nesse período de festas, por mais que tentemos resistir, sempre acabamos envolvidos naquilo que se convencionou chamar “a magia do Natal”. Você jura que só vai comprar umas lembrancinhas para as crianças, que não vai exagerar nas festas de confraterização...enfim, os bons propósitos do Ano Novo geralmente começam antes do Natal. Deve ter gente que consegue... Eu não conheço ninguém. Aliás, começando por mim mesma.
Mas sempre encontro pessoas – entre familiares, amigos e conhecidos – dizendo que detestam Natais, que as festas de fim de ano são uma tortura...e que por isso, não estão aceitando convites para nada. Vejo isso acontecer ano após ano. Durante muito tempo consegui converter “resistentes à festas”, promovendo eu mesma algumas ceias de Natal informais, tudo meio que de última hora...e reunindo, o por assim dizer, “clube dos corações solitários”.
Tenho boas lembranças dessas situações, exemplos de amizades que se formaram nesses encontros, de gente interessante que conheci e que só encontro raramente, e até de alguns que jamais reencontrei. Minha família é “sui generis” e depois que minha avó paterna morreu, quando eu tinha 12 anos, não houve mais “Natal em família”. Então, meus amigos solitários foram, durante muitos Natais, a minha família improvisada...e nem por isso menos menos importante, alegre e relevante.
Sempre gostei de festas, principalmente dos Natais. Quanto tinha criança em casa (a minha criança, Sylvinha) tudo era emoção...a casa sempre cheia, mais de amigos do que parentes. Mas o mundo dá voltas, e hoje sou eu quem me vejo na situação do “clube dos corações solitários”. Minha filha está longe, o resto da família também...e esse ano eu é que vou levar meu “coração solitário” pra festa de alguns amigos...cheguei a pensar em passar o Natal sozinha, vendo Tv, ligando pra alguns amigos distantes...mas pra que?
Compreendo que nesta época em que a maioria das pessoas comemora – e festejar parece uma necessidade intrínseca da natureza humana – a problemática de viver só, de se sentir desconfortável diante da vida, de estar carente ou deprimido, parecem ainda maior...Eu gostaria de estar promovendo uma festinha pra reunir esse pessoal, porque desse povo “bicho grilo” acabam sempre se revelando algumas coisas sutis, engraçadas, brilhantes, geniais...
Por isso, peço licença pra recomendar aos meus amigos festeiros que, nessa época, se lembrem daquele amigo sozinho. E aos solitários resistentes, que dêem uma chance à alegria. Afinal, o mundo tanto pode ser grande quanto pequeno. Mas a vida é sempre curta... pra se perder tempo com a solidão. No mínimo, vale a pena chegar na calçada e cumprimentar o vizinho.
Vou meio encabulada pra festa da família dos amigos, mas tenho certeza de que vou me divertir. Não pude fazer esse ano a festa dos “corações solitários”, mas me aguardem!!! Quem sabe ano que vem?
Célia Borges

