29 de novembro de 2009

ALDEIA GLOBAL – A vitória da estupidez



A inversão de valores que vem tomando conta da nossa vida prática, nos últimos anos (ou seriam décadas?) tem sido motivo de muitas das minhas crônicas anteriores, mas que depois de publicadas, me deixaram com a desconfortável impressão de estar falando sozinha. Por isso, foi um grande consolo encontrar n´O Globo de 24 de novembro, uma crônica do Arnaldo Jabor, “A burrice na velocidade da luz”, onde enfim encontrei afinidades com muitas das minhas impressões e preocupações.
Jabor leva sua análise ao nível mundial, o que é muito apropriado, já que vivemos numa aldeia global, de tal forma que o que acontece num determinado país, acaba afetando todos os demais. “A burrice mais crassa toma o poder no mundo”, escreve ele, na abertura dessa crônica cuja leitura recomendo a todos, embora sem muita esperança a que me dêem ouvido. Eu ainda estou naquele nível do “se queres mudar o mundo, começa pela sua própria casa”. Então, a vitória da estupidez no meu próprio país, ainda é o que mais me assusta.
Não tenho pretensão de ser mais inteligente do que ninguém, mas sou alguém que dá muito valor á inteligência. Entendo a inteligência como um processo dinâmico, através do qual nossas capacidades intrínsecas são alimentadas por informação e conhecimento. Sei que existem multidões de pessoas inteligentes pelo país afora, gente que estuda, que aprende, que exerce seu ofício com empenho e competência. Mas também vejo com perplexidade que essas multidões de inteligentes estão cada vez mais omissas, quando de trata dos problemas coletivos, e das conseqüências de uma política que compromete os princípios democráticos que deveriam reger a nossa vida, e o nosso próprio futuro.
Covardia, é a primeira palavra que me vem à mente, quando abro o meu jornal de cada dia. Covardias ativas, daqueles deputados e senadores que legislam em causa própria, dos juízes que vendem sentenças, de um presidente da República que não admite críticas, e que berra publicamente, sem a menor compostura, chamando aqueles que discordam dele justamente dos adjetivos que ele próprio merece. E covardia passiva, daqueles que tem os meios e a capacidade de reagir, mas que permanecem calados, conformados com a usurpação dos seus direitos de cidadão, inertes diante do desrespeito aos direitos de toda a população.
A covardia coletiva toma contornos de uma doença social. Ela é ao mesmo tempo causa e efeito de uma preguiça mental, que nos remete à alegoria de Macunaíma. Ela é cúmplice da falência do nosso sistema educacional, que atualmente é muito mais eficiente em perpetuar a ignorância, do que promover o saber. É ela que nos impede de cobrar melhores salários para os professores, melhor investimento em formação, de exigir escolas minimamente decentes, capazes de motivar os estudantes para darem valor ao conhecimento.
Também é a covardia que nos imobiliza, diante da incompetência, da corrupção e da arrogância de um sistema judiciário, pra lá de falido. Ministros e desembargadores, nomeados para altos cargos pelo poder executivo, acabam lacaios, reféns dos interesses de quem os indicou. O desempenho do judiciário brasileiro está abaixo de qualquer crítica, mas seus representantes estão sempre mais interessados em garantir freqüentes aumentos dos seus salários, antes de estarem comprometidos com os anseios, necessidades e exigências da população que paga seus exorbitantes vencimentos.
Sem educação e sem justiça, o que nos espera? Embora muitos ainda não se dêem conta, estamos mergulhados até o pescoço num mar de estupidez. Num país que parece precisar de um sistema de cotas para garantir acesso aos “negros” no ensino superior, matéria dessa semana nos jornais, nos informa que existem mais de um milhão de vagas ociosas nas nossas universidades. Outra matéria revela um parecer do STF, segundo o qual 1/3 das nossas leis é inconstitucional. Mas o que se pode esperar de um legislativo, formado por pessoas de quem não se exige mais do que saber assinar o nome?
A estupidez gera a irresponsabilidade, a falta de compromisso. Afinal, ela é protegida pela impunidade. Impunidade essa que alimenta a violência, a corrupção, o vandalismo. E assim, sobrevivemos um círculo vicioso, com os oportunistas tomando o poder de assalto, e fazendo de suas permanências no poder o único objetivo. Para o povo, pão e circo. E para os inconformados, o ostracismo. Críticas não são bem vindas, pensar é tanto um crime quanto um pecado. Até artistas famosos, como o Caetano Veloso, podem ser apedrejados por falarem o que pensam. E os cidadãos comuns, como eu, quando dizem ou escrevem o que pensam, falam sozinhos. Ou correm o risco de serem segregados socialmente, relegados à categoria dos “chatos”.
A inteligência anda envergonhada, diante do avassalador poder que vem sendo conquistado pela burrice e pela estupidez. Como escreveu o Jabor, “É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata – com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola e explica. O bom asno é bem-vindo, o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia – o erro é sempre do outro.”
Célia Borges

