17 de dezembro de 2009

IMAGENS DE ITATIAIA – Arquiteto busca informações para projeto de restauração da capela de Nosso Senhor dos Passos



O arquiteto Roberto Batista Reis, funcionário concursado e lotado na Secretaria Municipal de Educação de Itatiaia, informou ontem (15/12) que vem, há cerca de quatro meses, trabalhando num levantamento, que será a base para o desenvolvimento de um projeto de restauração e conservação da Capela de Nosso Senhor dos Passos. A capela, que é o prédio identificado como o mais antigo do município, e seu principal patrimônio histórico, encontra-se em estado de abandono, e com sua integridade ameaçada.
Segundo o arquiteto, nessa etapa do levantamento, ele está trabalhando em duas frentes: a primeira é a confecção do desenho técnico do prédio (planta baixa, corte e fachada), que já está em fase de conclusão; e a segunda, a pesquisa de todo o tipo de informação sobre o prédio, através de pessoas que tenham trabalhado nas obras de manutenção realizadas, devotos que freqüentaram a capela, e principalmente, na busca de fotografias antigas que possam servir de subsídio para a elaboração do projeto.
- “A colaboração da comunidade é muito importante para que possamos fazer um bom trabalho”, observa ele, constatando a falta de documentação histórica em que possa se basear, e que, na sua opinião, poderá ser compensada pelo menos em parte, através de depoimentos de moradores que conheceram e freqüentaram a capela. A contribuição decisiva para a reconstituição do projeto arquitetônico original e do interior do templo, que foi completamente destruído, poderá ser dada principalmente por fotografias, que ele vem buscando entre famílias antigas do município, na falta de um arquivo público municipal.
O projeto de recuperação e restauração da Capela de Nosso Senhor dos Passos, para Roberto Batista Reis, não é apenas mais um trabalho. Radicado em Itatiaia desde 1991, ele atuou na Secretaria de Obras da prefeitura, quando esta ocupava o prédio. Sua preocupação com a preservação da capela vem desde essa época, e ele lembra que, quando foi chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da prefeitura, entre 1992 e 1993, embora o assunto não fosse exatamente da sua competência, tomou a iniciativa de elaborar um relatório sobre a situação do prédio histórico, na expectativa de mobilizar o poder público para a solução do problema.
Nascido na cidade histórica mineira de São João Del Rey, Roberto formou-se em Barra do Piraí e estagiou dois anos na Fundação Pró-Memória, em Vassouras, alimentando aí sua sensibilidade e vocação para as questões do patrimônio histórico. E embora o trabalho na SMEC de Itatiaia o tenha levado para outro tipo de atividade – a reestruturação das unidades de ensino – seu interesse permaneceu, inclusive através de relações de amizade, como a que mantém com Isabel Rocha, do escritório técnico do IPHAN em Vassouras. Estudiosa em cerâmica antiga, ela já demonstrou interesse em analisar os tijolos da capela, além da consultoria que já vem dando através das atividades regulares do próprio IPHAN.
O arquiteto, que vem acumulando suas tarefas normais com o projeto da capela, observa que, antes da reforma e restauração do prédio, vem trabalhando prioritariamente num relatório de orientação para as obras emergenciais, visando a conservação desse bem público, enquanto o projeto completo precisará ser elaborado numa etapa posterior, dentro das normas técnicas indispensáveis à situação. Para atender à ambas as necessidades, ele está produzindo um “mapa de danos”, definindo metro por metro, todos os problemas encontrados, como as infiltrações, rachaduras, e ocorrência de fungos, entre outros. Isso implica em identificar, inclusive, as obras de conservação e remendos, realizados sobre o prédio original.
Segundo ele, o IPHAN deu parecer informal de que as obras emergenciais podem ser executadas pela prefeitura, já que o tombamento é municipal. Mas está sendo encaminhado um ofício ao instituto, para que essa anuência possa ser dada de forma oficial. Ao mesmo tempo, a prefeitura vem buscando recursos para essas obras emergenciais, que são principalmente a limpeza das calhas, a retirada das árvores do telhado, a substituição de telhas, troca de algumas madeiras e outras providências que garantam sua conservação, até a conclusão do projeto e o início das obras de restauração.
O arquiteto diz ainda que, no momento, é impossível definir o custo da restauração, já que um levantamento mais detalhado dos danos e das necessidades, vai depender inclusive dessas obras emergenciais, quando será possível colocar andaimes, por dentro e por fora do prédio, e assim observar mais de perto a situação de cada parte da capela. Todos esses dados precisam constar do projeto, assim como as propostas para os materiais de acabamento (madeiras, pisos e outros aspectos arquitetônicos) e do mobiliário (altar, escadas, jirau do coro e bancos, por exemplo). O custo de cada um desses detalhes, no momento da obra, é que vai determinar o orçamento.
Enquanto aguarda o início das obras emergenciais, e as condições para concluir seu levantamento visando a elaboração do projeto de restauração, o arquiteto vem desenvolvendo, em parceria com os arquitetos Felipe e Sergiane Castaño, uma maquete eletrônica, com os dados já disponíveis projetados sob a perspectiva do que pode e precisa ser feito para a recuperação da capela. As novas informações podem ser acrescentadas no decorrer do trabalho, até o projeto final.
- “No momento, trabalhamos com que está disponível para a conservação do prédio. Mas para a elaboração de um projeto de restauração, o que vamos precisar é de toda a informação possível, principalmente através de fotografias”, conclui ele, lembrando que a participação e a colaboração da comunidade do município podem fazer grande diferença para que Itatiaia possa ter, no futuro, um patrimônio à altura da sua história.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – Copenhage e a natureza do nosso próprio quintal



