17 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Gustavo Praça lança “Cavalo Baio” no C.C.Visconde de Mauá



ALDEIA GLOBAL – Gustavo Praça lança “Cavalo Baio” no C.C.Visconde de Mauá
O jornalista e escritor Gustavo Praça estará lançando, nesse domingo, 20 de fevereiro, no Centro Cultural Visconde de Mauá, o seu quarto livro, Cavalo Baio, em evento marcado para as 18 horas, com direito a autógrafos. A obra, que fala do mistério que abalou Penedo em 1960, é ilustrado pelo artista plástico Roberto Granja.
A trama criada a partir de um atentado ocorrido no casarão da Fazenda Penedo, que funcionava como hotel na época em que se passa a história, se desenrola num cenário real. O autor mistura personagens fictícios com personagens históricos, como Toivo Uuskalio e Toivo Suni, pioneiros na fundação da colônia finlandesa. Alguns personagens fictícios são baseados em pessoas reais, como o jornalista que conduz a trama, inspirado no escritor resendense Macedo Miranda.
O jornalista, hóspede do hotel onde acontece o atentado, decide investigar o caso, cujas pistas o levam a subir a serra, chegando a Mauá, Mirantão e Santo Antônio, região que também compõe o cenário do livro. Além da trama policial, a obra prende a atenção do leitor pela descrição minuciosa, quase cinematográfica, dos cenários onde a história se desenrola, retratando usos e costumes do povo desses lugares, e sua bela paisagem.
Conhecedor como poucos da história e das histórias de Penedo, e herdeiro de uma tradição cultural familiar, que une arte e literatura, política e turismo, Gustavo já escreveu e publicou também “Capinando o Rio”, de crônicas, em 1994; As Caravelas do Apocalipse, em 1999, e Sonho do Filósofo Agricultor, de 2006, com entrevistas sobre Toivo Uuskalio, pioneiro da colônia finlandesa de Penedo.
Para escrever Cavalo Baio, sua primeira novela policial – que ele faz questão de classificar como novela, e não como romance – Gustavo confessa que foi influenciado pelo escritor belga George Simonon, autor de vários romances policiais ambientados na França. “Em seus livros, Simenon humaniza a figura do detetive; assim como no meu livro o personagem que resolve fazer o papel de detetive é um jornalista”, comenta o autor, ele próprio jornalista, que há 30 anos trocou a grande imprensa do Rio por Penedo, e que segue como editor dos jornais Ponte Velha e Nariz da India, dois tradicionais veículos da região.
Segundo ele, a formação de Penedo tem duas vertentes principais, os finlandeses que chegaram a partir de 1929, e os lavradores que desceram dos vales mineiros do alto da Mantiqueira, desde 1950, para praticar uma agricultura de subsistência. Mais adiante, a partir da década de 1960, incluem-se mais duas vertentes, dos empresários que vêm de fora para investir no turismo, e o grupo dos alternativos, que nos anos 70 fizeram a opção de sair das grandes cidades em busca de uma vida mais próxima da natureza, numa espécie de reedição do sonho de Toivo Uuskalio, e entre os quais ele se coloca. Todos esses tipos encontram-se retratados um pouco em cada um de seus livros.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – Big Baixaria