27 de novembro de 2009

DEZEMBRO ANIMADO NA OKA TIMBURIBÁ

A Oka Timburibá, um dos mais ativos e dinâmicos centros culturais de Resende, e que fica ali no centro antigo, ao lado do CCRR, está divulgando a sua agenda cultural para dezembro, com programações de cinema, artes plásticas, feira cultural e cursos livres.
Quem quiser aproveitar o programa do Ponto de Vídeo, ainda pode assistir, nessa terça, dia 1º de dezembro, às 15 horas, o filme Pra Frente Brasil. Nos dias 3 e 4 de dezembro tem a 1ª Mostra de Curtas, com filmes de ficção, e nos dias 11 e 12, filmes documentários, com sessões sempre às 17 e às 19 horas.
Ainda em exposição até o dia 5 de dezembro, estará aberta ao público a retrospectiva de Laurens L.R., e à partir do dia 5, e até o dia 12, a Feira Moderna, das 10 ás 15 horas, com comidas, artesanato, escambo e antiguidades.
Na série de cursos livres Saber Timburibá, a programação é a seguinte: dias 1 e 2 de dezembro, Artes com Thiago Gomes, “A gravura na arte contemporânea”; dias 3 e 4, Economia, com Fernando Ferreira em “O dia a dia e a política cambial”; dias 7 e 8, Meio Ambiente com Rogério Vianna Pereira, “Economia e Desenvolvimento Sustentável”; e nos dias 10 e 11, Filosofia, com Angela Alhanati, em “A Felicidade e um caminho ou um fim a ser alcançado?”. Todos na Oka, às 19h30. Aproveitem!!!!
Célia Borges

AGENDA CULTURAL – Geraldo Lopes lança CD no Centro Cultural Visconde de Mauá



Neste sábado, dia 28 de novembro, o compositor, músico e escultor Geraldo Lopes estará lançando seu CD “Geraldo Lopes”, no Centro Cultural Visconde de Mauá, à partir das 19h30, com muita roda de viola.
Artista múltiplo da terra, Geraldo vem desenvolvendo um trabalho intuitivo, de esculturas rústicas de madeira, composições musicais e habilidades instrumentais, com um belo violão de cedro, entalhado por ele mesmo.
O Centro Cultural Visconde de Mauá está convidando também para a abertura do seu tradicional Bazar de Natal, na terça-feira, dia 1º de dezembro, com um delicioso café da manhã e a apresentação do Terno Folia de Reis.
Célia Borges