17 de dezembro de 2007

15 de dezembro de 2007

VI - A Crueldade do Assistencialismo

Vivemos numa sociedade caótica, caracterizada por uma total inversão de valores – éticos, morais, religiosos – e o mais assustador dessa constatação é o fato de a maioria das pessoas não ter sequer a consciência disso. Quem nasceu até a década de 60 ainda teve a chance de conhecer um outro Brasil, no qual as desigualdades existiam, mas onde também se podia sentir, na população e nas autoridades, um sincero desejo de mudar. De melhorar. De evoluir. O Brasil das “Diretas já” e do “impeachment” do presidente Collor. O país das revoluções pacíficas e da esperança.
Naquele Brasil, as crianças e jovens internos na Funabem não eram necessariamente delinqüentes, mas apenas órfãos e pobres, que apesar das dificuldades, recebiam educação o suficiente para ter alguma perspectiva de cidadania. No qual as escolas públicas eram as principais referencias de educação, e só estudavam nas particulares os muito ricos ou os que tinham dificuldade de acompanhar o nível do ensino público, que era alto. Em que os professores tinham orgulho do seu trabalho e mereciam o respeito da sociedade.
Muitas coisas eram diversas do que são hoje, e essas mudanças são alvo de inúmeros estudos sociológicos e históricos, que podem nos ajudar a entender o quê e como aconteceu. Mas o resultado dessas mudanças é o que assistimos atualmente, que invade os nossos olhos e ouvidos, que nos assusta e nos envergonha. É o país do aprofundamento das diferenças sociais, da vitória do crime organizado, do incentivo ao preconceito racial, da falência das instituições...da ignorância e da desesperança.
Sei que muita gente que defende o “status quo” (desculpem, mas adoro latim, prefiro do que ficar citando expressões em inglês) vai querer esfregar na minha cara as últimas estatísticas econômicas, segundo as quais temos um crescimento razoável, aumento de consumo, redução da pobreza...nossas reservas cambiais há muito não chegavam a nível tão alto, “os fundamentos da economia” estão invejáveis, segundo nossos “papas” no assunto. Mas qual é o preço de todo esse sucesso? Uma economia de primeiro mundo, convivendo com uma Educação e uma Saúde de terceiro, quarto, quinto mundos...
Não quero aqui culpar apenas esse nosso governinho medíocre por todos os nossos problemas. No caso da Educação, por exemplo, a falência das escolas começou durante o regime militar, e de lá para cá, só fez piorar. Não atino com qual seria o interesse dos militares em desmantelar o ensino público, mas como estudantes e professores se destacaram na resistência ao autoritarismo, a retaliação pode ser uma explicação. Esse descaso, que durou décadas, levou a educação básica e média do país a uma espiral de decadência que, pelo visto, ainda não chegou ao fim.
Depois de duas gerações de crianças, jovens e adultos semi-alfabetizados, a classe política descobriu a preciosa balela: “brasileiro não sabe votar”. “Oba, então vamos nos aproveitar disso, vamos deixá-los ignorantes e votando errado, porque assim teremos uma chance de nos perpetuar no poder”. Se a classe política é uma entidade do tipo “o mercado” (aquele que fica nervoso e faz as bolsas despencarem, entende!!!) então é isso que deve ter pensado. Educação pra quê? Nós não temos quase nenhuma e estamos nos dando bem!!!
A última resistência do voto à ignorância e ao analfabetismo foi a eleição do “brilhante sociólogo” Fernando Henrique Cardoso. Que apesar de ser um intelectual, começou seu governo, não preocupado com melhorar a educação, mas em garantir sua própria reeleição. A ética, o respeito ao cidadão, que já tinham começado a ser detonados no governo Collor, viraram motivo de chacota para aquelas novas autoridades, respaldadas por um presidente que pra começar, ridicularizou seu antecessor, que tanto o ajudou a eleger-se; e em seguida esmerou-se em nos decepcionar com a famosa frase: “esqueçam o que escrevi”. Ética pra quê? Educação pra quê? Educados, eles não vão nos reeleger...
Resisto a aceitar o desonroso conceito segundo o qual “o brasileiro tem vocação pra desonestidade”, porque não é isso que mostra a minha experiência de vida. Vender seu voto não é opção para a maioria das pessoas que o faz, mas um caso de necessidade...e de ignorância. Quem se aproveita dessas circunstâncias, esse sim, é desonesto. Por isso, tem sido vantajoso para as novas gerações de políticos, criados na expectativa prioritária de “se perpetuar no poder”, deixar sempre a educação em último plano, aproveitando-se de um enorme contingente de eleitores sem o menor discernimento.
Mas afinal, também não é possível deixar os pobres e ignorantes morrerem de fome, e aí vem a última, mais cruel e covarde de todas as providências: deformar um precioso projeto do educador Cristóvão Buarque, o Bolsa-Escola, nessa excrescência assistencialista que é o Bolsa-Família, e outras “bolsas” que vieram de carona. A idéia de premiar a quem estuda foi transformada num incentivo, aliás definitivo, à falta de educação, ensino, cultura, cidadania,....etc, etc...
A matemática oficial esquece que as famílias já pobres estão sendo incentivadas a ter mais filhos, para aumentar a ajuda do governo, que aliás é irrisória e insuficiente. Não há qualquer incentivo ao estudo, que já se encontra depalperado no quesito de “motivação”. Nos meus tempos de escola, nós queríamos ser professores, engenheiros, advogados, arquitetos, médicos... hoje a garotada quer ser “jogador de futebol”, “modelo”, atores ou atrizes, ou no mínimo, participar de um Big Brother e ficar rico sem ter que trabalhar...nem estudar, é claro...
Fico pensando no enorme contingente de pessoas de todas as idades, mas principalmente nas crianças e jovens, cujos talentos para as ciências, para o esporte, para a literatura, para as artes...quanta gente vem se perdendo por falta de boas escolas, de ensino profissionalizante, e de oportunidades para se desenvolver e mostrar do que são capazes. No grande potencial humano desperdiçado, e que na maioria dos casos vai ser irrecuperável.
Há milhares de pessoas em presídios, em entidades correcionais, nas Funabem da vida, que poderiam estar estudando e se recuperando para assumir um novo papel na sociedade. Mas pra esses, não há recursos. Eles já não tiveram a escola que garantisse uma oportunidade melhor, e agora estão duplamente condenados, sem qualquer outra expectativa que não a de serem marginais.
Que é o que também espera um enorme contingente de beneficiados por programas assistencialistas, como o “Bolsa-família”. Porque sem educação, não há futuro. E o futuro do país vai estar comprometido enquanto não escolhermos representantes que tenham um compromisso com a educação, com o ensino, com a cultura. Que tenham a lucidez, o discernimento, a informação suficiente para perceber que não adianta “jogar uma rede de sardinhas, pra enganar o povo faminto”, mas que o melhor, o bom investimento, é nos ensinar a pescar.
Célia Borges