Há algumas semanas recebi, e repassei para os meus amigos e contatos, um texto do Luis Fernando Veríssimo, sobre esse lamentável programa que é o tal de Big Brother Brasil. Aliás, o BBB e essas outras cópias que ouço dizer que existem por aí. Ouço dizer, porque não consigo perder nem um único segundo da minha vida para ver tanta bobagem e baixaria. O que não impede que toda essa futilidade invada meu espaço, e o de vocês, nas páginas de abertura dos nossos provedores, e nos anúncios das TVs.
Não tenho muito a acrescentar aos comentários do Veríssimo, com seu proverbial talento para as palavras exatas, mas não resisto a dar alguns palpites, na esperança de mobilizar o cidadão expectador para lutar pelos seus direitos, e escapar desse espetáculo de mediocridade que nos assola, no que parece uma enorme quantidade de dias por ano.
Num país que tanto sofre com a falta de educação – não só no sentido da escolaridade, mas também na falta de valores morais – é de se lastimar que tal tipo de programa se multiplique com tanta abundância, provendo a nossa TV desses shows de vulgaridade e promiscuidade, onde as notícias são quem beijou quem, quem agarrou quem, quem se esfregou com quem, quem trocou de parceiro e quantas vezes. É a exaltação do sexo sem conseqüências, numa competição de fofocas e esforços por revelar o mau caráter de cada um. Que vença o pior.
Será que essa é a única fórmula para se conquistar audiência? Será que para ganhar mais dinheiro é indispensável nivelar a população por baixo? Será que é lícito que empresários da comunicação esqueçam suas responsabilidades éticas, e continuem apelando para uma programação de baixo nível, para manter seus faturamentos em alta? Será que alguém se orgulha de projetar no sucesso fácil o paradigma de um futuro para a nossa juventude, desestimulando o esforço e o estudo? Ah, as perguntas são muitas...
Eu me lembro com saudades de outro tipo de programas, que existiram nos primórdios da TV, quando eu ainda era criança. Programas como O Céu é o Limite, uma competição para quem soubesse mais sobre algum assunto. Ou os programas de calouros, destinados a revelar novos talentos. Quantos estudiosos e artistas se revelaram nessa época? Quantos estudiosos e artistas poderiam ser revelados nos dias de hoje, se essas fórmulas de programa pudessem voltar, ainda que atualizadas? Quantas pessoas esforçadas e especiais – cientistas, pesquisadores, artistas e atletas - poderiam ter oportunidade de sair do desconhecimento, para contribuir relevantemente para a educação, a cultura, as artes do país? E merecer uma justa oportunidade para se desenvolver?
Não vejo qual é o mérito de incentivar a mediocridade. Nem aceito a idéia de que é preciso dar ao povo pão e circo, engambelando-o para perpetuar a ignorância. Aproveito a oportunidade para dizer também que acho lastimável essa cultura funk, machismo retardatário que se esmera em transformar a figura da mulher, não em objeto, mas em lixo. Cito isso, porque esses motivos, juntos, me fizeram ser chamada de “déspota cultural”. O que é valido nos meios ditos culturais, onde o critério universal é aceitar tudo.
Não se pode culpar o expectador do BBB, porque é só isso que a TV tem a lhe oferecer. Mas podemos culpar a TV por não dar acesso ao expectador a outras opções. Ou por criar essas opções e não colocá-las ao alcance do expectador, que é o que se faz com os canais oficiais. Mas o fato é que, se queremos mudar nossa cultura, se queremos melhorar nossa educação, esse processo passa necessária e indispensavelmente pela qualidade da programação da TV, que é o nosso meio de difusão mais amplo e abrangente, seja pelo melhor ou pelo pior. Pode ser um BBB, beirando a pornografia, ou uma nova produção, que exalte vocações e talentos, para as artes, ciências e literatura. O que desanima é que mudar isso depende de nós, e existem muito poucas pessoas, proporcionalmente à nossa população, dispostas a se mobilizar pelo país, pelos nossos jovens, pela nossa CULTURA.
Célia Borges