25 de novembro de 2009

ALDEIA GLOBAL – O governo caminha rápido para legalizar o calote oficial



Se você, cidadão, deve algum dinheiro, seja uma prestação, um empréstimo bancário ou um imposto, terá que pagar, sob as penas da lei. Se atrasar, pagará com juros, multas e o que mais o seu credor puder impor. Se não puder pagar, perderá o crédito, perderá seus bens, e até, em casos extremos, vários tipos de liberdade, como o direito de viajar, por exemplo, se estiver devendo Imposto de Renda.
O rigor que é aplicado ao cidadão, entretanto, passa longe do Poder Público. Os governos, e em todos os níveis –federal, estadual ou municipal – já vêm há algumas décadas, usando de todos os artifícios possíveis, para protelar o pagamento de suas dívidas. Se governos deixam de cumprir seus compromissos com o cidadão – o que é muito mais comum do que a maioria acredita – obrigam-no a apelar para a Justiça. Depois de enfrentar a proverbial morosidade do Judiciário, se a causa é justa, o reclamante pode até ganhar. Mas isso não será a solução do seu problema, mas o início de um outro, ainda mais difícil de resolver.
As dívidas judiciais são transformadas em precatórios. E ter precatório a receber corresponde, geralmente, a ser condenado a um confisco disfarçado. Em primeiro lugar, o pagamento de precatórios pode levar décadas. Em segundo, seus valores nunca serão atualizados pelos valores de mercado. E aquele processo que você ganhou não vai significar nada, se não continuar pagando advogados, para garantir seu pagamento. Além de não receber o que lhe devem, você vai ter que continuar gastando, para manter viva a esperança de um dia receber o que lhe é de direito. Advogados cobram a famigerada “manutenção do processo”, o que significa ficar duplamente refém de um sistema judiciário incompetente e usurário.
Mas o governo acha que isso é pouco. Atualmente, as dívidas são proteladas por, em média, 10 a 15 anos. Por isso, tramita no Congresso, já aprovada pelo Senado e em fase de votação na Câmara, a chamada PEC do Calote - Emenda Constitucional 351 - que vai permitir aos governos parcelarem suas dívidas em até mais de 30 anos. O que, traduzindo para a realidade do cidadão, pode significar nunca receber o que lhe é de direito. E aliás, a finalidade do governo é essa mesma, dar um jeito de não pagar nunca. De deixar o cidadão “à ver navios”.
Acostumados a não pagar o que devem, os governos deixaram suas dívidas judiciais atingirem proporções estratosféricas. Dessa forma, se justificam, dizendo que “não há dinheiro para pagar”. Uma estimativa modesta situa essa dívida em R$ 100 milhões. Não há dinheiro para pagá-la, mas há dinheiro para tanta coisa inútil e desnecessária, que nem vou me dar ao trabalho de enumerar. Deixo isso á cargo do leitor. Mas quero lembrar que perdoamos dívidas de governos de outros países, pagamos ao FMI, vendemos combustível e energia a preços subsidiados. Autoridades dos três poderes se locupletam no luxo das mordomias que pagamos, além de seus altos salários. Mas para pagar o que se deve ao cidadão... ah! Para isso, nunca há recursos suficientes.
O caso do governo do Estado do Rio de Janeiro é um dos mais vergonhosos. Estamos no final de 2009, e há precatórios de 1997 que ainda não foram pagos. A crueldade oficial chega ao requinte de fazer acordo com o credor, tira-lo da lista dos precatórios, e simplesmente não cumprir o acordo, deixando o credor numa espécie de “limbo” judicial, onde a cumplicidade do executivo com o judiciário do estado, condena o cidadão como se ele fosse o culpado. A autoridade assina o acordo, e antes de pagar, denuncia a cobrança como “excessiva”. E durma-se sem a esperança de ver seu dinheiro transformado em realidade.
Um bom exemplo disso é o processo de um grupo de pensionistas, encabeçado pela Sra. Vera Lutherbach , em busca de pensões alimentícias não pagas no governo Brizola (1990), iniciado em 1991, e ganho em última instância em 1995. Inscrito nos precatórios de 1997, tirado da lista num falso acordo de 2003, até hoje suas autoras não receberam o que lhe devem. Autoras que são todas senhoras idosas, e das quais cerca de metade já faleceu até 2009. Morrer sem receber o que lhe devem, essa é a expectativa que resta para quem espera por justiça no Brasil.
O mais assustador de tudo isso é a omissão da sociedade, e até mesmo da imprensa, diante de tal arbitrariedade. É preciso notar, entretanto, que a tal da PEC do Calote traz em seu bojo uma crueldade ainda maior. Isentos da obrigação de pagar o que devem ao cidadão credor, os governos vão se sentir ainda mais à vontade para não cumprir suas obrigações. Não pagam, e os insatisfeitos que reclamem na Justiça. Se essa lei for aprovada, aí mesmo é que eles não vão ter que pagar.
A cumplicidade entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, cria monstros como a PEC do Calote. E àqueles que acham que não tem nada a ver com isso, é bom lembrar que um dia algum governo pode lhe lesar, e aí talvez seja tarde, e você nem tenha como reclamar. Desapropriações, pensões alimentícias, indenizações por qualquer tipo de dolo oficial, tudo isso vai cair no buraco negro das dívidas que os estados poderão parcelar indefinidamente.
Afinal, o dinheiro dos governos vale muito. E os direitos do cidadão não valem nada.
Célia Borges

