18 de fevereiro de 2010

ICMBIO no Parque Nacional do Itatiaia: atropelando a História e desprezando a Natureza



O Núcleo Colonial de Itatiaia completou cem anos em dezembro de 2008. Criado em 1908 pelo Governo Federal, teve seus lotes vendidos à imigrantes europeus, incentivados a virem para o Brasil com a finalidade de colonização da área. Nesses 100 anos, seus moradores tiveram grande influência na formação social e cultural da região, contribuindo para a recuperação e preservação do meio ambiente, e para o desenvolvimento do turismo, como importante atividade econômica.
Agora, o centenário Núcleo Colonial está tendo que reivindicar seus direitos na Justiça: uma Ação Civil Coletiva deu entrada na Justiça Federal de Resende em janeiro, proposta pela Associação dos Amigos do Itatiaia, a AAI, contestando o programa de monitoria que vem sendo imposto pelo Instituto Chico Mendes. Além de dificultar o livre trânsito dos moradores, o programa propõe a desapropriação da área, sem levar em consideração seus aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos.
O Parque Nacional do Itatiaia foi criado em 1937, e de acordo com a legislação, deixou de fora as terras do Núcleo Colonial. Um decreto de 1982, entretanto, ampliou a área do Parque, incluindo o núcleo, sem apresentar justificativas técnicas para isso. Os termos desse decreto, entretanto, nunca foram postos em prática, e segundo o advogado da AAI, Dr. Antonio Sebastião de Lima, e ele perdeu a validade por decurso de prazo.
Em 2007 o Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Chico Mendes, apresentou um programa de monitoria para o Parque Nacional, baseando-se no decreto de 1982, e anunciando, entre outras medidas, a desapropriação das terras do Núcleo. O programa prevê um projeto ambicioso, com dispêndio de grandes recursos, mas só se refere à parte baixa, onde está localizado o Núcleo, que representa menos de 2% da área total do Parque.
Entre os itens do programa está a instalação de uma universidade, com trânsito diário de 1.500 estudantes. Os moradores questionam os objetivos ambientalistas do programa, já que a maior parte do Parque, mais de 28 mil hectares, onde são abundantes as áreas de mata nativa, não está sendo contemplada com projetos e recursos que atendam às suas necessidades de preservação.
A ação da AAI pede não apenas a anulação do decreto de 1982, como antecipação de tutela, para garantir aos moradores alguns direitos básicos, já que “portarias” baixadas pela direção do Parque dificultam o direito de ir e vir dos moradores, clientes de hotéis e restaurantes, e trabalhadores, criando problemas inclusive para o recolhimento do lixo, a manutenção da rede elétrica, e até entrada de materiais de construção para manutenção dos imóveis.
Também estão sendo reivindicadas a devolução do acervo e reativação do Museu da Fauna e da Flora, a reclassificação da área do Núcleo para Monumento Natural – de forma a proteger o meio ambiente mas garantir a propriedade dos moradores – e até o cumprimento, pela direção do Parque, de suas responsabilidades na manutenção da reserva, como a recuperação das trilhas e estradas, que se encontram em estado de abandono.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – O Haiti que nos rodeia



