3 de dezembro de 2008

ALDEIA GLOBAL – Por que é que os bancos, além de tanto lucro, ainda precisam humilhar clientes e usuários?


Os bancos só abrem às onze. Nem sempre pontualmente. Enquanto a maioria das atividades comerciais e industriais iniciam sua jornada às sete, às oito, às nove, e os mais retardatários como os centros comerciais (que também fecham mais tarde) às dez... os bancos, esses, só abrem às onze. E fecham às quatro, quando todas as demais atividades econômicas ainda estão “à pleno vapor”.

Com expediente tão restrito, era de se esperar um pronto e eficiente atendimento. Mas quem é cliente e usuário de agências bancárias, sabe que não é essa a realidade. As filas, por exemplo, deveriam ser inexistentes, ou pelo menos, bem menores. Mas a maioria das agencias bancárias funciona quase sempre com um, dois, ou no máximo três guichês, sendo um para atendimento prioritário. Os banqueiros decidiram, há tempo, economizar em pessoal (Aliás, esse deve ser um dos motivos por que lucram tanto!!!). E o cliente? Que se dane!!! E que perca o seu tempo!!!

Mas pior do que as filas é a dificuldade em se ter acesso às próprias agências. As tais portas giratórias não vão impedir assaltantes de agir, mas vá lá, poderiam servir para dificultar o acesso de pessoas suspeitas. Mas daí a tratar cada cidadão como um suspeito vai um largo passo. Entretanto, é o que acontece na maioria das agências bancárias, pelo menos nas que eu conheço, sendo a “bendita” porta giratória uma espécie de fator de intimidação aos clientes e usuários. Tipo assim: “ponha-se no seu lugar!!! Você aqui é um nada!!! E pode até ser um bandido!!!

Algumas situações chegam a ser emblemáticas quanto ao desrespeito pelo cidadão, como as que acontecem diariamente na entrada da agencia Resende da Caixa Econômica Federal, onde todos, rigorosamente todos os que precisam ter acesso à agencia, precisam deixar pelo menos alguns de seus pertences numa espécie de caixa coletiva, para terem direito a usufruir do seu direito de ir e vir.

“A porta automática detectou objeto de metal” e pronto. Travou. Trate de expor o conteúdo de suas bolsas e bolsos, senão, não entra. As poucas exceções parecem ser os correntistas regulares e conhecidos na agência, e que já entram cumprimentando os guardas. Mas isso é fácil. Na agência em que tenho conta, também sou conhecida, nunca me travam a porta, e me cumprimentam com a maior civilidade.

Só mesmo os ingênuos ou desligados (além dos muito mal informados) iriam acreditar que a tal porta não rola se tiver metal. Exigem que ofereçamos nossos objetos no altar de uma tecnologia obsoleta ou pelo menos ineficiente, já que passamos com relógios, anéis, cordões, pulseiras, fivelas de cinto, etc, etc, etc..., sem que a tal porta nos importune, já que deixamos alguma oferenda na caixinha da autoridade.

Eu me limito a oferecer um dos meus três celulares (desculpem o exagero!!! São os ossos do ofício!!!), as chaves e os óculos. Depois disso, me deixam passar. Se fosse tirar tudo de dentro da bolsa que tenha metal, teria que deixar tudo o que está lá dentro, inclusive as moedinhas.

A trava da porta é acionada ao bel prazer do guarda de plantão, e esse pessoal parece ter tido aula de sadismo na sua formação profissional. Travam a porta para pessoas tão óbviamente alheias à qualquer tipo de violência, gente simples, idosos, que se tudo não fosse tão revoltante, chegaria a ser cômico. E não sendo cômico, é, pelo menos ridículo. Um retrato típico de como o país e suas instituições tratam o cidadão.

Um exemplo disso é o que acontece frequentemente com uma amiga minha, uma jovem de 70 anos, porque não aparenta a idade, mas ainda assim está longe de aparentar algum risco para a segurança de qualquer banco. Respeitada e cumprimentada naquela onde tem conta, é sistematicamente barrada na porta da outra agencia, do Itaú, no Manejo (Resende). Como só usa essa em situações de urgência, justamente quando tem pressa, já vi minha amiga chegar às lágrimas, depois de deixar seus pertences e continuar enfrentando a porta travada.

Eu mesma já passei por isso, nessa mesma agencia. A porta travou para mim três vezes (no dia 21/10/2008), mesmo depois de eu ter deixado quase todos os meus pertences. Quando reclamei, a gerente veio até a porta de forma arrogante, exigindo que eu mostrasse meu cartão do banco para permitir o meu acesso. Já dentro da agência, fui novamente abordada por ela, que fez questão de ver meu cartão em suas próprias mãos, como se tivesse autoridade para me penalizar por “mau comportamento”. E eu ainda tenho conta nesse banco!!! Pasmem!!!

O que me assusta é que esse comportamento autoritário das instituições bancárias, e outras de ordem financeira, está cada vez mais fundo e abrangente. Não somos bem atendidos, não temos autonomia e autoridade sobre nossos próprios recursos (já que os bancos limitam valor de saques e outras operações) e, depois de proporcionar os mais estratosféricos lucros bancários do planeta, ainda somos humilhados pelo simples fato de querer entrar numa agencia bancária. Geralmente, aliás, para pagar alguma conta, deixando lá nosso rico e suado dinheirinho.

O lucro e a prosperidade dos bancos deveriam fazer com que nos recebessem com tapete vermelho e cafezinho. Mas é mais fácil nos intimidar, corroer nossa auto-estima, minar nosso sentido de cidadania. Assim fica mais fácil de nos imporem taxas e tarifas cada vez mais exorbitantes (ótima matéria sobre o assunto no jornal O Globo, do dia 1/12/2008 – Tarifas bancárias padronizadas e até 329% mais caras em seis meses). E se não abrirmos o olho, qualquer dia vão nos cobrar até para entrar na agencia bancária.

Célia Borges

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