PIKKUJOULU – Clube Finlândia convida para o seu Pequeno Natal


Neste sábado, dia 28 de novembro, o Clube Finlândia estará promovendo uma das festas mais tradicionais da colônia finlandesa no Penedo, o Pikkujoulu, o Pequeno Natal. A ampla programação, que começará às 17 horas, inclui a dança dos duendes, com as crianças da localidade, e a chegada do Papai Noel. Também está previsto um concerto de violão, com Hélio Ribeiro, antecedendo o tradicional baile, às 21 horas.
A programação completa do Pikkujoulu desde ano é a seguinte: 17 horas – culto de Natal com o pastor Tapio Leskinen; 18 horas – Dança dos Duendes, com a presença de Papai Noel; 19 horas – Riisipuuro, o lanche com o tradicional prato de natal; 20 horas – Concerto de violão de Hélio Ribeiro; 21 horas – início do tradicional baile.
Os ingressos para não sócios estão à venda no Museu Finlandês Dona Eva, a R$ 10,00 para adultos e R$ 5,00 para crianças e idosos. O prato de natal será servido à R$ 10,00 para não sócios. O concerto de Hélio Ribeiro incluirá obras de Piazzola, Bach, Albeniz, Villa Lobos, Baden Powell, Vinicius de Morais, Cartola, Leo Kotke, Steve Howe e do próprio violonista.
Célia Borges

AGENDA CULTURAL: Flávio Porto expõe na Oka Timbutibá



Um dos mais expressivos artistas jovens de Resende, Flávio Alex Porto, inaugura nesta quinta-feira, 26 de novembro, às 19 horas, mais uma exposição, dessa vez na Oka Timburibá. A mostra reúne mais de quarenta trabalhos, entre aquarelas, nankins e desenhos, além de esculturas baseadas na reciclagem de materiais, e ficará aberta ao público até 17 de dezembro, de segunda à sexta, das 14 às 20 horas.
Flávio, de 14 anos, que acaba de concluir a oitava série no Colégio Anglo, estreou em outubro passado, com exposição individual no projeto Câmara Cultural, promovido pela Câmara Municipal de Resende, na programação dedicada ao mês da criança. Um sucesso de público, com mais de 150 visitantes assinando o livre de presença, a mostra teve também boa aceitação da imprensa, com inúmeras publicações e comentários.
Flávio Alex Porto começou a desenhar aos cinco anos, mas passou a dedicar-se mais às artes plásticas à partir dos dez. Foi aluno de “mangá” com o professor Matsumoto e fez aulas também com Thiago Gomes, mas recentemente optou por desenvolver um estilo próprio, que procura desenvolver, explorando várias técnicas. Alguns de seus trabalhos estão também no acervo do Projeto Desperdício Zero, em exposição itinerante na região.
Célia Borges

23 de novembro de 2009

Desperdício Zero lança a mostra "Nada se Perde, Tudo se Transforma"


O Projeto Desperdício Zero estará lançando, nessa quarta-feira, dia 25 de novembro, a sua II mostra de arte e artesanato com materiais recicláveis, “Nada se Perde, Tudo se Transforma”, exposição itinerante que começará no Recanto 21 – Arte, Cultura e Lazer, no município de Quatis, com abertura às 17 horas. Nos próximos meses a mostra deverá ser apresentada nos demais municípios da região, como Porto Real, Itatiaia e Resende, estando desta vez no roteiro, também o município de Arapeí, SP.
Segundo a curadora do projeto, Fátima Porto, os artistas participantes, além dela própria, serão João Sabóia, Wendell Amorim, Fernando Fleury, Tatiana Ratinetz, Tiago Gomes, Kátia Quirino, Marcius Lima (in memoriam), Arcanjo, Carmem Gardoni, Flávio Porto, Liliam Mariana, Nádia Nelson, Aniele Carraro e Denir Micolini. Ela esclarece que, no decorrer do roteiro, novos trabalhos poderão ser aceitos, enriquecendo o acervo.
A exposição ficará aberta ao público do dia 26 de novembro a 6 de dezembro, de segunda à sábado, das 9 ás 11h30 e das 14h às 16h30. O agendamento para visitas de grupos e escolas poderá ser feito pelos telefones (024) 3353-6091 ou 9903-9774. No dia 6 o Projeto Desperdício Zero estará se apresentando em associação com a Feira da Roça de Quatis, em cujo Ponto de Cultura serão expostos os trabalhos das oficinas do projeto, realizadas no decorrer da primeira mostra.
Célia Borges