13 de dezembro de 2007


V - Cidadania ou Partidarismo

Crer é morrer, pensar é duvidar... Adoro essa frase poético-filosófica de Fernando Pessoa, pois ela encerra a minha mais profunda convicção, com relação ao mundo e à vida. Outra frase que diz mais ou menos a mesma coisa é a da música popularizada por Milton Nascimento: “Fé cega, faca amolada”. Não é que eu queira contestar a crença ou a fé de cada um...isso é questão pessoal, e eu não discuto religião, simplesmente porque respeito todas.
A crença e a fé a que me refiro, no caso, são aquelas que, muitas vezes ingenuamente, e indevidamente, dedicamos aos nossos próprios semelhantes, indivíduos ou grupos. É o engajamento radical a algum partido político, a uma torcida de futebol, ao fã-clube de um artista da moda. É o culto à personalidade, tipo “getulismo”, “lacerdismo”, “brizolismo”, “peronismo” e por aí vai. É aquele estágio de comportamento que beira, ou já chegou, ao fanatismo.
Por mais que gostemos, admiremos, queiramos apoiar pessoas, grupos ou personalidades, nada nos impede de manter uma reserva de “livre-arbítrio”, uma margem de “consciência pessoal” com relação à tudo o que nos cerca. Creditar a outros uma perfeição que nem nos mesmos temos, entregar-se sem reservas ou espírito crítico aos desígnios de terceiros, esse é o papel de quem desistiu de pensar, abriu mão da própria personalidade, abdicou da cidadania.
Tudo isso é pra falar da minha perplexidade diante da confusão que encontro, no dia a dia, entre os conceitos de cidadania e partidarismo. Existe uma tendência em nossos dias, de ver todas as questões políticas sob o ponto de vista de uma polarização do tipo “quem não é à favor, é contra”. Pior que isso, “quem não é à favor de tudo o que acontece no país, é contra o governo Lula”. É claro que, num regime presidencialista como o nosso, o governo e o presidente são, em última análise, os responsáveis por tudo.
Mas convenhamos, Lula não é Deus – embora às vezes ele pareça ter essa ilusão – e o “governo” não é o reino dos Céus...Todos eles, como nós, são humanos e portanto, passíveis de errar. Então não dá pra entender porque é que, quando eu reclamo da “farra” dos Bancos, com seus lucros estratosféricos; contra o abuso do mau atendimento nas agências; contra as tarifas exorbitantes e desnecessárias; contra a diferença absurda entre os juros que cobram e os rendimentos da poupança, aí tem sempre alguém pra me dizer: “Ah, mas o governo está acabando com a miséria, dando bolsa-família, bolsa-escola...etc...etc...
Se eu reclamo dos Bancos, sou contra o governo. Se reclamo dos Cartórios, estou falando mal do governo. Se critico os políticos corruptos, eu sou contra o Lula. Todos nós sofremos, e constatamos “na carne” as dificuldades do país em termos de educação, saúde, meio ambiente, cultura....mas se alguém abre a boca pra reclamar...ah, está contra o governo. Por acomodação, ignorância ou fanatismo, essas pessoas cometem o erro de pensar que é se calando que estão colaborando com “o governo”.
Cidadania não tem nada a ver com partidarismo. Ou até pode ter, mas não no sentido que se atribui atualmente. Quando levantamos a nossa voz para reclamar daquilo que não funciona, quando nos mobilizamos pra denunciar carências e deficiências em nossa comunidade, quando nos preocupamos em manifestar nossas opiniões, eventualmente críticas, quando nos organizamos para reivindicar melhores condições sociais, melhor qualidade de vida, não estamos “criticando o governo” pura e simplesmente, mas estamos dando a ele os subsídios para as suas próximas ações.
É sempre bom nos lembrarmos que o Poder é exercido de forma transitória – hoje um partido está na presidência, amanhã pode ser outro – mas as instituições são perenes. Se não formos nós mesmos a colaborar, tanto com o Poder transitório quanto à competência e eficiência das instituições - políticas, sociais, culturais e etc... – estaremos definitivamente reféns dessa falsa polarização do “pró” e do “contra”. E nessa guerra de interesses dos outros, vamos nos esquecendo, vamos abrindo mão, de lutar pelos nossos próprios interesses, como indivíduos, como comunidades, como nação.
Não importa se o presidente é do PT ou do PSDB, se é do DEM ou é do PRONA. Importa é que na escola do seu filho não tem os professores necessários, e aí, você tem que reclamar. Importa se precisou de um médico no Posto de Saúde e não encontrou, então você tem que reclamar. Importa é se a mata está pegando fogo na frente dos seus olhos e ninguém faz nada, aí você tem que reclamar...Se você está sendo lesado, desrespeitado, espoliado, você tem que reclamar. Você não vai estar contra o governo, você vai estar lutando pelo aperfeiçoamento das instituições que o regulam, e das quais depende a sua própria vida. E se o governo que você quer, o presidente que você admira, não respeitarem a sua opinião, então é porque não merecem seu apoio, sua participação.
Ninguém é perfeito, nem nós, nem governos. Mas lutar por melhorias na nossa comunidade, por um país melhor, por um mundo melhor é uma oportunidade que só temos uma vez...e é durante essa nossa vida. Muitos preferem se acomodar, preferem em nome de religiões, acreditar no “Deus dará”. “Procure a paz pessoal e deixe o barco correr”. Considero que pensar apenas em sua “paz pessoal” e não usar sua força, sua energia, sua inteligência pelo bem de todos, é covardia. E não acredito que covardia leve ninguém ao “reino dos céus”...
Célia Borges

6 de dezembro de 2007


IV - Eu também quero que paguem a minha conta!