ALDEIA GLOBAL – O adeus a Isabella Cerqueira, a atriz que escolheu a montanha



Atriz de cinema, televisão e teatro, Isabella Cerqueira – falecida no dia 1º de fevereiro passado, no Rio de Janeiro - inscreveu-se na história cultural da região, por ter criado e mantido, juntamente com o marido, o cineasta Carlos Frederico, o Teatro da Montanha, que por mais de 20 anos foi palco dos mais variados eventos artísticos produzidos e exibidos em Visconde de Mauá. Baiana de Novo Mundo, nascida em 1938, aos 15 anos mudou-se para o Rio, onde estudou teatro e dança, tendo trabalhado como comissária de bordo, e depois como modelo, em Paris, tendo desfilado para a Maison Dior em 1960.
Isabella estreou como atriz dois anos depois, na peça A Prima Dona, e no cinema, no mesmo ano, no filme Os Apavorados, última chanchada da Atlântida. Em seguida fez Cinco Vezes Favela, da Cacá Diegues, um marco do Cinema Novo. Em 1968 chega ao auge da carreira, estrelando Capitu, filme de Paulo César Sarraceni, que foi seu marido. Na televisão, foi destaque em novelas como Passos dos Ventos, de 1968, e A Cabana do Pai Tomáz, em 1971, além do seriado O Sítio do Picapau Amarelo, em 1978.
No teatro, trabalhou nas peças Dura Lex sex Lex, no cabelo só Gumex, de 1965, Viver é Muito Perigoso, de 1968, Quinze Anos depois, de 1985, Amar se aprende amando, de 1987, e Cora Coralina, de 1989. Sua filmografia é mais extensa: Cinco Vezes Favela, 1962, de Marcos Farias; Os Apavorados, 1962, Ismar Porto; O Desafio, 1965, de Paulo Cesar Sarraceni; Proezas de Satanás na Vila do Leva e Traz, 1967, Paulo Gil Soares; Capitu, 1968, Paulo Cesar Sarraceni; Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite, 1969, Miguel Faria Jr.; O Bravo Guerreira, 1969, Gustavo Dahl; A Cama ao Alcance de Todos, 1969, Daniel Filho e Alberto Salvá; Barão Olavo, o Horrivel, 1970, Júlio Bressane; Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa, 1971, David Neves; A Possuida dos Mil Demônios, 1971, Carlos Frederico; As Quatro Chaves Mágicas, 1971, Alberto Salvá; A Lira do Delírio, 1978, Walter Lima Jr.; Lerfa Mu, 1979, Carlos Frederico; Parceiros de Aventura, 1980, José Medeiros e O Mundo aos seus Pés, 1987, curta de Carlos Frederico. Seu último trabalho foi uma participação especial em Brasília 18°, de Nelson Pereira dos Santos, em 2006. No ano seguinte ela deu depoimento no documentário Panair do Brasil, de Marco Altberg.
Em 1970 ela casou-se com o cineasta Carlos Frederico, e no ano seguinte radicaram-se em Visconde de Mauá, onde fundaram o Teatro da Montanha, palco onde apresentaram inúmeros de seus trabalhos, mas que também sempre foi aberto aos demais artistas e animadores culturais, com todo o tipo de espetáculo e evento, de circo ao lançamento de livros. Com o falecimento do marido e companheiro de arte, em meados da década de 90, Isabella ainda manteve o teatro por algum tempo, mas vendeu o local e mudou-se para o Rio. Na semana anterior ao seu falecimento, Isabella Cerqueira fez uma última visita aos amigos de Visconde de Mauá, nos quais deixará saudades.
Célia Borges

4 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL - A responsabilidade do cidadão na proteção da Natureza

Enquanto vemos as intempéries tomarem aspectos cada vez mais catastróficos, afetando as populações dos mais diversos países, e os governos e instituições de proteção ambiental gastando bilhões de dólares, euros e reais, em busca de soluções para o aquecimento global – e com remotas perspectivas de resultados – a maioria das autoridades ainda permanece insensível e desinteressada numa medida crucial, que é o envolvimento do cidadão como participante da preservação ambiental. O mesmo cidadão que contribui para a degradação com o lixo que produz, pode ser vítima de enchentes e outros desastres, resultantes dessa degradação. E é cada vez mais premente, para frear esse processo, que cada um assuma sua parcela de responsabilidade.

“A participação da população na preservação ambiental é a solução mais simples, mais barata e mais eficiente para se obter resultados”, afirma um técnico no assunto, o Presidente da Agencia do Meio Ambiente de Resende - AMAR, biólogo José Paulo Fontanezzi, e completa: “Essa medida pode até ter custos à curto prazo, mas a economia à médio e longo prazos, principalmente considerando-se o ganho ambiental, e tão grande que é até difícil de avaliar”. Em sua opinião, o primeiro passo para essa conscientização do cidadão é o incentivo à Coleta Seletiva do lixo, que pode ajudar a promover uma mudança de hábitos dentro da casa de cada um, envolvendo toda a família, e funcionando como uma aula prática de educação ambiental para as crianças. Mudando a mentalidade e criando o que ele gosta de chamar de “o novo cidadão”.

Segundo Fontanezzi, a Coleta Seletiva em Resende é uma prioridade. O aterro sanitário do município, que encontra-se em avançado estado de exaustão, é o único da região, e recebe também o lixo dos vizinhos Itatiaia, Quatis e Porto Real. São 130 toneladas por dia, suficiente para cobrir um hectare de solo com uma camada de dois metros de altura, todos os meses. O município já implantou a Coleta Seletiva em 16 bairros, e o projeto é ir ampliando esse atendimento gradualmente. Ele lembra que, além de minimizar o impacto ambiental, a Coleta Seletiva também pode dar uma contribuição social: “através de associações regularizadas pelo atual governo, os galpões de reciclagem são fonte de renda de quase cem famílias, beneficiando mais de 400 pessoas”. Há também no município entidades assistenciais que recebem lixo reciclável para venda, aumentando seus recursos, e até as próprias famílias podem melhorar suas rendas, vendendo seu lixo, como latinhas, garrafas e papelão.

As finalidades do lixo reciclável podem ser as mais variadas, e hoje podemos encontrar, através da internet, inúmeros “sites” voltados para o assunto, ensinando técnicas para o reaproveitamento dos mais diversos materiais. Nas últimas semanas um e.mail divulgava o invento de um cientista japonês que consegue transformar plástico em combustível. Não precisamos chegar à tanto, mas podemos reaproveitar muito do que atualmente jogamos fora. O que não podemos reaproveitar, serve para ser separado e encaminhado a alguma finalidade útil. É simples, é fácil, e nem custa muito esforço.

Uma das maiores defensoras da Reciclagem é a artista plástica Fátima Porto, também de Resende, que vem há cerca de quatro anos transformando, e promovendo a transformação do lixo em arte. Curadora da exposição itinerante Lixo Zero, ela conseguiu reunir um grupo de artistas da região, que já produziam, como ela mesma e seu filho Flávio Alex Porto, ou foram incentivados a produzir, obras de arte com materiais recicláveis, constituindo acervos renovados todos os anos, e que são exibidos em locais como Câmaras Municipais e escolas, inclusive divulgando técnicas através de oficinas para estudantes.

Fátima Porto é também uma incansável divulgadora do trabalho do biólogo Luis Toledo de Sá, que construiu, na localidade de Santa Rita de Cássia, que fica entre Volta Redonda e Barra Mansa, uma casa totalmente construída com materiais recicláveis, e com funcionamento baseado na proposta de reciclagem. Dos tijolos de embalagem TetraPak, paredes de garrafas, ao reaproveitamento de toda a água utilizada, a casa é um museu vivo de reciclagem, que vale à pena visitar.

A consciência ambiental, que produziu os exemplos acima, não deve ser um privilégio de poucos. Como diz o biólogo Fontanezzi, “é preciso fazer com que as populações questionem o seu modo de vida, e fazê-las entender que, se os recursos do planeta não tiverem oportunidade de se renovar, e sob a pressão de uma demanda constante de consumo exacerbado, a vida no planeta, como a conhecemos, acabará de forma dramática”. Segundo ele, por menor que possa parecer, a atitude na casa de cada um já vai fazer grande diferença. E pode contagiar a rua ou o condomínio. O bairro... e a cidade.

Para você ter idéia de quanto a menor das atitudes pode fazer diferença, seguem os quadros de custo ambiental, divulgados pela AMAR:

PAPEL – A cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 1 hectare de floresta (1 tonelada evita o corte de 30 ou mais árvores; 1 tonelada de papel novo precisa de 50 a 60 eucaliptos, 100 mil litros de água e 5 mil KW/h de energia; 1 tonelada de papel reciclado precisa de 1.200 kg de papel velho, 2 mil litros de água e 1.000 a 2.500 KV/h de energia; com a produção de papel reciclado evita-se a utilização de processos químicos, reduzindo em 74% a poluição do ar e em 35% os despejados n´água; a reciclagem de uma tonelada de jornais evita a emissão de 2,5 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera; o papel jornal produzido a partir de aparas requer de 25% a 60% menos energia elétrica que a necessária para obter papel da polpa da madeira.

VIDRO – É 100% reciclável, portanto não é lixo: 1 kg de vidro reciclado produz 1kg de vidro novo; as propriedades do vidro se mantêm mesmo após sucessivos processos de reciclagem, ao contrário do papel, que vai perdendo qualidade; o vidro não se degrada facilmente, então não deve ser despejado no solo; para a produção de um material feito de vidro novo são necessários recursos naturais como areia, barrilha, calcário, carbonato de sódio, cal, dolomita e feldspato, sendo esse último um fundente muito raro; a temperatura para fundição é em média 1.500°C, necessitando de muita energia e equipamentos especializados; a reciclagem do vidro requer menos temperatura, economizando 70% de energia e permitindo maior durabilidade dos fornos; 1 tonelada de vidro reciclado evita a extração de 1,3 toneladas de areia, economiza 22% de barrilha (material importado) e 50% do consumo de água.

METAL – Matéria prima que requer exploração, processos tecnológicos sofisticados e altos custos energéticos, econômicos e ambientais; a reciclagem de uma tonelada de aço economiza 1.140 kg de minério de ferro, 155 kg de carvão e 18 kg de cal; na reciclagem de uma tonelada de alumínio economizam-se 95% de energia, 5 toneladas de bauxita e evita-se a poluição causada pelo processo, com redução de 85% de poluição do ar e 76% do consumo de água; uma tonelada de alumínio reciclada economiza 200 m3 de aterro sanitário; no Brasil, 64% (1,7 bilhões de unidades) são recicladas, superando países como Japão, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Ponto pra nós!!!

PLÁSTICO – Derivado do petróleo, recurso natural não renovável, a sua reciclagem economiza até 90% de energia e gera mão de obra pela implantação de pequenas e médias indústrias; 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 1 tonelada de petróleo.

Pense nisso. Um mundo melhor também depende de você. Mãos à obra!!!

Célia Borges

2 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Um estranho caso de condenação sem julgamento

Um cidadão, mecânico de profissão, pessoa conhecida em Resende, encontra-se preso desde meados de dezembro, sob suspeita de tráfico de drogas. Poderia ser um caso corriqueiro, se não fosse por certas circunstâncias estranhas que caracterizaram esse fato, e que vem despertando comentários na cidade. Em primeiro lugar, segundo o auto de prisão, aliás, dito “em flagrante”, o cidadão não portava nenhum vestígio de droga, nem com ele mesmo, nem no seu carro, que se encontrava estacionado próximo, e que foi devidamente apreendido e revistado.
A droga em questão - uma pequena quantidade de maconha, doze gramas - encontrava-se na posse de outra pessoa, que caminhava ao seu lado, e que no momento da abordagem policial, optou por afirmar que a droga pertencia ao citado cidadão, de quem teria comprado, por R$ 20,00. Afirmando ser usuária, essa pessoa foi autuada e liberada. Já o cidadão que não portava nenhuma droga, ao chegar á Delegacia, encontrou a presença da imprensa, aliás de diversos veículos, diante dos quais foi fotografado e alvo de reportagens que o apresentavam como “Traficante preso em flagrante em Resende”, publicadas não só em veículos locais, como A Voz da Cidade e Diário do Vale, como até em jornais da capital, como o Extra e o Jornal do Brasil. Entre outros.
Na maioria dessas matérias, foi esquecida a circunstância de simples suspeição, tendo sido o cidadão tratado como um criminoso contumaz. Sem julgamento, e sem direito à qualquer defesa, essa pessoa foi condenada publicamente, para grande impacto de seus familiares, amigos e clientes, e principalmente para o filho, de apenas 15 anos, e a quem sempre o cidadão procurou proteger do acesso ao vício. Alvo de uma acusação circunstancial, e com provas no mínimo insuficientes, ele encontra-se preso desde 15 de dezembro, penalizado antecipadamente por uma culpa da qual nem sequer foi julgado.
A prisão do cidadão foi, obviamente, planejada, já que os policiais reconhecem que estavam “de tocaia”, e a imprensa já estava na delegacia esperando. Segundo o registro, o cidadão em questão havia sido alvo de denúncias, justamente por permanecer frequentemente no lugar onde foi preso. Sua presença no local estava incomodando alguém, possivelmente alguém poderoso bastante para mobilizar a força policial, e permanecer anônimo. Alguém poderoso bastante para justificar o esforço da força policial, em prender em flagrante um cidadão que não portava drogas, e mesmo assim foi submetido ao vexame de uma condenação publica, antes mesmo de ser julgado, numa injustificável presunção de culpa.
A presença do cidadão naquele local, uma praça, pode ter uma explicação muito simples, que o denunciante e a polícia preferiram não considerar: vítima de um acidente de trânsito há pouco mais de um ano, o cidadão em questão sofreu grave fratura num braço, o que o obrigou a uma cirurgia delicada, meses de imobilidade, e outros tantos de fisioterapia, para tentar recuperar os movimentos e poder voltar a trabalhar. Por ser local próximo à casa dos pais, já idosos, onde foi criado, e onde vai constantemente, em seus momentos de imobilidade forçada, costumava permanecer ali por algum tempo, em horário de almoço e no final da tarde, trocando “um dedo de prosa” com antigos moradores do local, que o conhecem bem.
Enquanto os verdadeiros bandidos, armados e portadores de grandes quantidades de droga, continuam à solta, um cidadão que é reconhecidamente pessoa pacífica, contra a qual não se atribui nenhum ato de violência, permanece preso por uma droga que não estava em sua posse, e nem se provou que era dele. Um cidadão que, por ser apenas suspeito, merece um julgamento justo, e não uma condenação pública antes mesmo de ser julgado, como aconteceu no caso. Se alguém denunciou, que se apresente e mostre suas provas. Se o policial, como declara no auto, viu o suspeito colocar a droga na bolsa da testemunha, porque não fotografou. Se estava tão longe para não ser visto, quem garante que realmente viu.
Como jornalista, me repugna ver a imprensa ser usada para condenar antecipadamente pessoas que não foram ainda julgadas, motivo pelo qual esse caso me mobiliza tanto. Mesmo que venha a ser inocentada no julgamento, essa pessoa estará definitivamente marcada como criminoso, como marginal. Fico impressionada diante da irresponsabilidade da autoridade policial, tanto quanto a dos próprios colegas jornalistas, em condenar alguém sem a confirmação judicial da culpa. Isso nos remete ao nazismo, e não a uma democracia onde se respeita os direitos do cidadão. Inocente ou culpado, a imprensa já condenou esse cidadão diante da comunidade.
A maioria dos fatos acima é de conhecimento público, e podem ser verificados através da internet, nas notícias publicadas no dia 16 de dezembro do ano passado, e dias seguintes, nos jornais citados. Mesmo que inocentado, quem dará trabalho à essa pessoa, depois de publicamente condenada como traficante? E ainda que culpado, onde ficou o seu legítimo direito de defesa? Se fosse seu filho, seu marido, seu parente, o que você diria de uma prisão nessas circunstâncias? Como você pode se sentir seguro, se basta uma denúncia anônima para você ser transformado num criminoso?
Se o cidadão for culpado, que seja julgado, à tempo e à hora, no momento certo. O que é inaceitável é que a autoridade policial promova a condenação de alguém, por motivo fútil – como a apreensão de menos de 20 gramas de maconha – e sem a devida comprovação do ilícito. A palavra de uma pessoa contra outra, no mínimo, é um caso de dúvida razoável. Não seria de surpreender que alguém, diante de um risco pessoal de ser acusada de tráfico, acuse o outro que esteja ao seu lado, para se livrar do flagrante e da prisão.
Que a polícia e a justiça combatam o tráfico de drogas, é atitude que só merece o nosso aplauso. Mas o caso em questão mostra que, nessa luta, se permite o abuso da autoridade, em circunstâncias que podem penalizar quem não merece. Por trás desse suspeito, um mero número num processo policial e judicial, existe um cidadão, com sua família aflita por respostas, e que está sendo condenada, talvez injustamente, junto com ele.
Célia Borges