17 de fevereiro de 2011

ALDEIA GLOBAL – Big Baixaria

Há algumas semanas recebi, e repassei para os meus amigos e contatos, um texto do Luis Fernando Veríssimo, sobre esse lamentável programa que é o tal de Big Brother Brasil. Aliás, o BBB e essas outras cópias que ouço dizer que existem por aí. Ouço dizer, porque não consigo perder nem um único segundo da minha vida para ver tanta bobagem e baixaria. O que não impede que toda essa futilidade invada meu espaço, e o de vocês, nas páginas de abertura dos nossos provedores, e nos anúncios das TVs.
Não tenho muito a acrescentar aos comentários do Veríssimo, com seu proverbial talento para as palavras exatas, mas não resisto a dar alguns palpites, na esperança de mobilizar o cidadão expectador para lutar pelos seus direitos, e escapar desse espetáculo de mediocridade que nos assola, no que parece uma enorme quantidade de dias por ano.
Num país que tanto sofre com a falta de educação – não só no sentido da escolaridade, mas também na falta de valores morais – é de se lastimar que tal tipo de programa se multiplique com tanta abundância, provendo a nossa TV desses shows de vulgaridade e promiscuidade, onde as notícias são quem beijou quem, quem agarrou quem, quem se esfregou com quem, quem trocou de parceiro e quantas vezes. É a exaltação do sexo sem conseqüências, numa competição de fofocas e esforços por revelar o mau caráter de cada um. Que vença o pior.
Será que essa é a única fórmula para se conquistar audiência? Será que para ganhar mais dinheiro é indispensável nivelar a população por baixo? Será que é lícito que empresários da comunicação esqueçam suas responsabilidades éticas, e continuem apelando para uma programação de baixo nível, para manter seus faturamentos em alta? Será que alguém se orgulha de projetar no sucesso fácil o paradigma de um futuro para a nossa juventude, desestimulando o esforço e o estudo? Ah, as perguntas são muitas...
Eu me lembro com saudades de outro tipo de programas, que existiram nos primórdios da TV, quando eu ainda era criança. Programas como O Céu é o Limite, uma competição para quem soubesse mais sobre algum assunto. Ou os programas de calouros, destinados a revelar novos talentos. Quantos estudiosos e artistas se revelaram nessa época? Quantos estudiosos e artistas poderiam ser revelados nos dias de hoje, se essas fórmulas de programa pudessem voltar, ainda que atualizadas? Quantas pessoas esforçadas e especiais – cientistas, pesquisadores, artistas e atletas - poderiam ter oportunidade de sair do desconhecimento, para contribuir relevantemente para a educação, a cultura, as artes do país? E merecer uma justa oportunidade para se desenvolver?
Não vejo qual é o mérito de incentivar a mediocridade. Nem aceito a idéia de que é preciso dar ao povo pão e circo, engambelando-o para perpetuar a ignorância. Aproveito a oportunidade para dizer também que acho lastimável essa cultura funk, machismo retardatário que se esmera em transformar a figura da mulher, não em objeto, mas em lixo. Cito isso, porque esses motivos, juntos, me fizeram ser chamada de “déspota cultural”. O que é valido nos meios ditos culturais, onde o critério universal é aceitar tudo.
Não se pode culpar o expectador do BBB, porque é só isso que a TV tem a lhe oferecer. Mas podemos culpar a TV por não dar acesso ao expectador a outras opções. Ou por criar essas opções e não colocá-las ao alcance do expectador, que é o que se faz com os canais oficiais. Mas o fato é que, se queremos mudar nossa cultura, se queremos melhorar nossa educação, esse processo passa necessária e indispensavelmente pela qualidade da programação da TV, que é o nosso meio de difusão mais amplo e abrangente, seja pelo melhor ou pelo pior. Pode ser um BBB, beirando a pornografia, ou uma nova produção, que exalte vocações e talentos, para as artes, ciências e literatura. O que desanima é que mudar isso depende de nós, e existem muito poucas pessoas, proporcionalmente à nossa população, dispostas a se mobilizar pelo país, pelos nossos jovens, pela nossa CULTURA.
Célia Borges

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