Bem que eu queria mudar de assunto!!! Não pensem que me divirto falando de problemas. Ao contrário, gostaria de ter pra comentar coisas maravilhosas e edificantes, que melhorassem o nosso astral. Mas, depois de ser humana, dos signos de Libra e do Gato, a coisa que eu mais sou na vida é jornalista, e então não é à toa que a minha antena já nasceu ligada, e que com o tempo, está cada vez melhor (ou pior, depende do ponto de vista). Assim é que, quando comecei a falar mal das mordomias, quando temos tantos outros assuntos melhores e piores, foi porque senti que essa questão está chegando aos limites suportáveis, e que se não houver qualquer reação urgente, vamos chegar ao limiar das mais assustadoras previsões da ficção, como “1984” e “A Fazenda dos Animais”, de George Orwell, ou o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. A leitura regular de jornais e revistas, tanto me assusta como me consola. Enquanto estou perdida nas notícias sobre escândalos, corrupção, autoritarismo, falta de vergonha na cara pura e simples, enfim...esse coquetel depressivo diário, volta e meia também me deparo com opiniões de gente inteligente, corajosa e sincera. Como aqueles escritores incríveis, homens e mulheres, que citei na crônica passada. E às vezes também, com páginas de jornalismo investigativo, que literalmente, nos lavam a alma. É o caso da série de reportagens iniciada no dia 18 de novembro, pelo jornal O Globo, sob o título “Sem controle, mordomias se alastram pelos 3 poderes”. Então é isso aí, amigos, enquanto eu escrevo essa crônica, bilhões de reais estão escoando no ralo da irresponsabilidade nacional, o suorzinho nosso de cada dia escorrendo gota a gota para finalidades absolutamente espúrias. Pagar por bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-vagabundo, nada disso é do meu agrado, mas pelo menos posso pensar que estou ajudando a alimentar a pessoas que precisam. Mas saber que estou pagando pelo caviar e pelo champagne das digníssimas autoridades, desculpem, isso fere os meus brios. Já “rodou” pela internet, e eu já reenviei para muitos amigos, a lista de despesas “domésticas” do Palácio do Planalto. Também podemos nos informar razoàvelmente sobre o quanto, e porque, ganham tão bem as nossas autoridades. O problema principal é aquilo que não nos deixam ver, e que só descobrimos quando um jornalista “f.d.p”, esse profissional da destruição, sai catando pelas lixeiras do poder, cooptando descontentes, interpretando relatórios, e porque é profissional e não é de ferro, catando um “furo” de reportagem, que melhore o seu currículo e o seu salário. Então, é graças á diversas e miraculosas circunstâncias, que de vez em quando podemos descobrir para onde é que vão os impostos que pagamos, e que correspondem aproximadamente a um terço da nossa renda anual, independentemente de quanto ganhamos. Por que em muitas coisas, o pobre e o assalariado pagam muito mais imposto, inclusive, e relativamente, que banqueiros (donos de banco, por favor) por exemplo... Não vou copiar aqui a matéria de O Globo, porque não é o caso, mas apenas reproduzir a manchete e a chamada: As regalias dos poderes – Elite de 74 mil servidores tem diversas mordomias e ganha cinco vezes mais que a dos EUA. Pronto, amigos...é mole, ou querem mais? É claro que sempre tivemos mania de grandeza, mas já é mais do que hora de analisarmos que temos uma mania de grandeza ao contrário. Acho que disputamos o campeonato de quem paga mais. De quem cobra e exige menos. De quem se conforma com qualquer coisa, e se acomoda pra não se aborrecer. Enquanto isso, a legião de parasitas vai crescendo, nossos esforços encolhendo em resultados positivos pra nossa própria vida. Quem se importa se a grana não dá pra ir ao teatro ou comprar um livro? Quem se importa se não sobrou pra pagar o curso que você tanto queria fazer, e que poderia melhorar tanto a sua vida profissional quanto a sua auto-estima? Quem se importa se você está deprimido, e não tem dinheiro pra fazer a terapia de que você tanto precisa? Sei lá quantas oportunidades são perdidas, quantas carências não são correspondidas, tanta coisa que você queria fazer pelos seus filhos mas não pode. Enquanto isso, você segue pagando o caviar e o champanhe de gente que ganha dez, vinte vezes mais do que você. Se eles podem, eu também gostaria que você pagasse as minhas contas!!! Pelo amor de Deus, não pensem que quero promover uma luta armada, longe disso. Só queria ver as pessoas encararem suas vidas com mais consciência, com mais responsabilidade. Só gostaria de ter companhia para discutir o fato de que a realidade pode ser uma m...., mas pode ser mudada. Porque hoje temos uma arma poderosa nas mãos, através da comunicação. Podemos mandar cartas pra jornais, escrevermos para autoridades, divulgarmos nossas opiniões na internet. Podemos valorizar as ações coletivas através da nossa solidariedade virtual. Acho que não é admissível que nos dias de hoje continuemos a concordar em ser tutelados como escravos. Que “autoridades” pensem que podem fazer o que quiserem, e que depois de tanta evolução tecnológica, econômica e cultural, ainda continuemos nos comportando como gado. Bem, amigos, sigo falando sozinha. Há horas que tenho impressão de nem ser desse planeta, de ter descido, sei lá quando, de uma nave espacial...
Célia Borges

III - Foi você quem delegou tantos poderes?