21 de novembro de 2009

ROBERTO DONATI – Um resumo biográfico possível


O nome de Roberto Donati é frequentemente associado ao do pintor Alberto da Veiga Guignard, por ter esse genial artista vivido em alguns períodos, entre 1940 e 1944, no Hotel Repouso, em Itatiaia, de propriedade de Donati, de quem era grande amigo. Ali, recuperando-se de problemas de saúde e encontrando abrigo para enfrentar as dificuldades financeiras, Guignard teve um período extremamente produtivo, do qual ainda se conhecem alguns quadros.
Donati foi amigo de muitos artistas – compositores, músicos, cantores líricos, romancistas, poetas e pintores – que freqüentaram o seu hotel desde 1931, quando foi inaugurado, mas as referências biográficas sobre ele mesmo são raras. Há um esforço de pesquisa sendo realizado para recuperar documentos, já que a maioria das informações que se pode obter, são resultado de lembranças de pessoas que conviveram com ele.
Roberto Donati nasceu em Berlim, por volta de 1886, tendo deixado a Alemanha logo depois da primeira Guerra Mundial, estabelecendo-se em Paris, onde dedicou-se ao comércio de peles. Essa mesma atividade levou-o a Argentina, onde viveu até meados da década de 1920, quando veio para o Brasil, onde radicou-se definitivamente. Homem culto, falava oito idiomas e tocava piano. E foi justamente a música que o inspirou para uma nova atividade profissional, quando veio para o Rio de Janeiro, tendo adquirido a Casa Carlos Wers, especializada na venda de instrumentos musicais e partituras.
Mais que um negócio, a Casa Carlos Wers foi um ponto de encontro dos artistas da época, onde Donati teve a oportunidade de cultivar uma verdadeira legião de amigos, que preenchiam sua vida solitária. Tendo perdido na guerra a família, os amigos, e possivelmente aquela que teria sido o grande amor da sua vida, tinha em seu país natal apenas duas sobrinhas...e foi no Brasil que ele encontrou um novo tipo de fraternidade, entre pessoas com as quais partilhava sua sensibilidade e generosidade.
Pouco depois de chegar ao Brasil, Donati conheceu Itatiaia, onde costumava hospedar na famosa Pensão Walter. Encantado com o local, onde encontrou outros imigrantes europeus, vindos em 1908, na época da criação do Núcleo Colonial do Itatiaia, Donati adquiriu em 1928 a gleba 128, do mesmo casal Walter que o hospedava. E ali construiu o Hotel Repouso, inaugurado três anos mais tarde. Na época não havia estrada, e o material da obra era transportado em carros de bois. E os hospedes tinham que chegar lá à cavalo.
Em poucos anos, o hotel transformou-se em seu principal interesse, tendo fechado a Casa Carlos Wers para dedicar-se integralmente. Afinal, o hotel era também um bom endereço para receber seus muitos amigos, como o poeta Vinicius de Morais, que se refere a ele em algumas cartas. E como Alberto da Veiga Guignard, que retribuía a hospitalidade de Donati pintando muito, inclusive nas portas, paredes, traves e janelas da cabana que ocupou, e na sede do hotel.
O Hotel Repouso hoje, chama-se Hotel Donati, por iniciativa dos novos proprietários, herdeiros do casal Marina e Mamede Vidal de Andrade, que o administraram durante décadas, e inclusive em seus últimos anos de vida. Donati adotou-os, assim como a alguns dos seus vizinhos em Itatiaia, como a sua verdadeira família, tendo sido padrinho das duas filhas do casal, Dora e Dalva. E deixou-lhes o hotel, hoje administrado por Dora e seu filho Carlos Eduardo, como herança.
Roberto Donati faleceu entre 1967 e 1968, não tendo sido possível precisar a data, mais de 80 anos. A cabana onde Guignard morou, e que é uma das atrações do hotel, ainda mantém as pinturas do artista, e onde, apesar da necessidade de reforma por que passou, continuam preservadas.
Célia Borges

