9 de novembro de 2009

ALDEIA GLOBAL – Dê-se um presente de Natal: leia a Constituição do seu país


O fim de mais um ano vem chegando. E esse, parece que passou ainda mais depressa do que o anterior. Mal conseguimos realizar nossos projetos para 2009, e eis que as vitrines já começam a se encher de bolas coloridas e da animação das lâmpadas pisca-pisca. E, como na profética frase de Tommaso de Lampeduza, no seu clássico “O Leopardo”, tudo mudou, para continuar igual. O mundo mudou nesses pouco mais de dez meses, surgiram novas tecnologias, prédios foram construídos, a economia levou um “tranco” e se ajustou... mas no essencial, tudo continua exatamente igual.
Violência e corrupção. Covardia e inanição. O marketing substituindo a ética perdida. E essa estarrecedora falta de vontade política para a solução dos problemas da nossa existência, como indivíduos e como cidadãos. Enquanto bancos, empresas e outros setores da economia privada receberam bilhões em ajuda para corrigir a “bolha” especulativa que eles mesmos criaram, os recursos para socorrer os refugiados e famintos do planeta, só fez minguar. Enquanto autoridades de governos se locupletam dos luxos que seus altos cargos lhes garantem, ainda há crianças morrendo de diarréia, e idosos morrendo na fila dos hospitais públicos.
Enfim, não é difícil apontarmos os problemas que nos afligem. O difícil é encararmos o fato de que as mudanças dependem de nós mesmos. Mas para mudar é preciso, antes de mais nada, querer. E querer sinceramente. E investir nesse desejo de mudança. E além de coragem, isso implica em conhecimento. Em ampliar conhecimentos. Em não ter medo de saber. Hoje, vivemos num mundo em que o conhecimento é um valor tão importante que já se compara ao capital financeiro. E como costumava dizer meu falecido marido, Paulo Borges, saber não ocupa lugar. Mas pode fazer grande diferença, na nossa vida e nas dos demais.
Um conhecimento básico para a nossa vida deveria ser, por exemplo, o da Constituição do nosso país. Como queremos ser cidadãos, se não conhecemos nem mesmo a mais básica das nossas leis? Se eu soubesse fazer enquete no meu blog, faria essa: quantos dos meus leitores já se deram ao trabalho de ler a Constituição do seu país? Não quero ser pessimista, mas acredito que muito poucos. Quando fiz o curso ginasial no Colégio Estadual Orsina da Fonseca, tínhamos uma matéria chamada Estudos Sociais, e nela, estudávamos a Constituição. Mas em 1988 foi promulgada uma nova, e desde então, que eu saiba, ela não é leitura obrigatória em lugar nenhum. Talvez apenas nos cursos de Direito, mas mesmo assim...
O desconhecimento de nossos direitos e deveres é emblemático, para mostrar o quão pouco nos damos valor, o quão pouco nos respeitamos como cidadãos. O Judiciário é uma bagunça, a Justiça não funciona, mas não vamos ajudar em nada a melhorar essa situação se optarmos por, simplesmente, nos omitirmos e nos rendermos á nossa própria ignorância. Sem saber o que nos cabe, sem conhecer os limites constitucionais das autoridades, nos tornamos uma população sujeita á todo o tipo de manipulação, tratados como gado, nivelados por baixo, desrespeitados em todos os escalões.
Desunidos e desorganizados, não vamos chegar a lugar algum. Mas ignorantes dos nossos direitos e deveres, aí então é que não vão sobrar muitas esperanças de se construir um país, melhor, mais justo e desenvolvido, e desculpem o chavão, mas não há como dizer isso de forma diferente. Sem conhecer as nossas próprias leis, não há como esperar que sejamos donos dos nossos próprios destinos. E o mais preocupante é que a maioria da população não está minimamente preocupada com isso. Distraídos com pão e circo, dançando funk e vendo “reality shows” na TV, e o resto, “Deus dará...”
Meu convite e sugestão para a leitura da Constituição não vai, certamente, garantir a ninguém uma vida melhor. Ninguém vai conseguir um emprego, nem ficar rico com isso. Não há maiores vantagens, do que aquela de se tomar consciência daquilo que, se não somos, deveríamos ser. De ter consciência de que se esse não é o país que nós queremos, pelo menos poderia ser. Se as leis fossem respeitadas. Mas se nem conhecemos as nossas leis, podemos esperar o quê?
Célia Borges

Um comentário:

Pedro Jorge disse...

Grande idéia minha amiga, já que nossos governantes não têm o menor interesse que o povo conheça seus direitos e obrigações, pois se tivessem não ficariam inventando nos currículos escolares matérias como religião, artes e outras bobagens. Mas certamente incluiriam uma cadeira de cidadania, para que os jovens conhecessem nossas leis.