Me perguntaram por quê, e o que é a Aldeia Global a que me refiro, então vou esclarecer: a aldeia global foi um conceito criado por Marshal MacLuhan, lá pelos anos 70, para expressar a revolução que a comunicação gerou nas relações entre pessoas, paises e o mundo em geral, à partir de tecnologias como o satélite. A chegada do homem à lua transmitida ao mesmo tempo para o mundo inteiro foi uma espécie de ponto de partida dessa “globalização”...enfim...quem quiser saber mais, por favor, pesquise, que é o que faço quando fico curiosa. Esse preâmbulo não quer dizer que eu tenha desistido daquele minha campanha, eu diria mesmo da minha “guerrinha particular” contra as mordomias das nossas autoridades. Como sou jornalista – embora meio bandeada pro paisagismo – minha fonte, meu universo, minha linguagem é das notícias. E às vezes o noticiário nos revela gratas surpresas, como essa semana a crônica da Lia Luft na Veja, sobre o Dia do Mestre, e a entrevista da escritora Ligia Fagundes Telles para um Espaço Aberto Literatura, na Globonews. Isso, além é claro, da fantástica contribuição da internet, que vem materializando quase além do possível, o conceito de globalização. Enfim, misturando veículos e assuntos, lá vai: a entrevista da Ligia, que eu recomendo pra quem tem Sky ou cabo, é comovente. Ela sempre foi uma mulher linda, e hoje é uma velha linda. Ela, que foi uma “subversiva” da Ordem Arbitrária em vários episódios, é uma verdadeira inspiração, quando diz: “Nosso país não está bem, não. Está péssimo. Continuamos reféns da pobreza e da ignorância que vem pautando a nossa história” disse, classificando a educação e a cultura do país em situação “vergonhosa”. A Lia Luft também é escritora e cronista do primeiro time, e na crônica dessa semana, O que deixar para nossas crianças, em que se refere ao Dia do Professor, escreve o seguinte: “Oficio tão desprestigiado, por mal pago, por pouco respeitado e mal amado, que milhares de jovens escolhem outra carreira. E não me falem em sacerdócio: o professor, ou a professora, precisa comer e dar de comer, morar e pagar moradia, transportar-se e pagar transporte, comprar remédio, respirar, viver. Além disso, deveria poder estudar, ler, comprar livros...” Ler e ver essa postura em pessoas tão maravilhosas faz a gente ganhar um novo ânimo, e como eu já estou mesmo cheia de gás, quero aproveitar o incentivo para ir além da questão das mordomias. Só quero passar antes, e pra completar o raciocínio, pela mensagem que mandei pra quase todos os meus amigos, Troque um político por 344 professores. A mensagem não é nova, já tinha recebido e repassado, mas foi tão oportuna, que, por garantia, preferi coloca-la pra circular um pouco mais. Tanto a Ligia, quanto a Lia, e quanto esse pessoal da internet que cria esses “protestos” reclamam da mesma coisa, que é a que eu reclamo agora: Por que essa inércia? Por que essa abdicação, essa negligência que parecemos ter com relação à nossa cidadania. Não é por falta de esclarecimento, pelo menos pra nós, a tal da “elite” que é quem ainda lê alguma coisa, que deixamos de nos envergonhar de como somos – e cada vez mais – descaradamente abusados. Recentemente circulou outra mensagem sobre o custo de um político brasileiro, e não humor da internet não...é a reprodução de um noticiário de TV. Mas esse custo calculado sobre salários e mordomias, está muito longe da realidade do que realmente pagamos, em vidas perdidas, em saúde e em sonhos, entre outros valores. Há algumas dezenas de anos que a classe política perdeu completamente a compostura, passou a legislar e administrar prioritáriamente em causa própria, deixando os verdadeiros interesses do cidadão e do país em plano secundário. E o judiciário aproveitou a bagunça pra instalar o clima de “também quero o meu”... Isso tudo só é possível porque falta educação à maioria, porque é justamente com o apoio dessa população ignorante e carente que os abutres podem se perpetuar no poder. Então, por que prover uma boa educação? Por que investir em saúde, em prevenção? Mas como tudo isso está chegando às raias do exagero, que o acumulo de privilégios nos remete à França dos Luises, e que a corrupção desenfreada já mostrou que, ganhar bem e ter esses privilégios não torna ninguém imune a querer ganhar mais um pouco “por fora”, acho que já é hora de nos sentirmos feridos nos brios e botar a boca no mundo. Continuo sem saber como fazer isso objetivamente (ainda), e sigo esperando por sugestões dos meus amigos e leitores. Mas eu realmente NÃO QUERO MAIS CONTINUAR PAGANDO PELAS MORDOMIAS DOS POLÍTICOS E ETC...E agora dei de implicar com outra coisa: essa história de emendas ao orçamento é uma vergonha. Precisamos acabar com isso também. É uma forma de incentivar a perpetuação no poder, porque o cidadão acredita que foi o político Sr. Fulano de Tal que pagou a obra ou benefício à sua comunidade, quando na verdade que está pagando é quem paga impostos, inclusive ele mesmo. O tal do político só tem um poder absolutamente arbitrário e inexplicável, de usar o “nosso”dinheiro em benefício das ambições políticas, suas e de seus familiares, porque a moda agora é político também ter dinastia...além de agüentar os próprios ainda familiares ou parentes (que sejam razoávelmente alfabetizados, né...) Enfim, CHEGA DE EMENDAS AO ORÇAMENTO!!!! O orçamento deveria ser elaborado por técnicos, e para atender às necessidades reais da população, e não pra obras de interesse pessoal, ou então aquelas que acabam abandonadas, só consumindo o dinheiro público. Quer dizer, o meu, o seu, o nosso dinheirinho. Eu só gostaria de saber quem foi que delegou tanto poder pra esse pessoal. Como é que eles tomaram conta do poder dessa forma, nos deixando inertes, perplexos, sem reação. Desculpem, amigos, mas comigo não. Vou continuar reclamando, como a Lia, como a Ligia, e espero que cada vez mais gente, usando a poderosa arma que a Aldeia Global nos conferiu, que é a internet. Uma grande amiga minha mandou a crônica anterior pra todos os senadores. Eu estou catando todos os endereços eletrônicos de governos e poderosos pra mandar também. Políticos, juizes, esse povo todo, tem que ser de cidadãos como nós...se não, como é que acham que vão estar nos representando? Célia Borges Post scriptum: além das minhas autoras preferidas e citadas, recomenda essa semana também a leitura do Luis Fernando Veríssimo no Globo de domingo, e do Millor na Veja dessa semana também. Lava a alma ler o que escrevem esses gênios do nosso idioma...
Célia Borges

II - E se nos recusarmos a pagar a conta?

Entre os vícios que cultivo, acho que o pior de todos é a leitura de jornais. Beber, fumar, amar...nada disso pode ser tão nocivo pra saúde de uma pessoa quanto a leitura de um jornal, principalmente se essa leitura é matinal. É claro que, de um vício desses, ou não pode sair boa coisa, ou pode sair alguma coisa (desculpem a falta de modéstia) genial... Enfim, o caso é que, de tanto “matutar” (sou daquelas pessoas que ainda faz isso!!!) sobre as barbaridades que leio todos os dias, somando, dividindo, sutraindo, e até multiplicando, certas opiniões que leio aqui e ali, só posso concluir que esse estado de coisas já superou todos os adjetivos (estarrecedor, por exemplo, virou muito pouco!!! Quem mais fica “estarrecido” como se isso fosse uma coisa original?)...que a culpa é nossa mesmo, e que na falta do que falar, só nos resta, finalmente, passar a ação... “Ora, direis, ação como, cara pálida?” (desculpem a licença poética) Então eu vos digo que, de agora em diante, de forma pessoal e intransferível, eu lanço uma campanha pra me recusar a pagar todas e quaisquer mordomias que estão imoralmente garantidas por quaisquer tipos de leis, a deputados, senadores, juizes e que tais da justiça, presidentes, governadores, prefeitos, secretários, funcionários públicos, cargos em comissão, apaniguados, esposas, ex-esposas, amantes, filhos, ex-filhos, e assim por diante... Ora, bolas (aí sem qualquer poesia!!!), nós não somos obrigados a viver dos nossos salários? Por que é que uma reles “autoridade”, que é, por definição, representante do cidadão e da cidadania, deve ou pode ter o direito de acumular privilégios, como auxílios pra morar, pra gasolina, pra ter empregados pessoais, passagens aéreas, correio gratuito...isso porque não quero perder muito tempo de vocês e espaço, pra enumerar a extensa lista de mordomias, que pagamos com o nosso suor de cada dia... Tentando estabelecer uma certa cronologia para todo esse descalabro, eu pergunto como é que qualquer pessoa razoàvelmente informada (não me incluo aí, porque é covardia...sou literalmente intoxicada de tanta informação...) pode imaginar que vamos ingressar no primeiro mundo, enquanto nossos valores políticos nos remetem, no mínimo, ao desastre da chegada da Coroa em 1808. Porque nós, que deveríamos ser cidadãos de uma república, continuamos reféns de uma aristocracia – aliás, caricatura de aristocracia – com a nobreza sendo substituída por presidentes e governadores, deputados e senadores, juizes e procuradores... Chega a parecer piada que um pobre operário que ganha salário mínimo, tenha que dar sua contribuição pra garantir o champagne francês do Sr. Juiz, do Sr. Presidente, dos Srs. Deputados e senadores, que já recebem seus honorários e salários de vários dígitos...E eu quero ter o direito de me recusar a pagar essa conta. Sou contra a qualquer tipo de privilégio, acho que cada um deve viver do “seu” salário...e nada mais... Temos que nos mobilizar pra acabar com as MORDOMIAS...(Sarava pro fantasma daquele horripilante Fernando Collor)...isso não pode ser balela de político, tem que ser produto de mobilizações públicas e pessoais de cada um de nós...EU, DEFINITIVAMENTE, NÃO QUERO CONTINUAR PAGANDO ESSA CONTA!!!! É claro que, pessoalmente, sou uma articuladora complicada pra essa campanha, porque, pra início de conversa, sou anarquista...o que quer que seja o que isso quer dizer!!!!...Espero que, por puro preconceito, essa confissão não se vire contra mim...o que quero dizer é que não vou me propor a fazer a parte de ninguém, cada um que faça a sua, da sua maneira...Apenas digo que começo a estudar sériamente todas as possibilidades de “desobediência civil” que, sem ferir leis ou prejudicar pessoas, posso mostrar o meu ponto de vista: NÃO QUERO MAIS PAGAR AS CONTAS DAS MORDOMIAS!!!! Acho que professores, operários, médicos, agricultores, empresários, militares, donas de casa, engenheiros, atores, poetas, todos têm o direito de ganhar o suficiente para as suas sobrevivências...mas cada um desses, até onde eu saiba, vivem do seu trabalho. Então porque privilégios para aqueles que justamente deveriam ser os nossos “sensores” (não confundam com censores, estou falando não de limites mas de sensibilidade), que deveriam perceber os movimentos sociais e se antecipar a eles para apresentar soluções (e não criar problemas, para cobrar pelas soluções!!!). Somos um país muito rico, não apenas do ponto de vista das riquezas naturais, mas principalmente devido ao potencial humano, que sempre apresenta respostas além das expectativas (lembram da crise energética e de quanto economizamos?). Já tivemos muitas oportunidades de demonstrar essa força (lembram das Diretas Já?) e isso é que me surpreende hoje em dia, diante de tanto que nos acovardamos (eu, não, diga-se de passagem, que não paro de agitar tudo o que está ao meu alcance!!!) diante dessa situação que me assusta, e que me dá a impressão de que, se não nos mobilizarmos, vai nos engulir... É claro que há muito o que ser feito nesse país...e que não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo...mas acabar com as mordomias, eliminar os privilégios, minar as oligarquias políticas, impedir reeleições e destruir, ou pelo menos questionar, essa aristocracia ilegítima que se alimenta do clientelismo e da ignorância...isso me parece uma questão de CIDADANIA. O poder que nos comanda, no Brasil, hoje em dia, é como uma esfinge: DECIFRA-ME OU TE DEVORO...Eu não quero ser devorada, e o que eu decifrei de todas essas leituras que me afligem no dia a dia, é que precisamos reagir de alguma maneira...eu, de agora em diante, só quero pagar, pura e simplesmente, o salário desse pessoal...e eles que se virem no fim do mês, que é como a gente faz... Ainda não sei como vou por isso em prática. Aguardo sugestões...vou ficar muito feliz se encontrar pelo menos companhia nessa caminhada...
Célia Borges