IMAGENS DE ITATIAIA – Desordem urbana





A proposta da atual administração de Itatiaia, de apoiar e incentivar o turismo como prioridade no município, parece ter caído no esquecimento, antes mesmo de se completar um ano de mandato. Um bom testemunho disso são as condições em que se encontra Penedo, uma das suas principais regiões turísticas.
A prefeitura argumenta que não tem dinheiro, mas muitos dos problemas e situações existentes dependem mais de trabalho e vontade política, o que parece que, além da crônica falta de verbas, também não está existindo na proporção necessária.
Além dos inúmeros buracos nas principais vias de acesso, quem transita por Penedo encontra situações completamente absurdas, como a pista de uma das avenidas principais, a Avenida Penedo, no Jardim Martinelli, onde trafegam linhas de ônibus e caminhões, além dos demais veículos, ser usada para “virar cimento” de uma obra, e isso durante semanas, sem ser incomodado por qualquer fiscalização.
Veículos avariados, abandonados nas ruas por seus proprietários, também durante semanas, sem pneus, e até sem as rodas (o da foto está há meses, no alto da ladeira do Formigueiro) mostram que a falta de fiscalização permite todo o tipo de abuso. Até uma obra, em terreno com grande encosta, sem qualquer placa de identificação, o que pressupõe clandestinidade, está sendo realizada, para a perplexidade de uma parcela da população local, que se preocupa com a coletividade.
Ao prometer tratar o turismo como prioridade, o atual governo de Itatiaia apostava nessa atividade como fator de desenvolvimento econômico sustentável, associando-a com uma política ambiental à altura do que o município, com seu grande patrimônio natural, precisa e merece. Mas até agora, muito pouco, ou nada, evoluiu, nas políticas voltadas para esses dois setores. E o prefeito, como as demais autoridades do país, começa a procurar refúgio na política da desculpa esfarrapada, também conhecida como “eu não sabia”.
Célia Borges

12 de novembro de 2009

AGENDA CULTURAL – Canudos, de Euclides da Cunha, em peça em Visconde de Mauá



O Colégio Estadual Antônio Quirino e o Centro Cultural Visconde de Mauá estão convidando para a apresentação da peça teatral “Os Sertões, Impressões de Canudos”, baseada na obra de Euclides da Cunha, nesta sexta-feira, dia 13 de novembro, na sede do Centro Cultural, às 19h30.
O texto conta com a adaptação da professora de literatura Dilza Freitas, o elenco do Grupo de Teatro, e a direção de Gilda Guilhon. Essa é mais uma iniciativa do Centro Cultural Visconde Mauá na comemoração dos seus cinco anos, trabalhando pela arte, educação e cultura. O Centro, que agora é também Ponto de Leitura, está aberto a doações de livros para seu acervo, e outras contribuições, para a continuação dos seus trabalhos.
Célia Borges

