17 de janeiro de 2009

ALDEIA GLOBAL – Será que tem sentido ainda ter esperança?

Há apenas 100 anos, as notícias andavam de navio... e por isso, demoravam tanto a chegar. Nesse último século, o homem se esmerou, através da tecnologia, em transformar a comunicação em tal condição de imediatismo, que foi possível ver a tragédia das Torres Gêmeas de Nova Iorque em tempo real. Sem querer entrar no mérito das vantagens e desvantagens de tanta tecnologia, o que não há como negar é que ela acrescentou muito stress e responsabilidade no dia a dia do cidadão comum.
A crise econômica de 1929 foi devastadora, mas seus efeitos não têm nem como serem comparados com o que pode acontecer na Era da Comunicação Imediata. A imagem que me ocorre sobre a crise dos dias de hoje, é a de uma manada de elefantes descendo ladeira abaixo, sem nenhum controle. Embora, no fundo, a única esperança de controle seja justamente uma tomada de consciência, coletivamente, com força bastante para desarmar essa bomba-relógio que se chama “mercado financeiro”.
Não conheço qualquer raciocínio matemático ou filosófico, que seja capaz de apoiar essa situação de busca irracional e desenfreada pelo lucro. O incrível é que os gênios da economia não tenham visto que uma crise como essa, que se anuncia, tinha que acontecer, mais dia, menos dia. Porque entregar os rumos políticos e sociais do planeta nas mãos do tal chamado mercado financeiro, uma entidade onipresente e onisciente, que só visa o lucro, isso tem sido pura e simplesmente uma questão de irresponsabilidade. Uma irresponsabilidade coletiva, dos dirigentes dos tais paises desenvolvidos, e dos menos desenvolvidos como o nosso também.
O Poder Econômico, definitivamente, tomou conta da nossa Aldeia Global. Os conceitos humanistas que caracterizaram movimentos sociais, políticos e econômicos desde meados do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, estão completamente soterrados. O ser humano, o homem, essa criatura social que cada um de nós é, deixou de ser o centro dos objetivos civilizatorios e desenvolvimentistas dos governos, para ser apenas alguma peça, numa engrenagem cujo significado lhe é alheio. Porque visa produzir bens e riquezas, para saciar a insaciável fome por lucros desse fantasma, chamado mercado financeiro.
Se não estivéssemos tão informados e conscientes do que acontece no mundo, provavelmente nosso sono seria muito mais tranqüilo. É claro que temos a opção de não comprar jornais, não ligar a TV, ou, como último recurso, simplesmente não pensar no assunto. Mas isso não vai mudar em nada a realidade, e seja uma tsunami ou uma marolinha, não há dúvidas de que ela vai nos respingar. Ou nos molhar... nos encharcar... e não sabemos até que ponto pode até nos aniquilar, dependendo da situação de cada um, e de quanto vamos estar vulneráveis ao desemprego, à falência, ao empobrecimento.
Entretanto, já que não adianta chorar, e o máximo que podemos fazer no caso é tomar consciência, cada vez mais ativamente, pensar bem à respeito e reagir diante da situação. Por isso, quero propor um raciocínio interessante, inspirada por um desses autores quase anônimos da internet (Neto, diretor de criação e sócio da Bullet) e que foi uma das melhores mensagens que tenho recebido nos últimos tempos.
Não vou transcrever o texto, para não abusar do direito autoral, mas posso mandar o original a quem interessar. Ele fala das imagens de pobreza que estamos acostumados a ver, no noticiário, nos documentários, e até em livros de fotografia de grande sucesso. Fala das ONGs e outros organismos criados para combater a pobreza. “A miséria, pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá, sensibiliza”, diz o texto. E completa: “Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucedem nas nações mais poderosas do planeta. Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo”.
O autor comenta (e eu endosso solidariamente) que mesmo que esse valor tenha sido subestimado, e que fossem necessários, não o dobro, mas o triplo desses recursos, e então precisaríamos de 120 bilhões de dólares para tornar o mundo um lugar mais justo. Para, se não extinguir completamente, pelo menos tornar uma exceção o estado de fome de tantas populações pelo planeta afora. Mas nunca houve um esforço concentrado para isso, nunca os recursos foram suficientes...
Entretanto, “em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potencias, tiraram da cartola 2,2 trilhões de dólares – 700 bi nos EUA e 1,5 tri na Europa – para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e investidores”, conclui o nosso brilhante blogueiro, e eu sigo na carona.
Não vou nem entrar no mérito do quanto se gasta em guerras, projetos bélicos e produção de armamentos. Talvez também fosse suficiente para acabar com a fome, levar educação, saúde e expectativas para a vida de tantos seres humanos que sobrevivem em condições degradantes.
Mas o que predominantemente se vê pelo mundo são as populações mais pobres sustentando o luxo de seus dirigentes, submissas a todo o tipo de autoritarismo, mercê de interesses econômicos que valorizam o menor dos centavos, em detrimento de uma vida. Porque vidas não valem muito, nesse processo antropófagico, em que o ser humano vai sendo dividido em números, e classificado segundo sua utilidade.
Às vezes penso que seria melhor não ter lido Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), 1984 (George Orwell) nem Laranja Mecânica (Anthony Burgess). Gente que lê nesse país, está cada vez mais condenada à solidão. E eu, certamente, viveria mais inocentemente, e muito menos assustada!!!
Célia Borges