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Vou chegando, e pedindo licença à Marshall McLuhan, pelo uso, eventualmente indevido, do título de uma obra sua para minha crônica, mas tomo essa liberdade por conta de uma idéia minha de homenagem. Porque afinal, tão antigo quanto eu, e tão “moderno” quanto o conceito de globalização, o filósofo/profeta da minha geração está, aparentemente, completamente esquecido. Mas McLuhan é por enquanto, inspiração e preâmbulo pro meu papo furado...que vem a seguir. Voltarei a ele oportunamente. A minha questão, pra começar, é tão básica e ancestral como aquele enigma infantil, de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha...porque o que eu me pergunto é se o mundo hoje é tão ruim quanto nos parece, ou se ele sempre foi assim? Sou leitora/expectadora inveterada, e por assim dizer, profissional, dos mais variados tipos de noticiário. Sou jornalista que tem a pretensão, talvez exagerada, de ver e viver a profissão por dentro e por fora. Tenho a mentalidade do agente, mas sou hoje muito mais paciente, desse processo informativo que começou a dominar, a prevelecer, no mundo, há cerca de um século atrás. Então, essa é a questão: estaremos hoje nos sentindo mais acuados, ameaçados, constrangidos, do que os nossos antepassados...ou só estamos tão assustados porque temos as NOTÍCIAS do que acontece lá fora? Será que nascemos no Paraíso e, depois de alguns anos de existência tomamos conhecimento do Inferno, ou foi só porque aprendemos a ler e escrever, e assim, tomamos conhecimento do Mundo Cruel que nos parecia tão distante na infância? Ninguém ainda criou um aparelho ou método para medir conhecimento, mas no mundo em que vivemos, não me surpreenderia se ele se chamasse “estressômetro”. Não me interpretem mal! Sou daquele time que prefere ser um consciente sofredor do que um ignorante em êxtase! Mas só o que quero me permitir nesse modesto discurso, é questionar se toda essa nossa preocupação é realmente relevante. Nesse nosso universo tecnológico, não me lembro de ter visto estatísticas proporcionais a quantos crimes aconteciam na Idade da Pedra, por exemplo, em comparação aos nossos dias. Quantos jovens, quantos velhos, quantos de doenças...Quem tem um mínimo de escolaridade, e estudou um pouco de história, sabe quantas guerras, invasões, quantos processos de libertação e submissão estão escritos à ferro e fogo nas veias da nossa ancestralidade. Quantos crimes, tantas injustiças... Aos que estão assustados, nessa altura do texto, peço licença pra dizer que essa é uma mensagem otimista. Por que eu só queria dizer que nós não somos piores do que os outros, do passado...talvez sejamos, apenas, e proporcionalmente, iguais. O que faz a diferença na história, e na nossa HISTÓRIA, e que hoje a população é muito maior...os mal feitos proporcionalmente maiores, e a IMPRENSA, infinitamente mais abrangente...nos dando informação, quase na mesma hora em que acontecem, os eventos sensacionalistas, como o impacto da destruição das TORRES GEMEAS exatamente na hora em que acontecem... Sou apaixonada pela minha profissão, sou jornalista 24 horas por dia (quem me conhece sabe que trabalho noite adentro, mesmo quando estou dormindo), mas me permito ser tão crítica quanto possível dos seus efeitos. Será que vale a pena sermos tão infelizes na esteira das notícias que lemos diáriamente? Quanta culpa, exatamente, nos cabe pelos fatos que conhecemos? E o que é mais crucial: Até que ponto poderíamos interferir e mudar esses fatos, para que o mundo fosse menos desigual, mais de acordo com aquilo que (será que todos nós?) queremos? A verdade é que não canso de me surpreender com a força da comunicação...e com que até que ponto o conhecimento e a ignorância dessa força pode ser decisiva para o sucesso e o fracasso de cada um de nós, de cada uma das nossas idéias, planos, projetos...Uma força que, como tudo o mais nessa vida, pode ser usada para o bem ou para o mal. Desde até quando o nosso conhecimento avança, temos que admitir que a violência sempre existiu, no rastro da luta pela sobrevivência. E de lá pra cá, só vem avançando, na esteira da multiplicidade de motivações, sejam o poder, os ciúmes, a ganância...sei lá quantos motivos mais. Eu, pessoalmente, sempre tive grande dificuldade em admitir a agressividade da natureza humana, mas já li demais sobre história e hoje, confesso, tenho que me render às evidências. Somos bárbaros...e chegamos até onde chegamos nessa nossa chamada CIVILIZAÇÃO, à custa de muita submissão, destruição, egoísmo e crueldade. Temos o hábito de associar o conceito de “humanidade” ao ato de fazer o bem, mas não creio que possamos chamar a atitude inversa de “desumana”, porque a maldade também é, como a bondade, intrinsecamente humana. Não há como buscar a compreensão do que é o “ser humano” sem considerar que somos a soma dessas duas forças. O próprio conceito de “seleção natural” de Darwin, abrangendo todos os aspectos da vida, implica nessa violência intrínseca da natureza. Porque fazemos parte da cadeia alimentar, e é ilusão pensar que só por sermos “seres humanos” estamos na ponta mais privilegiada dela. Dentro do nosso universo “humano” também somos explorados, submetidos e consumidos, nessa espécie de antropofagia social em que vivemos. Nossos artistas da Semana de Arte Moderna de 22 sabiam bem do que estavam falando... Então, por que é que vivemos perdidos nessa paranóia, nessa sensação de culpa, em que até um avião que cai do outro lado do mundo, e faz não sei quantas vítimas, nos faz sofrer tanto. Um adolescente que é vítima de uma bala perdida nos abala tanto...e por outro lado, tantos milhões de pessoas sofrem com guerras, perseguições, condições de vida sub-humanas, e nós não estamos nem aí...Padecemos talvez da Síndrome de Excesso de Informações, pela quantidade de notícias que invade o nosso mundinho particular com tal impacto que deforma a nossa visão do conjunto. Temos a tendência de achar que o mundo de hoje é um pouco pior que o mundo de ontem...porque cada vez somos melhor informados das piores coisas que acontecem. Temos medo da morte, temos medo do fim...e por isso, talvez, procuremos àvidamente as notícias que a esses nossos medos estão associadas. Não tenho meios de fazer um ranking do noticiário, mas me atreveria a dar um palpite: 90% é de más notícias, não mais do que dez por cento de notícias positivas, comentários edificantes, elogios ao comportamento daqueles que ainda não perderam as esperanças, e continuam, contra todas as perspectivas, a fazer qualquer coisa honesta, desprendida, generosa. Na Aldeia Global em que vivemos, somos reféns do conhecimento e da informação, e nosso índice de felicidade talvez esteja estreitamente associado à quantidade e qualidade daquilo que nos é dado saber a cada dia. Não vou dizer que o cidadão que não lê jornal, mas que tem uma conta pra pagar e não tem os recursos necessários, seja uma pessoa necessáriamente feliz...mas ele continuará a gerar seus filhos, sem pensar que nas próximas décadas seus descendentes poderão ter que lutar por água e comida, como nossos antepassados da Idade da Pedra. Como disse no início, essa é uma mensagem de otimismo. Só pretendo chamar a atenção dos amigos e eventuais leitores, para o fato de que notícias e informações são dados relativos, como tudo na vida. Abdicar de um certo sofrimento também seria abdicar de uma certa sensibilidade, e da grande responsabilidade que, afinal, cada um de nós tem, diante desse mundo. Mas, entregar-se ao desespero e pessimismo também não adianta nada...Lutar, reagir, é necessário, ainda que essa reação seja apenas à níveis psíquico e mental. Precisamos apenas não perder o foco de que, se não podemos fazer muito pra mudar a nossa realidade, pelo menos podemos interferir nessa realidade buscando dar, promover, materializar, o que há de melhor em cada um de nós. A Aldeia Global pode estar se tornando um mundo árido, mas ele ainda tem muitas possibilidades a oferecer. Podemos plantar árvores e flores, podemos escrever livros ou simplesmente “botar a boca no mundo” emitindo nossa opinião; podemos gerar filhos, e abençoar a vida dos netos, se ainda tivermos energia suficiente pra fazer “aquilo no que acreditamos”. Acreditar em nós mesmos, e produzir aquilo que poderia ser potencialmente uma “boa notícia”, já é um começo. Mesmo que saibamos que ela difícilmente será publicada. Não quero renegar minha profissão, ao contrário acredito que a informação é cada vez mais fundamental na nossa vida. Exatamente por isso é que acho importante que cada um tenha consciência de que não basta fazer coisas boas e legais, é importante também divulga-las, mostra-las ao mundo, não ter o medo de dar um bom exemplo. Porque os maus exemplos são abundantes, e se quisermos mesmo mudar alguma coisa, vamos ter que “correr atrás”, e correr muito...ainda que com o risco de sermos antipáticos, desagradáveis e chatos...muito chatos. Defender idéias como aquelas relativas à melhoria da educação, da cultura, do meio ambiente, é um caminho bastante difícil e ingrato. São questões que dependem da disposição e coragem de cada um, e de cada um na sua medida. É preciso ter em mente de que o pouco que fizermos pra mudar não será tão pouco assim, se somarmos o pouco que cada um pode fazer. A Aldeia Global tem seus problemas, mas não podemos abdicar do papel que cada um de nós pode ter nela. Boas atitudes e informações positivas podem, sim, fazer uma grande diferença. E quanto mais, melhor...É o caso de acreditar no que somos e no que fazemos. De acreditar no que fazemos...tanto, e com tal fé... a ponto de materializar aquilo que queremos e com que sonhamos: um mundo melhor... Bem, amigos, entre filosofia e poesia, me despeço...vou deixar o mergulho na filosofia de MacLuhan para uma próxima oportunidade...
grande abraço, Célia Borges