9 de novembro de 2009

ALDEIA GLOBAL – Dê-se um presente de Natal: leia a Constituição do seu país


O fim de mais um ano vem chegando. E esse, parece que passou ainda mais depressa do que o anterior. Mal conseguimos realizar nossos projetos para 2009, e eis que as vitrines já começam a se encher de bolas coloridas e da animação das lâmpadas pisca-pisca. E, como na profética frase de Tommaso de Lampeduza, no seu clássico “O Leopardo”, tudo mudou, para continuar igual. O mundo mudou nesses pouco mais de dez meses, surgiram novas tecnologias, prédios foram construídos, a economia levou um “tranco” e se ajustou... mas no essencial, tudo continua exatamente igual.
Violência e corrupção. Covardia e inanição. O marketing substituindo a ética perdida. E essa estarrecedora falta de vontade política para a solução dos problemas da nossa existência, como indivíduos e como cidadãos. Enquanto bancos, empresas e outros setores da economia privada receberam bilhões em ajuda para corrigir a “bolha” especulativa que eles mesmos criaram, os recursos para socorrer os refugiados e famintos do planeta, só fez minguar. Enquanto autoridades de governos se locupletam dos luxos que seus altos cargos lhes garantem, ainda há crianças morrendo de diarréia, e idosos morrendo na fila dos hospitais públicos.
Enfim, não é difícil apontarmos os problemas que nos afligem. O difícil é encararmos o fato de que as mudanças dependem de nós mesmos. Mas para mudar é preciso, antes de mais nada, querer. E querer sinceramente. E investir nesse desejo de mudança. E além de coragem, isso implica em conhecimento. Em ampliar conhecimentos. Em não ter medo de saber. Hoje, vivemos num mundo em que o conhecimento é um valor tão importante que já se compara ao capital financeiro. E como costumava dizer meu falecido marido, Paulo Borges, saber não ocupa lugar. Mas pode fazer grande diferença, na nossa vida e nas dos demais.
Um conhecimento básico para a nossa vida deveria ser, por exemplo, o da Constituição do nosso país. Como queremos ser cidadãos, se não conhecemos nem mesmo a mais básica das nossas leis? Se eu soubesse fazer enquete no meu blog, faria essa: quantos dos meus leitores já se deram ao trabalho de ler a Constituição do seu país? Não quero ser pessimista, mas acredito que muito poucos. Quando fiz o curso ginasial no Colégio Estadual Orsina da Fonseca, tínhamos uma matéria chamada Estudos Sociais, e nela, estudávamos a Constituição. Mas em 1988 foi promulgada uma nova, e desde então, que eu saiba, ela não é leitura obrigatória em lugar nenhum. Talvez apenas nos cursos de Direito, mas mesmo assim...
O desconhecimento de nossos direitos e deveres é emblemático, para mostrar o quão pouco nos damos valor, o quão pouco nos respeitamos como cidadãos. O Judiciário é uma bagunça, a Justiça não funciona, mas não vamos ajudar em nada a melhorar essa situação se optarmos por, simplesmente, nos omitirmos e nos rendermos á nossa própria ignorância. Sem saber o que nos cabe, sem conhecer os limites constitucionais das autoridades, nos tornamos uma população sujeita á todo o tipo de manipulação, tratados como gado, nivelados por baixo, desrespeitados em todos os escalões.
Desunidos e desorganizados, não vamos chegar a lugar algum. Mas ignorantes dos nossos direitos e deveres, aí então é que não vão sobrar muitas esperanças de se construir um país, melhor, mais justo e desenvolvido, e desculpem o chavão, mas não há como dizer isso de forma diferente. Sem conhecer as nossas próprias leis, não há como esperar que sejamos donos dos nossos próprios destinos. E o mais preocupante é que a maioria da população não está minimamente preocupada com isso. Distraídos com pão e circo, dançando funk e vendo “reality shows” na TV, e o resto, “Deus dará...”
Meu convite e sugestão para a leitura da Constituição não vai, certamente, garantir a ninguém uma vida melhor. Ninguém vai conseguir um emprego, nem ficar rico com isso. Não há maiores vantagens, do que aquela de se tomar consciência daquilo que, se não somos, deveríamos ser. De ter consciência de que se esse não é o país que nós queremos, pelo menos poderia ser. Se as leis fossem respeitadas. Mas se nem conhecemos as nossas leis, podemos esperar o quê?
Célia Borges

8 de novembro de 2009

EXPOSIÇÃO DE FOTOS E LANÇAMENTOS NO CENTRO CULTURAL VISCONDE DE MAUÁ


O Centro Cultural Visconde de Mauá está convidando associados e o público em geral para a abertura da Exposição de Fotografias dos fotógrafos Darshana, Juliana Mello, Ligia Skowronski e Daniel Campadello , que será realizada no próximo dia 12 de novembro, à partir das 19h30, juntamente com o lançamento do Calendário 2010 e do CD “Caleidoscópio Surreal”, do músico Leo Gatti.
O coquetel de abertura contará com o apoio da Padaria de Produção “Meninos da Montanha”, com seus deliciosos pães. A exposição de fotografias ficará aberta no Centro Cultural até o dia 28 de novembro, aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 18 horas. À partir do dia 30 de novembro ela estará exposta na Galeria Alegria, na Vila das Flores, em Maringá.