Enquanto as autoridades dessa nossa aldeia global se degladiam em Copenhage, para estabelecer normais internacionais visando controlar a degradação do meio ambiente, e preservar o planeta diante das cada vez maiores ameaças de desastres naturais, a maioria de nós segue alheia, na inocente irresponsabilidade de achar que não tem nada com isso, ou, no caso dos nossos governantes, usando as questões ambientais como mero “marketing” eleitoral, e exercendo sua culpada irresponsabilidade.
Falando sério, é claro que pouco podemos fazer sobre o que se discute em Copenhage. Mas se olharmos à nossa volta, começando pela nossa casa, pela nossa rua, pelo nosso bairro, pela nossa cidade, talvez encontremos alguma, ou até muita coisa a fazer em defesa do meio ambiente. Temos arbítrio, e podemos tomar atitudes, começando pela destinação do nosso próprio lixo. Existem mecanismos de reciclagem, que só não são mais eficientes porque falta consciência, participação e condicionamento, via educação ambiental, da comunidade.
Eu cito o lixo, para começar, porque é uma questão que pode ser trabalhada de forma individual e comunitária. A coleta seletiva pode ser feita em casa, no prédio, no quarteirão, ou através de uma associação de bairro. Quanto mais pessoas e unidades habitacionais envolvidas, maior a chance de sucesso da iniciativa. Já existe uma coleta organizada para restos de óleo de cozinha, por exemplo, e diversas instituições como a APAE, que recolhem e usam o lixo reciclável como fonte de renda. São pequenas providencias que dependem do cidadão, e que podem fazer grande diferença no volume e qualidade do lixo de um município.
Cuidar do próprio lixo corresponde à um tipo de consciência ambiental, que pode ter desdobramentos, como a de promovermos a reciclagem dentro da própria casa, aprendendo a reaproveitar e assim, a economizar. Atentos, podemos aprender novas e melhores formas de fazermos isso. Vivendo e agindo dentro desse conceito, podemos dar exemplos, e influenciar o comportamento dos nossos familiares, parentes e vizinhos. Observando soluções, e divulgando-as, podemos estar fazendo parte de uma “corrente do bem”, da qual, no futuro, pode depender a nossa própria sobrevivência. Ou a dos que seguirão depois de nós.
A consciência ambiental será tão mais sólida quanto começar em nossa própria casa. Mas ela também precisa se expandir para além dos nossos muros e paredes, e alcançar as nossas ruas e nossos bairros. Nossos municípios e estado. Porque a cada dia somos cúmplices, embora geralmente inconscientes, dos mais diversos crimes e irresponsabilidades contra a natureza. Vemos pessoas caçando e mantendo pássaros em cativeiro, e há gente que acha isso muito natural. Jogamos lixo na rua ou varremos das calçadas para os bueiros, sem pensar no que isso pode resultar. As árvores das nossas ruas estão infestadas de erva-de-passarinho, definhando e provocando riscos, mas passamos por elas sem nem ao menos um segundo olhar.
Olhando um pouco além dos nossos bairros, numa visão geral dos nossos municípios – Resende, Itatiaia, Quatis e Porto Real – podemos ver uma sequência de morros e montanhas nuas de vegetação, herança do “ciclo do café”, que se extinguiu há mais de cem anos. Há 25 moro por aqui, e pouco mudou nessa paisagem. Especialistas em meio ambiente, por aqui existem muitos. Eles se revezam em cargos no poder público – municipal e até estadual – e no comando de organizações e desorganizações não governamentais. Participam de congressos, dão entrevistas nos jornais. Podem ser grandes mestres na teoria de salvar o meio ambiente, mas eu ainda estou à espera de um, apenas um, que me mostre uma iniciativa de resultados, um projeto de reflorestamento que tenha sido relevante, a história de uma única árvore plantada. Temos mestres em teoria, mas nada vai resultar em prática, enquanto o cidadão, através da comunidade, não souber manifestar o que quer, e exigir o que é preciso.
Pode ser que em Copenhage as autoridades do planeta tomem alguma decisão importante. Mas nada do que eles decidirem lá vai ser tão relevante para o meio ambiente, quanto a atitude de cada um de nós, cuidando do nosso lixo, da nossa rua, do nosso bairro, do nosso município...
Célia Borges (em homenagem à Fátima Porto)