12 de abril de 2007

Wendell Amorim – Reciclando a Arte

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Fome Zero.

O poeta e artista plástico Wendell Amorim revela, nas várias facetas do seu trabalho, a marca de um espírito inovador. A própria variedade de suas atividades (que inclui textos para teatro), assim como a exploração de novos materiais, formatos e conceitos em cada uma delas, mostra uma personalidade inquieta, sempre em busca de novas possibilidades. E a arte desenvolvida com materiais reciclados, onde projeta sua preocupação com o meio ambiente, é a mais recente delas...
O artista, Wendell Amorim

Quem quiser conferir pessoalmente, poderá ver a escultura do artista sobre a Ponte Velha, que fará parte da exposição sobre o tema, promovida por Claudionor Rosa, à partir do próximo dia 16, às 19 horas, no Anexo da Câmara Municipal de Resende. Em junho ele volta ao mesmo espaço, em exposição sobre Meio Ambiente, dividindo-o com Fátima Porto; e nesse mesmo mês estará expondo individualmente na Semana do Compromisso Social com o Meio Ambiente, em Volta Redonda.Carioca de Campo Grande, Wendell veio para Resende na adolescência. Artista plástico autodidata, está cursando o quinto período da Faculdade de Artes Visuais da Universidade de Barra Mansa. Já teve um de seus quadros premiado no XXX Salão da Primavera (Prêmio Eitel César Fernandes/MAM-Resende em 2002) e outro pela exposição Universidarte, promovida pela Universidade Estácio de Sá.
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Pão de Açúcar

Tartaruga (Bienal Santos)

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A reciclagem da arte ou a arte da reciclagem? Essa é uma pergunta com muitas respostas para esse artista: Wendell Amorim vem desenvolvendo novas técnicas no Atelier Mosaicolagem, inclusive aquela que deu nome ao próprio atelier. Ele reconhece, no seu trabalho, a influência de Cézanne e Picasso, especialmente no aspecto do cubismo, e as ultrapassa, através do cubismo sintético, com a introdução de letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal, e até objetos inteiros nas pinturas. E em suas esculturas, essa influência encontra uma expressão ainda mais livre.
Além das premiações já citadas, Wendell Amorim foi terceiro colocado no II Salão Estudantil de Humor, em 96, na categoria Caricatura, e um dos três finalistas no I Prêmio Ambev de Reciclagem, categoria Artes Plásticas, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Como poeta já participou de várias antologias regionais e publicou os livros Poeta de Boteco e AMORIMprovisado. Também foi um dos fundadores, e dirige a Ong Cultural Oito Deitado, ao lado de Jenifer Faulstich e Kátia Kirino.
Exposições individuais do artista: em 2007, Exposição Itinerante no Centro Histórico de Paraty-RJ, com mosaicos de instrumentos musicais em madeira e textura; MPB na Parede, Hotel do Ypê, Itatiaia; Festjazz na Parede, no Sesc de Barra Mansa; Conexão Cultural, na Universidade de Barra Mansa; Homem Lixo, na Casa de Cultura de Bananal. Em 2006, MPB na Parede, no Espaço Cultural da Câmara de Resende e no Resende Shopping; Semana do Meio Ambiente, Guardian do Brasil, Porto Real. Em 2005, I Encontro de Poesia e Natureza do Parque Nacional do Itatiaia, e Para não Dizer que Não Pintei Flores, no Hotel Ypê e no Espaço Sax-Resende, onde também apresentou Saxomania. Em 2004, Bossa Nova, no Espaço Sax e 2002, Copa do Mundo, Caricaturas dos Jogadores de Futebol, na Biblioteca Municipal Jandyr César Sampaio, Resende-RJ.
Também tem participado ativamente em exposições coletivas, com destaque àquelas do Museu de Arte Moderna de Resende, mas também em outras instituições culturais de Barra Mansa e Volta Redonda. Em 2007 foi curador da mostra Verde Vida, em homenagem ao artista plástico Marcius Lima; em 2005, da mostra Natureza Humana e Arte Sacra – Samuel Costa, no Espaço Sax; e em 2004, Casario Resendense, aquarelas de Alandarque Linhares, no Espaço Sax.
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À esquerda, Puri (Bienal Santos)