4 de dezembro de 2009

ALDEIA GLOBAL – Que país é esse?



Não satisfeitos com a vergonha interna, descemos mais um degrau, e estamos dando vexame à nível internacional. A ignorância do nosso presidente agora é servida nas finas bandejas de prata e nos copos de cristal dos eventos externos, temperada com a mesma desfaçatez que nos empurram goela abaixo dentro do próprio país. Embriagados com o sucesso fácil de uma política interna populista, nossas autoridades querem levar sua visão estreita além de nossas fronteiras, na ilusão de poderem enganar os “trouxas” lá de fora, como enganam os daqui.
Quem votou no Lula acreditando estar elegendo o presidente de um país, enganou-se. O presidente preside apenas algumas parcelas da população. Sem qualquer referência cultural do que seja um estadista, ele tem deixado claro, desde o início, que quer ser o “prisidente” dos pobres, dos miseráveis, dos negros, dos gays, e de outras minorias. O resto da população, em seu conceito, não precisa de presidente. Já tem vencimentos suficientes para sobreviverem sozinhos. E que se danem, pagando os maiores impostos do mundo.
O partido no poder é o Partido dos Trabalhadores. Mas nunca antes na história desse país, o trabalho e o trabalhador foram tratados com tanto descaso, com tanto preconceito, com tanta arbitrariedade. Nossos impostos servem para pagar a mordomia dos poderosos – executivos, legislativos e judiciários – e para sustentar programas clientelistas, como Bolsa-Família e outras bolsas oportunistas. Educação, saúde, meio ambiente, se não estão satisfatórios, se nunca tem os recursos necessários... ah! Isso é culpa da classe média. E agora me explica quem é a classe média, se não a classe dos trabalhadores.
O trabalhador, seja da ativa ou aposentado, que sustenta ou sustentou o país com seus esforços, só tem deveres. Seus direitos vêm sendo cada dia mais usurpados, em benefício de interesses financeiros e empresariais: os bancos, com tarifas e juros exorbitantes; planos de saúde que pagamos além da previdência oficial, com seus prazos de carência, chantagens por faixa etária, e outros desmandos; concessionárias de serviços públicos, como transporte, luz, gás, água e telefonia, sempre funcionando abaixo do razoável; e finalmente, mas não por último, a própria Receita Federal, que nos trata como se fossemos uma população de marginais sonegadores, enquanto nos sufoca com índices de agiota e uma legislação que é uma verdadeira armadilha para incautos.
O Brasil multi-racial e democrático, não interessa àqueles para quem “perpetuar-se no poder tornou-se mais importante do que construir uma nação”, como definiu muito bem César Benjamim, em recente e brilhante crônica na Folha de São Paulo. Entre nós, a política virou apenas mais um braço da criminalidade. Todos os crimes podem ser cometidos e justificados, quando e onde há a garantia da impunidade. Nossa “Santidade Presidencial”, que já se considera figura tão messiânica quanto Jesus Cristo, embora sua atuação possa ser melhor comparada com a de um Hitler, consegue, em sua suprema benevolência, ser solidário com a mais vasta gama de corruptos, de Paulo Maluf à Fernando Collor, passando, é claro, por toda a arrogante “nação petista”.
O slogan “Brasil, um país de todos”, só pode ser uma ironia, além de pura hipocrisia. A política que nos é imposta, de cima para baixo, se esmera em produzir uma – ainda que falsa – visão maniqueísta do país, incentivando o preconceito racial – negros contra brancos -, a luta de classes – pobres contra ricos – e até dissenções de caráter sexual – gays contra hetero. Dividir para vencer, esta é a infância da arte da guerra. Mas de governos que abandonaram a educação, que desdenham da cultura, que ridicularizam a cidadania, não se pode esperar mesmo uma postura madura e democrática, só um comportamento irresponsável e infantil. Diante de uma população em que ser alfabetizado significa saber assinar o nome, isso, aliás, fica muito fácil.
Não sei bem onde é que andam os jornalistas estrangeiros que atuam no Brasil, que não conseguem desvendar aos olhos do mundo a nossa triste realidade. Talvez porque, para um mundo globalizado, as cifras tenham mais visibilidade do que as pessoas, do que as verdadeiras condições de vida de toda uma população. E assim, está sendo bem fácil enganar “os gringos” até agora. Enfim, os balões são ocos, mas podem crescer muito, quando estão cheios de gás. Acontece que gás demais infla a forma, mas não preenche o conteúdo. O nosso “balão cheio” está se tornando cada vez mais espaçoso no cenário internacional, mas vai ao mesmo tempo revelando a leviandade, a falta de critérios, a vocação autoritária, que nos leva a apoiar publicamente, e mesmo contra a vontade da população consciente do país, figuras como Fidel Castro, Hugo Chaves e Ahmadinejad.
Que a maioria da população do país, mantida na semi-escolaridade, e na ignorância dos seus mais básicos direitos civis, possa ser enganada por tanto tempo, não é exatamente surpreendente. Eu quero ver é se esse balão cheio vai enganar a comunidade internacional, muito cônscia de suas responsabilidades, sintonizada com as perspectivas históricas, e preocupada com coisas mais importantes do que a vaidade de um “pseudo-líder” continental, por muito tempo. As nossas gafes internacionais se sucedem com grande velocidade, e desde que o tal do presidente culpou os “loiros de olhos azuis” pela crise econômica, outros absurdos já devem ter ligado o sinal de alerta, para os riscos dessa política externa brasileira. Só nos resta rezar para que eles acordem á tempo. E que tenham a lucidez de não confundir os desmandos de presidentezinho oligofrênico, com a opinião pública de todo o país.
Célia Borges