4 de maio de 2008

MULHER NA HISTÓRIA – Brasileiras e pioneiras (primeira parte)


O papel da mulher na sociedade brasileira vem sendo tema de um número cada vez maior de pesquisas e estudos publicados no país. Mas é assunto ainda longe de ser esgotado, pois dada à posição submissa que predominava até o século XIX, muito do que elas faziam sequer foi registrado nas fontes mais tradicionais e acessíveis.

As informações mais numerosas e confiáveis datam do inicio do século XX, mas é lícito considerar que a “libertação feminina” não aconteceu repentinamente, e que muito do que ocorreu nesse processo, até se chegar às novas condições daquela época, ainda se encontra cercada de mistério e desconhecimento.

Nos aspectos social e econômico, algumas personagens femininas já haviam alcançado destaque nos anos 1800, como aconteceu na nossa região com as fazendeiras Mariana da Rocha Leão, Maria Benedita Gonçalves Martins – conhecida em Resende como a Rainha do Café – e Eufrásia Teixeira Leite, na região de Vassouras.

Mas só à partir de 1900 elas começaram a ocupar espaços em atividades que antes eram predominantemente masculinas, como na política, na aviação, no jornalismo e nas artes, como pintoras e escritoras, por exemplo. Foram conquistas obtidas lentamente, mas mesmo assim com grande impacto na sociedade da época.

Berta Lutz – Na liderança desse pioneirismo, é inquestionável o papel exercido por Berta Lutz, que entre outros aspectos relevantes, lutou pela conquista do direito de voto para as mulheres. Nascida em São Paulo, em 1894, filha do cientista Adolfo Lutz, era zoóloga de profissão, tendo estudado Ciências Naturais na Sorbonne, em Paris, especializando-se em anfíbios anuros, o que a trouxe à região do Parque Nacional do Itatiaia em viagem de estudos.

Na época em que viveu no exterior, ela tomou contato com os movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos, tendo mais tarde criado as bases para o feminismo no Brasil. Ao voltar ao país, tornou-se em 1919 secretária do Museu Nacional do Rio de Janeiro, fato de grande repercussão, já que o acesso ao funcionalismo público era vedado às mulheres naquela época.

Berta Lutz foi fundadora, em 1922, da Federação Brasileira para o Progresso Feminino, após ter representado o Brasil na Assembléia Geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizado nos Estados Unidos, onde foi eleita presidente da Sociedade Pan-Americana. Nesse mesmo ano, como delegada do Museu Nacional do Congresso de Educação, conseguiu garantir o ingresso de meninas no Colégio Pedro II, no Rio.

Após a promulgação do novo Código Eleitoral em 1932, candidatou-se à uma vaga na Constituinte de 1934, foi eleita apenas para suplente de deputado federal, época em que apenas se elegeu por São Paulo Carlota Pereira de Queirós. Em 1936 conseguiu mandato, lutando por mudanças na legislação trabalhista com relação ao trabalho feminino e infantil, e por igualdade salarial. Em 1937 perdeu o mandato em conseqüência do Estado Novo, mas continuou em seu incansável trabalho como cientista e feminista, até seu falecimento em 1976.

Anésia Pinheiro – Embora divida seu pioneirismo com outras duas contemporâneas, Thereza de Marzo e Ada Rogado, Anésia Pinheiro foi a primeira mulher a se habilitar e a trabalhar como aviadora no Brasil. Iniciou seus estudos em 1921, e já no ano seguinte recebeu seu brevet internacional pelo Aero Clube do Brasil.

Em 1922 realizou seu primeiro vôo interestadual, de São Paulo ao Rio de Janeiro, como parte das comemorações do centenário da Independência, e participou de uma apresentação de acrobacias aéreas. Por esse fato, foi homenageada por Santos Dumont. Entre 1927 e 1928 manteve coluna dominical sobre aviação no jornal carioca O País. Em 1943 fez curso nos Estados Unidos, onde também se licenciou como piloto e instrutora de vôo.

Entre seus feitos pioneiros destacam-se a travessia da Cordilheira dos Andes e uma viagem transcontinental pelas três Américas, ambos em 1951. Em 1954 foi proclamada Decana Mundial da Aviação Feminina pela Federação Aeronáutica Internacional, durante a Conferência de Istambul. Recebeu dezenas de condecorações, civis e militares, nacionais e estrangeiras. Anésia Pinheiro Machado faleceu em 1999 e suas cinzas estão depositadas no Museu do Cabangú, na cidade de Santos Dumont-MG.

Nair de Teffé – Nair de Teffé foi a primeira cartunista brasileira, e teve seus desenhos publicados em jornais e revistas do Brasil e do exterior. Seus trabalhos destacam-se pela crítica aos políticos e á elite brasileira da sua época. Assinava suas caricaturas como Rian – Nair ao contrário. Filha do Barão de Teffé, nasceu em 1886, no Rio de Janeiro, e foi a segunda esposa do presidente Hermes da Fonseca.

O Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, guarda em seu acervo uma coleção de 26 curiosas caricaturas de sua autoria, representando, entre outros, os presidentes Eurico Gaspar Dutra, João Café Filho e Humberto de Alencar Castelo Branco. Até além dos 70 anos foi ativa e sempre pronta a manifestar suas opiniões políticas. Faleceu em 2002.

Outras pioneiras – Esse levantamento é amplo, e por isso mesmo longo, de forma que estou optando por dividi-lo em partes, para que o texto não se torne cansativo. Voltarei a ele brevemente. Sugiro aos interessados sobre as pioneiras da nossa região que consultem a primeira postagem de Resende Histórica, de março passado, que comenta a admirável figura de Narcisa Amália.

Célia Borges

Nenhum comentário: