30 de janeiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Um piano para Visconde de Mauá

O Centro Cultural Visconde de Mauá, que tanto vem trabalhando para manter a vitalidade das atividades culturais na nossa região serrana, ganhou, merecidamente, um piano – que apesar de usado, encontra-se em ótimo estado. O doador foi o Maestro Marco A.B. Coutinho, de Brasília, que também conseguiu seu transporte, de “carona” numa mudança, até Niterói. Para vir de Niterói até Visconde de Mauá, entretanto, o custo está orçado em R$ 1.300,00, o que está acima dos recursos próprios do Centro Cultural, que também não poderá usar a verba do Ponto de Cultura, por tal despesa não estar prevista no orçamento.
Dessa forma, a única maneira de trazer o piano para Visconde de Mauá será contando com a ajuda da comunidade, que poderá fazer suas contribuições através das contas Itaú agencia 0320 e c/c 55664-0 ou Banco do Brasil agencia 0131, c/c 23670-5, ambas no nome de Márcia do Patrocínio G. Silveira, CPF 291661601-20. Márcia Patrocínio aproveita para agradecer a doação de um violino, pelo Alexandre, da Mauatec, que vai atender à turma de 16 estudantes desse instrumento musical.
Também nesse início do ano começam a ser recebidas as anuidades do Centro Cultural Visconde de Mauá para 2011, à partir de R$ 50,00, e que podem ser depositadas também nas contas acima. Márcia lembra que é preciso enviar e.mail confirmando a contribuição. Os recursos dessas contribuições são usados para a manutenção das atividades do CCVM, que oferece aulas de música e outras atividades culturais, para todas as faixas de idade, e criando eventos para a comunidade da região serrana.
Célia Borges

16 de janeiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – A sede de poder e as vidas desperdiçadas

As chuvas de verão na região sudeste do Brasil, e especialmente no estado do Rio de Janeiro, são tão previsíveis quanto a ambição desenfreada dos nossos políticos, quando chegam ao poder. A expressão “tragédia anunciada”, embora tão desgastada pelo uso, continua mais atual do que nunca. Não duvido que, até o final desse janeiro de 2011, tenhamos mais de mil vítimas à contabilizar em enchentes e deslizamentos de terras. Isso se a chuva der uma trégua.
Assim, é surpreendente que o nosso governador, recém-reeleito, tenha aproveitado justamente essa época para tirar férias na Europa. Férias que teve que interromper, é claro, diante dos trágicos acontecimentos – não encontrei sinônimos para isso – verificados na região serrana, central e norte do estado. As lições do Reveillon de 2009 para 2010, na Ilha Grande, em Angra e em Niterói, parecem não ter sido levadas a sério.
Eu não tinha ainda 15 anos, quando em 1966 vi, com meus próprios olhos, terras e pedras deslizando no Riachuelo, onde nasci, e morava então. Da janela de casa, numa ladeira em frente, na primeira claridade de uma manhã terrível, pude ver toneladas de entulho e pedras descerem morro abaixo, destruindo a maior parte da casa da minha avó Mariquinha, onde nossa família não morava mais, e onde, felizmente, os inquilinos saíram à tempo e sobreviveram. Os vizinhos das casas mais abaixo não tiveram a mesma sorte... a maioria morreu dormindo.
Confesso que essa experiência pessoal alimenta a minha indignação, ao ver, tantas décadas mais tarde, a mesma situação se repetindo indefinidamente. E constatando, com alguma amargura, que a nossa vida vale apenas o nosso voto. A nossa segurança e sobrevivência é assunto de importância secundária. Os recursos dos nossos impostos seguem servindo prioritariamente para pagar as mordomias daqueles que, eleitos, esquecem que vivemos numa democracia, e agem como se ungidos de poderes divinos, reis, imperadores, marajás, insensíveis à realidade da população brasileira.
Ano após ano, as promessas e discursos se repetem, nos momentos da tragédia, para serem esquecidos logo depois. “Vamos trabalhar muito, para que essa situação nunca mais se repita”. Vocês já ouviram isso antes. Eu já. Muitas vezes. No calor da comoção, vereadores, deputados e senadores se apressam em prometer e apresentar projetos, em reivindicar e destinar recursos. Tudo no papel. Prefeitos e governadores também se tornam os paladinos da salvação... de pessoas e lavouras. De vidas e de bens... que continuam se perdendo.
Desde 1966 – e só escrevo sobre o que sei e lembro – portanto há 44 anos, espero ver o desenvolvimento de projetos habitacionais que tirem as populações carentes das situações de risco, às quais são levadas por falta de opções de moradia. Nesse meio tempo, vi ser construído na Av. Chile, no centro do Rio, um prédio monumental e luxuosíssimo, para abrigar o BNH – Banco Nacional da Habitação – que já não existe, e nem cumpriu o seu papel. Os recursos da poupança, aprendi na adolescência, seriam destinados ao financiamento de imóveis, principalmente os populares. Se tivesse sido gerenciado com seriedade, se tivesse funcionado, não teríamos favelas nem gente morrendo em desabamentos de encostas.
Já vou fazer 60 anos, e tudo o que vi até agora foi a criação de redutos de marginalidade, como a Cidade de Deus, no Rio, e a Cidade Alegria, em Resende. Além de outros conjuntos habitacionais espalhados pelo Rio, que dá até tristeza ver. Não sei de onde as nossas autoridades tiraram o conceito de que, pobre tem que viver em lugares horríveis e de aparência miserável. A idéia deveria ser ajuda-los a melhorar de vida, mas o que se vê são construções de péssima qualidade, e que se deterioram facilmente, não só pelo seu conceito precário, mas pela falta de educação dos moradores. Que também não a recebem, e não por culpa deles mesmos.
Vivemos num país onde a desordem é institucionalizada. Desordem e retrocesso, é o que deveria constar na nossa bandeira, a bem da verdade. Aqui, ninguém é responsável por nada. A culpa é sempre do outro. O governador Sérgio Cabral, por exemplo, na primeira chance de dar entrevista, culpou os governos anteriores. Esqueceu o dele próprio, nos últimos quatro anos, que não mostrou nenhum avanço nessa questão. Se o governador tivesse gasto na contenção de encostas, o que gastou na sua campanha eleitoral pela reeleição, talvez muitas vidas tivessem sido poupadas. Mas disso, ele não vai se lembrar nunca.
A eterna desculpa é de que não há recursos. Não faltam recursos para que nos candidatemos à sede de um campeonato mundial de futebol, ou para sede das Olimpíadas. Mas para prover as nossas populações de melhores condições de vida, investir em projetos de habitação que ofereçam alguma qualidade de vida, em projetos ambientais que tracem limites para a ocupação humana, em educação e saúde para as populações mais necessitadas, para isso nunca há recursos suficientes. Nem a menor vontade política.
Pagamos os maiores impostos do planeta, e esse preço nos dá direito a ingresso para assistir ao triste espetáculo da miséria e do abandono em que se encontra grande parte da nossa população. De ver pessoas soterradas em avalanches, ou perdendo tudo o que construíram numa vida inteira. E tendo, como intervalos, as desculpas esfarrapadas das nossas autoridades incompetentes. Que sempre culpam os governos anteriores, e prometem providências, promessas esquecidas em um ou dois meses. E que só serão relembradas quando acontecerem as tragédias do ano que vem. Pois os temporais são tão previsíveis no verão, quanto a falta de providências, que evitaria o desperdício de vidas.
A violência dos temporais, devido a mudanças climáticas, sempre vai fazer os seus estragos. Como aconteceu na Austrália, recentemente. E onde morreram cerca de 20 pessoas. Mas as mudanças climáticas, aliadas ao descaso das autoridades, à falta de providências – menos de 1% das verbas federais para a contenção de encostas e remoção de moradores em áreas de risco no Rio de Janeiro chegou ao seu destino – e ao crescimento populacional desordenado, como acontece entre nós, tendem a fazer, a cada ano, um número maior de vítimas.
De quem é a culpa, depois de tantas vidas perdidas, só interessa se for para realmente evitar a repetição da tragédia. Podemos nos entristecer, mas principalmente, devemos começar a agir, cobrando ações efetivas. Muitos técnicos têm dado entrevistas nos últimos dias, e a maioria defende a tese de que é melhor prevenir do que remediar. Os custos para a reconstrução de áreas devastadas em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, só para citar os municípios mais atingidos, serão muito maiores do que aqueles destinados à prevenção, e que não foram devidamente aplicados.
Vamos aproveitar a deixa da presidente Dilma Rousseff, que supreendentemente apareceu no local da tragédia, 48 horas depois dos fatos – melhor que o Lula, que nunca foi a Angra – e começar a cobrar providências. Mas cobrar mesmo. Instituir um dia por mês como o “dia nacional da cobrança”, lembrar o que não está sendo feito, e se manifestar, começando pelas câmaras municipais. Escrever e mandar e.mails para deputados. Enviar cartas para os jornais. Se a indolência deles corresponde à nossa omissão, vamos agir. Só “botando a boca no trombone”, de preferência um grande trombone, é que podemos ter a esperança de ver o Brasil mudar.
Célia Borges