5 de janeiro de 2008

VIII - A Ética morreu!!! Viva a Ética!!!

“Nunca na história desse país”, como costuma dizer nossa autoridade maior, se ouviu falar de verdade com prazo de validade. O que é dito em dezembro, em janeiro não vale mais. Essa lógica cínica e autoritária parece ter sido a pá de cal sobre qualquer esperança ou ilusão de ética “nesse país”. Mentir, enganar, corromper, chantagear, tudo isso passou a ser tratado como comportamente absolutamente normal. Se não há qualquer compromisso com a verdade, nem o menor respeito pela opinião pública, o que afinal, se pode levar à sério?
A Ética já vem sendo brutalmente golpeada há muito tempo, não dá pra deixar de reconhecer. Ela já foi duramente abalada em nome da segurança nacional, durante o regime militar. Renasceu com as Diretas Já. Teve seu momento de moribunda, quando o Collor, com a maior desfaçatez, roubou o país inteiro em nome do controle da inflação. Conseguiu se reabilitar um pouco com o impeachment” e no curto governo Itamar (que embora muita gente pareça ter esquecido, deixou a presidência sob aplausos). De lá pra cá, de tão maltratada, só fez definhar.
Não dá pra descrever aqui o doloroso processo. Em nome da recuperação econômica, o governo FHC foi período de grandes atrocidades contra a ética: “esqueçam o que escrevi”, “a classe média é a culpada de tudo”, e por aí foi, com fatos ainda piores do que o discurso, como o esforço para a reeleição tendo muito mais peso que os investimentos em saúde e educação, por exemplo. Tudo isso deixando um terreno fértil para o descaramento que viria a seguir.
A ascenção do PT ao governo, que surgiu como um grande esperança de renovação, já mostrou fartamente que a nossa “classe política”, assim como as demais autoridades, não estão preocupadas com a construção de um país soberano, livre e economicamente independente, mas apenas em garantir sua perpetuação no poder, seus privilégios, seu sucesso “virtual”, construído em bases falsas. O que importa não é a realidade, mas a intepretação que eles fazem da realidade.
Se não dá pra enumerar aqui todos os desmandos, quero apenas lembrar o modo como o presidente da República se comporta diante dos suspeitos e acusados de corrupção, de desvio de dinheiro público, de abuso das prerrogativas de seus cargos: recebe todos de braços abertos. Dos “mensaleiros” à Paulo Maluf, de ACM à Renan Calheiros, todos os autores de notórios desmandos, tem sido prestigiados e defendidos em algum momento (de seu interesse) por Lula.
A forma despudorada como tem sido tratados os assuntos cruciais, as “estratégias” e manobras para convencer deputados e senadores a votarem nos interesses do governo – e não nos do país, diga-se de passagem – tornaram a ética pouco mais do que uma palavra. Mas ninguém vai me convencer que o preço para o sucesso da economia seja o sepultamento da Ética. Eu continuo acreditando que só é possível um desenvolvimento sólido e sustentável se ele for construído sobre boas condições de educação, saúde e respeito ao meio-ambiente.
O fato de as nossas autoridades, literalmente, “não prestarem pra nada”, não se sentirem comprometidas com a honestidade, com a legalidade, e afinal, com a tal da falecida ÉTICA, já seria bastante ruim, se não tivéssemos que pensar no que esse péssimo exemplo significa para a grande maioria da população. Porque pra quem já tem uma educação extremamente deficiente, a impressão que deve dar é de que tudo pode ser permitido. Se os “peixes grandes” fazem, porque nos não poderemos”.
A delinquência tem sido justificada, e até premiada, por uma justiça permissiva. A criminalidade consegue ser, frequentemente, mais organizada que as instituições que deviam combate-la. A corrupção se alastra por todos os níveis de governos e poderes. E o cidadão honesto, cada vez mais acuado por todas essas situações, vai ficando solitário e envergonhado da sua própria situação.
Pensando bem, prefiro acreditar que só a Ética pública morreu. Por que seu último reduto ainda continuará sendo o da Ética pessoal. A Ética de cada um de nós. Posso estar nadando contra a corrente; mas fazer o quê? Eu, pelo menos, ainda preciso da minha Ética pra sobreviver.
Célia Borges

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