Foi comovente ver a mobilização do povo brasileiro para ajudar as vítimas do terremoto no Haiti, em 12 de janeiro. Além dos esforços da sociedade, através de campanhas e doações, o governo “tirou da cartola” alguns milhões de dólares, em dinheiro e outros tipos de doações, inclusive com grande mobilização de pessoal especializado, entre civis e militares. De certa forma, fico orgulhosa de ver tanta solidariedade e calor humano, tanto empenho em apoiar a população de um país vizinho, já tão pobre, e castigada por tão devastadora circunstância.
Somos campeões em generosidade. Principalmente quando se trata de ajudar “aos outros”. E quando escrevo “aos outros” não me refiro apenas a outros países. Há décadas me lembro de ver grupos de pessoas e instituições se desdobrando para ajudar vítimas da seca no nordeste, das enchentes no sul... quanto mais longe, mais desprendidos e generosos nos mostramos.
Não quero que esse comentário, em tom um tanto crítico, induza o leitor a erro: não sou contra nosso caráter generoso e solidário, ao contrário, acredito mesmo que ele faz parte da nossa natureza, assim como outros traços bem menos edificantes. Desse, pelo menos, eu posso me orgulhar. O que me assusta é essa nossa capacidade de ajudar a quem está longe, e não termos olhos solidários para toda a pobreza que nos cerca.
O Haiti tem cerca de 9 milhões de habitantes, dos quais dois milhões foram diretamente afetados pelo terremoto. O Brasil tem uma população mais de 20 vezes maior. E não tenho a menor dúvida que nela, cabem diversos Haitis. E não é preciso ser um pesquisador social, ir ao submundo ou aos canfundós do país. A nossa pobreza está todos os dias nos noticiários, e fica ainda mais explicita nesse período de chuvas intensas, revelando as moradias precárias, a falta de estrutura, o abandono a que estão condenadas tantas das nossas populações.
Apenas três dias depois do terremoto no Haiti, uma matéria n´O Globo mostrava que “No Brasil, 285 mil índios são miseráveis”. E no subtítulo: “Relatório da ONU mostra que comunidades correm risco de extinção”. Há anos leio e escrevo sobre grande quantidade de crianças indígenas que vêm morrendo de desnutrição e diarréia, mas jamais tomei conhecimento de uma mobilização da sociedade ou de um esforço concentrado por parte do governo, para enfrentar essa situação. Indios não dão voto e suas dificuldades não alcançam as primeiras páginas.
As estatísticas garantem que com políticas como o Bolsa-Família, tiramos alguns milhões de brasileiros da linha de pobreza. Será que R$ 100 reais por mês é capaz de fazer esse milagre? Estatísticas são apenas estatísticas, onde os cidadãos estão reduzidos a números. E nelas nunca aparece muito destacada a quantidade de população que vive em condições miseráveis.
Não precisamos nem de terremoto. Se em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e suas respectivas regiões metropolitanas, podemos assistir ao drama de dezenas de milhares de pessoas desabrigadas pelas chuvas, imaginemos apenas o que pode estar acontecendo nos rincões mais distantes do país, e que não chegam ao noticiário.
A diferença, e o que nos imobiliza, é que enquanto para ajudar a quem está longe basta mandar dinheiro, roupas e mantimentos, para enfrentar a nossa precisamos de participação, reivindicações e cobranças às nossas autoridades. Mas para os nossos pobres, achamos que já pagamos impostos, e isso basta. Para que lutar por eles, se é tão mais fácil nos acomodarmos e permanecermos omissos? Para ajudar a reconstruir o Haiti, mandamos doações e dinheiro. Para solucionar a nossa pobreza, a maioria acredita que basta rezar, e pedir à Deus.
Célia Borges

AGENDA CULTURAL – Exposição “O Papel das Vilas” chega dia 24 ao MAM/Resende



A exposição “O Papel das Vilas”, que ficou em cartaz no Centro Cultural Visconde de Mauá no período de férias, chega no próximo dia 24 de fevereiro, quarta-feira, ao Museu de Arte Moderna de Resende. As obras da exposição são trabalhos de artistas da região sobre papel botânico reciclado, produzido pela MR Papel – Papelaria Artesanal.
A abertura da exposição no MAM está marcada para às 19 horas, e terá a apresentação especial do Duo Contraponto, formado por Roberto Granja e Marcelo Bezerra. Segundo Maurício Rosa, que promove a exposição em parceria com o Centro Cultural Visconde de Mauá, 2010 é o ano da biodiversidade, e marca a comemoração dos 30 anos da produção de papel artesanal no Brasil.
“O Papel das Vilas” também está registrado em vídeo: no último dia 18, Fernando Fleury e Zé Tavares, fundadores da TV Maringá, filmaram a mostra ainda no Centro Cultural Visconde de Mauá, divulgando o movimento artístico do projeto, impressões de visitantes sobre a exposição, as obras e técnicas utilizadas.
Com essa exposição, segundo a diretora do Centro Cultural, Márcia Patrocínio, está sendo selada uma nova parceria com o MAM Resende, que está completando 60 anos, com o apoio da diretora desta instituição, Vanda Perantoni Schimid. Na foto, a obra Os Dons da Natureza, de Luisa Ramagem.
Célia Borges

8 de fevereiro de 2010

AOS CEM ANOS, NÚCLEO COLONIAL DO ITATIAIA LUTA NA JUSTIÇA PARA NÃO SER EXTINTO




O Núcleo Colonial de Itatiaia completou cem anos em dezembro de 2008. Criado em 1908 pelo Governo Federal, teve seus lotes vendidos à imigrantes europeus, incentivados a virem para o Brasil com a finalidade de colonização da área. Nesses 100 anos, seus moradores tiveram grande influência na formação social e cultural da região, contribuindo para a recuperação e preservação do meio ambiente, e para o desenvolvimento do turismo, como importante atividade econômica.
Agora, o centenário Núcleo Colonial está tendo que reivindicar seus direitos na Justiça: uma Ação Civil Coletiva deu entrada na Justiça Federal de Resende em janeiro, proposta pela Associação dos Amigos do Itatiaia, a AAI, contestando o programa de monitoria que vem sendo imposto pelo Instituto Chico Mendes. Além de dificultar o livre trânsito dos moradores, o programa propõe a desapropriação da área, sem levar em consideração seus aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos.
O Parque Nacional do Itatiaia foi criado em 1937, e de acordo com a legislação, deixou de fora as terras do Núcleo Colonial. Um decreto de 1982, entretanto, ampliou a área do Parque, incluindo o núcleo, sem apresentar justificativas técnicas para isso. Os termos desse decreto, entretanto, nunca foram postos em prática, e segundo o advogado da AAI, Dr. Antonio Sebastião de Lima, e ele perdeu a validade por decurso de prazo.
Em 2007 o Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Chico Mendes, apresentou um programa de monitoria para o Parque Nacional, baseando-se no decreto de 1982, e anunciando, entre outras medidas, a desapropriação das terras do Núcleo. O programa prevê um projeto ambicioso, com dispêndio de grandes recursos, mas só se refere à parte baixa, onde está localizado o Núcleo, que representa menos de 2% da área total do Parque.
Entre os itens do programa está a instalação de uma universidade, com trânsito diário de 1.500 estudantes. Os moradores questionam os objetivos ambientalistas do programa, já que a maior parte do Parque, mais de 28 mil hectares, onde são abundantes as áreas de mata nativa, não está sendo contemplada com projetos e recursos que atendam às suas necessidades de preservação.
A ação da AAI pede não apenas a anulação do decreto de 1982, como antecipação de tutela, para garantir aos moradores alguns direitos básicos, já que “portarias” baixadas pela direção do Parque dificultam o direito de ir e vir dos moradores, clientes de hotéis e restaurantes, e trabalhadores, criando problemas inclusive para o recolhimento do lixo, a manutenção da rede elétrica, e até entrada de materiais de construção para manutenção dos imóveis.
Também estão sendo reivindicadas a devolução do acervo e reativação do Museu da Fauna e da Flora, a reclassificação da área do Núcleo para Monumento Natural – de forma a proteger o meio ambiente mas garantir a propriedade dos moradores – e até o cumprimento, pela direção do Parque, de suas responsabilidades na manutenção da reserva, como a recuperação das trilhas e estradas, que se encontram em estado de abandono.
Célia Borges

4 de fevereiro de 2010

IMAGENS DE ITATIAIA – Missa e canto lírico pela Capela de N.S. dos Passos nesse sábado



Diante da interdição do prédio centenário, pela Defesa Civil, sob o argumento de ameaça de desabamento, a comissão que vêm trabalhando pela preservação e restauração da Capela de Nosso Senhor dos Passos, em Itatiaia, programou, com o apoio do Padre Paulo Solak, uma cerimônia religiosa e cultural na Igreja Matriz de São José, nesse sábado, dia 6 de fevereiro, à partir das 19 horas.
A programação será iniciada com a Missa, para qual estão convidas não apenas as lideranças comunitárias que atuam na defesa da capela, como toda a comunidade do município de Itatiaia. Em seguida, haverá um recital lírico, pela cantora Líria Cravo, de 25 anos, que estudou em São Paulo e foi selecionada para um curso em Milão, para onde estará indo no final desse ano. Apaixonada por sua arte, Líria diz que “a música desperta sentimentos profundos”, importantes para serem compartilhados com o público.
Célia Borges