6 de dezembro de 2007

II - E se nos recusarmos a pagar a conta?

Entre os vícios que cultivo, acho que o pior de todos é a leitura de jornais. Beber, fumar, amar...nada disso pode ser tão nocivo pra saúde de uma pessoa quanto a leitura de um jornal, principalmente se essa leitura é matinal. É claro que, de um vício desses, ou não pode sair boa coisa, ou pode sair alguma coisa (desculpem a falta de modéstia) genial... Enfim, o caso é que, de tanto “matutar” (sou daquelas pessoas que ainda faz isso!!!) sobre as barbaridades que leio todos os dias, somando, dividindo, sutraindo, e até multiplicando, certas opiniões que leio aqui e ali, só posso concluir que esse estado de coisas já superou todos os adjetivos (estarrecedor, por exemplo, virou muito pouco!!! Quem mais fica “estarrecido” como se isso fosse uma coisa original?)...que a culpa é nossa mesmo, e que na falta do que falar, só nos resta, finalmente, passar a ação... “Ora, direis, ação como, cara pálida?” (desculpem a licença poética) Então eu vos digo que, de agora em diante, de forma pessoal e intransferível, eu lanço uma campanha pra me recusar a pagar todas e quaisquer mordomias que estão imoralmente garantidas por quaisquer tipos de leis, a deputados, senadores, juizes e que tais da justiça, presidentes, governadores, prefeitos, secretários, funcionários públicos, cargos em comissão, apaniguados, esposas, ex-esposas, amantes, filhos, ex-filhos, e assim por diante... Ora, bolas (aí sem qualquer poesia!!!), nós não somos obrigados a viver dos nossos salários? Por que é que uma reles “autoridade”, que é, por definição, representante do cidadão e da cidadania, deve ou pode ter o direito de acumular privilégios, como auxílios pra morar, pra gasolina, pra ter empregados pessoais, passagens aéreas, correio gratuito...isso porque não quero perder muito tempo de vocês e espaço, pra enumerar a extensa lista de mordomias, que pagamos com o nosso suor de cada dia... Tentando estabelecer uma certa cronologia para todo esse descalabro, eu pergunto como é que qualquer pessoa razoàvelmente informada (não me incluo aí, porque é covardia...sou literalmente intoxicada de tanta informação...) pode imaginar que vamos ingressar no primeiro mundo, enquanto nossos valores políticos nos remetem, no mínimo, ao desastre da chegada da Coroa em 1808. Porque nós, que deveríamos ser cidadãos de uma república, continuamos reféns de uma aristocracia – aliás, caricatura de aristocracia – com a nobreza sendo substituída por presidentes e governadores, deputados e senadores, juizes e procuradores... Chega a parecer piada que um pobre operário que ganha salário mínimo, tenha que dar sua contribuição pra garantir o champagne francês do Sr. Juiz, do Sr. Presidente, dos Srs. Deputados e senadores, que já recebem seus honorários e salários de vários dígitos...E eu quero ter o direito de me recusar a pagar essa conta. Sou contra a qualquer tipo de privilégio, acho que cada um deve viver do “seu” salário...e nada mais... Temos que nos mobilizar pra acabar com as MORDOMIAS...(Sarava pro fantasma daquele horripilante Fernando Collor)...isso não pode ser balela de político, tem que ser produto de mobilizações públicas e pessoais de cada um de nós...EU, DEFINITIVAMENTE, NÃO QUERO CONTINUAR PAGANDO ESSA CONTA!!!! É claro que, pessoalmente, sou uma articuladora complicada pra essa campanha, porque, pra início de conversa, sou anarquista...o que quer que seja o que isso quer dizer!!!!...Espero que, por puro preconceito, essa confissão não se vire contra mim...o que quero dizer é que não vou me propor a fazer a parte de ninguém, cada um que faça a sua, da sua maneira...Apenas digo que começo a estudar sériamente todas as possibilidades de “desobediência civil” que, sem ferir leis ou prejudicar pessoas, posso mostrar o meu ponto de vista: NÃO QUERO MAIS PAGAR AS CONTAS DAS MORDOMIAS!!!! Acho que professores, operários, médicos, agricultores, empresários, militares, donas de casa, engenheiros, atores, poetas, todos têm o direito de ganhar o suficiente para as suas sobrevivências...mas cada um desses, até onde eu saiba, vivem do seu trabalho. Então porque privilégios para aqueles que justamente deveriam ser os nossos “sensores” (não confundam com censores, estou falando não de limites mas de sensibilidade), que deveriam perceber os movimentos sociais e se antecipar a eles para apresentar soluções (e não criar problemas, para cobrar pelas soluções!!!). Somos um país muito rico, não apenas do ponto de vista das riquezas naturais, mas principalmente devido ao potencial humano, que sempre apresenta respostas além das expectativas (lembram da crise energética e de quanto economizamos?). Já tivemos muitas oportunidades de demonstrar essa força (lembram das Diretas Já?) e isso é que me surpreende hoje em dia, diante de tanto que nos acovardamos (eu, não, diga-se de passagem, que não paro de agitar tudo o que está ao meu alcance!!!) diante dessa situação que me assusta, e que me dá a impressão de que, se não nos mobilizarmos, vai nos engulir... É claro que há muito o que ser feito nesse país...e que não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo...mas acabar com as mordomias, eliminar os privilégios, minar as oligarquias políticas, impedir reeleições e destruir, ou pelo menos questionar, essa aristocracia ilegítima que se alimenta do clientelismo e da ignorância...isso me parece uma questão de CIDADANIA. O poder que nos comanda, no Brasil, hoje em dia, é como uma esfinge: DECIFRA-ME OU TE DEVORO...Eu não quero ser devorada, e o que eu decifrei de todas essas leituras que me afligem no dia a dia, é que precisamos reagir de alguma maneira...eu, de agora em diante, só quero pagar, pura e simplesmente, o salário desse pessoal...e eles que se virem no fim do mês, que é como a gente faz... Ainda não sei como vou por isso em prática. Aguardo sugestões...vou ficar muito feliz se encontrar pelo menos companhia nessa caminhada...
Célia Borges

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