15 de julho de 2010

ITATIAIA – Os 100 anos do “seu” José Narciso da Silva




Neste domingo, dia 18 de julho, uma grande família de Itatiaia vai estar em festa: filhos, netos, bisnetos e trinetos, somando quase 150 pessoas, vão festejar os 100 anos de José Narciso da Silva, pessoa muito popular e querida no município.
Mas a comemoração do centenário do “seu” Zé da Silva, como é mais conhecido, começa nessa sexta-feira, dia 16, com um café da manhã promovido pelo Clube da Terceira Idade, organizado pela Secretaria Municipal da Ação Social, e com o apoio de diversas pessoas, empresas e entidades do município.
A homenagem se justifica, não só porque “seu” Zé da Silva é o cidadão mais idoso de Itatiaia, inclusive segundo os registros oficiais, mas pela quantidade de amigos e admiradores que ele cultiva, e pelo exemplo de disposição e vitalidade que ele continua dando, todos os dias. No domingo, em casa, ele vai comemorar a data cercado da família e dos amigos mais chegados. Em casa e na rua em frente, porque a casa é pequena pra tanta gente.
Nascido em Santana dos Tocos – distrito de Resende inundado para a construção da Represa de Funil - filho de índios, “seu” Zé da Silva vive em Itatiaia desde meados da década de 1930, tendo passado a maior parte de sua vida trabalhando para o Parque Nacional do Itatiaia.
Saudável, alegre e bem disposto, ele não aparenta nem de longe os seus bem vividos 100 anos. É difícil encontrá-lo em casa, pois seu maior prazer é dar longas caminhadas, percorrendo as ruas dos bairros próximos à Vila Pinheiro, onde mora, sempre pronto para “um dedo de prosa” com algum dos seus muitos amigos.
Conhecedor como poucos dos segredos das plantas – que aprendeu andando pela mata com o pai, ainda na infância - atende aos pedidos de uma grande clientela dos remédios que prepara com elas, e que, segundo ele, já ensinou a muito “doutor” do Parque Nacional.
Antes de se radicar em Itatiaia, ele passou alguns anos da adolescência no Rio de Janeiro, adotado informalmente por um oficial de Marinha amigo de seu pai e morando na Ilha do Governador. Por influência dessa família, engajou-se naquela força, tendo passado alguns anos embarcado, quando teve oportunidade de conhecer diversos países. Após dar baixa, procurou trabalho no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde ficou alguns anos, até ser enviado para Itatiaia, para trabalhar na Reserva Biológica então existente.
“Seu” José Narciso conta com orgulho, que comandou a abertura de trilhas e picadas mata adentro, quando o Parque Nacional do Itatiaia ainda nem existia. E que teve o privilégio de conhecer o presidente Getúlio Vargas pessoalmente. Para ele, “um homem muito bom”, pelo que fez pelos direitos do trabalhador. Direitos que só beneficiaram “seu” José Narciso parcialmente, porque depois de mais de 50 anos de serviços, só depois de muita luta para comprová-los – devido à falta de registros e à informalidade do serviço público federal nas unidades de preservação - é que ganhou uma aposentadoria de cerca de dois salários mínimos por mês. Sem casa própria, ele mora com uma de suas filhas.
Entre as histórias que gosta de contar, uma das prediletas é a do seu casamento com Lourdes Benedita da Silva, que como ele era de Santana dos Tocos, e com quem ele casou sem ter sequer o tempo de namorar. Conheceu ela num baile – ele não sabia dançar e ela era a única sem par – e depois de uns rodopios, fez brincadeira com um parente da moça, dizendo que lhe pagava um litro de cachaça se fosse ao pai dela pedir à mão em casamento. Ao contrário do que esperava, o pedido foi feito e o pai da moça aceitou. E ele, “palavra de homem”, não podia voltar atrás. Casou com ela e nunca se arrependeu. Viveram juntos por 49 anos, dez meses e dezesseis dias, sendo que pouco antes de completar as bodas de ouro, ela morreu dançando em seus braços.
Nos seus 100 anos, depois de dois casamentos e 28 filhos – dos quais dezesseis próprios e doze adotados, e entre todos, quatro já falecidos – “seu” José Narciso é um verdadeiro de ídolo dessa grande família, que já conta com 123 pessoas entre netos e bisnetos, e seis trinetos, sendo que o mais novo tem pouco mais de quatro meses. Sobre suas incansáveis caminhadas, diz que não gosta de parar, “para não enferrujar”. Quando se pergunta o segredo da sua longevidade, ele diz que teve a sorte de poder viver na mata, que ele tanto ama. E quem foram seus amigos nesses anos? E ele diz: “todo mundo. Sou amigo de todos”.
Célia Borges

2 comentários:

Hugo Penteado disse...

Célia, o que dizer de tão maravilhoso texto? Foi uma das coisas mais lindas que li nos últimos dias, não tenho palavras. Parabéns. Beijo Hugo

María Teresa disse...

Célia, imagino que vivendo neste mundo difícil, um jornalista não deve ter tantos momentos gratos como os de escrever sobre uma pessoa tão especial como o "seu" Zé da Silva. Acompanho ele, sua família e seus amigos - você uma deles - nesta data tão especial. Parabéns "seu" Zé da Silva! Um abraço9, María Teresa