3 de novembro de 2009

IMAGENS DE ITATIAIA – Município distribui água imprópria para consumo



Alguns bairros de Itatiaia vêm recebendo, há pelo menos três meses, água contaminada com coliformes, e portanto, impróprias para consumo. A situação encontra-se relatada nos
Documentos de Qualidade Operacional do Laboratório de Análise de Água da Prefeitura de Itatiaia, emitidos regularmente pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Nas análises feitas no dia 4 de agosto passado, dos 23 pontos de coleta pesquisados, em cinco foi acusada a presença de coliformes totais – Vila Odete, Belos Prados, Jardim das Rosas, Vila Paraíso e Marechal Jardim – e em outros dois – Jardim das Rosas e Marechal Jardim – também coliformes termotolerantes.
No dia 11 de agosto, em 24 pontos de coleta, oito apresentavam a presença de coliformes totais: Vila Magnólia, Vale do Ermitão, Vila Flórida, Belos Prados, Vila Esperança, Jardim das Rosas, Marechal Jardim e Haras Palmital. A qualidade da água mostra uma recuperação na coleta de 18 de agosto, com apenas três pontos com coliformes totais – Vale do Ermitão, Vila Esperança e Marechal Jardim – mas na coleta seguinte, de 15 de agosto, em 23 pontos de coleta, seis apresentaram coliformes totais – Vale do Ermitão, Vila Flórida, Jardim das Rosas, Marechal Jardim, Haras Palmital e Palhoça Palmital – além de cinco com coliformes termotolerantes – os mesmos citados antes, menos Marechal Jardim.
As condições mais críticas foram verificadas na coleta do dia 10 de setembro, quando dos 22 pontos pesquisados, oito apresentaram coliformes totais – Vila Flórida, Vila Esperança, Jardim das Rosas, Jambeiro PP38 e PP39, Rua Roberto Cotrim (Campo Alegre), Vila Pinheiro e Marechal Jardim – além de coliformes termotolerantes em quatro – Vila Flórida, Jardim das Rosas, Jambeiro PP38 e PP39. Na coleta de 30 de setembro foram detectados coliformes totais no Jambeiro PP38 e no Palhoça Palmital.
Além da presença de coliformes, os Documentos de Qualidade Operacional do Laboratório de Análise de Água da Prefeitura de Itatiaia apontam, no decorrer desses meses, problemas com a turbidez (cristalinidade) da água, que em várias ocasiões, e em diversos pontos, tem apresentado índices muito superiores aos Valores Máximos Permitidos.
Os Documentos relativos às coletas do mês de outubro não haviam sido divulgados até hoje pela manhã. O Secretário Municipal de Meio Ambiente, Domingos Baumgratz, informou que a sua secretaria vem empreendendo todos os esforços para solucionar o problema da água em Itatiaia, mas que encontra dificuldades diante da falta de recursos. Ele afirma que estão sendo elaborados convênios com o governo estadual, no sentido de obter os recursos necessários para a solução desse, e de outros problemas ambientais do município.
Célia Borges

2 de novembro de 2009

Ciclo de Debates sobre o Parque Nacional do Itatiaia tem 3º Encontro



O Ciclo de Eventos e Debates sobre o Parque Nacional do Itatiaia, iniciado em setembro, terá nesta quarta-feira, 4 de novembro, o seu terceiro encontro, com início marcado para 18 horas, e como nos anteriores, no plenário da Câmara Municipal de Itatiaia.
O tema desse encontro será a apresentação da Proposta de Regularização Fundiária do Núcleo Colonial de Itatiaia, marcada para 18h30, e apresentada pela Associação dos Amigos do Itatiaia, a AAI; para as 19 horas estão programados os debates, tendo como moderador Luiz Alves, e às 20 horas, encerramento e encaminhamento.
Nos debates anteriores foram apresentadas as questões ambientais do município e uma análise histórica, e a apresentação do Plano de Manejo que vem sendo imposta pelas autoridades federais que administram o parque, através do Instituto Chico Mendes. O encontro visa restabelecer direitos, ameaçados por essa proposta, e apresentar alternativas para a convivência entre a comunidade do município e a instituição.
Célia Borges